PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E GESTÃO CURRICULAR: um diálogo necessário para a mediação do fazer pedagógico

RESUMO

O currículo aplicado nas escolas vem se modificando ao longo do tempo, normalmente tentando adequar-se as transformações do próprio sistema educacional, que com as mudanças sofridas pela sociedade na contemporaneidade precisa se renovar e repensar suas prioridades, ensinando de fato aquilo que é importante. A gestão do currículo na escola envolve todos aqueles que fazem parte do contexto escolar e, portanto, deve está diretamente relacionada com o Projeto Político Pedagógico da escola, uma vez que este direciona as ações e metas que deverão ser desenvolvidas no ambiente escolar. O objetivo desse trabalho é, justamente, relacionar a Gestão do Currículo com o PPP e destacar que um diálogo coeso entre eles norteia e fortalece o processo de ensino aprendizagem, além de favorecer a prática pedagógica em sala de aula. Palavras-chave: Currículo. Projeto Político Pedagógico. Prática pedagógica.

1 INTRODUÇÃO

A escola pode ser percebida e discutida sob diferentes aspectos e pontos de vistas, pois a maneira como o processo educacional é encarado dentro de uma Instituição de ensino, depende do comprometimento daqueles que compõe o seu quadro funcional, ou seja, as pessoas que interagem e interferem diretamente na qualidade do ensino oferecido pela escola. Desse modo, esse comprometimento relaciona-se com a vontade de todos em querer participar das mudanças necessárias para que a escola possa adequar-se e acompanhar as transformações que fazem parte de um contexto 1 Graduada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão; Pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura pelo Instituto DE Ensino São Francisco- IESF; Pós-Graduanda em Gestão Integradora Educacional pela Faculdade Atenas Maranhense. Mestranda em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade pela Facnorte; E-mail: [email protected]. 2 educacional dinâmico e atual. Percebe-se que ao longo do tempo a Educação vem se modificando e a escola deixou de ser vista como um local onde se repassa conteúdos sistematizados, fechados e distantes da realidade, e passou a ser vista como um espaço de construção do conhecimento. De acordo com Silva (2012, p.87) [...] a escola é o espaço não só de acolhimento das diferenças humanas e sociais encarnadas na diversidade de sua clientela, mas fundamentalmente o locus a partir do qual se engendram novas diferenças, se instauram novas demandas, se criam novas apreensões acerca do mundo já conhecido. Nessa perspectiva, a escola precisa estar atenta ao novo contexto educacional e portanto, deve estabelecer metas que serão discutidas e analisadas pela coletividade. É nesse sentido que revela-se a importância da elaboração de um Projeto Político Pedagógico voltado para os interesses de todos, focado na construção de uma escola que se preocupe com a formação do indivíduo enquanto um ser transformador de sua própria realidade. O Projeto Político Pedagógico de uma escola reúne as ações e as propostas que nortearão o trabalho de todos os atores que compõem o universo escolar como, por exemplo, gestores e professores, pais e alunos. Outra função relevante ao Projeto Político Pedagógico é quanto à gestão curricular, ou seja, o currículo utilizado na escola deve está articulado aos objetivos e propostas elencados no PPP, uma vez que essa articulação possibilitará o desenvolvimento eficaz das práticas pedagógicas e das ações pensadas para o ano letivo. A articulação entre o Projeto Político Pedagógico e a organização do currículo fortalece a prática docente, bem como consolida o processo de ensino aprendizagem, principal razão da existência da escola. Seguindo esse raciocínio, pretende-se neste trabalho destacar que a relação entre o Projeto Político Pedagógico e a Gestão Curricular é de fundamental importância para a efetivação do conhecimento, pois o PPP de uma escola constituise em um conjunto de diretrizes que visam à qualidade do ensino oferecido pela Instituição. 3 Não se deve desagregar o currículo do projeto pedagógico, pois essa desassociação compromete o fazer pedagógico e distancia a escola da realidade de seus integrantes, anulando desta forma o papel social da escola, que é mediar o conhecimento sistematizado e conquistado pela humanidade com as experiências e saberes vivenciados pelos estudantes em seu cotidiano.

