QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES DA LAVANDERIA DE UM HOSPITAL PÚBLICO EM PORTO VELHO/RO 1

Aline Mendonça de Oliveira 2
Elnir Miguel da Silva Costa2 Maria Tereza Sória Tibúrcio 2
Vitorino Vale Junior 2
Jeanne Lúcia Gadelha Freitas 3

RESUMO: O estudo investiga as condições de saúde e trabalho na perspectiva da qualidade de vida do (a) trabalhador (a), da lavanderia do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, Porto Velho-RO. Caracterizou-se perfil sócio-demográfico, saúde ocupacional, grau de motivação e satisfação do (a)s pesquisado (a)s. Trata-se de um estudo quantitativo de caráter descritivo-exploratório, realizado de Agosto a Outubro de 2007. Participaram do estudo 38 trabalhadores, 70% do universo, utilizando-se questionário com perguntas fechadas e abertas.Após coleta, os dados sofreram tratamento estatístico de freqüências absoluta e relativa, apresentados em tabelas. Os resultados mostram trabalhadores (as) em condições de saúde pessoal e coletiva preocupantes, agravados por riscos ocupacionais que interferem na qualidade de suas vidas, sobretudo pelo predomínio de mulheres 81%(n= 31) na faixa etária de 51 a 60 anos, com baixo nível salarial e escolar. Destaca-se o etilismo com 74% (n= 29), sendo a maioria concentrado no sexo feminino 64% (n= 25) estando superior ao tabagismo que tem um percentual de 24% (n= 09).Em relação a distúrbios cardiovasculares 26% (n= 10) e osteomusculares 16% (n= 06) em ambos os sexos, com destaque para 2 casos,ou seja, cinco por cento (5%) de tuberculose em mulheres. 52% (n= 20) do (as) entrevistado (as) mostraram-se motivados com o trabalho e almejando melhores salários. Existe alto grau 74% (n= 28) de insatisfação com higiene do setor, ruídos das máquinas 58% (n= 22) e produtos químicos 66% (n= 25). 71% (n= 27) esperam melhoria na estrutura física e 29% (n= 11) se preocupam com manutenção de equipamentos antigos. A satisfação principal é ficar com a família 74% (n= 28) sendo maior que tirar férias, viajar 16% (n= 06) e trabalhar 10% (n= 04).Recomenda-se implantar em curto prazo, grupos terapêuticos ao etilismo e tabagismo, vigilância à saúde do trabalhador; capacitações para planejamento estratégico setorial e provisão de recursos humanos em função do perfil etário e social do (as) atuais funcionários (a)s.

Palavras-chave: Qualidade de vida, saúde do trabalhador e lavanderia hospitalar.

ABSTRACT: The study investigates the health conditions and work in perspective of quality of life of the worker, in the laundry of Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, Porto Velho-Ro.It was characterized social-demographic profile, occupational health, and motivation and satisfaction level of people researched.It talks about a quantitative study of descriptive-exploratory character; it was done from august to October 2007.Thirty-eight workers took part of this study, 70% of the universe, it was used questionnaire with open and closed questions.After the collecting, data was submitted to statistic treatment of absolute and relative frequency, presented in tables. The results showed workersin worried conditions of health both personally and collectives, even worse concerning occupational risks that makes present in their qualities of lives, overall the predominant women 81%(n= 31) in age group between 51 to 60 years old, with low level of wages and educational background.The alcoholism was a significant factor with 74% (n= 29),being concentrated in female sex 64% (n= 25) being superior to tabagism that has a percentage of 24% (n= 09).In relation to heart failures 26% (n= 10) and osteo-muscular 16% (n= 06) in both sexs, 2 cases were stood out, or rather, (5%) of tuberculosis in women. 52% (n= 20) of interviewed(s) they showed motivated to work and always aiming a good salary.There were high level 74% (n= 28) of dissatisfaction with the hygine in their departments, the noise of machines58% (n= 22) and chemical products66% (n= 25). 71% (n= 27 they expects a better improvements in physical space and29% (n= 11) are worried with the maintenance of very old equipments.The main satisfaction is to be with their families 74% (n= 28)even greater than receive their vacations, to travel 16% (n= 06) and work 10% (n= 04). It was recommended in a short-term, therapeutically groups to alcoholism and tabagism, health surveillance to worker's health, capacitation to an strategic planning in sectors and provision to human resources tending theage group and social profileof the current worker(s).

