Quando nos deparamos com situações inusitadas, como assassinatos em série, pais que matam filhos, alunos que matam professores, costumamos tentar explicar as motivações de tais atos. No entanto, buscamos situar o comportamento no proprio indivíduo, conferindo um nome, um diagnóstico: "psicopata", "monstro", "perverso".

Temos dificuldade para reconhecer que os excessos da raiva, do ódio, ocorrem devido ao não reconhecimento do outro, da sociedade, de um lugar social, que, em algum momento da vida foi buscado e não foi encontrado. A perda dos limites, dos contornos se diluí completamente nestes atos. É interessante notar que a falta de sentido é tão grande naqueles que cometem estes excessos, que, a morte, já planejada, constitui-se no ato final. "falem de mim", "lembrem de mim". Estas falas inauditas se mostram, saltam aos olhos, exigindo da sociedade, do outro que institua um lugar àqueles que praticam tais atos. Podemos pensar sim numa manifestação psicopatológica, podemos designar nomes como a psicopatia, no entanto, não podemos nos esquecer que o pathos é construído na relação com o outro real, mas que se configura simbolicamente. O que sou tem relação com o outro, com aquilo que esperei tanto do outro e talvez, nunca consegui .É o outro que confere um lugar social, que nos diz quem somos, mesmo que este outro não diga em palavras. O que será que o outro (sociedade) disse sobre o rapaz de Realengo, do menino de dez anos que atirou na professora e tantos outros? TAlvez, o que estas pessoas buscassem de uma forma desesperada e planejada fosse encontrar finalmente um lugar, uma identidade.