PROTEÇÃO PASSIVA CONTRA FOGO DENTRO DE UMA UNIDADE DE DESTILAÇÃO ATMOSFÉRICA E À VÁCUO.

Paulo Rogers Helrighel

UTFPR – Campus Curitiba. E-mail: [email protected]

Carlos Augusto Sperandio, MSc. (Orientador)

UTFPR – Campus Curitiba. E-mail: [email protected]

RESUMO

O contexto das atividades da indústria de refino de petróleo reúne diversos riscos à segurança de bens e pessoas. Um dos mais perigosos é o incêndio em refinaria, visto o potencial de perigos envolvidos. Um meio preventivo de mitigar os efeitos e prover maior segurança é a proteção passiva de equipamentos e instalações. Para tanto, o presente trabalho teve como objetivo geral discutir um estudo de caso voltado a uma área com histórico de acidente inflamável dentro de uma Unidade de Processo de Destilação Atmosférica e à Vácuo de uma Refinaria Brasileira de Óleo e Gás, na qual foi realizada uma pesquisa de análise de riscos através da metodologia FMEA. Como resultados deste trabalho foram observados a confirmação verdadeira das hipóteses formuladas "jato de fogo" e "incêndio em poça", a mensuração dos graus de prioridade de risco, as respectivas ações recomendadas e a correspondente implantação da proteção passiva contra fogo de modo a mitigar os riscos e aumentar o nível de segurança na área estudada e por extensão, de toda a refinaria.

Palavras-chave: Proteção passiva contra fogo, Jato de fogo, Incêndio em poça, FMEA, Análise de riscos.

ABSTRACT

The context of the Oil Industry Companies activities gathers several risks to the safety of goods and people. One of the most dangerous is the refinery fire, due to the potential of the involved dangers. A preventive way to mitigate the effects and providing increased safety is the equipments and facilities fireproofing. For this purpose this paper has had as its main objective discussing a study case turned to an area with history of flammable accidents within an Atmospheric and Vacuum Distillation Unit of a Brazilian Oil and Gas Refinery, in which it has been conducted a research for risk analysis through the FMEA Methodology. As results from this research work there were been observed a truly confirmation of the formulated jet fire and pool fire hypothesis, the risk potential numbers and the corresponding implantation of fireproofing towards mitigating risks and increasing the safety level in the studied area, and for extention, of the whole plant facilities as well.

Key-words: Fireproofing, Jet fire, Pool fire, FMEA, Risk analysis.

1. INTRODUÇÃO

No contexto de unidades de produção petroquímica ou refinarias de petróleo, os potenciais acidentes envolvendo substâncias inflamáveis podem causar prejuízos materiais irreparáveis, incluindo a vida de colaboradores e do comprometimento temporário ou permanente das condições ambientais da comunidade no entorno das instalações atingidas.

Trata-se de acidentes de alto poder explosivo, capazes de consumir equipamentos e instalações industriais em poucas horas, além de representar um risco potencial latente de grande envergadura.

Segundo Sperandio (2008, p.6), a elevação da temperatura é o primeiro efeito do calor. A qual se desenvolve em velocidades distintas para corpos de materiais diferentes.

Os danos térmicos abrangem a perda de resistência mecânica de tubulações e equipamentos que devido à exposição do calor causam a falha de vedações, rompimento de linhas e vazamento de hidrocarbonetos. Além de que, se a fiação de energia e de instrumentação ficar incapacitada, é impossível operar as válvulas de emergência para o isolamento, respiros de vãos, sistemas spray de água automáticos ou manuais, principalmente devido aos danos ocasionados pelo fogo.

A proteção passiva pode fornecer tempo adicional para que os demais meios de combate ao incêndio possam controlar e extinguir o fogo e salvar as instalações antes que os efeitos térmicos causem o comprometimento dos equipamentos e/ ou de suas funções.

Por causa da convecção, um incêndio pode se propagar para compartimentos bastante afastados do foco original, como também aos andares superiores de um prédio através das janelas, aberturas ou vãos de escadas que possibilitem a propagação vertical da coluna de gases aquecidos (SPERANDIO, 1994, p.B04).

Este e outros efeitos são suficientes para corroborar a exigência prévia das seguradoras na instalação de sistemas fireproofing em plantas petroquímicas, dos quais a proteção passiva é um dos requisitos pelo benefício inerente proporcionado nos estágios iniciais de um princípio de incêndio.