Key words: Quality of life, worker's health, hospital laundry.

INTRODUÇÃO

A globalização tem provocado rápidas e grandes mudanças, impulsionando organizações na busca de novas alternativas à melhoria da qualidade dos serviços. Nesse sentido, o termo qualidade passa a ser incorporado enquanto necessidade na garantia de resultados positivos, exigindo do mercado de trabalho efetivos investimentos não somente nos bens e serviços produzidos, mas, sobretudo nas pessoas que os produzem (MEZOMO,2001; VASCONCELOS, 2001).

Com o surgimento de novas tecnologias o mercado passa a apresentar novos equipamentos, sendo estes específicos para cada área, e em razão disso verifica-se a necessidade de pessoas qualificadas, mas também em boas condições de saúde para desempenhar as tarefas com melhor conhecimento e segurança.

Entretanto, na maioria das vezes, a saúde dos trabalhadores é posta em segundo plano, refletindo uma prática valorativa nos aspectos materiais em detrimento à Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Desse modo, os trabalhadores passam por experiências indefiníveis e indescritíveis, sem ao menos compreender ou explicar o significado subjetivo de sensações como dor e ansiedade; aspectos psicossociais e que permitem compreender e avaliar a repercussão das condições de trabalho e seus ambientes no processo saúde/doença dos indivíduos.

Os riscos ambientais estão presentes cotidianamente nas atividades que o próprio ambiente requer. No ambiente hospitalar, há trabalhadores que cuidam diretamente do doente e outros que dão sustentação aos serviços destes à recuperação dos pacientes. São trabalhadores administrativos e dos serviços de infra-estrutura, que embora não exerçam atividades com o doente, trabalham no sentido de que o cuidar, inerente aos outros, se faça do melhor modo possível (CARVALHO, 2003).

Nesse sentido, cada trabalhador deve desempenhar suas funções com habilidade, qualificação e conhecimento do seu ambiente de trabalho, visto que são setores interdependentes, necessitando de desempenho humano consciente e eficaz.

Entretanto, sabe-se que as atividades deste setor provocam demasiado desgaste físico, pois são tarefas de movimentos repetitivos, contínuos e, não raros, exercidos com posturas completamente ou parcialmente inadequadas, com ou sem a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e em ambiente físico desfavorável, ao efetivo exercício das atividades dos seus profissionais.

É importante enfatizar que as lavanderias hospitalares são projetadas e subdivididas em setores de acordo com os procedimentos, sendo a área considerada crítica devido ao manuseio de artigos contendo alta carga de material biológico infectado, como sangue, secreções, materiais perfuro-cortantes e instrumentos cirúrgicos.

A lavanderia hospitalar é também um ambiente profissional tenso e complexo, dificultando, entre outros fatores, a aproximação e o convívio das pessoas que nela atuam.Percebe-se ainda uma carência de profissionais treinados e capacitados no manejo e higienização da roupa hospitalar, evidenciando um planejamento inadequado e ou ineficaz refletido em precárias condições de higiene e segurança no trabalho.

Neste sentido, vale pensar que segundo PITTA (1990) não nos parece eticamente defensável aguardar o surgimento de patologias mentais explícitas e evidenciáveis para assumir uma atitude de controle e prevenção em determinados aspectos do processo de trabalho hospitalar que possam agredir a vida psíquica dos seus trabalhadores. Isto posto, torna-se importante compreender que a não primazia pela qualidade de vida no trabalho, gera além dos riscos ocupacionais, insatisfação no desempenho profissional e, consequentemente queda na produtividade.

Desta forma, há de compreender que a Qualidade de Vida no Trabalho é uma abordagem que valoriza o trabalhador como ser humano, buscando equilíbrio entre o indivíduo e a organização, intermediando exigências e necessidades de ambos, com satisfação tanto para as pessoas quanto para a organização (VIEIRA, 1993).

