RESUMO:

O referido trabalho mostra a importância do uso da ludicidade, como ferramenta para estimular o cooperativismo, entre os alunos da 7ª série. Convidando-os a refletir sobre os desafios a serem superados, durante e após a atividade; que se deu através da seleção de cinco fábulas de Monteiro Lobato.

PALAVRAS-CHAVES: Cooperação, Ludicidade, Leitura, Monteiro Lobato. 

Trabalho em equipe, adolescentes da 7 serie.

ABSTRACT:

This work shows the importance of using playfulness, as a tool to stimulate cooperativism among the students of the 7th grade. Inviting them to reflect on the challenges to be overcome, during and after the activity; which was made through the selection of five fables of Monteiro Lobato.

KEY WORDS: Cooperation, Playfulness, Reading, Monteiro Lobato.

TEORIA, OBSERVAÇÃO E ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA:

Este artigo tem como base teórica a técnica da Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – EOCA (VISCA, 1987) em que o observador opta por ficar em contato direto com o sujeito, no caso discutido durante o artigo, a classe da 7ª série. Possibilitando a sondagem da problemática de aprendizagem, a fim de delinear estratégias lúdicas para a intervenção pedagógica, quanto à superação das dificuldades apresentadas durante a sondagem.

Como base secundária para o estudo de caso, foi usada na construção da atividade, a teoria da Psicologia das Cores, amplamente usada no marketing. No caso em questão, procurou-se avaliar, através da teoria, as respostas cognitivas quando o aprendiz é exposto à determinada cor.

O período de sondagem se deu durante a primeira semana de observação do estágio, em que se acompanharam as aulas voltadas para a Língua Portuguesa nas séries do fundamental II – 6ª à 9ª série. A escolha do tema da atividade, após o período de observação, preocupou-se em respeitar a dinâmica da escola, seu projeto pedagógico e a sugestão do professor, responsável pela orientação do estágio na escola em questão.

A proposta educacional da escola tem como objetivo principal trabalhar com o aluno os valores humanos, a consciência ecológica e a cidadania, para que ele possa, com suas atitudes, assumir a responsabilidade e o compromisso com a busca de alternativas para a melhoria da qualidade da vida no planeta Terra.

A temática escolhida para pesquisa e desenvolvimento da dinâmica foram oito fábulas de Monteiro Lobato, centrando nas estratégias de leitura e interpretação textuais aplicadas ao gênero fábula, com o objetivo de verificar não só o amadurecimento do leitor, mas estimular a cooperação com o seu grupo e abrir-se aos outros grupos, a fim de utilizar o diálogo com os demais, para resolver os problemas que surgissem no decorrer da leitura do texto e conclusão do objetivo disposto no início da aula.

Retomando o discurso pela EOCA, são três os objetivos da técnica:

a)                               Detectar sintomas e formular hipóteses sobre as prováveis causas das dificuldades de aprendizagem, sem julgamento prévio ou contaminação do agente corretor;

b)                               Levantar os possíveis obstáculos que emergem na relação do sujeito com o conhecimento;

c)                               Obter dados a respeito do paciente nos aspectos afetivos e cognitivos, a fim de formular um sistema de hipóteses e delinear linhas de investigação.

O primeiro e segundo objetivo da técnica se deu na primeira semana de observação das turmas do 6º ao 9º ano. Em que, através da observação, detectou-se que a ansiedade em concluir uma determinada tarefa é um sintoma muito comum entre as séries do 7º ao 9º ano.

Sendo evidenciada a ansiedade dos alunos, na construção e conclusão nas atividades de classe, construiu-se uma dinâmica emprestando os trechos das fábulas de Monteiro Lobato, que é um autor que constantemente nos trás textos que abordam a conduta moral e social.

A TÉCNICA E A LUDICIDADE DA DINÂMICA

É consenso entre os pesquisadores das áreas da educação, psicopedagogia e psicologia, de que a técnica pode ser aplicada em faixas etárias variadas, desde cinco anos de idade até em adultos.

