A realidade enfrentada pelos professores, a necessidade em tornar práticas pedagógicas direcionadas ao contexto e à identidade dos estudantes, bem como a dificuldade no uso de metodologias que propiciem ao estudante melhor significação de seu espaço-tempo vivido na escola é que agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem se debruçam sobre a práxis.

A expressiva presença de jovens com mais de quatorze anos no ensino fundamental demanda a criação de condições próprias para a aprendizagem, adequadas à maneira de usar o próprio espaço-tempo, os recursos didáticos disponíveis e às peculiaridades da juventude. O que se busca é valorizar o percurso escolar de cada estudante, permitindo que permaneçam na escola o tempo necessário para que atinjam a integralidade da aprendizagem.

Entende-se que não são os recursos materiais empregados na prática que melhor significam o papel do professor, mas seus objetivos pedagógicos, sua abordagem e seu modo de ver/estar no mundo é que definem quão significativas são as experiências vividas por si mesmo e por seus estudantes no processo de ensino-aprendizagem.

É preciso compreender o ensino no mundo/espaço atual, buscando recuperar o conceito/efetividade da interdisciplinaridade. O que se busca é realizar um ensino de boa qualidade, sinônimo de atuação competente por parte de professor e estudantes.

A formação de um grupo de pesquisa e experimentação, destinado ao estudo de fenômenos locais, regionais e mundiais, privilegia o olhar crítico e a vivência de estudantes e do professor, o gosto pelo estudo e pesquisa e a valorização dos espaçotempos da escola. A materialização da proposta se dá por meio de atividades de pesquisa, atividades de campo, diário de bordo e produção e apresentação de vivências. Também tem a intenção de:

a) realizar estudos e pesquisas interdisciplinares, valorizando o local em que se vive;

b) instigar os estudantes a buscar experiências que signifiquem sua permanência no processo educativo formal;

c) contribuir com os estudantes em metodologias para produção de trabalhos individuais e em grupo;

d) publicação de vivências.

 

Valoriza-se neste aspecto um paradigma educacional que possibilite a interdisciplinaridade, a cooperação, a participação e o diálogo numa perspectiva crítica e emancipatória, permitindo que os estudantes sejam privilegiados com as mais diversas metodologias/tecnologias de ensino.

Para a atividade indicada a seguir, sugere-se o método fenomenológico. Esta atividade pode se expressar com “diferentes leituras do mundo” (FREIRE, 1988). É o lugar do olhar do outro.

 

Primeira etapa: treinando o olhar para a análise da paisagem. Momento instigante, onde se testará a pertinência da proposta.

i) Indicar o ponto de partida, o destino e o trajeto a ser percorrido pela turma e elaborar um mapa com a definição do recorte espacial a ser abordado;

ii) Dividir os estudantes em grupos de no máximo quatro componentes e solicitar que realizem não só o estudo do local a ser visitado, mas também de todo o trajeto. Poderão utilizar livros, revistas e a Internet, entre outras fontes de pesquisa;

iii) Solicitar aos grupos que realizem apresentação prévia, utilizando-se da subjetividade na análise. Como vários estudantes podem desconhecem o roteiro, solicitar que utilizem além de texto escrito, fotografias e filmes;

Segunda etapa: da atividade prática à subjetividade no olhar. Esta etapa, apesar de ser assim proposta, não significa que esgota a abordagem, pois como em qualquer situação, o improviso e a criatividade fazem parte do processo tanto de ensino quanto de aprendizagem.

i) Durante o trajeto, os estudantes deverão realizar o registro através de fotografias, filmes e anotações, sempre observando aspectos de relevo, fauna, flora, influência antrópica, etc;

ii) Ao chegar ao destino, além de observar os mais variados lugares (monumentos, arquiteturas, praças, parques, etc), os estudantes deverão realizar entrevistas com nativos e residentes para que possam entender a dinâmica local. Efetuar-se-á registro através de fotografias e/ou filmes dos diversos locais visitados.

Terceira etapa: do olhar ao relato, da simplicidade na observação à multiplicidade de informações. Não é a última etapa, pois o professor deve considerar o campo do conhecimento uma eterna pesquisa.

i) Considerando que cada indivíduo possui sua subjetividade, os grupos deverão sistematizar o projeto na forma de relatório a ser apresentado para a turma na forma de slides, fotografias, cartolinas, filmes, maquetes, croquis etc. (sugere-se que após a apresentação para a própria turma, se realize um evento para o colégio ou se exponha o resultado em um mural para valorizar o trabalho do estudante-pesquisador);

ii) O relatório na forma impressa também deverá ser valorizado pois permite que o professor analise o que foi compreendido pelo estudante. É importante a adoção de normas para o relatório impresso. O professor poderá utilizar de maneira mais didática e menos rigorosa a NBR14724 para elaboração de trabalhos. Sugere-se a seguinte estrutura: capa, introdução, desenvolvimento do conteúdo, considerações finais, referências, apêndices (fotografias e diário de bordo realizado pelos estudantes) e anexos (fotografias retiradas de outras fontes).

Quadro 1 – Sugestão de procedimento metodológico

 

Considerando a importância integradora da atividade prática de campo no ensino de Geografia é de se refletir sobre a necessidade desse tipo de trabalho, na medida em que se apresenta como um dos mais importantes instrumentos na apreensão dos diversos conceitos que fazem parte da ciência geográfica.

Dessa forma é importante a conscientização sobre a ação do professor, atentando-se para a utilização de princípios morais e éticos condizentes de sua profissão. Pois, como dizia Paulo Freire (1996, p. 108), “daí, então, que uma [das] preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser ou o que realmente estou sendo”.

Assim, durante todo o desenvolvimento da proposta é importante a tomada de decisões que levem a uma maior compreensão do processo de ensino e aprendizagem, sempre respeitando os objetivos pedagógicos do professor.

 

REFERÊNCIAS

BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Cadernos de Ciências da Terra, São Paulo, n. 13, 1971.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 22. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

Freire, Paulo.  A Importância do ato de ler: em três artigos que se completam.  22. ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.

JUSTEN, R.; CARNEIRO, C. D. R. Importância dos trabalhos de campo na disciplina Geografia: um olhar sobre a prática escolar em ponta Grossa (PR) In: ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA, 10. Anais... Porto Alegre, 2009. Disponível em: < http://www.agb.org.br/xenpeg/ >. Acesso em: 18 dez. 2009.

SCORTEGAGNA, A.; NEGRÃO, O. B. M. Trabalhos de campo na disciplina de geologia introdutória: a saída autônoma e seu papel didático. Terræ Didatica, v. 1, n. 1, p. 36-43, 2005. Disponível em: < http://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/>. Acesso em: 13 jun. 2010.

SUERTEGARAY, D. M. A. Pesquisa de campo em geografia. GEOgraphia, Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, 2002.

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.