Resumo: Este artigo analisa os aspectos conceituais e práticos da administração da produção: função produção e desenvolvimento do produto no tocante a elaboração do projeto de produtos e serviços, como elemento impulsionador da competitividade.
Palavras-chaves: administração da produção, projeto de produtos e serviços, competitividade.

1. Introdução

A Administração enquanto ciência sofreu diversas mudanças: da administração clássica até às teorias modernas surgiram novas técnicas e modelos que favoreceram tal ciência, em todas as áreas, sobretudo na administração da produção. A evolução dos processos produtivos e o aperfeiçoamento das técnicas e modelos de produção, novas máquinas, novas tecnologias, maior uso da informação, intercambialidade entres países, mão-de-obra mais qualificada e especializada, entre outros, possibilitou o avanço que existe hoje no que diz respeito a melhoria da qualidade, eficiência e eficácia produtiva, melhor uso dos recursos cada vez mais escassos, expansão do comércio, configurando uma teia/rede mundial da qual empresas, fornecedores, clientes, governo e sociedade se interligam e interagem agregando e consolidando a cadeia de valor.

2. Desenvolvimento de projeto de produtos/serviços

Projeto em si é a parte conceitual do produto/serviço que poderá vir a ser produzido, tendo como objetivo primordial a satisfação das necessidades de seus eventuais consumidores, concomitante aos recursos disponíveis e objetivos de desempenho estabelecidos para o produto/serviço. Slack (2002) conceitua projeto como os processos através do qual as exigências funcionais das pessoas são satisfeitas com o uso do produto, que representa a tradução física do conceito. Enquanto Corrêa (2006) define projeto como um conjunto de atividades inter-relacionadas para produzir um resultado definido dentro de um prazo determinado, utilizando recursos específicos.
A natureza do projeto é a tradução do conceito, a partir da especificação detalhada, em um produto ou serviço em consonância com os objetivos de desempenho (qualidade, rapidez, confiabilidade, flexibilidade e custo) propostos, pois estes afetam diretamente na escolha do produto/serviço pelos consumidores (Slack, 2002).
Um ponto crucial para Slack (2002) ao desenvolvimento de um projeto de produto e serviço é a criatividade, desde sua concepção (idéia) até o detalhamento final do projeto (especificação), visto que a competitividade do produto/serviço depende das escolhas que o projetista irá fazer durante as etapas do projeto em relação às inovações que o diferenciará dos demais existentes no mercado. Para minimizar erros de tomada de decisões utiliza-se o balanceamento entre criatividade e avaliação, segundo critérios de viabilidade, aceitabilidade e vulnerabilidade do projeto (Slack, 2002).
Ao desenvolver novos produtos/serviços, no tocante à participação de mercado, é crucial o tempo que será despendido desde a concepção do projeto até a efetiva chegada do produto/serviço no mercado. Segundo Davis (2001) o mercado está cada vez mais competitivo, mudando a todo instante devido à necessidade de reagir às inovações e ao ciclo de vida dos produtos estarem mais curtos. Os objetivos do projeto, na visão de Stevenson (2001), é satisfazer aos clientes e obter lucro razoável.
Para Corrêa (2006) as fortes pressões competitivas do mercado globalizado levam os projetistas a buscarem a redução dos tempos de ciclo dos produtos, além de aliar os objetivos estratégicos da organização com as decisões táticas de cada função. E uma boa pesquisa de marketing dá a organização o escopo do qual ela precisa para manter as margens de lucro desejadas, com os constantes lançamentos de novos produtos/serviços no mercado (Davis, 2001). Para Stevenson (2001) há um elo entre projeto e sucesso organizacional, uma vez que os produtos/serviços são a essência de qualquer organização, e quando bem projetados conseguem realizar as metas melhor do que as demais. A criação de produtos inovadores dentro das empresas tem se mostrado ponto crucial para o estabelecimento no mercado, este cada vez mais competitivo.
Quando se tem um projeto de produtos e serviços que satisfaz as necessidades dos consumidores e atende às suas expectativas, tem-se um viés à vantagem competitiva da organização, pois sabidamente o projeto de produtos e serviços inicia-se e termina com o consumidor, relata Slack (2002). Portanto, ao projetar produtos/serviços, o projetista esculpi cuidadosamente o conceito segundo os desejos dos clientes, o pacote composto pelo produto e pelos serviços de apoio e o processo pelo qual o produto/serviço será produzido, já que os consumidores observarão cuidadosamente os benefícios atuais e futuros que o produto/serviço proporcionará.
Corrêa (2006) enumera dois princípios básicos para projeto em manufatura: simplificação, ao reduzir o número de partes e componentes do produto para que se torne mais simples e barato sem perder a qualidade; e padronização, ao intercambiar peças para permitir maiores economia de escala, rapidez e facilidade de manutenção e menores estoques. Claro que sem deixar de lado os elementos principais do projeto de produto/serviço, a satisfação das necessidades e os desejos dos consumidores. A facilidade com que a área de produção consegue executar as características do projeto, chamada de manufaturabilidade, levando em conta os custos, o mercado alvo e as funções, é para Stevenson (2001) o fator-chave na produção de bens. Este autor relata ainda acerca do projeto voltado para manufatura (PVF) que leva em conta a forma como o produto será fabricado e o projeto voltado para a montagem (PVM) que leva em conta a forma como o produto será montado, reduzindo o número de peças, os métodos e a sequência do processo.

