PROPOSTA PSICOPEDAGÓGICA PARA MINIMIZAR DIFICULDADES DO PROCESSO ADAPTATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Ellen Nara de Souza Rossi
Pedagoga pelo UNASP ? Campus de Engenheiro Coelho
Psicopedagoga Clínica e Institucional pelo UNASP ? Campus de Engenheiro Coelho.
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Resumo: O interesse em escrever um artigo sobre esse assunto surgiu a partir das observações frente às dificuldades que muitas crianças enfrentam na fase de adaptação escolar. Em meu trabalho na sala de aula, presenciei momentos difíceis e desde então procuro bibliografia sobre o assunto e sinto dificuldade em encontrar. Portanto, essa pesquisa está fundamentada em levantamento bibliográfico sobre o assunto. A adaptação escolar é um momento em que os sujeitos envolvidos necessitam de apoio para minimizar as dificuldades desse processo, o que o tornaria mais agradável para todos: as crianças que estão enfrentando um novo ambiente social, para a família que cria expectativas com relação ao processo e também para os educadores que se envolvem no processo no meio de tantos desafios peculiares ao início do ano letivo. O desenvolvimento dessa pesquisa aborda como a intervenção psicopedagógica pode facilitar o processo adaptativo permitindo mais qualidade para que todos envolvidos no processo sintam-se acolhidos.

Palavras-chave: desenvolvimento humano, adaptação escolar, intervenção psicopedagógica.

Abstract: The interest in writing an article on that subject appeared starting from the observations front to the difficulties that a lot of children face in the phase of school adaptation. In my work in the classroom, I witnessed difficult moments and ever since I seek bibliography on the subject and I feel difficulty in finding. Therefore, that research is based in bibliographical rising on the subject. The school adaptation is one moment in that the involved subjects need support to minimize the difficulties of that process, what would turn it more pleasant for all: the children that are facing a new social atmosphere, for the family that creates expectations regarding the process and also for the educators that wrap up in the process in the middle of so many peculiar challenges to the beginning of the school year. The development of that research approaches as the psycho pedagogical intervention can facilitate the adaptive process allowing more quality so that all involved in the process are welcomed her.

Key words: human development, school adjustment, pedagogical intervention

Introdução

O desenvolvimento de uma criança acontece antes mesmo dela nascer, no ventre materno ela já recebe estímulos e percebe sensações. Quando o nascimento acontece iniciam-se outras fases no desenvolvimento infantil e na fase inicial do seu desenvolvimento a criança precisa de cuidados individuais para suprir necessidades de sobrevivência.
Após os primeiros anos de vida da criança recebendo cuidados individualizados ela passa por uma nova etapa em seu desenvolvimento, chegando o momento de ingressar na escola. Nesse momento a criança se depara com um contexto diferente do qual estava inserida. Convívio com um número maior de pessoas, atenção dividida com crianças da sua faixa etária, horário sistemático de atividades que resultam em uma rotina de várias horas ausente do convívio familiar.
Após vivenciar os primeiros contatos da criança com a escola, na faixa etária de 4 a 6 anos, percebi que muitas enfrentam dificuldades com a adaptação escolar. Essa problemática acontece no início de uma construção, que envolve laços afetivos, cognitivos, sociais e motores. Para muitas crianças o início da vida escolar é de lamentáveis recordações, pois, as marcas da dificuldade em se adaptar ao novo contexto levam tempo para serem esquecidas.
Como podemos tornar a adaptação escolar um processo natural e quem sabe até agradável para alunos e também professores?
Ao me deparar com esta realidade proponho-me a estudar técnicas, atividades, objetos, postura familiar e educacional para que a adaptação escolar seja um período suave de adaptação. Literal, pois adaptar-se envolve conhecer o que é desconhecido e o desconhecido gera insegurança, portanto adaptar-se não é tarefa fácil, mas creio que através deste estudo poderemos facilitar este processo.
Assim sendo o psicopedagogo pode estar direcionado para as dificuldades e propor alterações, não para estabelecer um novo caminho, mas sim um novo jeito de caminhar, fazendo com que a adaptação escolar seja o início vitorioso de uma grande caminhada.