Considerando-se tais prerrogativas, o conceito Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) foco deste estudo, objetiva conhecer as condições de trabalho e o nível de satisfação dos trabalhadores do Setor de Lavanderia/HBAP no município de Porto Velho,

A revelância deste estudo provém do fato de que homens e mulheres que dedicam diuturnamente sua força produtiva a um trabalho extenuante, insalubre, pouco valorizado e muitas vezes "invisível" aos olhos dos gestores, necessita ser encarada como problema crítico à prática eficiente e humanizada dos serviços de saúde.

Qualidade de Vida do Ser Humano

Para Moller (1996, p. 12), "qualidade é um termo ambíguo", posto que a palavra seja usada de formas diferentes, com variedades de significados; não sendo possível, pois, descrevê-la de forma clara e objetiva. Assim, "qualidade superior" versus "qualidade inferior" não são termos objetivos. Podem descrever algo concreto, ou alguma coisa mais emocional.

Até porque, do início dos anos 50 até o final dos anos 70, os peritos preocupavam-se, sobretudo, com a qualidade de produtos físicos, sendo alvo de interesse pela qualidade dos serviços e pelo comportamento humano somente nos idos 80, via influência da TMI – Time Manager International, cujos conceitos era "colocar as pessoas em primeiro lugar" representando uma revolução no desenvolvimento de qualidade (MOLLER, 1996).

A TMI aconselha que as organizações se interessem não só pela qualidade técnica e pelos ganhos financeiros, mas também pela qualidade das pessoas que as compõem, de sorte a acrescentar novas dimensões à idéia de desenvolvimento da qualidade: melhorando as relações humanas, fortalecendo as comunicações, formando espírito de equipe e mantendo padrões éticos elevados.

Fatores que interferem na qualidade de vida no trabalho

Os administradores de um modo geral estão envolvidos na gestão de pessoas que envolvem as responsabilidades legais e morais de assegurar um local de trabalho livre de riscos desnecessários e de condições ambientais que possam provocar danos à saúde física e mental das pessoas. (CHIAVENATO, 1999, p. 375).

As doenças profissionais e os acidentes do trabalho provocam, entre outros fatores, enormes prejuízos às pessoas e organizações em termos de custos humanos, sociais e financeiros, necessitando ser dimensionados por ocasião de um planejamento estratégico na gestão de serviços e pessoas no campo da saúde.

Para Moller (1996) existem ainda outros fatores que interferem na qualidade de vida de uma pessoa de ordem mais subjetiva, a saber: reconhecimento/recompensa; conhecer metas; sucesso/fracasso; o ambiente físico; o ambiente psicológico; experiência e habilidades; a natureza da tarefa; tempo disponível; e o desempenho dos outros.

Enfim, fatores que interferem tanto nas condições biopsicológicas do indivíduo como nas estruturas organizacionais. Neste estudo, destina-se especial atenção somente aos aspectos intervenientes sobre a qualidade de vida do(as) trabalhador(as).

OBJETIVO GERAL

Conhecer as condições de trabalho na perspectiva da qualidade de vida do (a) trabalhador (a) do setor de Lavanderia do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, município de Porto Velho-RO, visando colaborar para a melhoria na gestão do serviço.

METODOLOGIA

Estudo de caráter descritivo- exploratório, com abordagem quantitativa.

LOCAL DE ESTUDO

O estudo foi desenvolvido no Núcleo de Limpeza, Lavanderia e Costura do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, localizado na Avenida Governador Jorge Teixeira nº. 3766, bairro Industrial, em Porto Velho, capital do Estado de Rondônia. Constituí-se no maior hospital público do Estado, com 380 leitos e possui 1.810 funcionários. O setor do núcleo de limpeza, lavanderia e costura é responsável pela lavagem, limpeza e confecção de roupas hospitalares, realizado por 54 (cinqüenta e quatro) trabalhadores (as) corresponde a 2,54% do total de funcionários do HBAP, atuando em plantões diuturnamente no processamento de 1.700 kg/dia de roupas e artigos utilizados pelo diversos setores do Hospital.

POPULAÇÃO DO ESTUDO

A população compreendeu 38 (trinta e oito) trabalhadores (as) presentes nos plantões do período de Agosto a Outubro de 2007, correspondendo a 70% do universo.

