PROGRAMA DE CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE NO MUNICÍPIO DAS CORRENTES-PE, DURANTE O ANO DE 2007

 

José SC Neto, Daniel F Brandespim

Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns

 

RESUMO

A esquistossomose mansônica é uma doença infecciosa parasitária, provocada por um trematódeo (Shistosoma mansoni) que habita principalmente os vasos sanguíneos do fígado e intestino grosso do hospedeiro definitivo (o homem). As esquistossomoses são endêmicas em todo o mundo, atingindo, principalmente países da África, Ásia e América Latina. O Brasil é o país mais atingido pela enfermidade na América. Em Pernambuco, somente no ano de 2007, foram 15 mil os casos da doença e 196 mortes. Mediante esta constatação o objetivo deste trabalho foi analisar o Programa de Controle da Esquistossomose no município das Correntes-PE, durante o ano de 2007, analisando variáveis como: total de imóveis visitados; população atendida; exames realizados; exames positivos; pessoas com outras verminoses e pessoas tratadas pelo respectivo programa. Os dados foram coletados no banco de informação municipal do PCE (Programa de Controle da Esquistossomose) da Secretaria Municipal de Saúde das Correntes. Verificou-se uma percentagem de 3% de exames positivos para a esquistossomose num total de 4.456 realizados, dados inferiores quando comparados a demais localidades pernambucanas que chegam a apresentar um percentual de até 80% de indivíduos parasitados. Observou-se também, embora não tenha sido o objetivo principal do trabalho, a presença em grande escala (73% dos exames) de outras verminoses que incluem: Entamoeba hystolitica, Entamoeba coli, Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura.

 

PALAVRAS-CHAVE: Esquistossomose; Doenças Parasitárias; Controle.

 

    


INTRODUÇÃO

 

         As esquistossomoses são endêmicas em todo o mundo, atingindo, principalmente países da África, Ásia e América Latina. Apesar do sucesso dos programas de controle, estima-se em 200 milhões os infectados de um total de 600 milhões de expostos ao risco de contrair uma das esquistossomoses. No Brasil há cerca de seis a oito milhões portadores de esquistossomose mansônica (CIMERMAM e CIMERMAM, 1999).

          Segundo dados do Ministério da Saúde (2008), o Brasil é o país mais atingido pela enfermidade na América. Estima-se que 35 milhões de brasileiros estejam sob risco de infecção. Em Pernambuco, somente no ano de 2007, foram 15 mil os casos da doença e 196 mortes. Dados do órgão oficial de controle da esquistossomose, FNS (Fundação Nacional de Saúde), indicam que Pernambuco está entre os Estados que exibem prevalência média mais elevada de pessoas infectadas pelo Schistosoma mansoni (BARBOSA e SILVA, 1996). Dessa maneira, torna-se notável o quão é preciso o desenvolvimento de ações mais descentralizadas, contínuas e adequadas as realidades de cada localidade, que possam viabilizar a redução da prevalência desta parasitose tanto a nível nacional como regional em se tratando de Nordeste, visto que a esquistossomose continua a ser um problema de saúde pública nesta região do Brasil (BARBOSA e SILVA, 1996).

            A esquistossomose mansônica é uma doença infecciosa parasitária, provocada por um trematódeo (Shistosoma mansoni) que habita principalmente os vasos sanguíneos do fígado e intestino grosso do hospedeiro definitivo (o homem). É capaz de provocar manifestações clínicas desde um simples desconforto abdominal à graves problemas hepatoesplênicos. A maioria das pessoas infectadas pode permanecer assintomática, dependendo da intensidade da infecção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Em geral, os sintomáticos apresentam diarréia, febre, urticária (no local de penetração da cercária), dor ou perturbação abdominal e quando parasitados de forma intensa e duradoura manifestam complicações mais severas que envolvem hepatoesplenomegalia e perturbações cardiopulmonares.

            O ciclo biológico do S. mansoni é complexo, pois envolve duas fases parasitárias: uma no hospedeiro definitivo (vertebrado) outra no hospedeiro intermediário (invertebrado). Dessa forma, a transmissão da esquistossomose mansônica dá-se pela eliminação de ovos pelo S. mansoni nas fezes do hospedeiro definitivo. Na água, ocorre a eclosão deste com a conseqüente liberação das larvas ciliadas denominadas miracídios, que infectam o hospedeiro intermediário (caramujo). Após 4 a 6 semanas, saem do caramujo, na forma de cercárias que ficam livres nas águas em potencial estado infectivo, e, portanto, capaz de realizar novas infecções parasitárias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

            A gravidade que assume a doença em muitos casos e o déficit orgânico que produz fazem da esquistossomose um dos mais sérios problemas de saúde pública, em escala mundial, e pesado fardo para as populações das áreas endêmicas (REY, 1992). Logo, controlá-la torna-se de importância incalculável para a disponibilidade de melhores condições de vida principalmente para os mais afetados.

         O controle da esquistossomose visa interromper o ciclo evolutivo do parasito, impedindo que haja infecção de novos indivíduos. É preciso que a investigação epidemiológica assuma a complexidade da endemia compreendendo a essência social do processo saúde/doença e a historicidade dos seus determinantes (Agudelo, 1985). Este deve ser o objetivo primário quando se pensa em resolver definitivamente o problema e quando existe iniciativa política e verbas disponíveis para tal execução. Medidas que incluam saneamento básico, instalação de água e esgoto nas casas, educação sanitária, combate a caramujos, diagnóstico e tratamento dos infectados devem compor o quadro das prioridades quando se pensar em profilaxia (CIMERMAM e CIMERMAM, 1999).