Aspectos do desenvolvimento humano que correspondem à faixa etária de egresso a Educação Infantil

A criança não ingressa na escola como uma tábula rasa, uma lousa em branco; ela traz consigo sua história de vida, pois cada uma tem um esquema pessoal de desenvolvimento que é unicamente seu. As características do seu comportamento nesta fase podem ser utilizadas para interpretar sua individualidade e apreciar o nível de maturidade em que está.
A criança da faixa etária de 4 a 6 anos está passando por uma mudança lenta e importante, do bebê dependente para tudo, agora já se caracteriza como bem independente. A criança pequena agora é capaz de se movimentar com mais facilidade, consegue se comunicar com mais clareza e percebe-se como uma pessoa separada com habilidades cognitivas, sociais e motoras que lhe permitem interagir de modo mais bem sucedido com as outras crianças.
Para Gesell (2003, p. 23) a criança dos 4 aos 6 anos gosta de fazer muitas perguntas, aprende analogias, contextualiza idéias e apresenta tendência para generalizar situações. No dia-a-dia envolvendo a rotina doméstica está quase dependente de si própria e já possui seu domínio motor bem amadurecido. Na fala, não usa linguagem infantil e é capaz de contar histórias. Gosta mais das brincadeiras coletivas e sente orgulho de suas roupas e proezas. No seu mundo é uma criança feliz e segura de si.
Neste momento o ambiente infantil começa a se ampliar. O ensino formal ainda não começou, mas é nesta faixa etária que as crianças iniciam sua rotina escolar. As crianças possuem suas características específicas que influenciam o seu desenvolvimento e conseqüentemente sua adaptação na escola.
"O ambiente físico e social coloca continuamente a criança diante de questões que rompem o estado de equilíbrio do organismo e eliciam a busca de comportamentos mais adaptativos." (RAPPAPORT, 1981, p.56). Podemos compreender a importância de conhecer as características do desenvolvimento da criança na faixa etária de egresso a escola, para torná-lo mais natural possível.
Para a autora (1981, p.56) "o conhecimento possibilita novas formas de interação com o ambiente, proporcionando uma adaptação cada vez mais completa e eficiente e, neste sentido, é gratificante para o organismo, que se sente mais apto a lidar com situações novas". É preciso conhecer muitos aspectos do desenvolvimento humano, para poder compreender a forma mais adequada de adaptação a nova realidade.

Aspectos do desenvolvimento físico

O crescimento muscular e esqueletal avança, tornando as crianças mais fortes. As cartilagens transformam-se em ossos num ritmo mais acelerado do que antes, e os ossos tornam-se mais duros, dando a criança uma forma mais firme e protegendo os órgãos internos. Segundo Papália e Old (2000, p. 184), essas mudanças, coordenadas pelo cérebro e pelo sistema nervoso em amadurecimento, promovem o desenvolvimento de uma ampla faixa de habilidades motoras.
Na idade de três a seis anos, as crianças fazem grandes progressos nas habilidades motoras amplas, como saltar, pular e correr. As áreas sensoriais e motoras do córtex estão mais desenvolvidas, permitindo uma coordenação mais precisa entre o que querem fazer e o que podem fazer. As habilidades motoras finas, como abotoar camisas, desenhar figuras, amarrar sapatos, envolvem coordenação dos músculos pequenos e coordenação entre olhos e mãos. O progresso nessas habilidades permite que as crianças jovens assumam maior responsabilidade por seu cuidado pessoal.
Segundo Gesell (1995) a criança nesta faixa etária específica possui elevada energia motora. Consegue ao mesmo tempo falar e comer. Domina melhor todo o seu equipamento motor, incluindo a voz. Embora lhe agrade uma atividade motora global, também é capaz de ficar sentada por um período de tempo e executar tarefas que lhe interessam.
Para Bueno (1998, p.33) o desenvolvimento psicomotor caracteriza-se pela maturação que integra o movimento, o ritmo, a construção espacial, o reconhecimento dos objetos, das posições, a imagem do nosso corpo e a palavra.

