Segundo Ballone (2009) a obesidade é um estado em que o indivíduo apresenta ganho de peso exacerbado, que está relacionado com a ingestão excessiva de alimentos calóricos e ausência  da atividade física. “A obesidade é considerada hoje uma doença tipo crônica, que provoca ou acelera o desenvolvimento de muitas doenças e que causa a morte precoce” (BALLONE, 2003 p.1). A obesidade pode-se dizer constitui-se um problema de saúde pública dada a sua ampla complexidade, seu caráter crônico, pode levar as pessoas a morte, e dificuldades para viver com qualidade.

Fandino (2009) nos mostra que a obesidade é uma doença que acomete todas as classes sociais, dado o excesso alimentar ao longo dos anos com ela o indivíduo passa a ter problemas de ordem social, afetiva, psicológica, e fisiológicas, tais como frustrações, infelicidade, doenças cardiovasculares, comprometimento da auto-estima, e outras doenças conseqüentes do excesso de peso, comprometendo sua qualidade de vida.

A obesidade está relacionada com dois fatores preponderantes: tais como a genética e a nutrição irregular. Filhos de pais obesos têm80 a90% de probabilidade de serem obesos, já uma criança superalimentada terá um desdobramento de células adiposas, gerando um processo irreversível, que é a causa principal de obesidade para toda a vida (BALLONE, 2009).

A obesidade é um problema que acomete a sociedade onde muitas pessoas têm sofrido ao longo do tempo com tentativas de emagrecimento, sejam dietas, medicamentos, tratamentos miraculosos, que por um tempo podem até ser de grande valia, porém ao interromperem o tratamento, voltam a engordar e quando se trata de um obeso mórbido só resta à opção cirúrgica.

Nos Estados Unidos, 97 milhões de pessoas (35% da população) estão acima do peso considerado saudável. No Brasil 40% da população (mais de 65 milhões de pessoas) está com excesso de peso e 10% dos adultos são obesos. Nem todas as pessoas com peso acima do esperado apresentam a mesma gama de problemas, portanto, as soluções para cada uma devem ser diferenciadas.

Segundo o Ministério da Saúde do ano2001 acirurgia da obesidade mórbida pode ocorrer quando o peso de uma pessoa extrapola o indice de 40 kg/m2 de massa corporal (IMC).  A cirurgia como tratamento da obesidade vem sendo amplamente difundida e muitos cirurgiões tem se especializado nas mais diversas técnicas cirúrgicas, como: restritivas e o método Capella.  Como nos mostra Fandino (2009) a cirurgia do tipo restritiva consiste no fechamento de uma porção do estômago através de uma sutura, gerando um compartimento fechado.  No método Capella, a cirurgia está associada a uma derivação em formato da letra Y. Este procedimento consiste na restrição do estômago para se adaptar a um volume menor que 30 ml. A redução de volume da cavidade é obtida através da colocação de um anel de contenção colocado no estômago.

A pessoa obesa sofre um preconceito pela dificuldade nos relacionamentos sociais e afetivos, problemas para encontrar trabalho, além da possibilidade de apresentar quadros psiquiátricos consequentes desta marginalização. Destarte, a busca pela cirurgia é uma possibilidade de cura da obesidade e das conseqüências cabendo aqui ressaltar a importância de uma efetiva mudança do comportamento e dos hábitos alimentares.

A cirurgia da obesidade não deve ser compreendida como uma cirurgia digestiva, mas como uma cirurgia do comportamento nutricional, cujo objetivo é a mudança dos hábitos alimentares de pacientes com obesidade mórbida, ou seja, aqueles que apresentam um alto grau de severidade desta doença, sendo esta compreensão importante para o sucesso nos resultados após a cirurgia. (CABALLERO,2005 inVASCONCELOS e NETO, p.60).

Percebe-se que existe uma necessidade de se procurar soluções psicológicas, sobretudo comportamentais, para tratar a obesidade, em vista das experiências com esta cirurgia que, freqüentemente, quando suscita conflitos psicológicos, pode levar a pessoa a ela submetida a repetidos episódios de vômitos, devido à ingestão excessiva de alimento, colocando o indivíduo em grande situação de vulnerabilidade e risco, o que pode redundar em bulimia por ingestão indevida de alimentos, sendo assim, é necessário que haja acompanhamento terapêutico para mudanças comportamentais. O aspecto que trata este artigo tem o objetivo de compreender quais são as mudanças ocorridas na qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. O papel do psicólogo é de extrema importância, cabendo a ele avaliar se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia auxiliando-o quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e pós-cirúrgico e quanto às possíveis contra-indicações para a cirurgia bariátrica, como veremos mais adiante nesta revisão bibliográfica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 A CIRURGIA BARIÁTRICA

 

A cirurgia bariátrica é uma opção para aqueles indivíduos que desejam emagrecer e que já tentaram de tudo, mas não obtiveram êxito. É a intervenção mais eficaz no tratamento da obesidade mórbida e controle do peso em longo prazo, todavia existem alguns critérios para preenchimento dos requisitos necessários para submissão á cirurgia, bem como, tipos adequados para cada individuo como nos mostra Pories, (2003) in Oliveira, Linardi e Azevedo, que o procedimento para cirurgias anti-obesidades didaticamente podem ser dividido em três procedimentos, o primeiro consiste em limitar a capacidade gástrica, também chamadas de cirurgias restritivas, no segundo interferem na digestão ou procedimentos mal absorvidos e o terceiro processo é uma combinação das técnicas anteriores.

A cirurgia bariátrica é um procedimento de grande porte e complexidade onde são requeridos cuidados extremos, pois pode apresentar riscos de complicações para que tal recurso alcance o sucesso almejado, se faz necessário que o paciente tenha total conhecimento do processo ao qual irá se submeter, benefícios e, sobretudo, os riscos decorrentes da cirurgia.

Indicações para a cirurgia bariátrica devem preencher alguns critérios, como IMC maior que 40 kg/m² ou IMC acima de 35 kg/m² associado a doenças com no mínimo, cinco anos de evolução e que melhorem com a perda de peso, como diabetes mellitus e hipertensão arterial, doenças osteoarticulares (principalmente dos membros inferiores), apnéia do sono, histórico de falha de tratamentos conservadores prévios e ausência de doenças endócrinas como causa da obesidade segundo Pories, (2003) in Oliveira, Linardi e Azevedo.

Como podemos observar a cirurgia bariátrica requer preparação e cumprimento alguns requisitos, para que o procedimento possa ocorrer. Os pacientes candidatos a cirurgia, passam por uma rotina prévia, fazendo vários exames clínicos e laboratoriais, pois a cirurgia é contra indicada a pacientes portadores de pneumopatologia, além de problemas renais. Espera-se que com a cirurgia ocorra a perda de peso, e a qualidade de vida seja resgatada. De acordo com Fandino (2004 p. 48) a seleção de pacientes requer um tempo mínimo de 5 anos de evolução da obesidade e história de falência do tratamento convencional realizado por profissionais qualificados. A cirurgia estaria contra-indicada em pacientes com pneumopatias graves, insuficiência renal, lesão acentuada do miocárdio e cirrose hepática.

Fatores psicológicos são de extrema importância na preparação para cirurgia, pois o que deve preceder serão as mudanças comportamentais, para que o resultado almejado seja de fato alcançado. Sendo assim, faz-se necessário acompanhamento psicológico com devida anuência no laudo psicológico para a cirurgia, assegurando que o indivíduo está em condições de submeter-se a operação bem como de ser assistido em seu pós-operatório.

O paciente no período pós-operatório também deve ser avaliado, continuamente a intervalos semestrais, para o acompanhamento do seu funcionamento psicológico posterior (FANDINO, 2009 p. 52). O trabalho deve ser multidisciplinar visando detectar riscos e benefícios esperados em busca da autonomia do sujeito para mudança no hábito alimentar e da recuperação da qualidade de vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 DESENVOLVIMENTO    

 

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) qualidade de vida envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e também a saúde, educação, poder de compra e outras circunstâncias da vida.

