INTRODUÇÃO
A partir de observações das práticas e métodos de ensino em nosso país, e de comparações com as propostas mais recentes em relação à apresentação de conteúdos e organização de currículo, o presente artigo foi desenvolvido visando propor a utilização de projetos interdisciplinares na apresentação do currículo como forma de atribuir significado aos conteúdos junto aos alunos e estabelecer conexões entre as diversas áreas do conhecimento.
Este artigo trata do processo ensino aprendizagem, dos métodos de ensino e práticas docentes no nosso país, apresentando alguns dados a respeito da história da educação no Brasil.
Com o objetivo de contribuir de alguma forma com a melhora da educação no contexto nacional, o artigo explica as fases de um projeto interdisciplinar, bem como seus fundamentos teóricos. Ele aborda ainda conceitos como interdisciplinaridade e transversalidade de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais.

1 MÉTODOS DE ENSINO E A PRÁTICA DOCENTE
"Métodos de ensino são as ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo específico". (LIBÂNEO, 1991:152)
1.1 Avanços na Educação Nacional
Apesar do progresso educacional brasileiro nas ultimas décadas, é notável a precariedade do sistema de educação publica do país em todos os estados da federação. A LDB 9.349 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), aprovada em 1996, trouxe um grande avanço no sistema de educação de nosso país. Esta lei visa tornar a escola um espaço de participação social, valorizando a democracia, o respeito, a pluralidade cultural e a formação plena do cidadão.
No mesmo período, outro importante instrumento da educação nacional foi desenvolvido, o PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), não menos importante que a LDB, este pode de fato contribuir muito na execução do trabalho docente e pode ajudar a escola clarear seus objetivos e refletir sobre seu papel na sociedade, este documento trata de propostas curriculares que podem ser discutidas nas escolas de diversas regiões do país, na elaboração de projetos educativos e planejamento de aulas.
Entre os objetivos tanto da LDB como do PCN, esta o de possibilitar condições para que o educando se torne sujeito ativo de seu próprio conhecimento, capaz de desenvolver sua própria metodologia e construir seu aprendizado de forma significativa, tornado-se agente de transformação da realidade e do ambiente em que vive com pleno exercício da cidadania.
Outro importante instrumento dos profissionais da educação assim como de toda sociedade, são os fóruns de discussões como CONAE(Conselho Nacional de Educação) que tem como objetivo discutir os rumos da educação nacional, aberto a todos os setores da sociedade para que possam participar na elaboração de um plano nacional de educação.
Os instrumentos acima não caracterizam apenas os avanços no sistema de educação, mas também o processo de democratização nacional, pertencentes as exigências necessárias ao projeto de desenvolvimento do Brasil perante a sociedade mundial e ao tão desejado "desenvolvimento sustentável".
O projeto de desenvolvimento do Brasil é inseparável do projeto de avanço da educação nacional, países desenvolvidos apresentam altos índices de investimento e eficiência escolar, o que evidência a necessidade de ações urgentes da sociedade brasileira em rever a forma como a questão da educação é tratada no pais.
Para que se torne possível o projeto de melhoria da qualidade do ensino, faz-se necessária uma reflexão à prática docente e sua formação. O professor é o elo entre a qualidade do ensino à formação do cidadão, não há lei que se aplique ou instrumentos que se venha criar que terá eficácia se o profissional da educação não se reconhecer como parte deste projeto.
Para Libâneo (1991:47) o trabalho docente em pleno exercício de sua profissão é de estabelecer seu compromisso com a sociedade, o qual tem a responsabilidade de preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na sociedade, para o trabalho na vida cultural, profissional e política. Trata-se de uma ação fundamentalmente social que contribui para formação cultural e cientifica do povo, tarefa indispensável para outras conquistas democráticas.
1.2 Prática docente
É necessário que o profissional da educação tenha consciência clara sobre seu a papel na sociedade e o conceito sobre o método adotado para mediar seus alunos no processo de ensino/aprendizagem de determinado conteúdo e que o conhecimento dos conteúdos disciplinares são importantes, no entanto não são suficientes para a formação cidadã da sociedade.
Libâneo (1991) diz que "método" deve ser mais do que o domínio de procedimentos e técnicas. No que se refere ao ensino, este deve ter uma compreensão global do processo educativo da sociedade: fins sociais e pedagógicos, que possibilitem a formação de alunos críticos que possam atuar na sociedade.
O que se observa nas salas de aulas, não exclusivamente mas com mais evidencia nas escolas publicas, é justamente métodos que vão de encontro ao conceito defendido por Libâneo, onde professores tanto do ensino fundamental como do ensino médio, utilizam de práticas descontextualizadas, que desconsideram os alunos em quase todos os aspectos (psicológicos, sociológicos, geográficos, ?).
1.2.1 Formação
Paulo Freire (1996) em "Pedagogia da Autonomia", discute sobre os saberes fundamentais à prática educativo-critica ou progressista, e que estes saberes devem ser conteúdos obrigatórios à organização programática da formação docente além de sugerir práticas que possibilitem aos educadores estabelecerem novas relações de educabilidade entre si e os educandos.