3. Etapas do projeto ? do conceito à especificação

Para chegar à especificação final do produto/serviço trilha-se através de etapas que proporcionarão inúmeras informações cruciais para definirem o produto. Usaremos as etapas definidas por Slack (2002).

3.1 - Geração do conceito

Essa etapa inicia-se com idéias oriundas de fontes externas e internas à organização, como dos consumidores apartir de grupos de foco, sugestões dos clientes e pesquisa de mercado, das ações dos concorrentes, dos funcionários e idéias da pesquisa e desenvolvimento. Essas idéias são transformadas no conceito do produto/serviço dando assim a forma, a função, o objetivo e os benefícios do produto/serviço de forma simplificada e de fácil entendimento.

3.2 - Triagem

O conceito precisa ser aceito por toda a organização, sendo de essencial importância que ele passe por uma seleção (triagem) segundo os critérios de viabilidade (habilidade e capacidade produtivas), aceitabilidade (critérios satisfatórios) e vulnerabilidade (riscos) em cada uma das funções envolvidas, principalmente produção, marketing e finanças. Um projeto que leva em conta as qualificações da organização desde sua elaboração, é chamado por Stevenson (2001) de projeto voltado para as operações.

3.3 - Projeto preliminar

Após a seleção do conceito do produto/serviço aceitável e consensual, este deve ser transformado em um projeto preliminar com as especificações dos produtos e serviços e a definição dos processos. Ou seja, especifica-se os componentes do pacote, a estrutura, isto é, a ordem na qual as partes componentes do pacote devem ser reunidas, a lista de materiais, as folhas de roteiro ou processo, as máquinas e equipamentos, os fluxogramas, os tempos e movimentos de todos os processos, as normas e procedimentos de execução, inspeção e controle e o arranjo físico. Além de, especificar o mercado consumidor, a previsão de demanda, a rede de suprimentos e os custos de produção.

3.4 - Avaliação e melhoria

O projeto preliminar será verificado para caso ele possa ser melhorado, em termos de utilização mais econômica e facilidade, antes de começar a ser produzido e posteriormente levado ao mercado, essa é a etapa de avaliação e melhoria do projeto. As técnicas mais utilizadas em avaliação e melhoria de projeto são: desdobramento da função qualidade - QFD (assegura o atendimento das necessidades dos clientes), engenharia de valor ? VE (reduz custos confrontando-os com as funções) e métodos de Taguchi (testa o desempenho do projeto diante de situações adversas).

3.5 - Prototipagem e projeto final

Na última etapa do projeto, depois de avaliado e melhorado, ele é transformado em um protótipo para ser testado. Esses testes são realizados em cartão/papelão ou argila e simulações em computador com protótipos virtuais (CAD - projeto auxiliado por computador), usado para criar e modificar desenhos de produtos. Há também a possibilidade de fazer testes reais com os consumidores em escala-piloto.

4. Considerações finais

Dentro desse contexto global e competitivo, revela-se a importância da elaboração do projeto de produtos e serviços, que desde os aspectos iniciais da geração do conceito até o produto final e assistência ao cliente deve nortear as organizações.
Verifica-se a partir do estudo realizado que as organizações necessitam de bons projetos para angariar cada vez mais consumidores. Pois, a criação de produtos que atendam as necessidades desses, pode por ventura ser o ponto de partida para estabelecer uma vantagem competitiva, e consequentemente sera conseguido o sucesso estratégico da empresa.

5. Bibliografia

SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart, JOHNSTON, Robert. Administração da produção. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2002.

DAVIS, Mark M.; AQUILANO, Nicholas J.; CHASE, Richard B. Fundamentos da administração da produção. 3ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2001.

CORRÊA, Henrique L.; CORRÊA, Carlos A. Administração de produção e operações. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2006.

GIL, Carlos Antonio. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

STEVENSON, William J. Administração das operações de produção. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001.