PALESTRA NO IHGB

PROJETO RESGATE ÁUSTRIA – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

PESQUISAS EM INSTITUIÇÕES VIENENSES

Ao contrario do que se mostrou nos outros países que foram eleitos pelo Projeto Resgate, logo de inicio verifiquei que a natureza das pesquisas em Viena seriam bem diferentes das que ocorriam nos demais países europeus.

Eminentemente de natureza Documental, observei, logo no primeiro mês de pesquisa, que a gama de fontes seria muito mais ampla do que se previa. As maiores fontes de conhecimento das relações entre Brasil e Áustria vem das coleções museológicas, de natureza Etnográfica, antropológica, geológica, botânica, etimológica, biológica, bibliográfica.

A riqueza das fontes é palpável e tridimensional, diferenciando imediatamente o rumo dos trabalhos – o que beneficiaria diretamente, pois estaria a conhecer e considerar coleções que fazem parte de meu dia a dia profissional como Museóloga que sou.

Durante os primeiros meses apoiada pela Embaixada do Brasil em Viena, mapeei as instituições existentes na capital – ponto de partida do projeto por ser o local de maior concentração de instituições culturais. Foram contatadas, uma a uma, suas diretorias e, como era de se esperar, os olhos austríacos se voltaram com interesse aos nossos propósitos, abrindo todas as portas para que os objetivos pontuais pudessem ser alcançados.

HISTÓRIA

A história vivida entre Brasil e Áustria, ao contrario do que os livros didáticos citam e as escolas ignoram, dá-se ainda no final do século XVII. Mas isto não é demérito apenas do Brasil; também na Áustria, esse encontro que promoveu a evolução da pesquisa científica naquele país esta envolto numa aura de desconhecimento que assusta os museus e centros de pesquisa.

Fica para eles a divulgação desta verdade, via exposição de acervo, quando são expostos e contextualizados elementos retirados da nossa natureza e mostrados como uma historia exótica a ser contada.

O austríaco adora o Brasil, hoje pelo futebol e musica que são formas mais populares de manifestação e de grande aceitação em qualquer parte do mundo. Mas há entre os iluminados daquele país, uma intenção muito forte de poder estudar, organizar e dar formato ao conteúdo de origem brasileira, seja ela documental ou museografica em sua posse – muitos deles com mais de 1 século de guarda sem jamais terem sido expostos ao publico.

São muitos os personagens desta pesquisa; muitos dos quais não reconheceremos, nem mesmo pelos nomes, embora seus trabalhos tenham sido de enorme importância para as áreas em que atuavam e ainda hoje mencionados no meio acadêmico como descobridores de muitos tesouros.

Destacamos: Jesuítas da Companhia de Jesus cujo acervo documental esta em posse da Igreja Jesuítica de Viena (Distritos 1 e 13). A documentação se detém em suas biografias e poucas informações sobre sua estada de três representantes principais na Província do Grão Para entre o final do século XVII e inicio do XVIII.

Sobre este período existe enorme acervo documental nas cidades de Salzburg, Insbruck e Melk , ainda não visitadas.

Foi com o casamento entre Leopoldina Habsburg e Pedro de Alcantara que iniciou-se a benéfica e pacifica ` Invasão Austríaca` ao Brasil.

Sabido por todos de sua criação esmerada e muito dedicada aos conhecimentos científicos, principalmente na área de Mineralogia, foi idéia de Leopoldina, acatada por seu pai, o Imperador Franz Joseph, criar uma expedição científica, que deveria viajar com a Arquiduquesa para o Novo Mundo com intuito de conhecer seu marido e festejar o enlace já acontecido em Viena, meses antes, por procuração.

Nesta expedição, muitos cientistas foram convidados a explorar as terras do Rio de Janeiro e São Paulo pelo período de 1 ano.