Aspectos do desenvolvimento cognitivo e social

Hoje em dia, os pais e a sociedade estão quase sempre obcecados pela idéia de que seus filhos devem estar preparados para competir desde pequenos, para serem bem-sucedidos. Muitos pais estimulam os filhos ensinando precocemente habilidades que irão precisar na escola; como leitura, escrita e até aritmética, avaliando que estão desenvolvendo e preparando ainda melhor os filhos para a escola. Brazelton (1994, p. 433) nos apresenta que:

O fundamental não é a idade em que a criança começa a desenvolver suas aptidões escolares. Inúmeras crianças "precoces" fracassam mais tarde. O mais importante é a vontade de aprender que a própria criança demonstra, bem como o conceito de que ela faz de si mesma. Ela deve sentir que detém o controle do seu aprendizado.

Atualmente mais crianças jovens do que em qualquer época anterior passam parte do dia na pré-escola. Uma boa pré-escola é aquela que estimula o desenvolvimento das crianças em todas as áreas por meio de interação ativa com os professores, outras crianças e materiais diversificados. Através das atividades que proporcionam experiências que permitem aprender fazendo, as crianças alcançam sucesso e adquirem confiança. Talvez a contribuição mais importante da pré-escola seja fazer a criança sentir que a escola é diversão, que aprender traz satisfação e que elas são capazes. (PAPÁLIA E OLD, 2000).
Neste contexto surge a necessidade da criança de brincar. Necessidade? Pelo brincar as crianças crescem e se desenvolvem, estimulam os sentidos, aprendem a usar os músculos, coordenam o que vêem com o que fazem. Exploram o mundo e a si mesmas, adquirindo novas habilidades. "Do ponto de vista cognitivo, a Pré-Escola é a época das tentativas, é quando a criança transfere um aprendizado anterior buscando aplicá-lo em situações novas que vão surgindo". (CONSTALLAT, 2002, p.111). O ato de brincar é importante na Educação Infantil e mais ainda na adaptação escolar, pois este é um momento importante na vida da criança, onde ela busca soluções novas, com base em experiências anteriores. O ato de brincar possibilita que a criança saiba manejar até emoções complexas, emoções muito comuns no período adaptativo.
A Educação Infantil prepara as crianças para o ensino formal. A idéia que surge quando pensamos no ensino formal se caracteriza por um ensino tradicional, onde o aluno durante grande parte do tempo na escola fica sentado em uma carteira copiando conteúdos da lousa. Segundo Papália e Old (2000, p. 211) "o ensino excessivo dirigido pelo professor na segunda infância pode sufocar seu interesse e interferir na aprendizagem auto-dirigida". Observamos que o ensino excessivo concentrado em ações de pouco movimento e interação pode causar desinteresse no aluno.
Quando delimitamos a faixa etária a ser analisada nesta pesquisa, nos deparamos com a Teoria de Piaget sobre o desenvolvimento humano, caracterizando a faixa etária da segunda infância como estágio pré-operacional. Por isso, vamos destacar características específicas deste estágio, buscando compreender melhor as necessidades da criança como ser social e cognitivo, para proporcionar um processo adaptativo mais adequado.

A criança pré-operacional

Nesse segundo grande estágio de desenvolvimento, as crianças tornam-se muito mais sofisticadas em seu uso do pensamento simbólico. Contudo, segundo Piaget, as crianças não possuem capacidade de pensar logicamente até o estágio das operações concretas na terceira infância. Biaggio (1976, p.27) conclui que:

Para Piaget os estágios e períodos do desenvolvimento caracterizam as diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade, ou seja, de organizar seus conhecimentos visando sua adaptação, constituindo-se na modificação progressiva dos esquemas de assimilação. Os estágios evoluem como uma espiral, de modo que cada estágio engloba o anterior e o amplia. Piaget não define idades rígidas para os estágios, mas sim que estes se apresentam em uma seqüência constante.