A formação docente é ponto crucial para construção de um sistema escolar que visa cumprir a sua função de formar cidadãos. É claro que escola sozinha não será capaz de cumprir este papel, faz-se necessário o envolvimento de todos os setores da sociedade, públicos e privados, tanto para investimento na formação docente como na estrutura física escolar, a fim de construir uma sociedade sustentável e igualitária.
Ao nos referirmos sobre o "processo de formação", não limitamos apenas aos professores e professoras que estão em sala de aula, mas a todos que estão diretamente ligados a organização escolar e a forma como está irá elaborar o planejamento educacional a fim de promover a manutenção ou mudança do status quo, que até então representa o desejo da classe dominante.
O educador que procura uma trajetória a caminho do desenvolvimento da sociedade mais igualitária e sustentável, precisa saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades à sua produção e construção, é compreender que aluno não é receptor de conteúdos, mas sujeito de transformação social e histórica de sua própria realidade.
O professor progressista deve saber que ensinar exige respeito à autonomia e identidade do educando, diminuindo a distância entre docente e discente prevalecendo o respeito por meio do dialogo sincero e afetivo, e tudo isto é indissociável da curiosidade epistemológica do educador, assim como a política não deve ser dissociada da educação.
"O professor que não leva a sério sua formação, que não estuda e que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar atividades de sua classe." (FREIRE, 1996)
Foi prezando pela coerência e a ética que Paulo Freire descreve sobre práticas não aceitáveis ao docente progressista que ao se posicionar como um sujeito da escola democrática, repreende o discurso do aluno que se posiciona contrário ao seu, que não reconhece a fala ou escrita fora dos padrões da gramática dominante, o que vai contra a diversidade étnica e cultural e desrespeita a leitura do mundo pelo educando, calando-o.
1.3 Dialogo
Alem da diversidade étnico-cultural existente, principalmente nas regiões metropolitanas do Brasil, há também a diversidade do dialeto, própria de cada comunidade que é desconsiderada e consequentemente criminalizada no espaço escolar, onde o professor valoriza o dialeto imposto pela classe dominante, assim ampliando o distanciamento entre o docente e o discente.
"Ensinar exige saber escutar", ao se referir sobre este tema Paulo Freire(1996:113-125) descreve um comportamento ético/democrático em que se tornam indissociáveis os termos escutar e falar, em que aquele que tem o que dizer tem o direito e o dever de dizê-lo, porém é necessário que se saiba, que não é o único que tem o que dizer. O educador democrático fala com clareza e estabelece com o aluno uma verdadeira relação de comunicação -Dialogo - para que juntamente com os recursos e materiais disponíveis este se aproprie da inteligência do conteúdo, no lugar de recebê-lo de forma passiva.
Aluno e professor dividem o mesmo espaço, boa parte de seu dia, o que torna necessário uma comunicação saudável, em que ambos podem dialogar e tornar o processo de aprendizado mais prazeroso e significativo. O professor e aluno estão no mesmo patamar, a ineficácia do professor pode representar o fracasso escolar por mais estrutura que escola venha a ter. No entanto o professor que tem sua profissão como escolha consciente de seu papel de formação da sociedade, pode superar estruturas por mais precárias que estejam.

"... se impõem em a mim escutar o educando em suas duvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele."(FREIRE,1996:119)
1.4 Papel da escola
A escola tem o papel de promover condições aos alunos e aos professores para desenvolverem atividades que ultrapassem os limites da sala de aula, e ao docente cabe utilizar de metodologias que estreitem as relações entre aluno e o conteúdo disciplinar, afim de que aluno e professor possam interagir na construção do conhecimento significativo tanto para um como para o outro, visto que avanço da qualidade do ensino não é importante só para o educando, mas também para educador, pois fazem parte de uma mesma sociedade.
Uma das tarefas da escola para Paulo Freire (1996:123) como centro de produção sistemática de conhecimento é trabalhar criticamente a inelegibilidade das coisas e dos fatos e a sua comunicabilidade. É imprescindível, portanto que a escola instigue constantemente a curiosidade do educando em vez de "amaciá-la".
O professor que luta por uma sociedade mais igualitária, deve ter a escola como lugar de discussão e difusão desse processo, ver seu aluno como parceiro e cidadão de direito ao conhecimento dos fatores que implicam diretamente no seu modo de vida e percebe-se sujeito de sua própria história de vida.
A educação é especificidade humana, como um ato de intervenção no mundo, que aspira as mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, do direito do trabalho, das relações humanas, da propriedade, à terra, à educação, à saúde. (FREIRE, 1996:109)
O trabalho docente não se restringe a sala de aula, assim como os conteúdos poucos servem se estes não forem para resolver ou compreender desafios do cotidiano do aluno.
Para Libâneo (1991) a assimilação de conhecimentos e habilidades e desenvolvimentos das capacidades mentais decorrentes do processo de ensino não têm valores em si mesmos, mas visam instrumentalizar os alunos como agentes ativos e participantes da vida social.
O professor é um agente de transformação da sociedade, se assim desejar, pois tem a vantagem de estar em um lugar privilegiado às discussões sociais, e de possibilitar a seus alunos uma parceria na construção de uma sociedade menos desigual.
Apesar de não citarmos as diversas dificuldades existentes no dia a dia do educador, como: indisciplina dos alunos, remuneração baixa, falta de reconhecimento social, falta de estrutura física, não significa que não as reconhecemos. No entanto tais dificuldades jamais serão superadas se o professor não se sentir parte do processo de transformação desta realidade.