Os critérios de inclusão foram trabalhador (a) em efetivo exercício (exceto em gozo de férias ou licença); que se dispôs a participar do estudo antes ou após o plantão. Para exclusão considerou-se o (a) trabalhador (as) do setor que se eximiu do interesse em participar voluntariamente da pesquisa no momento da abordagem.  

A COLETA DE DADOS

     A coleta de dados ocorreu nas dependências da Lavanderia, entre Agosto e Outubro de 2007 após autorização da supervisão responsável pelo setor e do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UNIR) e autorização formal da direção do HBAP. Procedeu-se a aplicação do instrumento de coleta de dadosindividual, antes da passagem dos plantões diurnos (7h às 19h) e noturnos (19h às 7h), para que se abordassem trabalhadores de ambos os turnos.

O Questionário pautou-se na revisão de literatura incluindo tópicos: a) Identificação b) Vida Pessoal//Familiar/Social c) Vida Profissional e d) Perspectivas Futuras. Para validação do instrumento, foram entrevistados cinco funcionários remanescentes do Setor de Costura do Núcleo. Para viabilizar a coleta de dados realizou-se a) Reunião com Chefia do Núcleo; b) Apresentação do Projeto; c) Aplicação dos questionários em ambiente com privacidade e d) Observação e Levantamento documental complementar do Núcleo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A quase totalidade dos (as) trabalhadores (as) do Setor de lavanderia do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro é composta pelo sexo feminino, 81% (n= 31)corroborando que atividades do cuidar com a higienização de um modo geral, ainda são predominantemente atribuídas e exercidas pelo sexo feminino na sociedade (BRASIL, 2004).

Segundo PITTA (1990) o hospital é um espaço típico de profissionalização do trabalho doméstico, evidenciando atividades reparadoras dos processos femininos de sublimação, onde pulsões habitualmente satisfeitas na esfera doméstica qualificam e regulam impulsos primitivos femininos. A subqualificação para o exercício, a suposta emancipação feminina e os baixos salários colaboram para que sua saúde seja constantemente ameaçada e agredida.

Tabela 1 - Distribuição do(a)s trabalhador(a)s da Lavanderia do HBAP, segundo faixa etária e sexo, 2007.


Segundo dados da Tabela 1, cerca de 53% (n= 20) dos entrevistados se encontram na faixa etária de 51 a 60 anos de idade, evidenciando trabalhadores (as) de meia idade, outrora recrutado (a)s e atuando há bastante tempo no exercício de suas funções na Lavanderia do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro.

Essas fases são tão marcantes que, ao observar os sintomas característicos de cada uma delas, reconhece-se não apenas a fase de maturidade do grupo em si, mas também o comportamento típico de cada indivíduo que o compõe (CHIAVENATO, 1997).

Pelo fato das atividades serem executadas predominantemente por mulheres maduras (51 a 60 anos), a repercussão de fatores estressantes na saúde destas, agravam a qualidade de vida profissional com sérias conseqüências pessoais.

Tabela 2 – Distribuição dos (as) trabalhadores (as) da Lavanderia do HBAP, segundo sexo e estilo de vida.



Nesse sentido e considerando o estilo de vida dos (as) trabalhadores (as) deste estudo, revelam-se dados preocupantes. Na tabela 2, observa-se aspectos que interferem negativamente na qualidade de vida dos entrevistados. Destacam-se o etilismo, 74% (n= 29) predominando sobre o tabagismo 24% (n= 09), sobretudo nas mulheres 64% (n= 25).

Quanto à prática de atividades físicas, os resultados mostram que apenas 19% (n= 07) se exercitam adequadamente, ou seja, realizam atividades benéficas como caminhada.

Um outro agravante diz respeito ao lazer, já que 61% (n= 23) dos (as) pesquisados (as) não aproveitam adequadamente o gozo de férias. O fato é que, observa-se uma prática de postergar esse benefício como forma de "otimizar" a renda, fazendo acordos com outros colegas ou ainda acumulando esta por até três anos seguidos. Enfim, estilos prejudiciais à saúde pessoal e profissional destes trabalhadores, já que não existem investimentos em outras formas de lazer por parte deles próprios ou da organização e seus gestores.

