Quando cheguei.

 

Vim sem nada, a não ser com a vida. E ela se revelou, com o tempo, ser uma infindável aula. E com ela descobri que, quanto mais aprendia, mais me distanciava da sabedoria.

Tudo se revelou, enfim, um eterno vestibular inócuo, onde as respostas jamais satisfazem as perguntas. Então, por isso mesmo, morri cedo, para assumir o destino de zumbi comum, mimetizando-me em meio à multidão de meus iguais.

Mergulhei na comunidade da representação de um papel a mais, tentando, sem sucesso, ser um satisfatório membro social.

Quis muito, confesso, por um certo tempo, conquistar meu espaço. Mas descobri, com a mais dolorosa das certezas que, nada era tudo que se pode conquistar.

Aprendi que o maior desafio é conviver consigo mesmo, pois enganar os outros é tão fácil quanto é impossível enganar a si mesmo.

Mas não há remorsos em descobrir isso, mesmo porque essa é uma das portas para a eternidade. Limite ao qual o homem precisa chegar para descobrir, afinal, que tudo e nada são sinônimos, quanto à materialidade.

Saber finalmente que a divisão das coisas para estudar parte por parte, acaba por nos fazer perder a capacidade de entender o todo. Portanto, chegar ao ponto de compreender a interligação de tudo, sabendo, empiricamente, porque o desequilíbrio ocorre e como é tão destrutivo, é algo descomunal.

O ideal seria viver numa sociedade mundial, onde ninguém tivesse um interesse maior e ilegítimo, que os interesses legítimos dos outros.

Mas as teorias todas se contaminaram de uma excessiva ambição, desviando o curso da história para uma rota temerária, cujo horizonte se torna cada dia mais sombrio. A filosofia saiu das escolas, com o “rabo entre as pernas”, sendo definida por “novos gênios”, como sendo a triste figura de um cego num quarto escuro, procurando um gato preto que nem está lá.

Regimes que comandaram revoluções “em nome do povo”, chegando ao poder, fizeram desses mesmos povos, seus escravos.

Ou seja, o poder tem como sua maior marca a corrupção daqueles a quem abriga. E isso não é mera elucubração, é fato, vivemos isso.

O Planeta já não aguenta mais e envia trágicos recados todos os dias por toda sua extensão, mas poucos se interessam por eles. É preciso extrair mais petróleo, contaminar a atmosfera e envenenar a vida com agrotóxicos. Entupir a terra de plásticos e baterias, inviabilizando de vez a vida num médio prazo.

O homem não é mais apenas um suicida em potencial, mas de fato. A banalidade dos crimes tornou-se aceita pela sociedade como algo “natural”. Menores não respondem pelos seus crimes, mas podem votar,  para, quem sabe, eleger outro criminoso para comandar os destinos da nação.

Os “escolhidos, por eles mesmos”, acumulam rendas escusas, em detrimento da maioria que nada mais faz do que seguir em direção às suas sepulturas, silenciosamente.

Não é mais um retrato negro, desenhado com palavras por Edgar Allan Poe, mas a mais singela realidade.

É o nosso mundo, ou o que fizemos dele, afinal.