1.5 PLANEJAMENTO
Um dos marcos da legislação referente à educação ocorreu em março de 2010, quando o CONAE (Congresso Nacional de Educação) aprovou o PNE (Plano Nacional de Educação), com mais de 2600 paginas, que estabeleceu as metas as serem alcançadas pelo Brasil para os próximos dez anos. Entre os objetivos do PNE esta: a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação da comunidade local em conselhos escolares ou equivalentes.(CONAE, 2010: 36-37)
1.5.1 Planejamento Participativo
O planejamento participativo para Cornely (1977), "se constitui num processo político, num contínuo propósito coletivo, numa deliberada e amplamente discutida construção do futuro da comunidade, na qual participe o maior número possível de membros de todas as categorias que a constituem. Significa, portanto, mais do que uma atividade técnica, um processo político vinculado à decisão da maioria, tomada pela maioria, em beneficio da maioria.(PADILHA, 2001:30-35)
Planejamento de aula é a tomada de decisões referente ao específico da sala de aula: temas, conteúdos, metodologia, recursos didático, avaliação. "Este planejamento vai desde o mais geral: um plano de curso para o ano ou semestre, até o plano por oportunidades (temáticas ou outras), o plano por semana e o planejamento a cada dia" (MST, 1995:7)
Libâneo (1991) afirma que o planejamento é uma reflexão de nossas opções e ações e se não tivermos bem claro o rumo que devemos dar ao nosso trabalho estaremos entregues aos rumos estabelecidos pela classe dominante, o que significa que os elementos do planejamento escolar (objetivos, conteúdos, métodos) estão recheados de implicações sociais, tem um significado genuinamente político.
O planejamento escolar, apesar de ainda ser mal interpretado tanto pela equipe gestora como pelos professores ? que pouco reivindicam a participação - é um momento que deve estar presente todos os que estarão de alguma forma ou de outra influenciando no resultado do projeto, para construção de um plano coletivo que de fato possa atender, na medida do possível, as necessidades da comunidade escolar.
O plano não é um documento rígido e inalterável, mas são ações e regras que foram pré estabelecidas que devem ser respeitadas para alcançar o objetivo proposto. Ele pode ser alterado a qualquer instante desde que todos os envolvidos tomem conhecimento e possam se posicionar a respeito. É preciso não perder o foco do objetivo maior do Projeto, que é atender as necessidades dos alunos na construção do conhecimento e do bem estar da escola.

Pensar o planejamento educacional e, em particular, o planejamento visando ao projeto politico-pedagógico da escola é, essencialmente, exercitar nossa capacidade de tomar decisões coletivamente. (PADILHA: 73).

Projeto é uma antecipação. (...)o conteúdo de um projeto não tem a ver com acontecimentos ou objetos pertencendo ao ambiente atual ou passado do autor que o elabora, mas com acontecimentos ou objetos ainda não verificados; não se debruça sobre fatos, mas sobre possíveis; relaciona-se com um tempo a vir, com um futuro de que constitui uma antecipação, uma visão prévia. (PADILHA, 2002 apud Barbier, 1993:49).

A aprendizagem por projetos possibilita ao professor condições de aproximar os educandos da importância dos conteúdos disciplinares, visto que aprendizagem por projetos tem o objetivo de que aluno sujeito na construção do seu próprio conhecimento.
1.6 Projeto politico-pedagógico
1.6.1 Planejamento e a LDB 9394/96
A participação no planejamento do projeto politico-pedagógico não é só um direito mas um dever da prática docente, assegurado pela Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 :

TÍTULO IV - Da Organização da Educação Nacional

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.
Padilha(2001), afirma que projeto politico-pedagógico exige a definição de princípios, estratégias concretas e principalmente muito trabalho coletivo, o qual deve garantir a avaliação periódica; reflexão da prática pedagógica; melhoria da organização administrativa, pedagógica e financeira da escola, assim como o melhor atendimento ao aluno sendo que todas as ações propostas se relacionam com os princípios norteadores do planejamento dialógico.
1.6.2 Planejamento dialógico
No livro "Planejamento Dialógico", Padilha procura dar um novo sentido à atividade de planejar, e afirma que este processo deve ser dialógico. O planejamento na perspectiva da escola cidadã deve estar associado à dialogicidade, escola esta que para Paulo Freire (apud PADILHA, 2001: 25) baseada numa relação dialógica e dialética entre educadores e educandos, é instrumento importante para construção de uma nova sociedade, porém ela sozinha não poderá salvar o Brasil.
O "planejamento dialógico" para Padilha (2001) é na verdade uma forma de resistência e representa uma alternativa ao planejamento autoritário, burocrático, centralizado e descendente que está estruturado nos sistemas educacionais e redes escolares. Padilha considera o planejamento dialógico como uma alternativa porque com a ampliação da comunicação pelo dialogo coletivo e interativo, é possível tratar de varias questões relacionadas aos diversos problemas e desafios a serem enfrentados no cotidiano com propostas concretas e concretizáveis muito a frente de técnicos e especialistas em planejamento'.