A consciência dessas limitações e das variáveis entre os estágios é importante para pais, professores e outros adultos que precisam explicar as coisas para as crianças. Vejamos algumas dessas limitações: centração, confusão entre aparência e realidade, irreversibilidade, foco nos estados, raciocínio transdutivo e egocentrismo.
Centração: Centra a atenção em um aspecto particular da realidade, sendo incapaz de, através de outros aspectos, equilibrar seu raciocínio. Elas chegam a conclusões ilógicas porque não são capazes de descentar. Um exemplo clássico de centração é o famoso experimento de Piaget projetado para testar o desenvolvimento da conservação.
Confusão entre aparência e realidade: O pensamento está atrelado ao que ela pensa que vê; se um copo parece maior, ela acha que ele deve ser maior, confundindo aparência com realidade. Segundo Piaget, somente após cinco ou seis anos, as crianças compreendem a distinção entre o que parece ser e o que é. Por exemplo, uma criança pode ter medo de algo que parece assustador, como uma bruxa num filme, não conseguindo compreender que a bruxa não é real.
Irreversibilidade: Incapacidade de compreender que uma operação pode ter dois ou mais sentidos. As crianças demostram irreversibilidade preocupando-se porque um corte não irá cicatrizar ou porque uma perna quebrada não irá voltar ao normal.
Foco nos estados mais do que nas transformações: Concentração em estados sucessivos e não reconhecem a transformação de um estado para o outro. Pensam como se estivessem assistindo a um filme com uma série de quadros estáticos. No experimento com conservação, elas focalizam a água e não como ela está sendo derramada de um copo para outro, não percebem que a quantidade de água é a mesma.
Raciocínio transdutivo: Veêm uma situação com base para outra situação, muitas vezes ocorrendo mais ou menos no mesmo momento, quer logicamente haja ou não um relacionamento causal. Por exemplo, elas podem achar que seus maus pensamentos ou comportamentos fizeram com ela ou outra criança ficasse doente.
Egocentrismo: Incapacidade de ver as coisas do ponto de vista do outro. Não se trata de egoísmo, porém compreensão centrada em si mesma. Por exemplo, uma garotinha na praia perguntou ao seu pai quando que as ondas do mar paravam, ele explicou que elas não paravam nunca e ela respondeu com uma nova pergunta, nem quando estou dormindo?
As crianças pré-operacionais podem compreender o conceito de identidade, estão começando a compreender relacionamentos casuais, estão desenvolvendo habilidades na classificação e compreendem princípios de contagem e quantidade. Elas não compreendem a conservação. Elas também tendem a confundir a realidade e a fantasia e não compreendem a reversibilidade e as implicações das transformações, possuem habilidade para distinguir eventos imaginários e reais e capacidade de enganar e compreensão de que as pessoas podem manter crenças errôneas. (PAPÁLIA e OLD, 2000, p.212)
É importante fazer com que a criança da segunda infância, vá progressivamente aprimorando sua identidade, desenvolvendo seu papel social. Por isso, conhecer aspectos da teoria do desenvolvimento humano de Piaget nos proporciona atitudes e atividades pedagógicas com uma finalidade correspondente ao objetivo que se pretende atingir, orientando com mais segurança uma ação psicopedagógica na sala de aula.
A revisão de alguns dos principais conceitos gerados pela teoria do desenvolvimento humano nos possibilita detectar, na sua interpretação, o apoio fornecido tanto para a compreensão da criança quanto para a intervenção na escola, relembrando que a criança, do ponto de vista de seu desenvolvimento cognitivo tem o pensamento concreto, o que justifica a necessidade de situações de aprendizagem baseadas tanto na ação física quanto mental. Para Rappaport (1981, p. 58) "Da mesma maneira como biologicamente, o organismo desenvolve maneiras de se adaptar à realidade e manter com ela um estado de equilíbrio, mentalmente desenvolvemos processos com o mesmo objetivo."
No aspecto social também é evidente que os conceitos de Piaget, nos clarificam a existência de um processo para o ser social. Quando pensamos nestas etapas de socialização, é evidente percebermos que existem várias etapas na vida de um indivíduo.
Para Fortuna (1996, p.08.):