Um dado animador, porém isolado é o hábito de leitura relatado por 50% (n= 19) dos (as) pesquisados (as), apontando um potencial para investimento na melhoria da qualidade de vida, através da educação continuada em serviço, levando-se em conta o perfil do trabalhador e seu ambiente de trabalho, até porque segundo MEZOMO (2001, p. 53) faz-se urgente nova gestão de recursos humanos centrada na educação e desenvolvimento de pessoas, que, evidentemente, constituem o verdadeiro patrimônio das organizações.

O estilo de vida e os níveis de educação, são importantes variáveis do nível de satisfação das necessidades humanas (CHIAVENATO, 1999). Nesse sentido, VASCONCELOS (2001, p.28) sugere melhoria nas atividades de segurança e saúde no trabalho, discutida num sentido mais amplo, incluindo qualidade das relações de trabalho e suas conseqüências na saúde das pessoas e da organização.

Tabela 3 - Distribuição dos (as) trabalhadores (as) da Lavanderia do HBAP, em relação a problemas de saúde nos últimos 6 (seis) meses


Outro fator interveniente na qualidade de vida diz respeito às condições de saúde dos pesquisados. Na tabela 3, visualiza-se os principais problemas com destaque para distúrbios cardiovasculares 26% (n= 10) em ambos os sexos, sobretudo quando relacionados à idade média dos pesquisados, o tipo e o tempo de atividades por eles exercidas.

Um dado preocupante é o relato de dois casos de tuberculose no sexo feminino, respondendo por 5% dos problemas apontados, porém com sérias implicações de saúde coletiva. Pela forma de transmissão, condições ambientais e climáticas há grandes chances de propagação da doença (BRASIL, 2002)já que o setor de lavanderia aglomera muitas pessoas em espaços pequenos, quentes e abafados.

Outro dado não menos preocupante é a manifestações de queixas incluídas na categoria de "outros" que juntas, respondem por 16% (n= 06) dos problemas de saúde. São fatos que aparentemente se diluem entre os demais, porém sinalizam um aumento das doenças crônico degenerativas não transmissíveis (DANTS) relacionadas às condições ambientais no setor de lavanderia do HBAP.

Refletindo sobre tais aspectos, LACAZ (2000) lembra que a saúde e a qualidade do trabalho não podem ser negociadas como mais um mero elemento de produção. Para este, é preciso antecipar-se pela vigilância aos agravos, priorizando a busca de outros nexos saúde-trabalho, para além da causalidade direta.

Tabela 4 – Opinião dos (as) trabalhadores (as) em relação às condições de trabalho e riscos ocupacionais no Setor de Lavanderia do HBAP, 2007.



Conforme tabela 4, 82% (n= 31) dos entrevistados informaram que não sofreram qualquer tipo de acidente contra apenas 13% (n= 05) que já sofreram pelo menos algum acidente. Observa-se o expressivo índice de 79% (n= 30) dos que afirmam não ter recebido nenhum tipo de treinamento, ainda assim 63% (n= 24) fazem uso de EPIs, mas não regularmente. Isto reflete em parte uma política de treinamentos eventuais no hospital que não corresponde às necessidades específicas do setor e seus funcionários.

Por sua vez, existe um elevado grau de insatisfação em relação à inadequada higiene do setor 74% (n= 28), dos ruídos das máquinas 58% (n= 22) e produtos químicos 66% (n= 25), não significando a inexistência de situações mais graves à saúde, a exemplo das altas temperaturas, manuseio e transporte de pesadas roupas.TORRES e LISBOA (2001) enfatizam a capacidade humana de adaptar-se às condições ambientais adversas, porém, com um gasto muito maior de energia nas tarefas executadas sob níveis de desconforto térmico, acústico, iluminação e ergonomia desfavoráveis.

Em relação a uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) 63% (n= 24) fazem uso restritivo as áreas sujas, sendo utilizados luva, gorro e máscaras. Idealmente, todos deveriam usar estes equipamentos, pois a lavanderia é um setor insalubre e perigoso, exigindo cumprimento das precauções universais, vez que a maiorias dos trabalhadores estão em idade avançada, com acuidade visual e auditiva comprometidas, mas que infelizmente ainda são invisíveis aos olhos de quem cuida ABDALA (2004).

