Psicologia, políticas públicas e desafios profissionais: uma reflexão acerca da prática.

Natália Confortin 

A psicologia nas políticas públicas é algo que ainda está em construção, um campo de trabalho, que por sua vez se encontra em institucionalização. Estar em um serviço público não significa fazer uma psicologia “engajada” e assistencialista como muitos pensam, há muitos desafios para consolidar uma pratica que é pautada nos direitos humanos e na autonomia dos sujeitos.

Sabemos que as políticas públicas são construídas em âmbito geral e amplo, considerando a população como uma “massa homogênea”. Penso que este talvez seja um dos grandes desafios éticos dos profissionais da psicologia, pois cabe a estes trabalhadores utilizar dispositivos de intervenção para privilegiar a escuta do sujeito, sustentando um espaço de escuta que leve em conta os desdobramentos e particularidades dos sintomas psíquicos que estão em jogo para cada um e que também colidem ou confrontam a ideia de “todos iguais”.

Outro desafio que o profissional encontra é a necessidade de que haja um trabalho compartilhado com as equipes e os serviços que compõem a rede de atendimento, pois na medida em que se produz a interlocução entre estes serviços, e estes conseguem articular-se em rede, beneficiando o usuário, consequentemente qualifica a prática profissional. Falando também em desafios éticos, outro fator que pode ser discutido, é que muitas vezes os ideais institucionais dos locais onde o profissional esta inserido não coincide com o que este profissional tem construído, e ele acaba trabalhando em detrimento destes ideais institucionais e não dos seus próprios.

É de extrema importância destacar que a formação acadêmica muitas vezes não fornece elementos para a construção de um profissional para trabalhar nas políticas públicas, e este é um campo da psicologia que esta sendo um grande empregador. Um grande desafio para os profissionais que trabalham, tanto na política de assistência, quanto na de saúde é realizar uma reflexão, no sentido de abrir mão de certezas e permitir experimentar um lugar de incompletude. A meu ver, quanto mais à formação acadêmica estiver envolvida politicamente, mais próxima estará de efetivar o trabalho no coletivo, no social.

É importante também que os profissionais se posicionem frente a esta questão, e tenham uma postura ética que vá além do código de ética, é necessário que se comprometam com o cuidado à vida dos usuários que afetam, e que tenham o compromisso de ofertar serviços de qualidade, e com isso garantir o acesso às políticas públicas essas que são direitos da população.

A complexidade da experiência, a trama subjetiva do fazer psicológico na é cheia de desafios em que simples posturas, atitudes e questionamentos podem ofertar qualificação e fortalecimento para a atuação do profissional da psicologia. Ainda há muito que ser discutido, construído e refletido acerca da psicologia nas políticas públicas, estas se encontram e se desencontram e constantemente formam,deformam e transformam os profissionais.