Cada ser pode ser habitado por vários eus, por várias formas de pensar e de sentir.
O que estou falando não tem nada haver com as teorias de múltiplas personalidades, não. Estou me referindo as diversas faces da mente, das inúmeras sensações que possuímos que por vezes parece ser impossível que vivam em um mesmo ser, mas vivem.
Temos vários lados desconhecidos, até o momento em que damos de cara com eles e chegamos a ter a sensação que não se trata de nós e sim de um ser alienígena que tomou pose de nosso corpo. Podemos passar a vida sem ter essa noção ou simplesmente fugindo dela.
Lembra do amigo imaginário que falam que todas as crianças têm? Sempre ouviu isso, não é? Eu também e acreditei até hoje. Mas agora acho que o tal ser invisível nada mais é do que o nosso outro lado lutando para ser ouvido. Quando se é criança e ainda não se está contaminado pelas restrições terrestres, não se tem receio ou até pode-se dizer medo de deixar que os diversos lados de um mesmo ser possam conviver. Mas a medida que se cresce nos é dado o dever de escolher um único lado para ocupar o posto oficial e o outro ou os outros são obrigados a se esconderem e serem tratados como fantasias da infância. Mas quem é que nos dá tal obrigação? Boa pergunta para tentar responder, não precisa ser agora. Mas independente da resposta, o que interessa é que ele ou eles voltam, podendo assumir papeis de fieis aliados e até mesmo de conselheiros. Podem conviver para sempre com o lado oficial como facetas da imaginação e nunca serem descobertos por ninguém ou, já em um caso de pura evolução de seu dono, serem apresentados ao mundo. Ai seu pobre dono corre o sério risco de ser questionado ou virar o centro dos comentários da família e dos mais chegados de que algo de muito estranho está acontecendo com ele- Ele não é assim, o que será que houve? Deve estar com algum problema e não quer falar.
Para os que não têm essa coragem ou disposição resta retornar com os velhos amigos invisíveis da infância, que continuarão a ser imaginários, mas com serventia. Pois é bem mais fácil admitir que quem está com vontade de fazer algo que você nunca fez, ou que pode não agradar a todos, ou não é lá muito politicamente correto é seu amigo imaginário e não você, isso é verdade. Mas até que ponto isso é válido?
Onde está escrito que temos que agradar ao mundo? Que não podemos errar, senão seremos odiados e repelidos por toda a humanidade? Que os bonzinhos são mais felizes e vão para o céu? E o mundo é perfeito por acaso? Por que para poder conviver com nossas incertezas e falta de coerência temos que nos esconder atrás de nossa imaginação e fingir que tais sentimentos não nos pertence, que são pura ilustração de nossa mente? A vida é coerente? Desde quando?
De quem estamos nos escondendo? Para quem estamos mentindo?
Quantos eus existem em cada eu, eu não sei. Vai depender de cada eu. Mas que há mais de um e que são perfeitamente plausíveis de conviver, mesmo sendo bem diferentes tenho certeza.
Não dá para querer fugir da imaginação, do subconsciente. Podemos até fingir que não existem, mas não dá para fugir, um dia eles vão nos pegar e nos surpreender. Melhor travar uma relação amigável em busca de uma convivência agradável.

Bia Tannuri
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