PROPOSTA DE ANÁLISE FONÉTICA E FONOLÓGICA NO LIVRO DIDÁTICO DO 7º ANO DE WILLIAN ROBERTO CEREJA E TEREZA COCHAR MAGALHAES

Caren Maiele Alves da Silva[1]                                                                           

Fabiana Fernandes de Oliveira[2] 

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo analisar do ponto de vista fonético e fonológico o livro didático de português do 7º ano, verificando se o mesmo faz o uso dessas disciplinas adequadamente e se as atividades relacionadas à esses campos de estudo são coerentes para o aprendizado do educando. Pretende contribuir com os estudos sobre a variação lingüística e sua aplicabilidade para o ensino da língua, bem como fonte de informação para auxiliar professores em sua sala de aula. Este trabalho ainda visa informar o contexto histórico da fonética e fonologia e quais as suas contribuições para o ensino de língua portuguesa, bem como a importância de estudar esses dois campos, que na maioria das vezes, passam despercebidos nas escolas de nível fundamental pela maioria dos professores de língua portuguesa e pelos próprios autores dos livros didáticos de português.

 

Palavras-chave: livro didático, fonética, fonologia, variação lingüística, ensino, língua.

1- INTRODUÇÃO

A linguagem numa sociedade onde os falantes são vistos de uma maneira descontextualizada perante seus usuários, provoca questionamentos e reflexões que levam o indivíduo a se perguntar: só é considerada a maneira de fala que é ensinada na escola? Deparamos-nos com uma situação um tanto desprovida do conhecimento que é construído gradualmente pelo indivíduo de acordo com o meio a qual ele habita; e por isso, é necessário compreender a evolução dos estudos que tratam dos segmentos da fonética e da fonologia presente nesse espaço (sala de aula) a partir do livro didático de português.

Intitulado por “Proposta de análise fonética e fonológica no livro didático do 7º ano de Willian cereja e Tereza Cochar Magalhães”, este trabalho tem por objetivo analisar do ponto de vista fonético e fonológico o livro didático “Português Linguagens” do 7º ano, adotado pelo Colégio Municipal Angicalense, em 2011, verificando se o mesmo (livro) faz o uso dessas disciplinas adequadamente e se as atividades relacionadas a esses campos de estudo são coerentes para o aprendizado do educando.  Este artigo ainda pretende contribuir com os estudos sobre a variação lingüística e sua aplicabilidade para o ensino da língua, bem como fonte de informação para auxiliar professores em sua sala de aula que trabalham nessa área.

Vale salientar que é impossível estudar a fonética sem tratar dos estudos da fonologia, um estudo completa o outro, ambos andam juntos e é preciso entender que é relevante fazer um estudo aprofundado dessas disciplinas, pois as mesmas fazem parte do nosso dia-a dia, estão presentes na nossa pronúncia, como escrevemos essas palavras que pronunciamos, como as ouvimos, enfim, serão informados neste trabalho esses conceitos fundamentais e imprescindíveis não só para o alunado, como também para os docentes de língua portuguesa que atuam em sala de aula.

A partir da análise feita no livro didático, será concluído se os estudos de fonética e fonologia foram utilizados de forma correta e coerente e, caso não foram, que proposta (s) adequada (s) seria (m) utilizada (s) para que o aluno compreendesse esses dois campos de estudo.

2 - CONTEXTO HISTÓRICO DA FONÉTICA E FONOLOGIA

Antes de fazer qualquer análise seja ela fonética ou fonológica, é preciso, antes de tudo, entender quando surgiram esses dois campos de estudo e quais as contribuições que eles trouxeram para o ensino de língua portuguesa, além de suas definições e aplicações na língua. 

A fonética e a fonologia são duas disciplinas lingüísticas que, embora estejam relacionadas entre si, possuem suas diferenças e uma delas é que

                                    Enquanto a fonética é descritiva, a fonologia é uma ciência explicativa, interpretativa, enquanto a análise fonética se baseia na produção, percepção e transmissão dos sons da fala, a análise fonológica busca o valor dos sons em uma língua – em outras palavras, sua função linguística. (CAGLIARI; CAGLIARI, 2001, pg. 106).

Diante do que foi supracitado, nota-se que a fonética procura descrever o som lingüístico articulado, já a fonologia tem por objetivo explicar o surgimento desse som (fone) numa língua.

O estudo da fonética dada como ciência é muito antigo, e insiste-se na importância da mesma para o estudo científico das línguas. Na Idade Média, no século XII-XVII, ela foi trabalhada pelos gregos e romanos, os quais faziam confusão entre o som e a letra (culto ao desenho das letras góticas). Teoricamente, havia distinção entre os dois conceitos: o valor fônico era esquecido, predominava o aspecto visual da letra (seu aspecto gráfico era em forma de figuras e, ou letras). Ou seja, as próprias leis fonéticas eram, não raro, em termos meramente gráficos que se apresentavam como a noção de som pela de símbolo visual ou a letra que o representava. No final do século XVII, a fonética recebeu reforço com os estudos biológicos da linguagem. Passaram a constituir foco de pesquisa os órgãos da fala e a sua maneira de produzir o som da linguagem.