O sentimento de identidade constitui-se ao longo da vida, sob a força dos vínculos que se estabelecem e iniciam por aqueles com os pais e, mais especificamente, com a figura materna. Estes vínculos são impregnados de significados e, com a evolução do sujeito, estendem-se a outros objetos, conservando e modificando muitas das primeiras impressões.

Analisaremos como que a família, responsável pelo primeiro contexto social vivido pela criança, pode contribuir para que novos processos de socialização, como a adaptação a escola, sejam construídos com sucesso.

Como a família pode contribuir na preparação da criança para a adaptação escolar

Geralmente, quando pensamos no primeiro dia de aula de uma criança, a maioria das nossas atenções está voltada para a criança e para a escola, porém é de grande importância dar atenção a família que irá conduzir esta criança a escola. O período de adaptação escolar não é só para o filho e sim para os pais também. É comum ouvir de alguns pais expressões como: "Estou mais nervosa do que ela". Ou quem sabe: "Não sei se vai dar certo". Também ouvimos dúvidas quanto à idade do filho: "Acho que ele ainda é muito novo". Segundo o Dr. Brazelton (1994, p.435) "A disposição dos pais a separar-se da criança é tão importante para a sua adaptação à escola quanto o fato de ela mesma estar preparada."
Todas as preocupações dos pais refletem uma ansiedade normal por parte dos pais, afinal vão passar a dividir com outros o cuidado do seu filho. Muitos pais veem o ingresso da criança na escola como o começo do fim de sua intimidade com ela. É importante que os pais antes de ajudarem seus filhos, encarem os seus próprios problemas relativos a separação.
Segundo Bowlby, (1990, p.370):

Nada foi mais significativo em anos recentes do que o crescente reconhecimento de que os problemas que os psiquiatras são chamados a tratar não são, com freqüência, problemas limitados a indivíduos, mas são usualmente problemas decorrentes de padrões estáveis de interação que se desenvolvem entre dois e, mais freqüentemente, vários membros de uma família.

É muito importante para o desenvolvimento da criança os modelos que ela presencia durante a construção da sua personalidade. Se os pais expressarem inseguranças relacionadas ao ingresso da criança a escola, de alguma forma, eles estarão contribuindo para ampliar a complexidade que o próprio processo apresenta.
Cada situação que passamos na vida é construída em termos dos modelos de relação que temos do mundo a nosso respeito e de nós mesmos. A informação que chega até nós por meio de nossos órgãos dos sentidos é selecionada e interpretada em termos pelos modelos representados. Segundo Abreu (2005, p.69):

Uma autoconfiança bem estabelecida será geralmente, o produto de um crescimento lento e progressivo, da infância à maturidade, durante o qual, por meio da interação com outros encorajadores e seguros o indivíduo aprende a combinar a confiança nos outros com a confiança em si mesmo.

A experiência que uma criança adquire, através de uma mãe estimulante, que dá apoio, que é cooperativa, e um pouco mais tarde o pai, lhe proporciona um senso de dignidade, modelos saudáveis de futuros relacionamentos, permitindo explorar novos ambientes com confiança, promove senso de competência. Tudo isso possibilita uma personalidade estruturada, controlada e capaz de lidar com circunstâncias adversas.
Bowlby (1990, p. 385) nos afirma que:

Variável alguma tem mais profundos efeitos sobre o desenvolvimento da personalidade do que as experiências infantis no seio da família: a começar dos primeiros meses e da relação com a mãe, passando pelos anos da infância e adolescência e relações com ambos os pais, o indivíduo constrói modelos de como as figuras de apego provavelmente se comportarão com respeito a ele, em uma variedade de situações; e nesses modelos apóia todas as suas expectativas e, portanto, todos os planos para o resto da vida.