Portanto, além de ser um requisito de segurança, também é um requisito contratual que contempla os interesses das principais partes interessadas na apólice de seguro de uma refinaria.

1.1 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo geral abordar o estudo de caso da implantação da proteção passiva contra fogo em uma área selecionada dentro da Unidade de Destilação Atmosférica e à Vácuo de uma empresa brasileira atuante no setor de Óleo e Gás.

A partir do objetivo geral, este trabalho tem como objetivos específicos:

a) testar as hipóteses de ocorrência dos cenários de fogo "jato de fogo" e "incêndio em poça" na área selecionada para o estudo de caso;

b) mensurar o(s) grau(s) de prioridade de risco (GPR);

c) em função da relevância do grau de prioridade de risco (GPR), determinar a(s) respectiva(s) ação (s) recomendada(s);

d) em função da ação recomendada, apresentar a respectiva ação tomada para efetivar a implantação da proteção passiva contra fogo voltada aos equipamentos e instalações localizadas dentro da área selecionada para o estudo de caso.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Fireproofing ou "proteção contra fogo" vem a ser um processo sistemático, incluindo o emprego de materiais que provê um grau de resistência ao fogo para a proteção das estruturas. Esta proteção pode ser ativa ou passiva (AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, 1999).

Entre os diversos tipos de proteção passiva existentes no mercado, podem ser citadas: barreiras de proteção contra fogo, construções resistentes ao fogo, espaçamento adequado, distância de separação segura, sistemas de drenagem e isolamento térmico.

Enfim, meios de revestimento, barreira ou salvaguarda que provê proteção contra o calor do fogo sem qualquer intervenção adicional (AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE op.cit.).

Contudo, o principal objetivo da proteção passiva é logo atingido durante os estágios iniciais do fogo, enquanto os esforços são direcionados à parada das unidades e equipamentos de processo, isolamento do fluxo de óleo do fogo, acionamento dos sistemas ativos de combate e correntes de água de resfriamento.

Segundo a norma API 2218 (AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, 1999), a determinação da necessidade de proteção contra fogo ou fireproofing é determinada através de lições aprendidas envolvendo experiências precedentes e/ ou da análise dos chamados "cenários de fogo". A partir da análise de um determinado "cenário de fogo" é desenvolvido o denominado "envelope de fogo", o qual consiste de um espaço tridimensional pelo qual o equipamento deixa vazar fluido ou combustível inflamável capaz de queimar com tempo e intensidade suficiente para causas danos à propriedade.

2.1 CENÁRIOS DE FOGO

Tanto a norma American Petroleum Institute op.cit., como Silveira (2005), distinguem duas principais conjunturas nas quais haveria exposição à chama direta ou através de fluxos térmicos oriundos de incêndio: jato de fogo (jet fire) e incêndio em poça (pool fire).

Conforme as definições da norma American Petroleum Institute op.cit., jato de fogo é um vazamento de sistema pressurizado o qual ignita e forma um jato de fogo que pode incidir sobre outro equipamento. O comprimento do jato pode alcançar até cerca de 150 vezes o diâmetro do orifício do jato. Resultados de testes mostram a exposição ao fluxo do jato com velocidades de incidência da ordem de 130 ft/s, temperaturas de chama de 1093ºC (2000ºF) e fluxo térmico de 100.000 BTU/ft²-h (320 kW/m²).

A mesma norma define incêndio em poça como a ignição de uma poça originada por vazamentos de combustíveis, os quais podem queimar com chama de altura duas a três vezes o diâmetro da poça. Historicamente são usados valores de velocidade de queima dos incêndios em poça de 6 a 12 in/h para a gasolina e 5 a 8 in/h para querosene, em relação à sua profundidade.

Neste estudo de caso foi visto que os produtos resultantes da unidade de destilação atmosférica são querosene, diesel leve, diesel pesado e nafta pesada. Enquanto que os produtos da destilação a vácuo são gasóleo leve, pesado e resíduo de vácuo. Todas, portanto, são substâncias altamente inflamáveis (ABADIE, 2002, p.19).

Neste contexto, é importante destacar que a proteção passiva pode servir como barreira de proteção, permitindo o escape do pessoal operacional da área atingida. Visto que o corpo humano tolera somente 15 segundos de radiação térmica até 2500 BTU/ft²-h (8 kW/m²), qualquer medida preventiva implantada pode ser a diferença entre a vida e a morte no contexto de um acidente envolvendo a combustão de hidrocarbonetos (AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, 1999).