2 AS TRANFORMAÇÕES DAS TEORIAS CURRICULARES

Definir o currículo não é uma tarefa fácil, pois sua conceituação perpassa por uma complexa análise das diferentes teorias que já foram abordadas e discutidas até a atualidade. Ao longo da trajetória do processo educativo, o currículo já percorreu inúmeros caminhos, adequando-se as perspectivas e necessidades de cada época, pois como se percebe as teorias curriculares enfocam concepções e ideias que se enquadram em contextos diferenciados. Segundo Silva (1999) os estudos sobre o currículo, apresentam três grandes grupos teóricos: as teorias tradicionais, as críticas e as pós-críticas. Nas teorias curriculares tradicionais, ou a criticas o currículo está voltado apenas para a organização de conteúdos, não levando em consideração os conhecimentos prévios do indivíduo, como afirma Silva (1999, p.17) “As teorias tradicionais pretendem ser apenas isso: “teorias” neutras, científicas, desinteressadas”. O enfoque tradicional do currículo visa à formação técnica e instrucional, onde os conteúdos são repassados pelo professor e memorizados pelo aluno. Não existe nesse tipo de currículo uma preocupação com a formação da criticidade e da reflexão por parte do estudante. O currículo era uma questão de organização e ocorria de forma mecânica e burocrática. A tarefa dos especialistas em currículo consistia em fazer um levantamento das habilidades, em desenvolver currículos que permitissem que essas habilidades fossem desenvolvidas e, finalmente, em planejar e elaborar instrumentos de medição para dizer com precisão se elas foram aprendidas. Essas idéias influenciaram muito a educação, até os anos de 1980, nos EUA e em muitos países, inclusive no Brasil. (BOBBIT apud MALTA, 2013, p.344). 4 O currículo a crítico favorece a alienação e impede a criatividade, ou seja, o indivíduo torna-se apenas eficiente enquanto cumpridor de suas funções, no entanto não consegue transcender a realidade na qual está inserido e permanece unicamente como instrumento de manipulação daqueles que de fato detém o conhecimento. Esse tipo de Teoria curricular será altamente questionada com o passar do tempo, pois percebe-se alguns fatore que despertarão o interesse de estudiosos e pesquisadores em Educação, tais como elevado grau de repetência, defasagem, distorção idade/série, exclusão e, consequentemente, fracasso escolar. Já nas Teorias Críticas, surgidas a partir de 1960, o currículo é visto sob um novo aspecto, libertando-se do caráter tecnicista e passando a questionar a reprodução de conhecimentos que privilegiavam as desigualdades sociais. Inscrita numa tradição marxista, a teoria crítica é por princípio um espaço de contestação, uma outra forma de olhar a realidade e um compromisso político com o que pensamos e fazemos, na medida em que a neutralidade "existe" somente nas explicações técnicas.{...} a teoria crítica esclarece que as práticas pedagógicas estão relacionadas com as práticas sociais, sendo tarefa do educador crítico identificar as injustiças nelas existentes (Popkewitz & Lynn, 1999). Deste modo, a teoria crítica, sobretudo com as análises introduzidas a partir dos trabalhos de Foucault e Gramsci, enfatiza que as práticas sociais são o resultado das relações de poder. (PACHECO, 2001, p.50). Nessa nova perspectiva, o currículo trás a tona as lutas de classe e as relações de poder existentes na sociedade. A escola sob esse prisma é vista como reprodutora das diferenças sociais, onde o conhecimento científico serve como instrumento para fortalecer o poder político e econômico das classes dominantes. Nessa linha de pensamento, o currículo não é neutro, nem desprovido de intencionalidade, uma vez que expressa a cultura da classe dominante e perpetua as relações de dominação e subserviência. A partir das décadas de 1970 e 1980, aparece um outro discurso a cerca do currículo, são as Teorias Pós-críticas que se fundamentam nas ideia da fenomenologia, do pós-estruturalismo e no multiculturalismo. [...] a teoria pós-crítica deve combinar-se com a teoria crítica para ajudar-nos a compreender os processos pelos quais, através das relações de poder e controlo, nos tornamos naquilo que somos. 5 Ambas nos ensinaram, de diferentes formas, que o currículo é uma questão de saber, identidade e poder (SILVA, 2000 apud PACHECO, 2001, p.55). Nas teorias pós-críticas ocorre uma transformação nos interesses e temáticas que devem ser abordadas pela escola. A partir desse novo contexto a escola deve ser um espaço de construção de valores e saberes que estejam relacionados com a realidade de seus integrantes. A teoria crítica e a pós-crítica se integralizam e ampliam a maneira de pensar e agir de seus educandos, incentivando a modificação de posturas diante dos complementos curriculares que são repassados pela escola. O currículo proposto pela Teoria pós-crítica leva em consideração, temáticas como o multiculturalismo, as diferenças raciais e de gênero, as relações de poder vinculadas ao saber, a sexualidade, a identidade e subjetividade. O conhecimento sobre os caminhos percorridos pelas Teorias curriculares até os dias atuais consolida a concepção de que o Currículo é um instrumento de libertação, pois permite o desenvolvimento da reflexão e da criticidade em relação a realidade em que o sujeito encontra-se inserido.

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