É simples perceber como é fundamental o apoio, carinho, amor, segurança, enfim; quão importante é para um individuo receber todos esses sentimentos, que se transformam em vínculos. Nesse momento surgem questionamentos, e um deles pode ser o seguinte: Tudo que faço pelo meu filho é por que o amo e só estou tentando protegê-lo. Talvez, sem perceber ou não, muitos pais estão passando suas ansiedades para os filhos e conseqüentemente atrapalhando um desenvolvimento que poderia ser tão mais natural. Como fazer então, para que em meio a tantas expectativas seu filho passe naturalmente pela adaptação escolar?
O primeiro passo é preparar-se e também preparar a criança para a separação e as exigências da pré-escola. Digam-lhe tudo que sabem sobre a escola, contem experiências suas como incentivo ou quem sabe conforto. Levem-na para conhecer a escola e alguns futuros colegas de classe. Talvez no primeiro dia, possam apresentar a escola para a criança e seus coleguinhas juntos. Ao chegarem à escola é muito importante demonstrar confiança na professora, através de frases positivas. Na hora de ir embora, informem a criança. Segundo Brazelton, (1994, p.436):

... é muito importante não sair sem que ela perceba. Dêem-lhe um beijo de despedida que não precisa ser muito demorado. Digam-lhe quando voltam, e voltem na hora marcada! Assim que se despedirem, saiam e não olhem para trás. Mais tarde cumprimentem a criança por ela ter sido bem sucedida. Ela deu um passo importantíssimo! Ouçam atenta e interessantemente todo o relato que ela vai fazer do seu dia.

Muitas vezes acontece que após os primeiros dias na escola, a criança começa a regredir não querendo ir mais para a escola. Talvez surjam dores de cabeça, dores na barriga, podem ser indícios de excesso de pressão. É importante agir adequadamente, sem que a criança identifique insegurança nos pais. Primeiramente converse com a professora para descobrir se esta havendo alguma situação de tensão na escola. Não se coloque contra a professora, na frente da criança, você irá incentivar o seu comportamento de rejeição. Trabalhe junto com a professora na tentativa de solucionar o problema.
Se for percebido que a tensão tem a ver com o estado fisiológico da criança, procure investigar se sua saúde está regular. Muitas crianças acordam com índices baixos de açúcar no sangue e ansiedade faz com que esse índice se torne mais baixo. O Dr. Brazelton, (1994, p. 437) nos diz que "recomendo que os pais deixem um copo de suco de laranja ao lado da cama da criança. Deve ser tomado assim que ela acordar, antes mesmo de sair da cama".
O período de adaptação a escola pode ser tempestuoso. Os pais temem que o mau comportamento das crianças possa estigmatizá-la na cabeça dos professores. Em casa podem pressioná-la e isso não tem utilidade. Os pais precisam estar seguros, para lembrar que cada criança tem o seu próprio ritmo de ajustamento. A casa deve ser um oásis de segurança e calor humano, proporcionando oportunidades para que a criança possa desabafar, equilibrando as pressões que o ritmo escolar impõe.
Esse é o momento de apoiar o amor próprio do filho, pois é em casa que se encontra a base desse sentimento. Abreu, (2005, p.79) conclui que:

... podemos seguramente argumentar que a qualidade de vida psicológica desenvolvida por uma criança, um adolescente ou mesmo um adulto irá se correlacionar diretamente aos tipos de vínculos vividos por ela no início de sua vida e de alguma maneira mantidos durante o amadurecimento. Tais "construções" lhes darão a cor do mundo a ser visto. O panorama será claro e belo àquelas pessoas que de alguma maneira se sentiram valorizadas, queridas e encorajadas a enfrentar os desafios de sua existência, ao passo que para outras a realidade será considerada como fria, solitária e distante na proporção direta em que o necessitado apoio não for estendido a ela.