3. METODOLOGIA

O método de pesquisa aplicado ocorreu através do instrumento de avaliação empregado sobre os dados coletados, para o qual foi escolhida FMEA dentre as metodologias de análise de risco conhecidas: Análise Preliminar de Perigos/ Riscos (APP/ APR), Análise de Vulnerabilidade, HAZID, HAZOP, dentre outras (MORAES, 2009, p.1251-1252).

3.1 Delineamento da Pesquisa

O presente estudo de caso é voltado a uma área com histórico de acidente inflamável dentro da Unidade de Processo de Destilação Atmosférica e a Vácuo de uma refinaria brasileira do Setor de Óleo e Gás.

Para tanto, foi restrito a uma área circular contendo três (3) bombas, tubulações de processo, dois (2) elementos de colunas estruturais de aço e duas (2) seções de eletrocalhas contendo o cabeamento de energia e controle (instrumentação).

O foco da pesquisa foi voltado à implantação de proteção passiva contra fogo nos elementos supracitados, particularmente no que se referiu a:

·Classificação de área, da qual é fundamental interpretar se o gás/ vapor inflamável, ao ser liberado para fora, tende a subir ou a descer. Visto que isso pode ajudar a definir a localização da área de risco, os níveis superiores ou inferiores em função da densidade relativa da mistura inflamável (FRANCO et al., 2002, p.17);

·Cenários de fogo, conforme abordado anteriormente;

·Seleção do material de proteção passiva.

A figura 1 mostra a área selecionada para o estudo de caso, assinalada por um círculo em negrito circunscrevendo os equipamentos e instalações contidas na área.

 


Figura 1 – Seleção da área de objeto do estudo.

Fonte: o autor.

A área selecionada foi escolhida em função de posssuir histórico de acidentes envolvendo substâncias inflamáveis, pois está contida dentro de um setor com classificação de área de alto risco.

3.2 LEVANTAMENTO DAS HIPÓTESES

Neste estudo de caso foram levantadas duas (2) hipóteses relacionadas aos mais prováveis cenários de fogo, em função dos dados históricos de acidente na área escolhida:

1ª Hipótese de acidente: a possibilidade da ocorrência do efeito Jato de fogo;

2ª Hipótese de acidente: a possibilidade da ocorrência do efeito Incêndio em poça.

O estudo de caso testou ambas as hipóteses, apresentando conclusões.

3.3 COLETA DE DADOS

A fim de realizar a coleta de dados foram aplicadas entrevistas com os profissionais envolvidos no processo de produção e apoio à Unidade de Processo de Destilação Atmosférica e a Vácuo para conhecer os requisitos de implantação dos sistemas adotados para a proteção contra fogo (fireproofing) e o contexto associado.

Os dados coletados foram inseridos na FMEA para relacionar causas/ efeitos e facilitar o processo de retroalimentação dos entrevistados, mas tendo o cuidado de não tornar sua participação ativa na presente pesquisa.

Dados coletados: documentos como atas de reunião, memoriais de cálculo, desenhos, croquis, procedimentos e entrevistas complementares realizadas no período de 28/09/09 a 29/10/09 junto a pessoal com acesso aos dados e informações qualificadas.

a) Dados do local:

·Mapa de risco: alto risco devido à presença de substâncias inflamáveis;

·Equipamentos: as bombas identificadas por "B1", "B2" e "B3", as quais operam a recirculação dos produtos inflamáveis, como querosenes, óleos diesel e nafta pesada.

·Conforme API RP 505 (AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, 1997) e NFPA 70 (NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2008), a classificação de área corresponderia à Zona 2 (ambiente aberto e ventilação adequada). Mas a área já possui histórico de acidente;

·Conexões: tubulações de processo, contêm a mistura inflamável bombeada para a alimentação das unidades de processamento contíguas à área selecionada;

·Eletrocalhas: identificadas duas (2) eletrocalhas que contêm o cabeamento responsável pela alimentação e controle de instrumentação da instalação local e das vizinhas, visto que atravessam todo o setor;

·Elementos estruturais: duas (2) colunas de sustentação do piso superior, as quais possuem perfil em forma de "I" e são identificadas por "C1" e "C2".