Qualidade de vida é um tema amplamente divulgado na mídia que o tem valorizado e destacado a tal ponto de a sociedade perseguir freneticamente uma vida de qualidade, onde possam encontrar satisfação pessoal, felicidade e saúde. Este termo não é de fácil conceituação, porém nos remete a subjetividade humana, levando-nos a questionar determinadas condições socioeconômicas que são geradoras ou não de uma vida boa.

Através da revisão bibliográfica foi possível constatar que muitas dificuldades permeiam o viver do indivíduo portador da obesidade mórbida, e que contribui para perda da qualidade de vida, portanto, o que o sujeito busca na cirurgia é a possibilidade de ter bem estar físico, psíquico e social, resgatando sua vida.

Para que este resgate seja possível através da cirurgia e conseqüentemente da cura da obesidade pela cirurgia bariátrica é necessário mudar o comportamento alimentar apreendido. Muitos pacientes obesos aprenderam ou foram estimulados a se alimentar de maneira errada. Desta forma faz-se necessário um aporte teórico que possibilite as mudanças necessárias ao comportamento aprendido, utilizando-se de tarefas e apoio psicoterapêutico ao longo do processo de emagrecimento, para tal, este estudo traz à Psicologia Cognitivo-Comportamental, por estar preocupada em alinhar a cirurgia a novos hábitos de vida e aquisição de conhecimentos para mudanças comportamentais, tais como: Se constituir enquanto sujeito a partir do reaprendizado na forma de alimentar-se.

Vale ressaltar que um bom prognóstico requer o acompanhamento multidisciplinar também no pós-operatório, pois o indivíduo precisa aprender  a alimentar-se de forma diferente pois os hábitos anteriores não se enquadram mais a nova realidade, requerendo aprender seus novos limites, a pensar previamente e conseqüentemente a se comportar de forma diferente, perceber-se diferente, enfim, a cirurgia bariátrica proporciona um renascimento do indivíduo. Para lidar com estas novas formas de viver é preciso que haja uma reestruturação total do indivíduo, no sentido de se reconhecer sob uma nova identidade.

Através da Terapia Cognitiva os indivíduos atribuem significado a acontecimentos, pessoas, sentimentos e demais aspectos de sua vida, com base nisso comportam-se de determinada maneira e constroem diferentes hipóteses sobre o futuro e sobre sua própria identidade. As pessoas reagem de formas variadas a uma situação específica podendo chegar a conclusões também variadas.

De acordo com BECK, 1963;1964 inNAVOLAR, (2004 p.9) em alguns momentos a resposta habitual pode ser uma característica geral dos indivíduos dentro de determinada cultura, em outros momentos estas respostas podem ser idiossincráticas derivadas de experiências particulares e peculiares a um indivíduo. Em qualquer situação estas respostas seriam manifestações de organizações cognitivas ou estruturas. Uma estrutura cognitiva é um componente da organização cognitiva em contraste com os processos cognitivos que são passageiros.

A Psicologia Cognitivo-Comportamental avaliará os pensamentos disfuncionais do sujeito, dá grande ênfase ao cliente e sua maneira de perceber-se no mundo. O objetivo é aprender novas estratégias para atuar no ambiente e promover as mudanças necessárias e assim adquirir qualidade de vida, considerando que o obeso sustenta em seu repertório de vida uma gama de tentativas de emagrecimento, muitas sem sucesso, carrega consigo doenças consequentes, sendo a cirurgia bariátrica a possibilidade de emagrecer. A obesidade tem aumentado no Brasil se tornando um problema de saúde da sociedade moderna.

Quando falamos em obesidade mórbida e cirurgia bariátrica não significa analisar apenas o paciente obeso, mas todo o contexto que permeia o processo de emagrecimento. Este estudo ressalta a importância de compreender quais as mudanças ocorridas no comportamento, bem como na qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. A importância deste estudo se dá devido ao aumento da busca da cirurgia como opção terapêutica para obesidade mórbida, além da escassa bibliografia que trate do tema relacionando-a a fatores psicológicos.  Conhecer como o paciente recupera saúde, auto-estima, qualidade de vida, resgate do tempo é de extrema relevância, pois abre novos campos de atuação para a psicologia, com a preparação de pacientes obesos para cirurgia, e seu acompanhamento no pós-operatório, trabalhando mudanças cotidianas e comportamentais.

FRANQUES (2006 p. 17) nos diz que a análise da qualidade de vida trouxe à tona a importância das repercussões psicológicas da cirurgia bariátrica. Buscou-se um olhar diferenciado através do relato de experiências, de pacientes submetidos à cirurgia.

Compreender as implicações de uma cirurgia bariátrica bem como as mudanças que ocorrem no comportamento, na percepção e na qualidade de vida do indivíduo submetido à cirurgia a mais de dois anos possibilita entender como se dá a busca pela cirurgia bariátrica, compreender as percepções do sujeito sobre ele próprio enquanto obeso e após cirurgia, avaliando assim a qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica em diferentes momentos desde o pré-cirúrgico até dois anos após a cirurgia.

Esta pesquisa de caráter qualitativo trabalha com a subjetividade, crenças, valores, atitudes, possibilitando responder a questões muito particulares que não podem ser quantificados. Este trabalho utilizou-se de estudo de campo e como instrumento de coleta de dados entrevistas semi-estruturadas, um diário de campo para a construção do antes e depois da cirurgia. Após o encerramento das entrevistas iniciou-se a transcrição sendo delineadas linhas narrativas a partir das entrevistas e em seguida a categorização.

Segundo GIL (2009) o estudo de campo é uma modalidade que procura muito mais o aprofundamento e focaliza uma comunidade voltada para qualquer atividade humana, o estudo é feito por meio de observação e também entrevistas com a finalidade de captar informações e interpretações da realidade do grupo.

Da pesquisa participaram três pacientes já submetidos à cirurgia bariátrica há mais de dois anos, sendo o período de pós-operatório considerado até os dois primeiros anos, somente após este tempo a cirurgia chega aos resultados desejados, podendo o paciente vir a submeter-se a cirurgia plástica.  Os participantes são residentes da Grande Vitória, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), todos os procedimentos éticos foram tomados para preservar os pacientes, sendo garantido o sigilo. Trata-se de uma pesquisa de risco mínimo fundamentada na resolução 196/96 do CNS (Conselho Nacional de Saúde).

A análise dos dados coletados nas entrevistas foi realizada através da análise de conteúdo de Bardin (2002), que se baseia em operações de desmembramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias, e assim analisá-las.

 

 

 

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Foram entrevistados 3 (três) pacientes, duas mulheres e um homem, por espontânea vontade, solicitaram que seus nomes verdadeiros fossem registrados, todavia não foi possível atender ao solicitado pois o TCLE garante o anonimato do entrevistado, os pacientes  mostraram grande interesse em falar sobre o tratamento ao qual se submeteram. O nível de escolaridade variou entre ensino médio a ensino superior completo. Os dados sócio-demográficos estão resumidos na Tabela 01.

NOME

IDADE

ESCOLARIDADE

ESTADO CIVIL

NÚMERO DE FILHOS

TEMPO DE OPERADO

A

36

Superior completo

casado

3

3 anos

B

33

Superior Incompleto

casado

1

4 anos

C

29

Ensino médio

casado

2

5 anos

Tabela 01: dados sócio-demográficos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5 NARRATIVAS

5.1 ANTES DA CIRURGIA

 

Observou-se que diante do desejo de se submeter a cirurgia para solucionar o problema da obesidade o sujeito percorre uma trajetória de vida permeada pelo preconceito, dificuldade de socialização, e problemas de ordem psíquica, interferindo em sua qualidade de vida. É o sujeito que perdeu toda a sua subjetividade, pois ele foi destituído do lugar de sujeito sadio.