Para Padilha (2001:45) a educação e a atividade de planejar são indissociáveis, por suas características básicas de evitar o improviso, prever o futuro, de estabelecer caminhos que podem nortear mais apropriadamente a ação educativa, especialmente quando garantida a socialização do ato de planejar, que deve prever o acompanhamento e a avaliação da própria ação.
Nilbo(2001) define projetos, como algo irreal, virtual, numa perspectiva, daquilo que esta por vim, ou seja, projeto é uma antecipação do futuro, no qual temos bem definido o que pretendemos alcançar com métodos pré estabelecidos com a execução do referido projeto. Sendo o projeto produto de algo que idealizamos, imaginamos, sonhamos, que tem por objetivo ser concretizado, Nilbo levanta a seguinte questão:

"visto que na maioria das instituições, os projetos escolares são elaborados pela coordenação pedagógica, raramente juntos com os professores, "como poderá esta coordenação pedagógica estar sonhando ou vislumbrando os interesses e as necessidades de seus executores (alunos), por outro lado, os alunos é que vão realizar as atividades pela coordenação. É impossível sonhar os sonhos de terceiros"(NILBO, 2001: 92)

2 A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR COM PROJETOS
2.1 Interdisciplinaridade
O termo "interdisciplinaridade" não tem ainda um sentido único e estável, contudo, de acordo com Fazenda (1998), seu principio é sempre o mesmo. "Caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integração das disciplinas num mesmo projeto de pesquisa".
Fazenda (1998) afirma que se não considerarmos a interdisciplinaridade como uma panacéia que garantirá um ensino adequado, mas um ponto de vista que permitirá uma reflexão aprofundada sobre o funcionamento do ensino, ela pode ser considerada como meio de conseguir uma melhor formação geral e profissional e como incentivo à formação de pesquisadores.
2.2 Projetos interdisciplinares
Na busca por maneiras de adequar as práticas de ensino aos modelos atuais propostos pelos pesquisadores, e visando proporcionar uma formação mais completa aos alunos, uma das propostas é a organização e aplicação dos conteúdos por projetos de trabalho.
Um projeto de trabalho em educação permite a abordagem de temas de maneira a estabelecer relações com diversas áreas do conhecimento. Dessa forma, transitando por várias disciplinas escolares, esse projeto se torna interdisciplinar.
Os projetos interdisciplinares são uma maneira de se organizar os conteúdos de forma a favorecer um aprendizado que, além de mais abrangente, é mais dinâmico e significativo devido aos seus elementos e mecanismos inerentes.
De acordo com Nilbo (2001), um projeto tenderá naturalmente a passar por algumas etapas. Essas etapas serão trabalhadas de forma a organizar a linha de raciocínio do individuo.
Apesar de termos um caminho a percorre antes de nos encontrarmos em uma situação ideal de trabalho em termos de recursos, tanto materiais quanto de tempo, a situação real já nos possibilita a aplicação de diversos procedimentos visando uma formação mais abrangente.
Nilbo (2001) ao falar a respeito do que é real e do que é ideal, afirma que o ideal é que cada aluno, ou grupo de alunos desenvolva um projeto focando seus interesses. Ele fala ainda da necessidade de demonstrar aos alunos que o projeto é deles e que o maior beneficiado com as atividades e resultados serão eles.
Para o bom andamento de um projeto, é fundamental que um planejamento seja feito levando em conta o objetivo que se almeja alcançar e os procedimentos que se farão necessários para tanto.
O planejamento bem feito confere segurança ao professor. Mantém o projeto no rumo desejado, organiza o tempo e recursos necessários. Contudo, isso não impede que novas atividades sejam realizadas ou questões sejam investigadas que não haviam sido contempladas no planejamento.
O planejamento é o momento de escolher o tema e definir os conteúdos e as linhas de investigação que serão conduzidas no decorrer do projeto. Sobre o planejamento Smole (apud NILBO, 1996) reconhece a importância do ato de planejar, porém sem considerá-lo como algo rígido, já que a situação momentânea poderá orientar a forma das etapas do trabalho...".
Ele afirma que, no entanto, isso não significa que se deva ter uma atitude espontaneísta em relação à condução do trabalho, salientando a importância sobre o que vai ser feito em cada etapa e que materiais serão necessários.
O ato de planejar é pratica inerente a função de professor, pois este é que orientará as atividades. Entretanto, o planejamento é algo que o profissional desenvolve na maioria das vezes na prática. Por não ter passado por uma formação focada em planejamento, poucos ainda são os que procuram desenvolver em seus alunos essa prática.
O ato de planejar para Nilbo é de suma importância para a formação dos alunos, e justifica dizendo que não há nenhuma disciplina regular que ensine a planejar, o que sem dúvida será necessário ao aluno em sua vida profissional e pessoal futura.
O autor ressalta a importância da postura do professor nesta etapa do projeto, e diz que quanto mais o professor questionar os alunos, melhor será o planejamento e que o aluno deverá ter em mente as respostas aos questionamentos a seguir:
- Sobre o que falaremos?
- O que faremos nesse projeto?
- Por que estaremos tratando desse tema?
- Quais são os objetivos?
- Como realizaremos este projeto?
- Como poderemos dividir as atividades entre os membros do grupo?
- Como apresentaremos o Projeto?
- Quais serão os recursos necessários?