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Em função da análise de riscos (FMEA) empregada com os critérios já mencionados (cenários de fogo, classificação de áreas e envelope de fogo), foram recomendadas ações para cada elemento analisado.

4.1 BOMBAS DE PROCESSO

Dentro da área especificada, os modos de falha relacionados às 3 bombas de processo, são:

a) Parada da(s) bomba(s), com severidade igual a 9 (nove);

b) Vazamento de fluído inflamável, com severidade igual a 10 (dez).

Por não apresentar grau de prioridade de risco (GPR) preocupante, o primeiro modo de falha não recebeu ações específicas fora as já relacionadas na FMEA: manutenção programada e eventual acionamento das válvulas de segurança.

Para o segundo modo de falha, as seguintes ações foram recomendadas:

a) Troca do kit de selagem das bombas;

b) Instalação de proteção passiva na base da(s) bomba(s).

Importante destacar o GPR alcançado para este modo de falha, igual a 450. É o segundo valor mais alto de risco potencial encontrado na FMEA.

Este fato não pode ser ignorado e justifica as consequentes ações tomadas para mitigar e/ ou eliminar o risco:

·As trocas dos kits de selagem foram providenciadas junto aos fabricantes das bombas e as bases dos equipamentos foram reconstruídas segundo as normas internas de dimensionamento e instalação de proteção passiva.

Ou seja, as bases de concreto foram reconstruídas de modo a contemplar as especificações do envelope de fogo.

4.2 TUBULAÇÕES E CONEXÕES CORRELATAS

A tubulação e suas conexões localizadas dentro da área avaliada transportam inúmeros fluídos contendo (ou não) substâncias inflamáveis.

O modo de falha potencial "vazamento de vapores e gases do produto" apontou severidade igual a 10 (dez). O qual é o valor mais preocupante, visto que representa o maior risco à segurança.

Também foi constatado através de seus efeitos, que o modo de falha está associado ao jato de fogo e incêndio em poça. Sendo causado por falhas na vedação ou fissuras na tubulação.

A ação recomendada relacionada ao critério de severidade/ ocorrência (S/O) de maior severidade, foi a instalação de proteção passiva contra fogo voltada aos perfis circulares nas conexões/ seção de tubulação classificadas, conforme zona 2 dentro do alcance do potencial envelope de fogo.

Como resultado das ações tomadas, os materiais de proteção passiva foram o mastic e mantas de proteção nas tubulações e conexões anexas.

4.3 ELETROCALHAS COM CABEAMENTO DE CONTROLE E FORÇA

Em relação às eletrocalhas contendo o cabeamento de energia e controle de instrumentação que atravessam uma seção da área estudada, os modos de falhas potenciais são mais graves do que os levantados nas análises anteriores.

Todos os modos de falhas possuem severidade igual a 9 (nove), classificação que aponta risco de comprometimento da segurança.

Nesta classificação, são apontados os seguintes modos de falhas:

a)Interrupção do fluxo de energia e controle;

b)Avaria (parcial ou total) da integridade física dos cabos de energia e controle.

Ambos também apresentam os maiores valores S/O iguais a 9 (nove), o que justifica as ações recomendadas para mitigar ou eliminar os riscos que ameaçam a segurança.

As ações recomendadas para prevenir a ocorrência dos modos de falhas, são:

a)Transferir o cabeamento de energia e controle para o subsolo, ou seja, enterrar algumas seções da linha de cabeamento;

b)Implantar os revestimentos de proteção passiva, aplicando tinta intumescente nos cabos expostos e nas eletrocalhas utilizar os materiais projetados por spray e mantas refratárias.

Importante observar que a avaria da integridade física dos cabos apontou o GPR mais elevado, igual a 729, o que na prática tornam as respectivas ações recomendadas as mais prioritárias dentre todas da implantação de proteção passiva contra fogo.

4.4 ESTRUTURAS DE SUSTENTAÇÃO

Dentro da área especificada estão contidas 2 (duas) colunas de sustentação do piso superior, o qual contém outras instalações e equipamentos. As mesmas são elementos estruturais de aço com perfil em forma de "I".

Os três modos de falhas potenciais encontrados apontaram severidade igual a 10 (dez), ou seja a maior gravidade identificada em decorrência de um dos modos de falha abaixo relacionados. São eles:

a)Avaria da resistência mecânica do aço das colunas de sustentação;

b)Aquecimento da estrutura superior sustentada pelo elemento estrutural coluna;

c)Colapso da estrutura de sustentação.