Todos os pacientes referem ter vivenciado dificuldades ao iniciar o tratamento, em se tratando da  tomada de decisão pela cirurgia, seja por falta de preparação psicológica ou por desinformação a respeito do procedimento, bem como o custo do tratamento que não se limita apenas à cirurgia, envolvendo também um período de adaptação que requer buscar um tratamento multidisciplinar, como se pode verificar nas seguintes falas:

DA OPÇÃO PELA CIRURGIA

 

“... São muitas as dificuldades que eu passava, tinha vergonha de tudo, não gostava nem de sair de casa, e jamais me olhava no espelho, eu demorei a decidir fazer a cirurgia, mas cheguei ao meu limite...” (Paciente B).

 

“... Eu tinha medo de operar, de nunca mais poder comer, mas se continuasse gorda seria pior, eu não podia nem entrar no ônibus e meu sonho era trabalhar, ser vendedora, nunca consegui emprego...” (Paciente C)

“...Eu não sabia que era tão gordo, demorei a decidir fazer a cirurgia, quase cinco anos para decidir, fiz de tudo pra emagrecer, mas não deu, então fiquei hipertenso, e com apnéia do sono alem de outras doenças, minha esposa achava que eu ia morrer a qualquer momento e eu tinha muita depressão, que eu não sabia de onde vinha...” (Paciente A).

 

DO PRECONCEITO SOCIAL

 

Observou-se que todos os pacientes referem perdas significativas que acompanham e permeiam a obesidade, tais como: perda do vigor, incapacidade para o trabalho, perda dos laços sociais, perda da liberdade, muito presentes em falas como:

 

“... Muitas dificuldades, a discriminação, falta de incentivo, emprego, casamento, relacionamento sexual, eu tinha vergonha de ir a escola da minha filha porque ia fazer ela passar constrangimento de ter uma mãe gorda...” (Paciente B).

 

“... Eu era limitado e prejudicado do ponto de vista profissional, o obeso é discriminado, a sociedade hoje não tem nada preparado para o obeso, você não tem cadeiras para obesos, roupas, avião e sua aparência é horrível...”(Paciente A).

 

“... Minha vida era muito difícil as pessoas me olhavam diferente, e eu sofria muito, não tinha amigos, me sentia cansada, com fortes dores nas articulações, por causa do peso, e eu vivia procurando emprego e nunca conseguia...” (Paciente C).

 

Essas falas retratam as perdas que os pacientes passam que são impostas pelo preconceito e discriminação ao obeso, além disso, há a presença de um discurso que denota sofrimento, baixa estima e emoção presentes em dois desses pacientes.

“... Você não é aceito, eu tentava ser engraçada para as pessoas não olharem tanto pra minha gordura, então eu contava piadas, pra ter amigos, e ser agradável, eu queria ser aceita...” (lágrimas nos olhos) (Paciente B).

 

“... Quando eu dizia que queria casar e ter filhos, as pessoas riam de mim, sempre tinha piadinhas, eu era uma baleia...” (Paciente C).

 

 

ESTÉTICA CORPORAL

 

Percebeu-se nas falas que a estética corporal deficiente, ou seja, fora dos padrões era determinante de alguns sentimentos, tais como isolamento e depressão, como se pode ver a seguir:

“... Eu era a pessoa mais feia do mundo... não me conhecia como nada... (Paciente A).

 

“... Eu era incompleta, me sentia um horror, nenhuma roupa servia, uma vez vi uma foto de um hipopótamo, era eu... rsrsrs ( Paciente B).

 

“... A estética corporal é tudo, se você tem o corpo feio ninguém te olha... (Paciente C).

 

DA ALIMENTAÇÃO

A alimentação desregrada estava presente no contexto e todos os pacientes têm a consciência que se alimentavam de forma errada, prejudicando assim sua saúde, apenas um paciente citou fatores genéticos, como requisitos para obesidade.

 

“... Eu comia muito mesmo e tomava 2 litros de refrigerante por dia, às vezes até quatro, de sobremesa 12 bombons e mais refrigerante, nunca água e verduras nem pensar... mas acho que também tinha a questão da genética... (Paciente A).

 

“... Lanche eu gostava muito, doces, refrigerantes, a comida era tudo pra mim... (Paciente B).

 

“... Eu comia bem, de tudo, mais principalmente doces adorava eu tinha muita ansiedade e então comia pra descontar... (Paciente C).

 

APOIO PSICOLÓGICO

 

Percebe-se em todas as falas dos entrevistados que não houve uma procura por atendimento psicológico antes da cirurgia, em alguns casos por desinformação da real necessidade e até mesmo problemas econômicos como podemos observar em algumas falas:

 

... Não procurei não, porque eu não gosto disso, acho que é coisa pra doido, eu não preciso, sou muito fechado e me acho auto-suficiente... (Paciente A).

 

...Não, porque não sabia que era necessário só mesmo pra pegar o laudo e fazer a cirurgia, agora com antecedência não, eu não sabia que isso era um problema assim psicológico... (Paciente B).

 

...”Não fui não, porque eu não pensava nisso, só queria emagrecer, o médico falou que era importante, mas a gente acha que não vai precisar que é só para o laudo mesmo, aí depois não volta mais, além disso, é caro e o plano de saúde não cobre...”  

 

 

 

 

 

5.2 APÓS A CIRURGIA

 

ESTÉTICA CORPORAL

 

A estética corporal aparece como conseqüência à aceitação, todos os pacientes relataram estar satisfeitos e terem ganhado auto-estima a partir da estética corporal que atenda aos padrões de beleza, apenas a paciente B referiu ter feito cirurgia plástica.

 

“... Sou aceito em todos os lugares aonde vou, é a melhor fase da minha vida, você consegue se olhar no espelho, se vestir e viver bem...” (Paciente A)

 

“... hoje sou magra e me aceito e sou aceita, acho que é mais um a questão minha mesmo, de mim comigo mesma, minha auto-estima, a estética é tudo na minha vida, mas isso foi uma coisa que aconteceu eu não sabia que ia ficar tão bonita assim... principalmente depois da plástica (Paciente B).

 

“... Hoje está muito bom, porque tenho um corpo magro, estou feliz... (Paciente C).

 

RELACIONAMENTO SOCIAL E AFETIVO

 

É importante ressaltar que um paciente apresenta amplo convívio social, onde mesmo diante da obesidade assume seu papel social, fazendo planos e não vivendo somente o foco da doença, apresentando formas de defesa para enfrentar a doença e o tratamento, o fator psicológico interfere e dita como os sujeitos lidam com a doença.   Além disso, observamos um tipo de defesa que é a racionalização, que se conceitua como o processo de achar motivos aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis.

Percebe-se também a cisão na identidade, quando uma nova está em construção, causando grande confusão para o sujeito que agora experimenta um novo corpo e novas sensações, tendo dificuldade para lidar com o novo sentido que deve dar a sua vida e que significado atribui a ser magro.

“... Eu levava bem, sempre tive amigos, mas no relacionamento com a esposa muda um pouco, porque você fica meio confuso, ao mesmo tempo em que você quer viver, você não quer perder tudo o que você já tem sua família, mas é difícil, porque eu tive um excesso de auto-estima...”