Tendo em mente ao menos uma idéia das respostas para essas perguntas, os alunos se sentirão mais agentes de seu aprendizado, por verem significado em suas atividades. Eles se dedicarão mais e terão uma postura mais séria em relação ao projeto, por estarem em busca de um conhecimento que desejam obter e não simplesmente executando uma atividade mecanicamente porque o professor solicitou.
Quando essa etapa é feita de forma efetiva, a etapa seguinte tem grande chance de se desenvolver de forma prazerosa e com participação efetiva dos estudantes.
O autor faz a seguinte observação a respeito desta fase: esta fase de definição de objetivos normalmente não será identificada naturalmente pelo grupo, até por uma questão de maturidade, porém é uma prática que deverá ser introduzida gradativamente no escopo de um projeto, com a principal função de demonstrar a relevância do trabalho executado (NILBO, 2002: 99).
Na fase de execução os alunos colocarão em prática as atividades que foram vislumbradas durante a fase de planejamento. O professor precisa manter o foco e jamais se distanciar de seu objetivo no projeto, contudo, contemplando sempre a possibilidade de expandir as formas de se abordar a mesma questão. Por exemplo, se estiverem tratando de sustentabilidade com foco no uso consciente da água dentro da escola, e algum aluno levantar questões acerca do ciclo da água, é muito oportuno que o professor introduza na seqüência de atividades previstas um momento para tratar da questão, pois está totalmente ligada ao tema do projeto.
As atividades podem ter as mais variadas formas, desde que haja um significado claro em relação ao objetivo de cada uma. É essencial que as atividades propostas sejam permeadas pela intencionalidade do professor, e jamais simplesmente um exercício repetitivo para "dar conta do conteúdo", ou "porque está no livro".
O autor evidencia a participação do professor como um facilitador, pois é ele que pode auxiliar na disponibilização de recursos necessários à realização das produções. Neste momento o professor deve também exercer seu papel de membro ativo e participante do grupo.
Segundo Barbier (apud NILBO, 2001:102), a elaboração e execução de um projeto encontram-se necessariamente ligadas a uma investigação ? ação que deve ser simultaneamente um ato de transformação, uma ocasião de investigação e de formação, tornando-se, portanto, uma produção intelectual".
Após a execução das atividades previstas, vem a fase da depuração, na qual segundo Nilbo(2001), os alunos deverão ser questionados acerca de suas produções até o momento, se estão satisfeitos, se algo poderia ter sido feito de forma diferente, se algo foi desnecessário, etc. A intenção desses questionamentos, segundo o autor, é que sejam realizadas as primeiras (auto)críticas sobre suas produções. O autor afirma que é importante que o aluno entenda que ele pode (re)planejar, (re)elaborar, (re)produzir, criar novas hipóteses, mudar percursos, alterar rotas e processos, etc. Em suma, esta é uma fase de autocrítica e auto-avaliação, em que todos os ajustes deverão ocorrer.
É de grande importância para a valorização do esforço do grupo que o resultado seja compartilhado com a comunidade escolar. Essa partilha também beneficia os demais grupos, no sentido de que podem utilizar os exemplos de sucesso e de dificuldades apresentados pelos colegas para melhorar a qualidade de sua prática. Nilbo se refere à fase de apresentação como a "coroação do termino do projeto". Ele ressalta ainda a necessidade de os alunos estarem bem preparados para a apresentação e conhecer a fundo o material a ser exposto, para não realizar uma apresentação mecânica e inexpressiva. Este é um momento que favorece, sem duvida, a área lingüística e interpessoal.
O autor destaca a importância da apresentação do projeto para os alunos que o realizaram com a seguinte frase "Como ele iria se sentir depois de criados e produzidos seus "sonhos", se ninguém consegue vê-lo? Nilbo sugere que seja conduzida pelo professor uma sessão de avaliação, em que todas as etapas do projeto sejam avaliadas por todos os alunos. Ele salienta que o "erro" será percebido pelo próprio aluno, mas não de forma traumática, e sim como algo que "poderia ter ficado melhor".
Nilbo apud Gardner (2001:Pag) sugere uma ferramenta chamada de Processofólio, que diferente de um Portfólio que coleta os melhores momentos de um processo, coleta todos os momentos do processo. O Processofólio consiste de uma pasta que contenha todos os materiais planejados, coletados, pesquisados, etc, além de relatar constantemente as hipóteses elaboradas, assim como suas alterações para novas hipóteses. Essa ferramenta poderá favorecer a realização de uma auto-avaliação por parte dos alunos.
3 INTERDISCIPLINARIDADE SEGUNDO O PCN
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) é o instrumento de apoio as discussões pedagógicas nas Escolas, usados na elaboração de projetos educativos, no planejamento das aulas a fim de possibilitar a reflexão da prática educativa e análise de material didático.
Tem como a finalidade nortear o planejamento e a implementação do currículo no ensino fundamental, considerando o papel da educação no mundo contemporâneo, que coloca para a escola um horizonte mais amplo e diversificado.
As propostas curriculares oficiais dos Estados estão organizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns Municípios optam por princípios norteadores, eixos ou temas, que visam tratar os conteúdos de modo interdisciplinar, buscando integrar o cotidiano social com o saber escolar.