Para a turma, com cerca de 20 alunos, separados em quatro grupos, foi disposto uma caixa, pintada na cor vermelho, e, uma caixa reserva. Dentro das mesmas estavam de modo aleatório, trechos das fábulas de Monteiro Lobato. Sendo que cada trecho de determinada fábula, foram pintados nas cores rosa, vermelho, laranja, azul, verde e roxo. Não oferecendo um padrão de cor para determinada fábula em questão, justamente para estimular o grupo na interpretação dos textos de cada trecho.

As cores não foram escolhidas de forma aleatória, mas como uma estratégia cognitiva aplicada à atividade. Segundo explica Ferreira (2013), a utilização das cores contribui para o desenvolvimento da criança, principalmente por meio do aprimoramento da capacidade motora e cognitiva, raciocínio, audição, fala, entre outras funções.

Primeiramente notou-se a predileção pelos papeis pintados nas cores vermelho, rosa, laranja e amarelo. Porém, a identificação pela cor não significava de que os trechos pertenciam a uma única fábula; sendo esta característica rapidamente percebida pelos grupos e logo traçado estratégias de compreensão textual entre os mesmos.

Trazendo esta observação à luz da teoria cognitiva acerca das cores, exposto no livro Psicologia das Cores[1], pode-se analisar que as cores citadas exerceram certa influência cognitiva, quanto à rápida compreensão da dificuldade. Atribuindo disciplina com o objetivo, não só de cumprir a tarefa com o grupo, mas o de auxiliar os demais grupos, ora trocando os trechos sobressalentes e, quando concluída, auxiliando e estimulando os demais a concluírem suas investigações, na conclusão da fábula escolhida.

O grupo que escolheu trechos com as cores laranja, foi o primeiro a concluir o desafio. Uma observação notória, que se pode fazer a respeito da cor, é que ela está associada à criatividade e o seu uso desperta a mente, auxiliando no processo de assimilação de novas ideias. Porém, pôde-se notar que certa característica negativa mostrou-se intensa após a conclusão da atividade, já que o grupo se mostrou indiferente às necessidades dos demais grupos.

Nesse momento, entra o papel do mediador na atividade, pois seu objetivo é estimular e trabalhar a consciência do grupo com relação a esta característica negativa, a fim de que ela possa ser superada. Sendo estimulada a reflexão dos integrantes do grupo sobre a importância da cooperação e da oferta de orientação, explicando aos mesmos que ajudar os outros grupos pode ser desafiante e recompensador.

Na sequência, os próximos grupos analisados; um escolheu as cores rosa e vermelho, montando duas fábulas. E, o grupo que escolheu a cor amarela, montando uma fábula extensa. Ambos, ao término da atividade, se mostraram altruístas, cooperativos e enérgicos. Sendo necessária a intervenção do mediador para reduzir o barulho causado pelos mais entusiasmados com a atividade.

Já o grupo que escolheu trechos com a cor azul, conseguiu reunir duas fábulas. Uma das caraterísticas analisadas nesse grupo foi de que, apesar de ter demorado o dobro do tempo, em relação aos primeiros grupos a concluir a atividade, mostrou-se um grupo confiante, organizado, metódico e calmo. E, depois da conclusão, juntou-se aos demais para auxiliar o último grupo que estava indeciso quanto aos contos que se dispôs a montar, nas representações das cores verde e roxa.

Uma análise especial para o último grupo observado, sendo identificadas algumas características negativas que foram refletidas ao término da atividade, com todos os alunos da classe. A primeira observação, intermediado pelo professor e refletido junto à classe, foi que o último grupo tinha em seu poder boa parte dos trechos e se recusava a dividir com os demais grupos.

A cor predominante dos trechos escolhidos pelo último grupo foi o roxo. Trazendo à luz da Teoria das Cores, a cor roxa é usada desde as antigas culturas para representar a aristocracia, em que apenas os nobres ou ricos podiam usá-la. Em algumas religiões, a cor representa a penitência, usada como símbolo de constrição. A cor também representa o sucesso e sabedoria, exercendo efeito calmante e está relacionada muitas vezes com a espiritualidade e intuição.

A referida cor estimula a área do cérebro relacionada à solução de problemas e criatividade. Porém, durante a execução da atividade, foram identificadas características negativas como:

  1. Indiferença à necessidade dos outros grupos;
  2. Distanciamento quanto à necessidade dos demais;
  3. Certa arrogância, quanto ao reconhecimento de que o grupo poderia precisar de ajuda;
  4. Disputa entre integrantes do mesmo grupo.

