Os temas relacionados à sexualidade humana são envoltos de uma aura de silêncio e, por pertencerem à esfera comportamental, têm lenta maturação.
Segundo Silva, "sexo é um conceito que se refere às características biológicas de homens e mulheres, ou seja, ao funcionamento e às características específicas dos aparelhos reprodutores masculino e feminino." Não sabemos, especificamente, como as diferenças biológicas influenciaram, ao longo do tempo, o modo como se estabeleceram as relações entre homens e mulheres e, depois, na sociedade.
Sabemos que no passado remoto, os homens, devido a sua condição física, estavam mais atrelados à selva primitiva, não tendo qualquer tipo de relação com seus descendentes. As mulheres tinham piores condições de acesso à comida e precisavam cuidar das crianças. Além disso, eram vulneráveis ao assédio sexual dos homens que as desejassem.
Tudo indica que, quando as mulheres perceberam que chamavam a atenção dos homens e que poderiam obter certo poder ao se submeterem sexualmente a eles e ao agradá-los sob o manto sexual de uma forma especial, provocavam-lhe uma certa dependência e, com isso, eles não se afastariam delas. Assim, teriam mais facilidade de acesso aos alimentos para si e para seus filhos. Foi então que as mulheres perceberam que a submissão correspondia a um certo tipo de dominação.
A percepção de que aquele que subjuga vai se tornando dependente do subjugado foi um fator importante para o início da família, mesmo que um núcleo familiar muito rudimentar. Esse fato passou a fazer parte do contexto da humanidade a partir do momento que surgiram as relações estáveis entre homens e mulheres. Assim, foram regulamentadas, na vida social,e os parceiros passaram a ser escolhidos de acordo com as normas específicas de cada grupo.
O direito dos próprios jovens tornarem-se os responsáveis pela escolha de suas parceiras fixas de caráter matrimonial é recentíssimo. A mulher, continuava proibida de recusar a abordagem sexual de seu marido, a quem devia obediência em troca dos cuidados que este deveria ter para com ela e os filhos. A primeira situação na qual o homem passa a depender do aval da mulher para se aproximar sexualmente dela é quando o mesmo começou a burlar o próprio casamento e o alheio.
De acordo com Gikovate, "o homem, ao tornar-se escravo desse desejo passa a sentir, ao mesmo, raiva da mulher."
As mulheres, percebendo que podiam exercer uma maior dominação do que até então haviam conseguido, passaram a cuidar mais da aparência física, pois tratava-se do objeto de poder. As mais belas passaram a perceber que tinham o direito de escolher aqueles homens que mais lhe causavam impacto.
Segundo Gikovate, "depois de se excitarem em função do desejo que despertam, perdem parte dos seus poderes e ficam numa condição similar a dos homens."As mulheres que optassem por esse tipo de poder teriam que inibir completamente toda sua capacidade de se excitar para nunca perderem o controle da situação.
Os homens foram lutando para chamar a atenção das mulheres em outros aspectos que não os sexuais, pois o interesse das mulheres pelos homens costuma ser mais racional e sofisticado do que o interesse inicial masculino. Essa atitude masculina aumentou ainda mais a competição entre os homens.
Quando os homens necessitaram da aceitação feminina para a abordagem sexual, em todas situações e não somente nas circustâncias extraconjugais, precisaram se fazer admirados pelas mulheres. E, atualmente, deparamo-nos com casos de anorexia masculina e vários problemas de ordem estética que anteriormente atingiam somente mulheres. Assim, todos os homens e mulheres sentem algum nível de insegurança em relação à aceitação, que foi confundida com poder, e o sentimento de inferioridade só tem se exacerbado.
De um lado, as mulheres competindo entre si pela beleza, sendo que as mulheres menos dotadas fisicamente procuram se destacar mais por meio do sucesso profissional, o que acontece com os homens mais tímidos ou menos belos. E, por outro lado, os homens competem entre si, talvez mais do que elas, porque sua agressividade é maior e a disputa precisa desse ingrediente.
Oficialmente nossa sexualidade está diretamente ligada ao amor. As atitudes que expressam agressividade e competitividade se dão de maneira sutil, indireta, como se fossem apenas brincadeiras inconsequentes.
No jogo de sedução em que a mulher usa seus dotes físicos apenas com o objetivo de provocar os homens, estes usarão outros recursos para despertar o interesse feminino e tenderão a rejeitar aquelas mulheres com as quais já tiveram relações e que já ficaram encantadas por eles. Essa será a vingança masculina e terá por finalidade a inversão dos movimentos anteriores, e, agora, serão as mulheres quem deverão correr atrás deles. Esses passos hostis entre os sexos são transmitidos de uma geração à outra.
O resultado do domínio, da agressão, e da falsa sensação de poder é uma profunda solidão que está impregnada na nossa sociedade. Observamos as pessoas se colocando em perigo procurando "companheiros" virtuais, colocando em risco a saúde com cirurgias arriscadas, a anorexia e tantos outros recursos perigosos para fugir da solidão. O desequilíbrio que vemos nas relações entre homens e mulheres, não raramente, tem como base a agressividade e a busca de um falso poder sobre o outro.
Precisamos tomar cuidado com o modo como olhamos o mundo, o próximo e principalmente a nós mesmos. E libertarmo-nos do machismo e feminismo que estão em nossos âmagos, pois esses são caricaturas do real sentimento que o ser humano possui quando equilibrado.


REFERÊNCIAS

GIKOVATE, F. A Libertação Sexual. São Paulo: M G Editores, 2001

SILVA, D. R. Psicologia Geral do Desenvolvimento. Indaial: Editora Asselvi, 2007