Os PCNs, ao propor uma educação comprometida com a cidadania, elegeram baseados no texto constitucional, princípios segundo os quais orientar a educação escolar, tais como :
Dignidade da pessoa humana, que implica respeito aos direitos humanos, repúdio à discriminação de qualquer tipo; Igualdade de direitos, que referem-se a garantir a todos a mesma dignidade e possibilidade de exercício da cidadania; Participação, que tem como princípio democrático, trazer a noção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade entre a representação política e a participação popular no espaço púbico; Co-responsabilidade pela vida social, que implica partilhar com os poderes públicos e diferentes grupos sociais ou não, a responsabilidade pelos destinos da vida coletiva.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por um tratamento específico das áreas, em função da importância instrumental de cada uma, mas contemplou-se também a integração entre elas. Quanto às questões sociais relevantes, reafirma-se a necessidade de sua problematização e análise, incorporando-as como temas transversais. As questões sociais abordadas são: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
A proposta de interdisciplinaridade pode acarretar algumas discussões do ponto de vista conceitual como, por exemplo, a da sua relação com a concepção de transversalidade, bastante difundida no campo da pedagogia. Essa discussão é pertinente, e cabe analisar como estão sendo consideradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais as diferenças entre os dois conceitos, bem como suas implicações mútuas.
De acordo com os PCNs a problemática trazida pelos temas transversais está contemplada nas diferentes áreas curriculares. Dessa forma, em todos os elementos do currículo há itens selecionados a partir de um ou mais temas. Com a transversalidade, os temas passam a ser partes integrantes das áreas e não externos e/ou acoplados a elas, definindo uma perspectiva para o trabalho educativo que se faz a partir delas e o fato de possibilitar a inserção dos Temas Transversais nas diferentes áreas (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais,?) não significa que isto seja uniforme, é preciso atentar para as singularidades tanto dos diferentes temas quanto das áreas.
3.1 Transversalidade e interdisciplinaridade
Tanto transversalidade como interdisciplinaridade se fundamentam na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à dimensão da didática.
A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos do conhecimento, produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles ? questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu.
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade).
Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-relações entre os objetos de conhecimento, de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida.
A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos.
Os Temas Transversais, portanto, dão sentido social a procedimentos e conceitos próprios das áreas convencionais, superando assim o aprender apenas pela necessidade escolar.
Indicadores fornecidos pela SEDIAE/MEC - Secretaria de Desenvolvimento e Avaliação Educacional - reafirmam a necessidade de revisão do projeto educacional do país, de modo a concentrar a atenção na qualidade do ensino e da aprendizagem. Não basta visar à capacitação dos estudantes para futuras habilitações em termos das especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em função de novos saberes que se produzem e demandam um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, "aprender a aprender".
3.2 Conteúdos disciplinares de um projeto
O aspecto mais importante a ser observado quando se fala de apresentação de conteúdos por meio de projetos de trabalho, é a significância que isso proporciona ao assunto tratado. "... Projetos de trabalho tratam de ensinar o aluno a aprender, a encontrar o nexo, a estrutura, o problema que vincula a informação e que permite aprender a aprender" (HERNANDES; VENTURA, 1998). Ainda de acordo com os autores, aos quais sugerem que as informações a respeito dos temas abordados nos projetos sejam feitas públicas, na forma de um painel situado em local visível na escola, o tema pode pertencer ao currículo oficial, proceder de uma experiência comum, originar-se de um fato da atualidade, surgir de um problema proposto pela professora ou emergir de uma questão que ficou pendente em outro projeto.
Os autores afirmam ainda, que todo o professorado, juntamente com os alunos deve refletir quanto a relevância de se abordar ou não determinado tema. Após esse momento, devem analisar de diferentes perspectivas o processo de aprendizagem que será necessário para construir conjuntamente o projeto.
Proporcionando aos alunos oportunidades de expressar seus questionamentos e opiniões a respeito dos temas propostos, estes se sentem mais envolvidos e atuantes em seu próprio processo de aprendizagem.
Por saber que os alunos, principalmente os dos primeiros níveis educativos vão querer estudar sobre algo que já sabem ou dominam, o docente precisa estabelecer critérios quanto a relevância das contribuições. "O critério de escolha de um tema não se baseia num [porque gostamos], e sim em sua relação com os trabalhos e temas precedentes..." (HERNANDES; VENTURA, 1998).
Apesar de não abordar o termo "transversalidade" a LDB 9394/96 - TÍTULO II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional entre outros diz:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
X - valorização da experiência extra-escolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
O conteúdo disciplinar centrado em si mesmo, limitando-se à exploração de conteúdos meramente acadêmicos, de forma isolada, sem qualquer conexão entre seus próprios campos ou com outras áreas do conhecimento, o ensino da disciplina pouco tem contribuído para a formação integral do aluno, com vistas à conquista da cidadania.
"Assim como não posso como professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina, não posso por outro lado reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos".(FREIRE:103)
A inclusão dos Temas Transversais exige a tomada de posição diante de problemas fundamentais e urgentes da vida social.


4 METODOLOGIA
O presente estudo é resultado de levantamentos bibliográficos, analises de instrumentos legais do sistema de ensino, de observações do dia-a-dia da escola e entrevistas informais com profissionais da área, que se fizeram necessárias com o objetivo de desenvolver um material afim de esclarecimento a educadores, estudantes e profissionais da educação quanto a importância da aprendizagem por projetos e o conceito de interdisciplinaridade.