 

“... melhorou muito para ter amigos, tem algumas dificuldades, porque me sinto como se estivesse com 18 anos, então tem algumas coisas como casamento e filhos que fica difícil, porque eu pulei uma fase da minha vida, e agora eu quero viver tudo, e ninguém vai me impedir, é muito confuso...” (Paciente B)

 

“... Pra mim melhorou porque eu conheci meu marido me casei, arrumei um emprego como vendedora na Glória e tenho uma filha hoje, tudo que um dia eu sonhei eu conquistei...” (Paciente C)

 

REALIZAÇÃO PESSOAL

 

Observou-se nas falas que após a cirurgia, ocorre uma ressignificação da realidade antes vivida e o surgimento de uma nova identidade que está sendo construído, o valor atribuído a realização pessoal e auto-estima também foi identificada em todas as falas como se vê adiante:

 

“... Tá tudo bom, já alcancei o que queria, recuperei minha saúde, me sinto amado, sou aceito, tenho minha família...” (Paciente A)

 

“... preciso ainda melhorar meu casamento, como te falei, gostaria de resolver isto, e também a vida profissional ainda não esta boa... (paciente B)

 

“... Estou muito bem, completa, posso dizer assim... Completa mesmo. (Paciente C)

 

ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

 

Após a cirurgia percebe-se grande dificuldade em alimentar-se sendo necessária uma adaptação do paciente a nova vida e aos novos hábitos, como se evidencia nas seguintes falas:

 

“... hoje é bem diferente, mas eu como de tudo, só que pouco, e tento comer de forma mais saudável, tomo vitamina todo dia, meu exames estão ótimos, estou bem de saúde, nunca mais ronquei...” (Paciente A)

 

“... Minha saúde está ótima, eu como de tudo, às vezes tenho que vomitar, se estiver nervosa, ou comer rápido, ansiosa, não desce, mas em geral dá pra comer, mas é pouca  a quantidade...” (Paciente B)

 

“... Estou ótima, como de tudo, mas dou preferência a frutas e verduras, sempre vou à nutricionista e faço exames ta tudo bem, graças a Deus...” (Paciente C)

 

APOIO PSICOLÓGICO

 

Observou-se que apesar dos pacientes relatarem não terem  feito acompanhamento psicológico prévio, os mesmos atribuem grande significado e importância ao apoio psicológico, destacando que poderia ser eficaz e diminuir a ansiedade e auxiliar na readaptação, e não somente para obter o laudo indicativo para cirurgia. 

 

“... Acho que seria importante, mas não vou, porque tento eu mesmo resolver meus problemas, mas sem dúvida seria bom se fossemos acompanhados em todo o processo de emagrecimento...” (Paciente A).

 

“... Eu não sabia que precisava agora eu vejo que realmente é preciso, eu preciso, mas nada disso nunca foi dito, a gente acha que não precisa, se eu tivesse fazendo acompanhamento não estaria tão confusa...(Paciente B).

 

“... É muito importante, se eu pudesse pagar, seria ótimo a gente às vezes fica triste, não sabe o que fazer, poderia ajudar, se tivesse fazendo...” (Paciente C).

 

EXPECTATIVAS

 

As expectativas para o futuro são positivas, pois todos os pacientes referem ter obtido sucesso com a cirurgia e utilizam-se da palavra felicidade para dar significado a nova vida adquirida, a saber:

 

“... A cirurgia foi muito importante pra mim, agora tenho que manter, comecei a fazer aulas de dança, e quero ter sucesso profissional, ter minha família, servir a Deus...” (Paciente A).

 

“... não tem no dicionário uma palavra que expresse como me sinto hoje, é muito complexo, é bem estar físico, emocional, é eu comigo mesma...” (Paciente B).

 

“... Quero estar sempre assim feliz, estudar cuidar da minha família, é viver de verdade e não sobreviver... (Paciente C).       

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos através deste estudo que os pacientes vivenciam a cirurgia bariátrica como um momento crucial para suas vidas como se fosse uma cisão. Onde estar magro e ter a saúde restabelecida são constituidores de uma nova identidade. A identidade do sujeito portador da obesidade mórbida que terá como opção de tratamento a cirurgia. O momento de pós-operatório é marcado por conquistas, o sujeito vai se reconstruindo, se reencontrando enquanto sujeito ativo no universo social, deixando de serem sujeitos diferentes dos demais presentes na sociedade.

Este estudo possibilitou saber que a psicologia voltada para saúde é uma psicologia que parte da realidade concreta na qual as pessoas estão vivendo, identificando as condições e relações principais que constroem a identidade destas pessoas e o cotidiano objetivo e subjetivo em suas vidas. Assim, a psicologia voltada para a saúde deveria considerar que não é possível ter saúde se não se possui condições básicas de sobrevivência psíquica e afetiva. Se não é possível ser feliz com a vida que se têm, provavelmente não se teria muitas alternativas em termos de uma vida dirigida à saúde. Neste sentido, a saúde encontra-se vinculada às questões do ambiente concreto no qual o sujeito está inserido, ressaltando que as condições do contexto têm influência na vida psíquica do indivíduo.

Destarte, a cirurgia bariátrica foi relevante para todos os casos analisados, pois o sujeito obeso almejava um corpo sadio. Constatou-se também que a identidade passa por mudanças, já que antes o individuo não se afilia a grupos e se percebe excluído da sociedade. E sabemos que a identidade social se define a partir de como o sujeito de afilia a grupos e qual o valor emocional ele atribui bem como seu significado.

Vale ressaltar o importante papel que o psicólogo deve desempenhar junto ao candidato a cirurgia bariátrica no acompanhamento no pré e pós-cirúrgico e no devido acompanhamento ao longo do processo de emagrecimento, dando apoio, suporte nesta nova fase que se inicia, com o objetivo de verdadeiramente alcançar a qualidade de vida.

Em face desses aspectos, sugere-se que seja dada atenção devida à inserção do psicólogo no atendimento aos pacientes e seus familiares, pois, mesmo tendo a presença do psicólogo para liberação do laudo, este não atende a toda demanda que emerge da necessidade subjetiva presente no contexto obesidade, sendo relevante manter um atendimento direcionado e individual e/ou grupal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo.  Tradutor Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro Lisboa Ed. 70, 2002.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BALLONE, G.J. Obesidade. Disponível em: <http://www.Psiqweb.med.br/infantil/obesidade.htm> p.1 acesso em: 06/102009.

FANDINO, J. Cirurgia bariátrica: aspectos clínico-cirúrgicos e psiquiátricos. Revista de psiquiatria. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v26n1/20476.pdf> acesso em: 06/10/2009.

FRANQUES, A. R. M.; Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. 1ª edição. Editora Vetor. São Paulo. 2006.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª edição - São Paulo: Atlas, 2009.

NAVOLAR, A.B.B Terapia cognitivo comportamental: conceitos e pressupostos teóricos.  2004. Disponível em: <http://www.utp.br/psico.utp.online/site4/terapia_cog.pdf> Acesso em: 06/10/2009.

OLIVEIRA, V. M., LINARDI, R.C., AZEVEDO, A. P. Cirurgia bariátrica: aspectos psicológicos e psiquiátricos. Revista de psiquiatria clinica. Faculdade de medicina de São Paulo. Disponível em: <http://urutu.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol31/n4/199.html> Acesso em: 06/10/2009.

VASCONCELOS, P. O; NETO, S.B.C. Qualidade de vida de pacientes obesos em preparo para a cirurgia bariátrica. Revista eletrônica PUC RS. 2007. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/viewFile/1483/2796> Acesso em: 06/10/2009.

ANEXOS

ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

 

Concordo em participar da pesquisa abaixo discriminada, nos seguintes termos:

Pesquisa: Quais as mudanças na qualidade de vida de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica?

Responsável: Juliana Sampaio Lóss.

Esta pesquisa  visa compreender as mudanças na qualidade de vida de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.

Serão realizadas entrevistas semi estruturadas com os pacientes, bem como fotografia cedidas

  A entrevista terá duração média de uma hora. Fica assegurado o anonimato dos participantes.

Os resultados da pesquisa serão divulgados por meio de artigo científico, através de participação em congressos e publicações de artigos em periódicos especializados, contribuindo para a compreensão da Psicologia no âmbito escolar. Espera-se que os resultados possam gerar conhecimento sobre a atuação do psicólogo na escola.

Nome: __________________________________________________________________

RG: _____________________________Órgão Emissor: __________

Estando assim de acordo, assinam o presente termo de compromisso em duas vias.