 A fonética descreve também, para cada som, a posição rigorosa da língua, o volume da cavidade bucal e a nasal. Fornece, ainda, informações sobre a energia de expulsão do ar pulmonar e mede a energia dos músculos, atuados por essa expulsão. Ocupa-se, pois, com o mecanismo fisiológico gerador da fala humana, envolvendo órgãos do aparelho respiratório, digestivo, circulatório e do sistema nervoso central (neurolinguístico).

“O processo de avaliação tem envolvido uma grande quantidade de lingüistas e educadores, que vêm dando uma contribuição importantíssima para a elaboração de uma verdadeira política lingüística exercida por meio do livro didático”. (BAGNO, 2007, pg.119).

Apesar disso, Bagno nos mostra que o PNLD tem sido bastante influenciador nos resultados das pesquisas que exercem saudável atuação na prática pedagógica. Mas há muito a ser feito nos livros didáticos, podemos perceber ainda como o tratamento da variação lingüística é um tanto problemática, o preconceito lingüístico é muito consistente; enquanto a multiplicidade do português brasileiro é desvalorizada, e ignorado.

Bagno cita alguns autores que “sofrem” com esse preconceito lingüístico como: Chico bento, Adoniran Barbosa e Patativa do Assaré, mas não são eles os culpados, o problema está no uso inadequado que é feito em seus trabalhos; a obsessão que o certo é o proposto pela norma padrão, “bloqueia” e reduz o valor da escrita e o falar “caipira”.

Trubezkoy (1939 apud CÂMARA JR., 1977, p.120-121) diz que “a fonética é o estudo fônico do ato de fala e a fonologia, o estudo fônico do sistema lingüístico”.  Esses dois campos de estudo relacionam-se entre si, é impossível estudar fonética sem estudar a fonologia e vice- versa, pois ambos se completam e um depende do outro.

Vale ressaltar também que o estudo da fonética e da fonologia sempre esteve presentes na sala de aula, porém nunca foram transmitidos de forma clara e coerente, e passam muitas vezes despercebidos pelos alunos que fazem o uso desses conceitos, quando estudam sobre a variação lingüística, os famosos erros de português adotados pela gramática, quando estudam prosódia e ortoepia, sílabas tônicas e átonas dentre outros conceitos relacionados à língua materna.

                                       Ao contrário da norma padrão, que é tradicionalmente concebida como um produto homogêneo, como um jogo de armar em que todas das peças se encaixam perfeitamente umas nas outras, sem faltar nenhuma, a língua, na concepção dos sociolinguístas, é intrinsecamente heterogenia, múltipla, variável, instável e está sempre em desconstrução e em reconstrução. (BAGNO, 2007, p. 36).

Constatamos com essa citação, que a língua é componente essencial no trabalho coletivo, necessariamente social, onde a partir do momento que os seus usuários (falantes), se dispõem a interagirem com os ouros, seja através da fala ou da escrita, o caráter heterogêneo, instável e mutante da língua está sujeita ás varias mudanças que ocorrem no momento da comunicação. O mesmo autor ainda diz que “o real estado da língua é das águas de um rio, que nunca param de correr e de se agitar”.

Segundo Saussure (1993), a Fonologia se separa da Fonética por vários motivos. Dentre eles, o não envolvimento com o tempo em seu aspecto fonológico, colocando assim a Fonologia como uma ciência temporalmente sintática: "A Fonologia se coloca fora do tempo, já que o mecanismo de articulação permanece sempre igual a si mesmo" (p. 43).

Além de procurar estudar o som de forma sistematizada, os estudos fonológicos prestam um grande serviço no processo alfabetização e língua materna e tem grande aplicação no aprendizado das línguas estrangeiras. Portanto, nota-se que esses estudos sempre estiveram presentes na vida do alunado, porém nunca foram transmitidos claramente nas aulas de língua portuguesa; o estranhamento e a dificuldade em estudar esses campos de estudo na faculdade, dá-se exatamente por não ter visto ou aprendido fonética e fonologia na escola no nível fundamental e/ ou médio.

                                     Segundo Bagno (2007, pg. 29) a variação lingüística ou fica em segundo plano na prática docente ou é abordada de maneira insuficiente, superficial, quando não distorcida. Essas duas situações a gente pode encontrar, por exemplo, nos livros didáticos de língua portuguesa- muitos deles já avançaram de modo positivo no tratamento de outros aspectos da renovação do ensino, mas quando chega a vez da variação lingüística, o resultado quase sempre é insatisfatório.

