PERGUNTA: QUAL A DIFERENÇA ENTRE SACRAMENTOS E SACRAMENTAIS?

RESPOSTA: Para que possamos compreender bem as diferenças entre sacramentos e sacramentais, vamos falar um pouco genericamente: - Toda pessoa que se sente próxima de Deus  ou que percebe que de algum modo foi tocada por Ele, tem necessidade de ficar com alguma coisa Dele; precisa ter algo que lembre, que manifeste em sua vida pessoal o mistério da presença de Deus.

Há muito tempo atrás, surge um Deus que se revela a Abraão, que abençoa os seus escolhidos, que coloca a Sua mão poderosa sobre eles. O homem do Antigo Testamento pede aos ungidos, sacerdotes, levitas, profetas, que o abençoe; ele tem a perfeita noção que a oração de benção, a palavra de benção, é uma palavra que opera aquilo que ela significa, assim como a maldição; para esse povo, quando Deus, diretamente ou através de seus ungidos, abençoa ou amaldiçoa, aquilo que foi proferido não é apenas uma palavra, mas sim algo que se realiza concretamente. Aquilo que sai da boca de Deus se cumpre!

Nós cristãos somos herdeiros de todas as bênçãos e promessas de Deus do Antigo Testamento e, as bênçãos, não são mais do que as promessas de Deus para aqueles que cumprem a Sua vontade, os Seus mandamentos, que andam na Sua presença. A benção de Deus não pode ser revogada; em Gênesis 27 versos de 33 a 35, vemos Isaac abençoar Jacó por engano, ao invés do primogênito Esaú; vemos também que mesmo alertado sobre o engano de que foi vítima, Isaac nada pode fazer porque a benção dada não poderia ser tirada. Portanto, pronunciada a fórmula da benção, uma realidade espiritual aconteceu que não pode ser modificada.

Com Jesus, nós herdamos as bênçãos do Pai. Nós, homens, éramos malditos em razão do pecado original. Com sua morte, Jesus se fez maldição, como diz São Paulo, se fez homem, para que nós tivéssemos a benção de filhos, que era Dele. A benção que era do Filho é dada também para nós; uma benção muito parecida com aquela dada por Isaac para Jacó, imerecida talvez, mas que uma vez dada jamais será tirada.

Falamos até agora sobre bênçãos, porque tanto os sacramentos como os sacramentais são sinais das bênçãos de Deus sobre nós. Os sacramentos foram instituídos diretamente por Jesus em diversas passagens do Novo Testamento e ordenados pela Igreja; são sete os sacramentos: Batismo, Confirmação ou Crisma, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.

Os sacramentos (sinais sagrados) e sua celebração estão repletos de sinais e símbolos, porque na vida humana os sinais e símbolos ocupam um lugar muito importante. Como somos ao mesmo tempo seres corporais e espirituais, exprimimos e percebemos as realidades espirituais através de sinais materiais. No nosso próprio relacionamento, usamos sinais e símbolos (fala, escrita, gestos, ações) para nos comunicarmos. Vale o mesmo para a nossa relação com Deus.

“Deus nos fala através da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem, para que no cosmos leiamos os vestígios de nosso Criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos nos falam de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a proximidade Dele.” (Catecismo n. 1147)

Essas criaturas, água, fogo, terra, árvores, frutos etc. podem se tornar a expressão da ação de Deus que santifica (abençoa) os homens, bem como a expressão de homens que prestam, através dessas criaturas, seu culto a Deus. Acontece o mesmo com os sinais e símbolos de nossa vida social: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice, podem exprimir a presença santificante de Deus e também a nossa gratidão diante Dele.

“Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes porque neles age o próprio Cristo; é Ele quem batiza, é Ele quem atua nos seus sacramentos, a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento.” (Catecismo n. 1127)

Conforme diz São Tomás de Aquino, “o sacramento não é realizado pela justiça do homem que o confere ou o recebe, mas pelo poder de Deus.”. Logo, a partir do momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a intenção da Igreja, o poder de Cristo e do Seu Espírito agem no sacramento e pelo sacramento, independentemente da santidade pessoal do ministro. Contudo, lembra o Catecismo, “os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de quem os recebe.” Não é uma mágica, a benção esta sempre ligada à obediência a Deus, à disponibilidade e abertura do coração daquele que a recebe.

A Igreja afirma no Concílio de Trento  (DS 1604 – 59) que “para os crentes, os sacramentos da nova aliança são necessários para a salvação” e, o Catecismo diz em seu número 1129, que “o Espírito Santo cura e transforma os que recebem os sacramentos, conformando-os com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adoção “deifica” os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho Único, o Salvador.”

Que verbo fabuloso o Catecismo de nossa Igreja usou para nos estimular a viver os sacramentos: deifica, nos eleva até Deus como filhos verdadeiros. Que benção, que graça a vida sacramental.

Os sacramentais são também sinais sagrados pelos quais são obtidos efeitos principalmente espirituais, pela impetração da Igreja. Não foram instituídos por Jesus mas pela Igreja, em vista da santificação de circunstâncias muito variadas da vida cristã (benção de uma novo lar, um novo trabalho, de alianças de noivado etc), bem como do uso de coisas úteis aos homens (benção de um carro, de animais, de lavoura, da água, dos alimentos etc.)

Compreendem sempre uma oração, acompanhada de um determinado sinal, como imposição de mãos, sinal da cruz ou aspersão de água benta.

Todo batizado é chamado a ser uma benção e a abençoar. Por essa razão certas bênçãos podem ser presididas por leigos.

Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo como os sacramentos, mas, pela oração da Igreja preparam para receber a graça.

Entre os sacramentais figuram em primeiro lugar as “bênçãos” (de pessoas, de lugares, de objetos de devoção etc.). Quando o sacerdote ou diácono abençoa uma cruz, por exemplo, está pedindo a Deus com a oração da Igreja para aquele que usa a cruz seja abençoado; é a oração da Igreja, além da reta intenção daquele que usa a cruz, que se torna uma benção; o uso “mágico” de qualquer objeto, mesmo de devoção, não é aceito pela Igreja e nem tem efeitos sacramentais.

Certas bênçãos têm um alcance duradouro como por exemplo a consagração de uma freira. Ela não recebe o sacramento da Ordem como o sacerdote. Recebe uma benção especial de consagração a Deus, dentro de um rito de profissão religiosa.

A benção de objetos para uso no culto como a benção de um altar, de sinos, de vestes sacras etc. também têm alcance duradouro.

O ritual do exorcismo solene, também chamado de Grande Exorcismo, também é um sacramental, mas só pode ser exercido por um sacerdote com a expressa autorização do bispo. Sob uma forma mais simples, o exorcismo é praticado dentro do ritual do Batismo.

Todos nós devemos fazer uso dos sacramentais em nossa vida cotidiana já que eles nos aproximam da Graça; água benta, sal abençoado, objetos de devoção como crucifixo, imagens de Maria e dos Santos, terços, escapulários, santinhos e, devemos viver uma vida sacramental, principalmente o sacramento da Penitência e o sacramento da Eucaristia,

mas devemos sempre nos lembrar daquele que é o motivo e a razão de nossa fé: Jesus Cristo.

Sem Ele os sacramentais viram amuletos e os sacramentos atos sociais que ao invés de nos aproximar de Deus, nos afastam de sua Graça e de Seu Amor.