O último grupo deteve-se na contenção dos papéis da cor escolhida, assim como as demais cores, se condicionando a não oferecer ajuda e estimulando o sentimento de rejeição dos demais grupos quanto a ser ajudado, culminando no fracasso do objetivo proposto pela atividade.

Ampliando a análise da atividade proposta e trazendo a discussão para a turma, foi questionado sobre as atitudes do último grupo assim como a dos demais alunos. Pois, independentemente à qual grupo o aluno tenha pertencido, as dificuldades podem surgir, mas a importância do trabalho em grupo, da colaboração, da humildade em pedir e receber ajuda devem ser colocados em prática.

 

CONCLUSÃO

A escola passa por uma constante transformação, não só por causa de seu público ou da sociedade à sua volta, mas também pela visão da forma de ensino e da criatividade dos novos educadores.

A proposta pedagógica da escola, em que decorreu o referido estudo de caso, traz uma visão transdisciplinar no ensino, corroborando ao aluno o desenvolvimento integral como ser único e, ao mesmo tempo, plural. Estimulando a construção da consciência do aluno aos valores humanos, na consciência ecológica, da sua cidadania e a do próximo.

Estar ciente sobre os impactos cognitivos que uma determinada cor ou o que o conjunto delas exercerá sobre o aluno não garante resultados satisfatórios, como se fosse uma receita de bolo. Mas, com o estímulo das cores, baseado nas teorias cognitivistas, pode-se possibilitar o surgimento de cenários em que foi necessária a intervenção do mediador e, posteriormente, a análise crítica realizada através de debate com a classe, trazendo momentos de reflexão sobre as ações positivas e negativas de cada grupo.

Em uma única atividade, colocamos em prática os três objetivos da EOCA:

  1. Foram detectadas as causas das dificuldades, surgidas durante a atividade, estimulando a reflexão crítica dos alunos sobre atitudes que fizeram a atividade não ser concluída em sua totalidade.
  2. Para o mediador, foi possível analisar os obstáculos surgidos na dinâmica, que se inter-relacionam entre aluno e conhecimento, tais como aspectos cognitivos e de interpretação de texto.
  3. Com a atividade lúdica, obtiveram-se dados dos alunos nos aspectos afetivos e cognitivos, a fim de formular um sistema de hipóteses e linhas de investigação, para trabalhar em conjunto com a turma na superação das dificuldades.

Saber o conceito de determinada teoria e aplica-la de forma criativa no seu método de ensino é que faz a diferença no momento da mediação e conclusão da atividade, estimulando a reflexão consciente do aluno.


 

BIBLIOGRAFIA

O USO DAS FÁBULAS NO ENSINO FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA. Lima e Rosa, CIPPUS – Rev. In.  Científica UNILASALLE. V.1, n.1 – Maio/2012

ANTUNES, Irandé. Análises de textos: fundamentos e práticas, São Paulo (SP): parábola editora, 2010.

LEITURA PRAZEROSA POR MEIO DAS FÁBULAS. Silva, Carlos da e Cunha, Vilma Sousa – Anais Elet. III ENILL. Vol. 03. ISSN: 2237-9908.

FONSECA, Vitor da. Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem: Abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. 4a ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2009.

PSICOLOGIA DAS CORES.       Ferreira, Kacianni – Ed. Wak, ISBN: 8578542509

O ENSINO DA LEITURA A PARTIR DO GÊNERO DA FÁBULA. Maia, Zenaide. Artigo científico disponível no endereço http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_zenaide_maia.pdf. Acessado em 02 de Abril de 2016 às 10:32.

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Simbologia e Cor no Envolvimento, http://www.prof2000.pt/users/hjco/luz_cor2/pag0008.htm. Acessado em: 02/11/2015

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica – Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13 ed. Ver. E aml: RJ Lamparina.2003. Fonte: http://psicopedagogiaeducacao.blogspot.com/2009/09/entrevista-operativa-centrada-na.html. Acessada em 02 de Abril de 2016 às 11:02.



[1] Psicologia das Cores – Ferreira, Kacianni. Ed. Wak