____________________________________________________

Participante

_____________________________________________________

   Juliana Sa

Segundo Ballone (2009) a obesidade é um estado em que o indivíduo apresenta ganho de peso exacerbado, que está relacionado com a ingestão excessiva de alimentos calóricos e ausência  da atividade física. “A obesidade é considerada hoje uma doença tipo crônica, que provoca ou acelera o desenvolvimento de muitas doenças e que causa a morte precoce” (BALLONE, 2003 p.1). A obesidade pode-se dizer constitui-se um problema de saúde pública dada a sua ampla complexidade, seu caráter crônico, pode levar as pessoas a morte, e dificuldades para viver com qualidade.

 

Fandino (2009) nos mostra que a obesidade é uma doença que acomete todas as classes sociais, dado o excesso alimentar ao longo dos anos com ela o indivíduo passa a ter problemas de ordem social, afetiva, psicológica, e fisiológicas, tais como frustrações, infelicidade, doenças cardiovasculares, comprometimento da auto-estima, e outras doenças conseqüentes do excesso de peso, comprometendo sua qualidade de vida.

A obesidade está relacionada com dois fatores preponderantes: tais como a genética e a nutrição irregular. Filhos de pais obesos têm80 a90% de probabilidade de serem obesos, já uma criança superalimentada terá um desdobramento de células adiposas, gerando um processo irreversível, que é a causa principal de obesidade para toda a vida (BALLONE, 2009).

A obesidade é um problema que acomete a sociedade onde muitas pessoas têm sofrido ao longo do tempo com tentativas de emagrecimento, sejam dietas, medicamentos, tratamentos miraculosos, que por um tempo podem até ser de grande valia, porém ao interromperem o tratamento, voltam a engordar e quando se trata de um obeso mórbido só resta à opção cirúrgica.

Nos Estados Unidos, 97 milhões de pessoas (35% da população) estão acima do peso considerado saudável. No Brasil 40% da população (mais de 65 milhões de pessoas) está com excesso de peso e 10% dos adultos são obesos. Nem todas as pessoas com peso acima do esperado apresentam a mesma gama de problemas, portanto, as soluções para cada uma devem ser diferenciadas.

Segundo o Ministério da Saúde do ano2001 acirurgia da obesidade mórbida pode ocorrer quando o peso de uma pessoa extrapola o indice de 40 kg/m2 de massa corporal (IMC).  A cirurgia como tratamento da obesidade vem sendo amplamente difundida e muitos cirurgiões tem se especializado nas mais diversas técnicas cirúrgicas, como: restritivas e o método Capella.  Como nos mostra Fandino (2009) a cirurgia do tipo restritiva consiste no fechamento de uma porção do estômago através de uma sutura, gerando um compartimento fechado.  No método Capella, a cirurgia está associada a uma derivação em formato da letra Y. Este procedimento consiste na restrição do estômago para se adaptar a um volume menor que 30 ml. A redução de volume da cavidade é obtida através da colocação de um anel de contenção colocado no estômago.

A pessoa obesa sofre um preconceito pela dificuldade nos relacionamentos sociais e afetivos, problemas para encontrar trabalho, além da possibilidade de apresentar quadros psiquiátricos consequentes desta marginalização. Destarte, a busca pela cirurgia é uma possibilidade de cura da obesidade e das conseqüências cabendo aqui ressaltar a importância de uma efetiva mudança do comportamento e dos hábitos alimentares.

A cirurgia da obesidade não deve ser compreendida como uma cirurgia digestiva, mas como uma cirurgia do comportamento nutricional, cujo objetivo é a mudança dos hábitos alimentares de pacientes com obesidade mórbida, ou seja, aqueles que apresentam um alto grau de severidade desta doença, sendo esta compreensão importante para o sucesso nos resultados após a cirurgia. (CABALLERO,2005 inVASCONCELOS e NETO, p.60).

Percebe-se que existe uma necessidade de se procurar soluções psicológicas, sobretudo comportamentais, para tratar a obesidade, em vista das experiências com esta cirurgia que, freqüentemente, quando suscita conflitos psicológicos, pode levar a pessoa a ela submetida a repetidos episódios de vômitos, devido à ingestão excessiva de alimento, colocando o indivíduo em grande situação de vulnerabilidade e risco, o que pode redundar em bulimia por ingestão indevida de alimentos, sendo assim, é necessário que haja acompanhamento terapêutico para mudanças comportamentais. O aspecto que trata este artigo tem o objetivo de compreender quais são as mudanças ocorridas na qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. O papel do psicólogo é de extrema importância, cabendo a ele avaliar se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia auxiliando-o quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e pós-cirúrgico e quanto às possíveis contra-indicações para a cirurgia bariátrica, como veremos mais adiante nesta revisão bibliográfica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 A CIRURGIA BARIÁTRICA

 

A cirurgia bariátrica é uma opção para aqueles indivíduos que desejam emagrecer e que já tentaram de tudo, mas não obtiveram êxito. É a intervenção mais eficaz no tratamento da obesidade mórbida e controle do peso em longo prazo, todavia existem alguns critérios para preenchimento dos requisitos necessários para submissão á cirurgia, bem como, tipos adequados para cada individuo como nos mostra Pories, (2003) in Oliveira, Linardi e Azevedo, que o procedimento para cirurgias anti-obesidades didaticamente podem ser dividido em três procedimentos, o primeiro consiste em limitar a capacidade gástrica, também chamadas de cirurgias restritivas, no segundo interferem na digestão ou procedimentos mal absorvidos e o terceiro processo é uma combinação das técnicas anteriores.

A cirurgia bariátrica é um procedimento de grande porte e complexidade onde são requeridos cuidados extremos, pois pode apresentar riscos de complicações para que tal recurso alcance o sucesso almejado, se faz necessário que o paciente tenha total conhecimento do processo ao qual irá se submeter, benefícios e, sobretudo, os riscos decorrentes da cirurgia.

Indicações para a cirurgia bariátrica devem preencher alguns critérios, como IMC maior que 40 kg/m² ou IMC acima de 35 kg/m² associado a doenças com no mínimo, cinco anos de evolução e que melhorem com a perda de peso, como diabetes mellitus e hipertensão arterial, doenças osteoarticulares (principalmente dos membros inferiores), apnéia do sono, histórico de falha de tratamentos conservadores prévios e ausência de doenças endócrinas como causa da obesidade segundo Pories, (2003) in Oliveira, Linardi e Azevedo.

Como podemos observar a cirurgia bariátrica requer preparação e cumprimento alguns requisitos, para que o procedimento possa ocorrer. Os pacientes candidatos a cirurgia, passam por uma rotina prévia, fazendo vários exames clínicos e laboratoriais, pois a cirurgia é contra indicada a pacientes portadores de pneumopatologia, além de problemas renais. Espera-se que com a cirurgia ocorra a perda de peso, e a qualidade de vida seja resgatada. De acordo com Fandino (2004 p. 48) a seleção de pacientes requer um tempo mínimo de 5 anos de evolução da obesidade e história de falência do tratamento convencional realizado por profissionais qualificados. A cirurgia estaria contra-indicada em pacientes com pneumopatias graves, insuficiência renal, lesão acentuada do miocárdio e cirrose hepática.

Fatores psicológicos são de extrema importância na preparação para cirurgia, pois o que deve preceder serão as mudanças comportamentais, para que o resultado almejado seja de fato alcançado. Sendo assim, faz-se necessário acompanhamento psicológico com devida anuência no laudo psicológico para a cirurgia, assegurando que o indivíduo está em condições de submeter-se a operação bem como de ser assistido em seu pós-operatório.

O paciente no período pós-operatório também deve ser avaliado, continuamente a intervalos semestrais, para o acompanhamento do seu funcionamento psicológico posterior (FANDINO, 2009 p. 52). O trabalho deve ser multidisciplinar visando detectar riscos e benefícios esperados em busca da autonomia do sujeito para mudança no hábito alimentar e da recuperação da qualidade de vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 DESENVOLVIMENTO    

 

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) qualidade de vida envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e também a saúde, educação, poder de compra e outras circunstâncias da vida.