Com base nos pressupostos dos autores citados, a fim de evidenciar na pratica tais teorias, analisaremos a seguir dois projetos desenvolvidos em uma escola estadual com aproximadamente 900 alunos, no interior do estado de São Paulo.
4.1 Trabalho por projetos: há a necessidade de se rever esse conceito
O livro guia de planejamento e orientações didáticas volume 2 do "Programa Ler e Escrever"(2009: 69-113) - uma ação do governo do estado de São Paulo, com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino fundamental no qual as crianças devem estar alfabetizadas até os 8 anos de idade - , sugere o seguinte projeto didático - "Animais do Pantanal", que de acordo com a justificativa do livro, pretende despertar nos alunos interesse pela leitura, acesso a outros meios de informação e procedimentos de pesquisa e como produto final a construção de um mural expondo as fichas técnicas com ilustrações e informações sobre os animais estudados pelos alunos.
No entanto, na prática o que foi observado em uma escola estadual, foi algo totalmente diferente. Observou-se que a coordenação pedagógica determinou aos professores que o projeto deveria ser aplicado aos alunos e que as fichas dos animais estivessem prontas a tempo de serem expostas na festa da escola.
Os alunos receberam folhas soltas com fotos de animais da Amazônia e uma ficha técnica a ser preenchida. Os animais foram selecionados pelos professores sem participação dos alunos e as fichas técnicas foram preenchidas a partir de cópias de textos escritos na lousa pelo professor.
As atividades do projeto que estava previsto para durar dois meses, foram feitas as pressas em duas semanas. Não houve qualquer preocupação com os conteúdos que poderiam ser abordados, pois o que se esperava é que houvesse material para ser exposto durante a visita dos pais à escola.
Isso nos faz levantar a hipótese de que a coordenação e o corpo docente sequer leram o livro de orientação do projeto didático do Programa Ler e Escrever, pois o mesmo sugere que os conteúdos sejam previamente discutidos com os alunos.
Esse projeto seria classificado como pseudoprojeto de acordo com as afirmações de Nilbo, pois a coordenação determinou que o projeto fosse realizado, os professores acataram a decisão e aos alunos coube executar as atividades sem sentido algum. Não houve uma discussão a respeito da necessidade desse projeto, nem tampouco uma relação entre o tema do projeto com os assuntos que estavam sendo abordados pela turma. Esse projeto não visava responder alguma questão ou solucionar algum problema existente naquela comunidade escolar. Dessa maneira, as atividades foram executadas pelos alunos mecanicamente e não houve um aprendizado significativo, pois para os alunos foi somente mais uma atividade.
De acordo com Nilbo( ), o projeto deve abranger as múltiplas inteligências, o que não ocorreu no projeto "Animais do Pantanal" da maneira como ele foi aplicado. Os alunos se comportaram de forma passiva, semelhante ao que acontecia nas décadas de 60 e 70. A professora simplesmente transferiu o conhecimento que tinha aos alunos em forma de textos e aulas expositivas, enquanto estes ouviam ou copiavam da lousa. "Educar não é mera transferência de conhecimento, mas sim conscientização e testemunho de vida..." (Paulo Freire, 1996).
Vale destacar que este programa faz parte da rede estadual de ensino, então surge a pergunta: quantas escolas podem ter agido da mesma forma? São inúmeras razões apontadas como causa dessa forma de trabalho. É evidente que não se pode generalizar, antes disso é preciso que se compreenda que o momento atual da educação em nosso país é de renovação, amadurecimento de práticas comprovadamente eficazes e assimilação das novas abordagens e formas de interação entre aluno e professor, ensino e aprendizagem. Seria ilusório acreditar que a grande maioria de docentes em um país transformasse sua prática muitas vezes de décadas, em poucos anos. A transformação acontecerá de forma gradativa, a medida que a eficácia das propostas sugeridas seja constatada de forma irrefutável.
4.2 O professor faz a diferença
Na mesma escola, observou-se o quanto a equipe docente é capaz de promover mudanças na metodologia e mediar o processo ensino/aprendizagem.
Três professores do mesmo projeto citado anteriormente se reuniram para propor um projeto interdisciplinar sobre alimentação saudável para o mesmo grupo de alunos. Ficou estabelecido que cada docente discutisse com os alunos o que sabia sobre o tema.
Então elaboraram um questionário a fim de organizar as propostas para continuidade do trabalho, o qual segue listado abaixo.
? O que vocês entendem por alimentação saudável?
? O que vocês costumam comer nas refeições?
? De que forma podemos consumir as frutas?
? Que receitas poderíamos fazer, utilizando frutas?
Cada professor discutiu com seus alunos sobre o tema em questão, e em relação à receita que poderia utilizar frutas, foi quase unânime a opinião dos alunos: salada de fruta. Então como proposta para andamento do projeto em conformidade com os alunos e professores, ficou decidido que iriam se organizar para fazer a salada.
Assim foi discutido com os alunos que pesquisassem junto aos familiares, que tipo de frutas poderia compor a receita e se haveria alguma restrição quanto ao consumo.