Foram escolhidos por mérito cientistas e autodidatas que cuidavam, na sua maioria, dos acervos exóticos de Franz Joseph e de Professores de Ciências. Johann Natterer ("o mais zeloso e mais fecundo colecionador zoológico que pisou a América do Sul") deve ser considerado o personagem principal desta aventura nos trópicos, Com conhecimentos de Botânica e zoologia, fez descobertas durante os 15 anos em que permaneceu no território nacional, descobertas estas que são referencia no mundo cientifico.Thomas Ender (aquarelista), J. Pohl,.J.C.Mikan, professor de botânica da Universidade de Praga, M.Sochor, caçador a serviço da Arquiduquesa, M. Schott, inspetor do jardim botânico do Belvedere, John Buchberger, pintor de plantas e flores, M.Schiich, bibliotecário da corte.e também os alemães, von Spix e von Martius, que realizaram expedição pela região sudeste, centro oeste e Norte, identificando um vastíssimo material, compilado anos depois no FLORA BRASILIENSIS.

Todo o acervo, inicialmente enviado para o Museu Brasileiro de Viena, destruído pelo fogo alguns anos depois, hoje esta sob custodia do Museu de Historia Natural e Museu Etnográfico. La encontramos alguns milhares de objetos que se dividem em minerais, animais, objetos pessoais de D. Leopoldina e D. Pedro, além de documentacao vastíssima, contendo diários de viagem, aquarelas e souvenires trazidos do Brasil.

O total de pecas museografica neste museu ultrapassa 30.000 itens. Destes, 13.000 são fruto das descobertas de Natterer, que contribuiu com detalhados diários de bordo, onde não só descreve o povo, as áreas visitadas, mas também os resultados de seus estudos sobre animais e plantas (Parte deste acervo - 500 cartas – estão no Museu Etnográfico de Viena).

A Instituição se divide em setores e apenas o Arquivo e o setor de Mineralogia puderam ser explorados pelo Projeto ate agora.

Da Mineralogia, mais de 2.500 exemplares de minérios estão sendo identificados e catalogados pela pesquisadora em parceria com o Diretor da Área. Trata-se da Coleção Helmreichen zu Brunfeld, Engenheiro de Minas e Geólogo que esteve no Brasil por17 anos em meados do século XIX e coletou nas regiões do Grão Mogol, Mato Grosso e Rio de Janeiro, elementos da natureza como amostras de solo e rochas, artisticamente coletados, resultando em lapides basicamente do mesmo formato e tamanho.

Da mesma forma que outras coleções, esta também não foi ainda exposta em publico, graças a falta de informações relacionadas às regiões (hoje com denominações bastante diferentes), e à própria descrição das tarjetas emitidas pelo próprio punho de Helmreichen, 90% em português, língua por completo desconhecida dos pesquisadores do Museu.

Foi com o Projeto Resgate que se iniciaram as transcrições das etiquetas, inclusive com a revisão da tradução anterior, que abrangeu apenas 1 centena de pecas, mas continha erros fundamentais, impossibilitando a identificação dos dados no contexto simulado.

No mesmo museu ainda há setores que ainda não foram pesquisados por falta de condições de agendamento com os Diretores de área – o que se pretende realizar ate o final de 2009, com ajuda da Embaixada do Brasil, na pessoa do Ministro Farias – que apóia a iniciativa e colabora oficialmente para a obtenção de resultados.

Outras instituições, como o Arquivo Central de Viena continuam a ser pesquisadas. Lá encontramos não so documentação pertinente ao Brasil Colônia/Império em aproximadamente 100caixas – cerca de 50 mil documentos – narrando principalmente o dia a dia da Casa Real, seus compromissos e festejos – como também outras centenas de caixas referenciando os JESUÍTAS em Portugal e Brasil e também um fundo nomeado PORTUGAL, onde a parte da historia deste país, entre 1560 e 1870 esta descrito em diversas cartas, diários e outros documentos.

Bem, outras instituições como Arquivo do Zoo Schombrum, Biblioteca Nacional, Biblioteca de Musica,Museu do Globo, Museu do Mapa, Museu de Belas Artes, Arquivo de Iconografia, Arquivo do Albertina Museum, Museu Militar, Arquivo de Musica da Faculdade de Teatro de Viena, Arquivo da Prefeitura, Arquivo Biblioteca da Academia de Ciências, Biblioteca do Museu Etnográfico, Arquivo Fonográfico de Viena e tantas outras instituições dentro e fora de Viena ainda estão sendo pesquisadas, estimando a conclusão do projeto até meados de 2010. Entretanto, de acordo com os resultados parciais, já está sendo rascunhado o Guia de Fontes da Historia do Brasil em Arquivos e Museus Austríacos.