Qualidade de vida é um tema amplamente divulgado na mídia que o tem valorizado e destacado a tal ponto de a sociedade perseguir freneticamente uma vida de qualidade, onde possam encontrar satisfação pessoal, felicidade e saúde. Este termo não é de fácil conceituação, porém nos remete a subjetividade humana, levando-nos a questionar determinadas condições socioeconômicas que são geradoras ou não de uma vida boa.

Através da revisão bibliográfica foi possível constatar que muitas dificuldades permeiam o viver do indivíduo portador da obesidade mórbida, e que contribui para perda da qualidade de vida, portanto, o que o sujeito busca na cirurgia é a possibilidade de ter bem estar físico, psíquico e social, resgatando sua vida.

Para que este resgate seja possível através da cirurgia e conseqüentemente da cura da obesidade pela cirurgia bariátrica é necessário mudar o comportamento alimentar apreendido. Muitos pacientes obesos aprenderam ou foram estimulados a se alimentar de maneira errada. Desta forma faz-se necessário um aporte teórico que possibilite as mudanças necessárias ao comportamento aprendido, utilizando-se de tarefas e apoio psicoterapêutico ao longo do processo de emagrecimento, para tal, este estudo traz à Psicologia Cognitivo-Comportamental, por estar preocupada em alinhar a cirurgia a novos hábitos de vida e aquisição de conhecimentos para mudanças comportamentais, tais como: Se constituir enquanto sujeito a partir do reaprendizado na forma de alimentar-se.

Vale ressaltar que um bom prognóstico requer o acompanhamento multidisciplinar também no pós-operatório, pois o indivíduo precisa aprender  a alimentar-se de forma diferente pois os hábitos anteriores não se enquadram mais a nova realidade, requerendo aprender seus novos limites, a pensar previamente e conseqüentemente a se comportar de forma diferente, perceber-se diferente, enfim, a cirurgia bariátrica proporciona um renascimento do indivíduo. Para lidar com estas novas formas de viver é preciso que haja uma reestruturação total do indivíduo, no sentido de se reconhecer sob uma nova identidade.

Através da Terapia Cognitiva os indivíduos atribuem significado a acontecimentos, pessoas, sentimentos e demais aspectos de sua vida, com base nisso comportam-se de determinada maneira e constroem diferentes hipóteses sobre o futuro e sobre sua própria identidade. As pessoas reagem de formas variadas a uma situação específica podendo chegar a conclusões também variadas.

De acordo com BECK, 1963;1964 inNAVOLAR, (2004 p.9) em alguns momentos a resposta habitual pode ser uma característica geral dos indivíduos dentro de determinada cultura, em outros momentos estas respostas podem ser idiossincráticas derivadas de experiências particulares e peculiares a um indivíduo. Em qualquer situação estas respostas seriam manifestações de organizações cognitivas ou estruturas. Uma estrutura cognitiva é um componente da organização cognitiva em contraste com os processos cognitivos que são passageiros.

A Psicologia Cognitivo-Comportamental avaliará os pensamentos disfuncionais do sujeito, dá grande ênfase ao cliente e sua maneira de perceber-se no mundo. O objetivo é aprender novas estratégias para atuar no ambiente e promover as mudanças necessárias e assim adquirir qualidade de vida, considerando que o obeso sustenta em seu repertório de vida uma gama de tentativas de emagrecimento, muitas sem sucesso, carrega consigo doenças consequentes, sendo a cirurgia bariátrica a possibilidade de emagrecer. A obesidade tem aumentado no Brasil se tornando um problema de saúde da sociedade moderna.

Quando falamos em obesidade mórbida e cirurgia bariátrica não significa analisar apenas o paciente obeso, mas todo o contexto que permeia o processo de emagrecimento. Este estudo ressalta a importância de compreender quais as mudanças ocorridas no comportamento, bem como na qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. A importância deste estudo se dá devido ao aumento da busca da cirurgia como opção terapêutica para obesidade mórbida, além da escassa bibliografia que trate do tema relacionando-a a fatores psicológicos.  Conhecer como o paciente recupera saúde, auto-estima, qualidade de vida, resgate do tempo é de extrema relevância, pois abre novos campos de atuação para a psicologia, com a preparação de pacientes obesos para cirurgia, e seu acompanhamento no pós-operatório, trabalhando mudanças cotidianas e comportamentais.

FRANQUES (2006 p. 17) nos diz que a análise da qualidade de vida trouxe à tona a importância das repercussões psicológicas da cirurgia bariátrica. Buscou-se um olhar diferenciado através do relato de experiências, de pacientes submetidos à cirurgia.

Compreender as implicações de uma cirurgia bariátrica bem como as mudanças que ocorrem no comportamento, na percepção e na qualidade de vida do indivíduo submetido à cirurgia a mais de dois anos possibilita entender como se dá a busca pela cirurgia bariátrica, compreender as percepções do sujeito sobre ele próprio enquanto obeso e após cirurgia, avaliando assim a qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica em diferentes momentos desde o pré-cirúrgico até dois anos após a cirurgia.

Esta pesquisa de caráter qualitativo trabalha com a subjetividade, crenças, valores, atitudes, possibilitando responder a questões muito particulares que não podem ser quantificados. Este trabalho utilizou-se de estudo de campo e como instrumento de coleta de dados entrevistas semi-estruturadas, um diário de campo para a construção do antes e depois da cirurgia. Após o encerramento das entrevistas iniciou-se a transcrição sendo delineadas linhas narrativas a partir das entrevistas e em seguida a categorização.

Segundo GIL (2009) o estudo de campo é uma modalidade que procura muito mais o aprofundamento e focaliza uma comunidade voltada para qualquer atividade humana, o estudo é feito por meio de observação e também entrevistas com a finalidade de captar informações e interpretações da realidade do grupo.

Da pesquisa participaram três pacientes já submetidos à cirurgia bariátrica há mais de dois anos, sendo o período de pós-operatório considerado até os dois primeiros anos, somente após este tempo a cirurgia chega aos resultados desejados, podendo o paciente vir a submeter-se a cirurgia plástica.  Os participantes são residentes da Grande Vitória, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), todos os procedimentos éticos foram tomados para preservar os pacientes, sendo garantido o sigilo. Trata-se de uma pesquisa de risco mínimo fundamentada na resolução 196/96 do CNS (Conselho Nacional de Saúde).

A análise dos dados coletados nas entrevistas foi realizada através da análise de conteúdo de Bardin (2002), que se baseia em operações de desmembramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias, e assim analisá-las.

 

 

 

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Foram entrevistados 3 (três) pacientes, duas mulheres e um homem, por espontânea vontade, solicitaram que seus nomes verdadeiros fossem registrados, todavia não foi possível atender ao solicitado pois o TCLE garante o anonimato do entrevistado, os pacientes  mostraram grande interesse em falar sobre o tratamento ao qual se submeteram. O nível de escolaridade variou entre ensino médio a ensino superior completo. Os dados sócio-demográficos estão resumidos na Tabela 01.

NOME

IDADE

ESCOLARIDADE

ESTADO CIVIL

NÚMERO DE FILHOS

TEMPO DE OPERADO

A

36

Superior completo

casado

3

3 anos

B

33

Superior Incompleto

casado

1

4 anos

C

29

Ensino médio

casado

2

5 anos

Tabela 01: dados sócio-demográficos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5 NARRATIVAS

5.1 ANTES DA CIRURGIA

 

Observou-se que diante do desejo de se submeter a cirurgia para solucionar o problema da obesidade o sujeito percorre uma trajetória de vida permeada pelo preconceito, dificuldade de socialização, e problemas de ordem psíquica, interferindo em sua qualidade de vida. É o sujeito que perdeu toda a sua subjetividade, pois ele foi destituído do lugar de sujeito sadio.