Ademais, a observação e os relatos informais durante coleta dos dados, propiciaram uma reflexão de que, ao ingressarem no hospital, especificamente na lavanderia, esses (as) trabalhadores (as), não detinham experiência prévia dos riscos inerentes ao setor, sendo um aprendizado prático, sem muita preocupação com medidas de segurança no trabalho, conceitos tão recentes quanto processo de trabalho a partir do grau de satisfação dos trabalhadores.

Tabela 5 – Opinião dos (as) trabalhadores (as) da Lavanderia do HBAP, sobre motivação e satisfação de vida pessoal e profissional.



Segundo a tabela 5, 52% (n= 20) dos entrevistados (as) sentem-se motivados com seu trabalho e almejam melhores salários para garantir o sustento mais de seus familiares do que de si, sobretudo quando se trata do sexo feminino. No aspecto saúde, 48% (n= 18) preocupa-se, sobretudo com a insalubridade e periculosidade do local, apesar de satisfeitos de forma geral com o ambiente de trabalho.

Quanto às perspectivas profissionais, 71% (n= 27) esperam uma melhoria na estrutura física, iluminação e ventilação do setor, enquanto que 29% (n= 11) se preocupam com a manutenção preventiva ou substituição dos equipamentos antigos.Um outro fator importante diz respeito à satisfação pessoal apontadas pelos entrevistados, com destaque ficar com a família 74% (n= 28) enquanto fonte de energia e necessidade maior do que viajar 16% (n= 06) e trabalhar 10% (n= 04).

Enfim, a melhor qualidade de vida seja no lar e no trabalho, está diretamente associada com o clima organizacional, a motivação e satisfação no exercício das atividades. Afinal, somente pessoas com levada qualidade própria e com maior auto-estima, tem maior possibilidade de adquirir criatividade na vida, ou seja, maior a probabilidade de garantir sucesso de um serviço, de um departamento ou de uma organização (MEZOMO, 2001).

CONCLUSÃO

vA composição do Setor de lavanderia do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro é predominantemente feminino. Dos 38 entrevistados (a)s, 81% (31) são mulheres concentradas na faixa etária de 51 a 60 anos 45% (17) revelando também uma população senil em ambos os sexos, já que é nesta mesma faixa que se encontram mais da metade 53% (20) de trabalhadores.

vDestaca-se o etilismo 76% (29) predominando sobre o tabagismo 24% (09), com índices preocupantes entre mulheres 64% (25). Apenas 18% (07) praticam alguma atividade física adequadamente, e apenas 39% (15) aproveitam adequadamente o gozo de férias.

vPredominam a ocorrência de distúrbios cardiovasculares 26% (10) e osteomusculares 16% (06) em ambos os sexos, com destaque para dois casos 5% de tuberculose em mulheres. As demais queixas respondem por 16% (06) dos problemas de saúde.

vApesar dos problemas, 52% (20) do (a)s entrevistado (a)s sentem-se motivados com seu trabalho e almejam melhores salários. Mesmo satisfeitos, 48% (18) preocupam-se com a insalubridade e periculosidade do setor. 71% (27) esperam melhoria na estrutura física e 29% (11) se preocupam com manutenção preventiva de equipamentos antigos.

vExiste satisfação pessoal principalmente ficar com a família 74% ( 28) sendo maior que a necessidade de tirar férias e viajar 16% (06) e trabalhar 10% (04).

Os resultados mostram que os (as) trabalhadores (as) do setor de lavanderia do HBAP apresentam condições de saúde pessoal e coletiva preocupantes, agravados por riscos ocupacionais que interferem na qualidade de suas vidas.

Embora percebam que são problemas que afetam sua saúde e o trabalho já manifestados às chefias, verifica-se uma aparente "apatia" com os próprios problemas, imposta pela dura rotina de seguidos plantões, relegando cuidados com a própria saúde. Da parte organizacional impera ações isoladas, para contornar problemas estruturais como consertos, substituições de peças e adaptações de caráter improvisado nas instalações, como forma de "estancar" situações emergenciais no setor.

