Que Importa?

Que importa o tempo se sempre existiu?
E, querendo ou não querendo,
Mentindo ou fingindo,
Brigando, esperneando, gritando,
Ou calando,
Ele vai do mesmo jeito:
P a s s a n d o,
P a s s a n d o,
P a s s a n d o,
E nós:
P a s s a d o?

E, tanto mais façamos,
Sempre somos faltos de algo.
Vivemos sempre ? embora tentemos o contrário ?
O dia de amanhã:
O que não temos e não possuímos.

Que importam as coisas,
Se as coisas são somente e apenas elas mesmas:
As coisas?

Que importa o que outros dizem ou vivam,
Se somos o que somos,
O que somamos ou diminuímos,
O que comemos ou desgostamos,
Se dizemos quem somos, a que viemos e o que escolhemos?

Que importam os prismas,
Se o meu é meu, e me destina no caminho?

Que importam as manhãs e entardeceres,
Se o amanhã sempre teremos
Amanhã,
Assim também elas,
As tardes?

Que tarde o que não desejamos!
Que tarde o que rejeitamos!
Que tarde o anoitecer,
Se a manhã escolhemos!
Se amanhã, escolhermos.

Que importam as lamúrias,
Se estas são encobertas pelas certezas?

Que importa o choro,
Se sorrimos deste?

Que importam os desejos não satisfeitos,
Se estes somente são o que são:
Desejos?

Que importa a sanidade,
Se o mundo insano é?

Que importam as dores,
Se elas sempre são,
E fingimos tão bem?

Que importa a chuva,
Se o sol é sempre posterior,
E este,
Se a chuva ameniza a sequidão?

Que importa a prisão,
Se a liberdade é o que fazemos,
E esta,
Se o oposto for também realidade do fazer humano?

Que importa o joio,
Se o trigo também colho?

Que importa o que na vida me tomam,
Se o que recebo não é meu,
Somente é temporário desfruto?

Que importa?

Ailton França