Todos os pacientes referem ter vivenciado dificuldades ao iniciar o tratamento, em se tratando da  tomada de decisão pela cirurgia, seja por falta de preparação psicológica ou por desinformação a respeito do procedimento, bem como o custo do tratamento que não se limita apenas à cirurgia, envolvendo também um período de adaptação que requer buscar um tratamento multidisciplinar, como se pode verificar nas seguintes falas:

DA OPÇÃO PELA CIRURGIA

 

“... São muitas as dificuldades que eu passava, tinha vergonha de tudo, não gostava nem de sair de casa, e jamais me olhava no espelho, eu demorei a decidir fazer a cirurgia, mas cheguei ao meu limite...” (Paciente B).

 

“... Eu tinha medo de operar, de nunca mais poder comer, mas se continuasse gorda seria pior, eu não podia nem entrar no ônibus e meu sonho era trabalhar, ser vendedora, nunca consegui emprego...” (Paciente C)

“...Eu não sabia que era tão gordo, demorei a decidir fazer a cirurgia, quase cinco anos para decidir, fiz de tudo pra emagrecer, mas não deu, então fiquei hipertenso, e com apnéia do sono alem de outras doenças, minha esposa achava que eu ia morrer a qualquer momento e eu tinha muita depressão, que eu não sabia de onde vinha...” (Paciente A).

 

DO PRECONCEITO SOCIAL

 

Observou-se que todos os pacientes referem perdas significativas que acompanham e permeiam a obesidade, tais como: perda do vigor, incapacidade para o trabalho, perda dos laços sociais, perda da liberdade, muito presentes em falas como:

 

“... Muitas dificuldades, a discriminação, falta de incentivo, emprego, casamento, relacionamento sexual, eu tinha vergonha de ir a escola da minha filha porque ia fazer ela passar constrangimento de ter uma mãe gorda...” (Paciente B).

 

“... Eu era limitado e prejudicado do ponto de vista profissional, o obeso é discriminado, a sociedade hoje não tem nada preparado para o obeso, você não tem cadeiras para obesos, roupas, avião e sua aparência é horrível...”(Paciente A).

 

“... Minha vida era muito difícil as pessoas me olhavam diferente, e eu sofria muito, não tinha amigos, me sentia cansada, com fortes dores nas articulações, por causa do peso, e eu vivia procurando emprego e nunca conseguia...” (Paciente C).

 

Essas falas retratam as perdas que os pacientes passam que são impostas pelo preconceito e discriminação ao obeso, além disso, há a presença de um discurso que denota sofrimento, baixa estima e emoção presentes em dois desses pacientes.

“... Você não é aceito, eu tentava ser engraçada para as pessoas não olharem tanto pra minha gordura, então eu contava piadas, pra ter amigos, e ser agradável, eu queria ser aceita...” (lágrimas nos olhos) (Paciente B).

 

“... Quando eu dizia que queria casar e ter filhos, as pessoas riam de mim, sempre tinha piadinhas, eu era uma baleia...” (Paciente C).

 

 

ESTÉTICA CORPORAL

 

Percebeu-se nas falas que a estética corporal deficiente, ou seja, fora dos padrões era determinante de alguns sentimentos, tais como isolamento e depressão, como se pode ver a seguir:

“... Eu era a pessoa mais feia do mundo... não me conhecia como nada... (Paciente A).

 

“... Eu era incompleta, me sentia um horror, nenhuma roupa servia, uma vez vi uma foto de um hipopótamo, era eu... rsrsrs ( Paciente B).

 

“... A estética corporal é tudo, se você tem o corpo feio ninguém te olha... (Paciente C).

 

DA ALIMENTAÇÃO

A alimentação desregrada estava presente no contexto e todos os pacientes têm a consciência que se alimentavam de forma errada, prejudicando assim sua saúde, apenas um paciente citou fatores genéticos, como requisitos para obesidade.

 

“... Eu comia muito mesmo e tomava 2 litros de refrigerante por dia, às vezes até quatro, de sobremesa 12 bombons e mais refrigerante, nunca água e verduras nem pensar... mas acho que também tinha a questão da genética... (Paciente A).

 

“... Lanche eu gostava muito, doces, refrigerantes, a comida era tudo pra mim... (Paciente B).

 

“... Eu comia bem, de tudo, mais principalmente doces adorava eu tinha muita ansiedade e então comia pra descontar... (Paciente C).

 

APOIO PSICOLÓGICO

 

Percebe-se em todas as falas dos entrevistados que não houve uma procura por atendimento psicológico antes da cirurgia, em alguns casos por desinformação da real necessidade e até mesmo problemas econômicos como podemos observar em algumas falas:

 

... Não procurei não, porque eu não gosto disso, acho que é coisa pra doido, eu não preciso, sou muito fechado e me acho auto-suficiente... (Paciente A).

 

...Não, porque não sabia que era necessário só mesmo pra pegar o laudo e fazer a cirurgia, agora com antecedência não, eu não sabia que isso era um problema assim psicológico... (Paciente B).

 

...”Não fui não, porque eu não pensava nisso, só queria emagrecer, o médico falou que era importante, mas a gente acha que não vai precisar que é só para o laudo mesmo, aí depois não volta mais, além disso, é caro e o plano de saúde não cobre...”  

 

 

 

 

 

5.2 APÓS A CIRURGIA

 

ESTÉTICA CORPORAL

 

A estética corporal aparece como conseqüência à aceitação, todos os pacientes relataram estar satisfeitos e terem ganhado auto-estima a partir da estética corporal que atenda aos padrões de beleza, apenas a paciente B referiu ter feito cirurgia plástica.

 

“... Sou aceito em todos os lugares aonde vou, é a melhor fase da minha vida, você consegue se olhar no espelho, se vestir e viver bem...” (Paciente A)

 

“... hoje sou magra e me aceito e sou aceita, acho que é mais um a questão minha mesmo, de mim comigo mesma, minha auto-estima, a estética é tudo na minha vida, mas isso foi uma coisa que aconteceu eu não sabia que ia ficar tão bonita assim... principalmente depois da plástica (Paciente B).

 

“... Hoje está muito bom, porque tenho um corpo magro, estou feliz... (Paciente C).

 

RELACIONAMENTO SOCIAL E AFETIVO

 

É importante ressaltar que um paciente apresenta amplo convívio social, onde mesmo diante da obesidade assume seu papel social, fazendo planos e não vivendo somente o foco da doença, apresentando formas de defesa para enfrentar a doença e o tratamento, o fator psicológico interfere e dita como os sujeitos lidam com a doença.   Além disso, observamos um tipo de defesa que é a racionalização, que se conceitua como o processo de achar motivos aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis.

Percebe-se também a cisão na identidade, quando uma nova está em construção, causando grande confusão para o sujeito que agora experimenta um novo corpo e novas sensações, tendo dificuldade para lidar com o novo sentido que deve dar a sua vida e que significado atribui a ser magro.

“... Eu levava bem, sempre tive amigos, mas no relacionamento com a esposa muda um pouco, porque você fica meio confuso, ao mesmo tempo em que você quer viver, você não quer perder tudo o que você já tem sua família, mas é difícil, porque eu tive um excesso de auto-estima...”