Daí, a insegurança e o descrédito dos mesmos, quanto à adoção de medidas para melhoria da qualidade de vida na lavanderia do HBAP. Até porque, embora "exista" projeto de reforma para o setor desde 2006 - não posto em prática até o momento - estes funcionários não participam do processo de consulta e/ou planejamento.

Até porque, se a qualidade de vida no trabalho, relaciona-se ao projeto ergonômico e todos os demais itens, dizem respeito, sobretudo quando o mais importante são as relações sociais, proporcionadas ao trabalhador (a) o seu desenvolvimento como pessoa capaz de refletir e produzir (não somente serviços) mais idéias.

RECOMENDAÇÕES

vImplantar em curto prazo, grupos de trabalho solidários de prevenção e abordagem terapêutica ao etilismo e tabagismo, coordenado por equipe multiprofissional;

vInstalar em curto prazo, ações de vigilância à saúde do trabalhador (a) com ajuda dos órgãos responsáveis como o CEREST/RO;

vImplantação de planejamento estratégico a nível setorial com vistas às condições de trabalho e saúde, na perspectiva da qualidade de vida dos funcionários, oportunizando-os à participação nas decisões do serviço;

vCapacitação de gerentes do setor, chefias e funcionários para mudanças decorrentes do planejamento estratégico com iniciativa, apoio político e logístico;

vProver recursos humanos necessários a médio e longo prazo, em função do perfil etário e social dos atuais funcionários (as) que atuam na lavanderia do HBAP;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDALLA, G. F. Artigo: O Invisível de Quem Cuida: A Humanização das Unidades de Apoio em Ambientes de Saúde – Uma Experiência em Juiz de Fora, 2004.

BRASIL.Guia de Vigilância Epidemiológica. Fundação Nacional de Saúde. 5. ed. Brasília: FUNASA, vol. I - Aids/ Hepatites Virais, 2002.

_______. Presidência da Republica. Contribuição da secretaria especial de política para mulheres para as conferências estaduais. Documento base – Brasília, 2004.

CHIAVENATO, I. Teoria Geral da Administração: abordagens prescritivas e normativas da administração. São Paulo: Makron Books Editora, v. 1, 5. ed., 1997.

______. O poder das organizações. São Paulo: Makron Books Editora, 1999.

LACAZ, F. A. C. Artigo: Qualidade de Vida no Trabalho Saúde/Doença; 2000.

MEZOMO, J. C. Gestão da qualidade na saúde. Princípios básicos. São Paulo: Manole, 2001.

MOLLER, C. O Lado Humano da Qualidade. 10. ed. São Paulo: Pioneira, 1996.

PITTA, A. Hospital dor e morte como ofício. São Paulo: Hucitec,1990.

RONDÔNIA. Relatório de gestão do HBAP. Porto Velho - Rondônia, 2007.

TORRES, S. & LISBOA, T. C. Limpeza e Higiene, Lavanderia Hospitalar. 2 ed. São Paulo: CLR Balieiro, 2001.

VASCONCELOS, A. F. Artigo: Qualidade de Vida no Trabalho: Origem, Evolução e Perspectivas; Caderno de pesquisas em Administração, São Paulo, V. 08, nº. 1, janeiro/março 2001.

VIEIRA, S. C. A qualidade de vida no trabalho na gestão da qualidade total: um estudo de caso na Empresa Weg Motores em Jaraguá do sul/SC. Florianópolis, 1993. Dissertação (Mestrado em Administração) - Cursos de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina.

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1 Artigo científico elaborado como requisito parcial para conclusão do Curso de Especialização "Lato Sensu"– Gestão em Serviços de Saúde da Fundação Universidade Federal de Rondônia/UNIR, em Porto Velho, Estado de Rondônia.

2 Pós-graduandos do Curso de Especialização "Lato Sensu" – Gestão em Serviços de Saúde da Fundação Universidade Federal de Rondônia/UNIR, em Porto Velho, Estado de Rondônia.Acesso e-mail: [email protected]/ [email protected]/ [email protected]/[email protected].

3 Orientadora, Docente Departamento de Enfermagem – UNIR, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Acesso e-mail: [email protected]