Todos os três registraram S/O elevados, tendo sido recomendada a seguinte ação para prevenir a ocorrência desses modos de falhas:

·Implantar proteção passiva através de placas de gesso ou concreto conforme indicado no referencial teórico para as estruturas com perfil em forma de "I".

4.5 IMPLANTAÇÃO DA PROTEÇÃO PASSIVA NA ÁREA ESTUDADA

Algumas medidas de proteção passiva relacionadas às ações recomendadas podem ser visualizadas na figura 2, na qual se observa cabos e eletrocalhas protegidos por tinta intumescente e seção de eletrocalha protegida por manta refratária.


Figura 2 – Proteção passiva em eletrocalhas e cabos

Fonte: o autor

5. ConclusÕes

Na avaliação das bombas, foi importante notar que o segundo modo de falha está associado aos efeitos jato de fogo e incêndio em poça. Esta constatação corrobora a hipótese de ocorrência destes dois eventos como verdadeira, conforme a proposta realizada no levantamento de hipóteses.

Na avaliação das tubulações e suas conexões, o modo de falha "vazamento de vapores e gases do produto" também está associado aos efeitos jato de fogo e incêndio em poça. Tal constatação também corrobora a hipótese de ocorrência destes dois eventos como verdadeira.

Na avaliação das eletrocalhas do cabeamento de controle e força, embora não haja associação aos efeitos supramencionados há efeito de elevado dano como:

a) princípio de incêndio dentro da eletrocalha;

b) ameaça de falha de acionamento de sistemas automáticos (ativos) de combate ao incêndio e de detecção (alerta);

c) parada de equipamentos vizinhos à área;

d) parada do processo de produção da unidade.

Os dois primeiros são tão potencialmente perigosos quanto à manifestação de jato de fogo e incêndio em poça.

Embora sejam de intensidade menor, podem levar mais tempo para alcançar danos equivalentes na área estudada.

Já na avaliação das colunas de sustentação apontam riscos de grande intensidade, equiparáveis aos efeitos de jato de fogo e incêndio em poça, mas são eventos de difícil ocorrência devido aos controles existentes permitirem um amplo nível de detecção.

5.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO

Conforme Palady (1997, p.45-46) comenta,é preciso rever continuamente a FMEA durante toda a vida útil do processo ou do sistema. Isto geralmente ocorre de modo bem sucedido na implantação simultânea de um processo ou sistema, mas pode vir a falhar ao serem feitas melhorias em uma determinada parte sem considerar a revisão do processo (ou sistema) como um todo.

Por exemplo, as FMEAs entregues pelos fabricantes de equipamentos e instalações como requisito para a obtenção da aceitação do cliente no momento da implementação do equipamento na área.

Contudo, é possível que o cliente não tenha revisto todo o processo ou sistema no qual aquele novo equipamento está sendo integrado. Simplesmente substitui a documentação do equipamento antigo pela nova e permanece com a documentação antiga do processo (ou do sistema) sem alterações.

Esta é a justificativa mais plausível para explicar porque os resultados encontrados neste estudo de caso não foram avaliados antes. O que torna interessante realizar uma extensão desta pesquisa em outras áreas, mesmo que seja através de outra metodologia de análise de riscos.

Finalmente, é importante destacar que o equívoco representado pela desatualização dos dados pode comprometer a validade de toda a análise de riscos realizada e tornar seus resultados incongruentes. Criando um precedente perigoso para a ocorrência de acidentes ou incidentes, visto que a confiabilidade da base de dados pode se tornar questionável por não mensurar adequadamente os graus de prioridade de risco existentes.

5.2Conclusões do trabalho

Dos objetivos propostos, foram alcançados o objetivo geral e os específicos.

Do Objetivo geral, foi abordado o estudo de caso da implantação da proteção passiva contra fogo em uma área selecionada dentro de uma Unidade de Destilação Atmosférica e à Vácuo de uma empresa brasileira do Setor de Óleo e Gás.