 

“... melhorou muito para ter amigos, tem algumas dificuldades, porque me sinto como se estivesse com 18 anos, então tem algumas coisas como casamento e filhos que fica difícil, porque eu pulei uma fase da minha vida, e agora eu quero viver tudo, e ninguém vai me impedir, é muito confuso...” (Paciente B)

 

“... Pra mim melhorou porque eu conheci meu marido me casei, arrumei um emprego como vendedora na Glória e tenho uma filha hoje, tudo que um dia eu sonhei eu conquistei...” (Paciente C)

 

REALIZAÇÃO PESSOAL

 

Observou-se nas falas que após a cirurgia, ocorre uma ressignificação da realidade antes vivida e o surgimento de uma nova identidade que está sendo construído, o valor atribuído a realização pessoal e auto-estima também foi identificada em todas as falas como se vê adiante:

 

“... Tá tudo bom, já alcancei o que queria, recuperei minha saúde, me sinto amado, sou aceito, tenho minha família...” (Paciente A)

 

“... preciso ainda melhorar meu casamento, como te falei, gostaria de resolver isto, e também a vida profissional ainda não esta boa... (paciente B)

 

“... Estou muito bem, completa, posso dizer assim... Completa mesmo. (Paciente C)

 

ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

 

Após a cirurgia percebe-se grande dificuldade em alimentar-se sendo necessária uma adaptação do paciente a nova vida e aos novos hábitos, como se evidencia nas seguintes falas:

 

“... hoje é bem diferente, mas eu como de tudo, só que pouco, e tento comer de forma mais saudável, tomo vitamina todo dia, meu exames estão ótimos, estou bem de saúde, nunca mais ronquei...” (Paciente A)

 

“... Minha saúde está ótima, eu como de tudo, às vezes tenho que vomitar, se estiver nervosa, ou comer rápido, ansiosa, não desce, mas em geral dá pra comer, mas é pouca  a quantidade...” (Paciente B)

 

“... Estou ótima, como de tudo, mas dou preferência a frutas e verduras, sempre vou à nutricionista e faço exames ta tudo bem, graças a Deus...” (Paciente C)

 

APOIO PSICOLÓGICO

 

Observou-se que apesar dos pacientes relatarem não terem  feito acompanhamento psicológico prévio, os mesmos atribuem grande significado e importância ao apoio psicológico, destacando que poderia ser eficaz e diminuir a ansiedade e auxiliar na readaptação, e não somente para obter o laudo indicativo para cirurgia. 

 

“... Acho que seria importante, mas não vou, porque tento eu mesmo resolver meus problemas, mas sem dúvida seria bom se fossemos acompanhados em todo o processo de emagrecimento...” (Paciente A).

 

“... Eu não sabia que precisava agora eu vejo que realmente é preciso, eu preciso, mas nada disso nunca foi dito, a gente acha que não precisa, se eu tivesse fazendo acompanhamento não estaria tão confusa...(Paciente B).

 

“... É muito importante, se eu pudesse pagar, seria ótimo a gente às vezes fica triste, não sabe o que fazer, poderia ajudar, se tivesse fazendo...” (Paciente C).

 

EXPECTATIVAS

 

As expectativas para o futuro são positivas, pois todos os pacientes referem ter obtido sucesso com a cirurgia e utilizam-se da palavra felicidade para dar significado a nova vida adquirida, a saber:

 

“... A cirurgia foi muito importante pra mim, agora tenho que manter, comecei a fazer aulas de dança, e quero ter sucesso profissional, ter minha família, servir a Deus...” (Paciente A).

 

“... não tem no dicionário uma palavra que expresse como me sinto hoje, é muito complexo, é bem estar físico, emocional, é eu comigo mesma...” (Paciente B).

 

“... Quero estar sempre assim feliz, estudar cuidar da minha família, é viver de verdade e não sobreviver... (Paciente C).       

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos através deste estudo que os pacientes vivenciam a cirurgia bariátrica como um momento crucial para suas vidas como se fosse uma cisão. Onde estar magro e ter a saúde restabelecida são constituidores de uma nova identidade. A identidade do sujeito portador da obesidade mórbida que terá como opção de tratamento a cirurgia. O momento de pós-operatório é marcado por conquistas, o sujeito vai se reconstruindo, se reencontrando enquanto sujeito ativo no universo social, deixando de serem sujeitos diferentes dos demais presentes na sociedade.

Este estudo possibilitou saber que a psicologia voltada para saúde é uma psicologia que parte da realidade concreta na qual as pessoas estão vivendo, identificando as condições e relações principais que constroem a identidade destas pessoas e o cotidiano objetivo e subjetivo em suas vidas. Assim, a psicologia voltada para a saúde deveria considerar que não é possível ter saúde se não se possui condições básicas de sobrevivência psíquica e afetiva. Se não é possível ser feliz com a vida que se têm, provavelmente não se teria muitas alternativas em termos de uma vida dirigida à saúde. Neste sentido, a saúde encontra-se vinculada às questões do ambiente concreto no qual o sujeito está inserido, ressaltando que as condições do contexto têm influência na vida psíquica do indivíduo.

Destarte, a cirurgia bariátrica foi relevante para todos os casos analisados, pois o sujeito obeso almejava um corpo sadio. Constatou-se também que a identidade passa por mudanças, já que antes o individuo não se afilia a grupos e se percebe excluído da sociedade. E sabemos que a identidade social se define a partir de como o sujeito de afilia a grupos e qual o valor emocional ele atribui bem como seu significado.

Vale ressaltar o importante papel que o psicólogo deve desempenhar junto ao candidato a cirurgia bariátrica no acompanhamento no pré e pós-cirúrgico e no devido acompanhamento ao longo do processo de emagrecimento, dando apoio, suporte nesta nova fase que se inicia, com o objetivo de verdadeiramente alcançar a qualidade de vida.

Em face desses aspectos, sugere-se que seja dada atenção devida à inserção do psicólogo no atendimento aos pacientes e seus familiares, pois, mesmo tendo a presença do psicólogo para liberação do laudo, este não atende a toda demanda que emerge da necessidade subjetiva presente no contexto obesidade, sendo relevante manter um atendimento direcionado e individual e/ou grupal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo.  Tradutor Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro Lisboa Ed. 70, 2002.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BALLONE, G.J. Obesidade. Disponível em: <http://www.Psiqweb.med.br/infantil/obesidade.htm> p.1 acesso em: 06/102009.

FANDINO, J. Cirurgia bariátrica: aspectos clínico-cirúrgicos e psiquiátricos. Revista de psiquiatria. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v26n1/20476.pdf> acesso em: 06/10/2009.

FRANQUES, A. R. M.; Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. 1ª edição. Editora Vetor. São Paulo. 2006.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª edição - São Paulo: Atlas, 2009.

NAVOLAR, A.B.B Terapia cognitivo comportamental: conceitos e pressupostos teóricos.  2004. Disponível em: <http://www.utp.br/psico.utp.online/site4/terapia_cog.pdf> Acesso em: 06/10/2009.

OLIVEIRA, V. M., LINARDI, R.C., AZEVEDO, A. P. Cirurgia bariátrica: aspectos psicológicos e psiquiátricos. Revista de psiquiatria clinica. Faculdade de medicina de São Paulo. Disponível em: <http://urutu.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol31/n4/199.html> Acesso em: 06/10/2009.

VASCONCELOS, P. O; NETO, S.B.C. Qualidade de vida de pacientes obesos em preparo para a cirurgia bariátrica. Revista eletrônica PUC RS. 2007. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/viewFile/1483/2796> Acesso em: 06/10/2009.

ANEXOS

ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

 

Concordo em participar da pesquisa abaixo discriminada, nos seguintes termos:

Pesquisa: Quais as mudanças na qualidade de vida de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica?

Responsável: Juliana Sampaio Lóss.

Esta pesquisa  visa compreender as mudanças na qualidade de vida de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.

Serão realizadas entrevistas semi estruturadas com os pacientes, bem como fotografia cedidas

  A entrevista terá duração média de uma hora. Fica assegurado o anonimato dos participantes.

Os resultados da pesquisa serão divulgados por meio de artigo científico, através de participação em congressos e publicações de artigos em periódicos especializados, contribuindo para a compreensão da Psicologia no âmbito escolar. Espera-se que os resultados possam gerar conhecimento sobre a atuação do psicólogo na escola.

Nome: __________________________________________________________________

RG: _____________________________Órgão Emissor: __________

Estando assim de acordo, assinam o presente termo de compromisso em duas vias.

____________________________________________________

Participante

_____________________________________________________

   Juliana Sampaio Lóss,

______________________________________________________

mpaio Lóss,

______________________________________________________