Ir para a escola é a primeira oportunidade que a criança tem de aprender e adaptar-se ao mundo exterior. Ela aprenderá a fazer parte de um grupo, obedecer a normas sociais, conhecer hábitos das crianças da sua idade e desenvolver a sua autonomia. Aquilo que a criança aprender sobre a convivência em grupo e o modo de enfrentar os desafios e novas situações ficarão com ela para sempre. É de grande importância essa caminhada, por isso analisaremos como a escola, através de uma intervenção psicopedagógica específica para o período de adaptação escolar, pode proporcionar mais tranqüilidade a este processo.

Proposta psicopedagógica para adaptação escolar

Historicamente, a Psicopedagogia foi reconhecida por sua intervenção clínica em relação às dificuldades de aprendizagem nos consultórios psicopedagógicos. Atualmente, porém, observa-se um grande crescimento da ação do psicopedagogo nas escolas, sobretudo em uma perspectiva preventiva e institucional. Para Porto (2006, p.116) "... a ação do psicopedagogo está centrada na prevenção do fracasso e das dificuldades escolares, não só do aluno como também dos educadores e demais envolvidos neste processo." Assim, através da observação e da escuta, o psicopedagogo pode propor alterações nas posturas das famílias, e mais diretamente, dos profissionais que atuam com os alunos.
Existem maneiras diversas de atuação do psicopedagogo e na adaptação escolar, é imprescindível estar planejado para apoiar educadores, educando e familiares envolvidos neste processo. Após o contato prévio com os pais, explicando a necessidade da criança de sentir segurança por parte dos pais, é oportuno conscientizar o professor da importância da relação dos professores e alunos neste processo. Segundo Bowlby (1998 p.16) "entre as condições que ,segundo se sabe, diminuem a intensidade das reações das crianças separadas de suas mães, as duas de maior atuação parecem ser: a presença de uma pessoa conhecida e ou objetos familiares; e os cuidados maternais de uma mãe substituta".
É evidente que o professor não poderá dar atenção individual para os alunos como uma mãe o faz, mas carinho, simpatia, segurança e respeito, ajudarão na construção desse vínculo tão importante para a criança.
Depois do terceiro ano da criança, elas se tornam mais capazes de aceitar a ausência temporária da mãe e de se dedicar a brincadeiras com outras crianças. Bowlby (1990, p.220) nos explica que:

Uma das principais mudanças é que após o terceiro aniversário, a maioria das crianças torna-se cada vez mais apta, num lugar estranho, a sentir-se segura com figuras subordinadas de apego, por exemplo, uma pessoa da família ou uma professora na escola. Mesmo assim, esse sentimento de segurança é condicional. Em primeiro lugar, as figuras subordinadas devem ser pessoas com quem a crianças está familiarizada. Em segundo lugar, a criança deve ser saudável e não estar assustada. Em terceiro lugar, deve saber onde está a mãe e confiar que pode reatar o contato com ela a curto prazo.