Como percebemos, o tratamento da variação lingüística nos livros didáticos é muito pouco expresso; logicamente que já houve um avanço a respeito, mais há muito a ser feito, a heterogeneidade da língua, importante aspecto na vida social não tem o devido respaldo na sociedade, onde ser diferente é normal e a língua dá conta da mudança que lhe é atribuída nas diferentes situações de comunicação.

2.1- Análise do livro didático

Percebe-se na questão 3 pg. 72  do livro didático de português do sétimo ano, que há  uma aproximação dos conteúdos de fonética e fonologia quando trata dos assuntos ritmo (que faz parte dos elementos supra-segmentais ou prosódicos), além da alternância das silabas átonas (fracas) e tônicas (fortes), outro assunto que fala das descrições das silabas tônicas estudado na fonologia. Em primeiro lugar, o autor teria que inserir antes da leitura do poema e proposta de atividade, um texto informativo sobre esses campos da fonética e da fonologia, pois é importante para o aluno ter conhecimento dessas disciplinas que ele faz uso todos os dias por meio da sua voz (pronúncia), e que muitas vezes não sabe ou nunca estudou sobre isso. O autor facilitou de certa forma a resposta do aluno, destacando na primeira estrofe as silabas forte e pedindo ao mesmo que escrevesse em seu caderno as demais estrofes e assinalasse as silabas tônicas de cada verso. Seria interessante o professor fazer a leitura oral de cada estrofe juntamente com seus alunos e, após varias tentativas, eles irem identificando essas silabas fortes, e como foi dito acima, seria preciso, antes de tudo, o aluno entender esses conceitos relacionados à fonética e fonologia para sim então responder a atividade. Outra sugestão seria o próprio autor pedir ao aluno que não apenas escrevesse essas estrofes, mas sim também pronunciar verso por verso para facilitar a identificação das silabas fortes presentes em cada palavra.

No estudo do poema “Toado de ternura” de Thiago de Mello, na página 68, verificamos alguns pontos referentes ao estudo da fonética, onde o autor cita ao analisar o poema questões (presentes na pg. 72) que se aproximam do referido estudo. Vejamos: “Quando o autor diz (questão 6, pg. 73) que os poemas costumam apresentar palavras e expressões associadas aos sentidos: à visão, ao olfato, à audição, ao paladar, e ao tato”, percebemos com essa descrição o estudo do som articulado (fone) característico do campo da fonética.

Ainda no mesmo poema o autor continua apresentando semelhanças no que diz respeito ao estudo fonológico, mais precisamente na descrição fonológica do português. O autor prossegue: “Quando você canta uma melodia, certamente a canta num determinado ritmo” (questão 3, pg. 72), o mesmo descreve que a silaba átona é fraca e sílaba tônica é forte; e não explica para o aluno o porque disso, há uma espécie de sentido vago, onde os conceitos são incompletos, incoerentes e descontextualizados. O autor do livro não exprime com coerência as mudanças que ocorreram e ocorrem nesses campos de estudo (fonética e fonologia), quais as origens, formações para se entender tais diferenças; o emprego dos conceitos em determinados assuntos apresentados no livro.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos fatos aqui mencionados, verifica-se através da análise do livro didático o quanto o mesmo faz uso tão pouco e por sua vez descontextualizado das disciplinas de fonética e fonologia; privando o alunado de conhecer de forma contextualizada a importância de tal estudo, a origem, mudanças que ocorrem no decorrer do tempo com a língua da qual somos usuários.

A maioria dos educandos já estão fartos de aprenderem regras e métodos impostos pela gramática tradicional. É preciso estudar também a língua em si, sua variação, porque isso acontece, entender os mecanismos da fala e para que ele serve, enfim, sair da mesmice e ir em busca de novos conhecimentos que instiguem o alunado a ter mais  interesse pelas aulas de língua portuguesa. Ainda é preciso muito esforço por parte da escola em geral e dos autores do livro didático de língua portuguesa para inserir clara e coerentemente esses conteúdos que são imprescindíveis para a aprendizagem dos alunos. 

4- REFERÊNCIAS 

BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística. – São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

BORSTEL, Nadir Clarice. A fonética e a prática de ensino/ aprendizagem. Uniletras, Ponta Grossa, v. 30, n. 2, p. 353-366, jul./dez. 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/uniletras>

CAGLIARI, Gladis Massini; Cagliari, Luís Carlos; (2001). Fonética. In: MUSSALIM, Fernanda;

CÂMARA JR., J. M. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1977.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Tereza Cochar. Português: Linguagens, 7º ano. – 5ª Ed. Reform. – São Paulo: Atual, 2009.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Editora Cultrix. São Paulo, 1993.


[1] Acadêmica do 11º semestre do Curso Letras da Universidade do Estado da Bahia. [email protected]

[2] Acadêmica do 11º semestre do Curso de Letras da Universidade do Estado da [email protected]