Dos Objetivos Específicos:

a)Tanto a hipótese 1 (jato de fogo) como a hipótese 2 (incêndio em poça) se revelaram verdadeiras, isto é, estes cenários de fogo podem de fato acontecer na área estudada;

b)Os graus de prioridade de risco (GPR) foram mensurados e listados a seguir:

·Função "Bombear o produto pela tubulação de linha" (bombas de processo "B1", "B2" e "B3"), GPR igual a 45;

·Função "Manter a pressão constante na tubulação da linha" (bombas de processo "B1", "B2" e "B3"), GPR igual a 450;

·Função "Conduzir o fluxo de produto até os equipamentos de processo" (tubulações e conexões correlatas), GPR igual a 150;

·Função "Conduzir cabos de energia e comando para equipamentos dentro e fora da unidade de processo" (eletrocalhas), GPR igual a 729;

·Função "Sustentação do nível superior nas cotas das colunas da área estudada" (elementos estruturais "C1" e "C2"), GPR igual a 80;

c) Para os graus de prioridade de risco mais relevantes, GPR igual ou superior a 80, foram recomendadas ações pertinentes para mitigar o respectivo GPR. As ações recomendadas foram:

·GPR igual a 450, "troca do kit de selagem das bombas" e "proteção passiva (base das bombas)". Novo GPR igual a 72;

·GPR igual a 150, "proteção passiva (perfis cilíndricos)". Novo GPR igual a 50;

·GPR igual a 729, "proteção passiva das eletrocalhas e cabeamento". Novo GPR igual a 45;

·GPR igual a 80, "proteção passiva dentro dos envelopes de fogo". Novo GPR igual a 50;

d)Implantação das medidas de proteção passiva contra fogo correspondentes às respectivas ações recomendadas. As ações tomadas foram:

·Para as ações recomendadas "troca do kit de selagem das bombas" e "proteção passiva (base das bombas)" estão sendo implantadas as ações "trocas em andamento junto aos fabricantes" e "reconstrução da base das bombas conforme especificação do envelope de fogo";

·Para a ação recomendada "proteção passiva (perfis cilíndricos)" foi implantada a ação "materiais selecionados: mastic, outros projetados por spray e mantas refratárias";

·Para a ação recomendada "proteção passiva das eletrocalhas e cabeamento" foi implantada a ação "materiais selecionados: mantas refratárias, tintas intumescentes e outros aplicados por spray";

·Para a ação recomendada "proteção passiva dentro dos envelopes de fogo", foi implantada a ação "materiais selecionados: mantas refratárias e placas de gesso".

Como consideração final, este trabalho alcançou o propósito de valorizar e destacar a proteção passiva como método preventivo e eficaz no combate a incêndio.

Trabalhos futuros são bem vindos, pois há poucas pesquisas direcionadas ao tema proteção passiva contra fogo. Sugere-se que o tema seja pesquisado sob os diferentes focos das diversas disciplinas de engenharia e administração.

REFERÊNCIAS

ABADIE, Elie. Processos de Refino: apostila do curso de formação de operadores de refinaria. Curitiba: Unicenp, 2002. 76p.

American Petroleum Institute. API 2218: Fireproofing Practices In Petrolum and Petrochemical Processing Plants. EUA, 01/08/1999.

______________API RP 505: Recommended Practice for Classification of Locations for Electrical Installations at Petroleum Facilities Classified as Class I, Zone 0, and Zone 2. EUA, 01/11/1997.

FRANCO, Luciano Rubim; JORDÃO, Dácio de Miranda; KAZMIERSKI, Andre Luis da Silva.Prevenção contra explosões e outros riscos: apostila do curso de formação de operadores de refinaria. Curitiba: Unicenp, 2002. 42p.

MORAES, Giovanni. Normas Regulamentadoras Comentadas: Volume 3. 7ª edição. RJ: GVC, 2009. 1918p.

NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 70: National Electrical Code (NEC) Handbook. EUA, Edição 2008.

PALADY, Paul. FMEA: Análise dos Modos de Falha e Efeitos – prevendo e prevenindo problemas antes que ocorram. SP: Imam, 1997. 270p.

SILVEIRA, Cíntia. Proteção Passiva de Estruturas e Sistemas Elétricos contra Incêndio aplicada a uma Unidade de Refino de Petróleo. 2005. 113 f. Dissertação – UFRGS: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (PROMEC), Porto Alegre, 2005. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/5778/000475376.pdf>. Acesso em 2 ago. 2009, 23:23.

SPERANDIO, Carlos Augusto. Fundamentos de Engenharia de Segurança do Trabalho. 1ª Edição. Curitiba: CEFET-PR, ago. 1994. 164p.

______________Proteção contra Incêndios e Explosões: apostila do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Curitiba: UTFPR, 2008. 163p.