É importante que o aluno sinta-se bem no ambiente escolar. Sentir vontade de estudar e aprender, além de integrar-se com os colegas adquirindo noções de companheirismo, solidariedade, sociabilização e amizade, proporciona entusiasmo e prazer pela escola. Assim também a relação professor-aluno deve ser construída no dia-a-dia do fazer profissional. No âmbito da psicopedagogia clínica e institucional o relacionamento estabelecido entre estes indivíduos é fundamental para a construção da natureza da aprendizagem, isto é o vínculo estabelecido deve ser percebido como adequado, prazeroso e saudável.
Existem oportunidades encontradas no caminho que oferecem oportunidades de alteração da rota principal, principalmente quando esta foi marcada por solidão e distanciamento humano. Por isso, encontro com pessoas seguras, relacionamentos estáveis, experiências de calor humano, todas constituem ocasiões nas quais os modelos internos podem ser revisto e aproveitados. Existe chance de nos dirigirmos por caminhos menos solitários e vazios, mudando o curso do nosso desenvolvimento. (ABREU, 2005).
Adaptação é tudo isso: conquista, conhecimento, paciência, insegurança, crescimento, confiança, oportunidade. Um processo feito de outros processos individuais. Envolvem-se pessoas, tempo, sentimentos, que às vezes são até contraditórios. Envolve afeto, desenvolvimento, apoio, humildade, enfim uma diversidade de sentimentos pertencentes a pessoas diferentes, que buscam no processo da adaptação escolar alcançar vitória significativa para o desenvolvimento escolar e também para vida.

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

Considerações finais

Quando pensamos em adaptação escolar, surge a ideia de um período exaustivo, cheio de ansiedade, tensão e até tristeza, pois é o momento de socializar-se com um grupo diferente, separando-se momentaneamente de uma pessoa que representa o porto seguro da criança. Frente a essa realidade surge a necessidade de conhecer o desenvolvimento infantil, sob vários aspectos, pois eles trarão informações importantíssimas, para pais e educadores agirem de maneira preventiva e também proporcionarem segurança, quanto às atitudes que estão sendo executadas durante o processo educativo.
O conhecimento específico sobre o desenvolvimento humano proporciona o desenvolvimento de rotinas de acordo com as especificidades que foram estudas, podendo propor atividades mais interessantes, criativas, adequadas, ou seja, melhor elaboradas. Atividades bem planejadas com o objetivo de facilitar constituem instrumento construtivo para a construção da confiança da criança no ambiente escolar, desenvolvendo vínculos com os educadores e colegas que facilitam o processo de socialização, tão importante para a adaptação escolar.
Durante a adaptação escolar, é também importante dar atenção ao conceito que a criança faz de si mesma e vimos nesta pesquisa a necessidade da criança de aprender fazendo, ou seja, participar de uma interação ativa. Brincar, movimentar-se, são partes essenciais do processo, pois o ensino excessivo pelo professor sufoca o interesse pela aprendizagem e consequentemente pela escola.
O momento da adaptação escolar é uma fase que desperta emoções complexas na criança, então é imprescindível deixar claro que o processo de adaptação de uma criança na escola, não começa com ela, mas com seus pais, pois a entrada de uma criança na escola representa uma mudança na rotina e na vida, tanto das crianças como de seus familiares e da própria escola. A família deve estar segura e transmitir isso a criança, fazendo com que seu ambiente familiar seja um "oásis" no meio dessa fase cheia de congruências sentimentais.
Com certeza a psicopedagogia pode ser muito útil no planejamento do processo adaptativo e também durante o mesmo. A psicopedagogia pode propor atividades, reuniões preparatórias para os pais, mostrando a importância da participação segura deles durante esse processo. Conscientizar os professores e prepará-los para usar uma linguagem estimulante para a criança. Faz parte da atuação psicopedagógica disponibilizar para os professores sugestões de materiais, rotinas pedagógicas que possam ser úteis para a distração da criança nos seus momentos de tensão.
Ficou claro, que a adaptação escolar, pode ser minimizada, se como profissionais comprometidos buscarmos conhecer melhor esse processo, propondo alternativas para melhorá-lo sempre. Pode ser complexo e trabalhoso planejar um processo adaptativo para alunos e pais que ainda não são conhecidos pela escola, mas acredito que esses esforços trarão resultados positivos fazendo com que um processo que era longo e exaustivo, possa se tornar mais autoconfiante, alegre e prazeroso, proporcionando um encantamento inicial pela escola, que abre caminhos para a aquisição de conhecimentos cada vez mais complexos.

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