Edson Silva

Não sei se acontece com todo jornalista, mas em mim dá inveja boa de certos compositores. Eles conseguem condensar em música de minutos, histórias gigantescas ou períodos inteiros, como é o caso dos quarenta dias da Quaresma, sendo que este é o nome da obra composta por Ivan Lins e Vitor Martins, acredito que nos anos 80. Bom, exceto na Bahia e Recife, onde festas, em especial Carnaval, duram até o último folião, como disse o Ivan Lins como sempre chegou quarta-feira, não há como ser diferente, acabou a brincadeira.

A praça não é mais do povo e não são mais fantasias, estão soltos mesmo nossos fantasmas, bruxas, lobisomens uivando para lua e sacis dançando nas noites escuras, portanto, ninguém está seguro nas ruas. E alguém está com a insegurança pública vigente? É,tudo se repete maninha,isso arrepia, pois quem se agrada da situação é o diabo. Milagres não entram nem saem de igrejas trancadas, todos fecham a boca para obrigatório jejum.

E assim é até clarear a sexta-feira santa. São filas de velas acesas e vozes que entoam de maneira a se agigantar orações para quem não tem defesa. A procissão de bastões,bodoques, canivetes e facões segue no quebra-quebra da Aleluia, na dança de queira ou não, na vingança, no Deus-nos-acuda, no malho e na fogueira onde todo povo fica na pele de Judas, pelo menos até o próximo Carnaval ou até, quem sabe, Ivan Lins nos brindar com nova obra prima, que resuma, como uma bem escrita reportagem, o sentimento e a alma de nossa gente.

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

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