Num outro momento os alunos trouxeram a lista realizada junto com os familiares, discutiram sobre os alimentos adequados para confecção da receita, a forma como são vendidos (quilo ou unidade) e sobre as restrições quanto a sabores e questões relativas a alergias. Em seguida os professores se reuniram para discutir a quantidade de frutas necessárias e uma alternativa para os alunos com restrições. Nesta aula ficou decidido o que cada um iria trazer, mas antes todos deveriam fazer pelo menos três pesquisas de mercado para comparar o melhor preço, os alunos poderiam utilizar de encartes de jornais, tablóides, etc... .
Durante a realização da salada de frutas, um dos professores observou que não havia se atentado para as questões ambientais, visto que haveria a produção de lixo orgânico e descartável, assim rapidamente discutiu com os outros professores para abordarem a importância sobre o tema com os alunos e que pudessem juntos solucionar o problema. Os alunos sugeriram que se providenciasse mais um coletor para descarte, assim ficando um recipiente para restos orgânicos e outro para os descartáveis.
Ao final do projeto os alunos realizaram uma tabela de alimentos saudáveis com suas respectivas características como: vitaminas, cítricas, por kilo e por dúzia, para expor em um mural no pátio da escola.
Podemos observar que neste segundo projeto citado, os alunos foram convidados a contribuir com idéias e questionamentos desde o início. Os professores, ao propiciar aos alunos a oportunidade de externar seu conhecimento prévio, permitiram aos alunos participar ativamente da elaboração do projeto, tornando-se assim agentes do próprio aprendizado.
No decorrer do projeto, foi solicitado aos alunos que pesquisassem em diferentes momentos e contextos, buscando assim as informações e conhecimentos de que necessitavam para chegar a um objetivo. Dessa maneira, os alunos foram estimulados a desenvolver habilidades de autonomia e comunicação, além de diversos procedimentos como comunicação, classificação e comparação de informações.
A maneira que os professores optaram para conduzir o projeto permitiu aos alunos transpor os limites dos conteúdos, construindo conhecimento prático e significativo. É possível observar a interdisciplinaridade em variados momentos do relato, por exemplo, os alunos exercitaram Matemática, ao lidar com preços e medidas das frutas, exercitaram a Língua Portuguesa ao consultar jornais e folhetos, abordaram questões relativas à Ciências ao tratar de saúde. Transitaram ainda pelos Estudos Sociais e temas transversais ao falar de tratamento consciente do lixo.
5 CONCLUSÃO
O levantamento bibliográfico juntamente com as observações que foram feitas durante o estagio obrigatório, permitiu concluir que o trabalho por projetos não é uma metodologia ausente da escola. No entanto o conceito de projeto ainda é incompleto em grande parte das instituições escolares, tanto para os docentes como para a equipe gestora, o que torna o projeto trabalhoso e com resultados que não expressam a realidade do processo de ensino-aprendizagem dos alunos, assim como não contribui para a construção do conhecimento significativo tão pouco para transformação da sociedade para o pleno exercício da cidadania.
CONSIDERAÇÕES
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a eficácia e a importância do planejamento, implantação e desenvolvimento de projetos interdisciplinares na apresentação do conteúdo curricular, quando são realizados de uma maneira comprometida. Essa forma de abordagem dos conteúdos curriculares facilita a integração dos alunos por meio da atribuição de significado aos assuntos e atividades propostas durante as aulas. Infelizmente, constatamos que na maioria das vezes o projeto interdisciplinar não é elaborado de acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola e que existe conhecimento insuficiente por parte do corpo docente e da equipe de coordenação a respeito dos diversos aspectos que envolvem um projeto. Desta forma, as habilidades operatórias não são desenvolvidas e estimuladas de forma consistente, pois os projetos continuam sendo conduzidos de forma a dar maior enfoque aos conteúdos em si, em lugar de utilizá-los como ferramenta para desenvolver habilidades.
A proposta de uma reflexão que envolva a análise dos objetivos, justificativa, tema, público alvo, metodologia, desenvolvimento, avaliação sobre a pratica e revisão dos métodos utilizados, deve se constituir como fator primordial nesse processo.
De acordo com o observado, há o equivoco em torno do papel da escola, que só tem contribuído para preservar a forma perversa como o estado vem tratando as questões ligadas à educação publica. Responsável pelo processo de construção de uma sociedade mais igualitária, a escola não tem cumprido bem seu papel, isso não significa que ela é de tudo ruim. Porém, em grande parte dos casos está simplesmente transmitindo informações quando deveria estar formando cidadãos capazes de interagir de forma consciente no meio em que vivem. Esse modelo de transmissão de informações é suficiente para que haja mão de obra suficientemente capaz de executar funções que não necessitem de um nível mais elaborado de pensamento, deixando assim os cargos de comando reservados a um seleto grupo que tem acesso a uma educação fundamentada em conhecimentos mais sólidos a respeito de como se dá a construção do conhecimento, mantendo assim o status quo.
O papel da educação em uma sociedade é o de promover crescimento em todas as áreas, buscando a excelência na qualidade do convívio entre seus membros. Essa nobre, porém árdua tarefa que é destinada aos educadores não pode jamais deixar de nortear nossa prática docente.
Referencias
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SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Ler e Escrever: guia de planejamento e orientações didáticas. 2. Ed. São Paulo: FDE, 2009, p. 69-113.