         Diante esta realidade que envolve diretamente a saúde pública brasileira, faz-se necessário a intervenção de forma responsável e comprometida dos gestores e profissionais da saúde no que se refere a prevenção, diagnóstico, controle e tratamento da esquistossomose mansônica. Mobilização, compromisso e responsabilidade devem constituir a tríade a ser incorporada pelas equipes de saúde para então ser capaz de provocar mudanças significativas no quadro da esquistossomose mansônica em nosso país. Dessa forma, a saúde pode deixar de ter um caráter curativo para então se estabelecer como meio preventivo eficaz.

 

OBJETIVO

 

O objetivo deste trabalho foi analisar o Programa de Controle da Esquistossomose no muncípio das Correntes-PE, durante o ano de 2007.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

            O presente estudo é descritivo, em caráter de análise teórica-investigativa sobre dados coletados em sistema de informação sobre o Controle da Esquistossomose em Correntes-PE.

O estudo foi realizado no município das Correntes, que possui uma população de 17.745 habitantes e uma área de 339 km2, localizando-se a 281 Km de Recife, na Microrregião de Garanhuns, Mesorregião do Agreste Pernambucano, sob as coordenadas geográficas 09°07’44’’ latitude sul e 36°19’49’’ longitude oeste (IBGE, 2004). O município correntino apresenta uma economia sustentada pela atividade agropecuária, sendo esta constituída principalmente por pequenos e médios proprietários.

            Os dados foram coletadas no banco de informação municipal do PCE (Programa de Controle da Esquistossomose), da Secretaria Municipal de Saúde das Correntes relativos as atividades desenvolvidas pela Equipe de Controle de Endemias  do respectivo município durante o ano de 2007. As informações colhidas referem-se as seguintes variáveis: total de imóveis visitados; população atendida; exames realizados; exames positivos; pessoas com outras verminoses e pessoas tratadas.

            Para a análise dos dados foram confeccionados tabelas demonstrando as atividades desenvolvidas e os resultados alcançados durante o ano de 2007 no Programa de Controle da Esquistossomose.

            Os dados coletados no sistema de informação do município tiveram sua licença fornecida pelo secretário de saúde do município. Dessa forma, respeitando os aspectos éticos a serem considerados na pesquisa.

 

 RESULTADOS E CONCLUSÕES

Tabela 1. Atividades Gerais do Programa de Controle da Esquistossomose, no município das Correntes-PE, durante o ano de 2007.


 

1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Total

Total de Imóveis visitados

574

352

550

112

1588

População Atendida

1916

1012

1726

241

4895

Exames Realizados

1730

950

1535

241

4456

Exames Positivos

52

36

58

08

154

Pessoas Tratadas

52

36

57

08

153

 

Tabela 2. Exames realizados no Programa de Controle da Esquistossomose no município das Correntes - PE, durante o ano de 2007.

 

 

                 %

Outras verminoses

73

Negativos para verminoses

24

Positivos para Esquistossomose

3


Através desta análise pode-se perceber que o percentual de exames positivos para esquistossomose no município das Correntes, durante o ano de 2007 no Programa de Controle da Esquistossomose demonstrou ser satisfatório quando comparado aos resultados encontrados em Pernambuco que, “mesmo com todos os esforços da FNS, apresenta taxas de infecção humana crescentes, passando por situações de prevalências crônicas, na região da zona da mata, com até 80% de indivíduos parasitados em certas localidades (BARBOSA e SILVA, 1992), ou ainda, casos de infecção aguda freqüentes, como os que vêm ocorrendo no litoral do Estado, em áreas urbanas, de recente introdução da doença (GONÇALVES e COL., 1992). Onde, no município das Correntes foram 154 exames positivos dos 4.456 realizados, quantificando um total de apenas 3% de indivíduos parasitados, realizando-se o tratamento em quase toda a totalidade, exceto um, devido a contra-indicações (problemas cardíaco ou gestação) existentes, além de verificar-se a redução do índice de positividade da endemia quando se verifica anos anteriores (dados não apresentados). Embora parcelas distintas de populações atendidas e exames realizados tenham sido trabalhadas diferentemente, o 3° trimestre de atividade (julho, agosto e setembro) foi o que mais apresentou casos positivos para esquistossomose.

            Contudo, a presença de outras verminoses tais como: Entamoeba hystolitica, Entamoeba coli, Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura chama a atenção mesmo não tendo sido o objetivo principal deste trabalho, devido sua expressiva identificação nos exames coproparasitológicos.

            Dessa forma, fica evidente a importância da participação do poder público através da realização de planejamento e controle da endemia no município, além de treinamento e capacitação dos recursos humanos para que se mantenha o Programa funcionando de forma eficaz e eficiente, e assim cumpra seu papel no quadro epidemiológico da doença.

 

REFERÊNCIAS

 

AGUDELO, S.F. As doenças tropicais: da análise de fatores à análise de processos. In: Nunes, E. D., org. As ciências sociais em saúde na América Latina. Brasília, OPAS, 1985. p. 474

 

BARBOSA, C.S. & SILVA, C.B. Epidemiologia da esquistossomose mansônica no engenho Bela Rosa, Município de São Lourenço da Mata, PE. Cad. Saúde Pública, 8:83-7, 1992.

 

Barbosa CS, Silva CB, Barbosa FS. Esquistossomose: reprodução e expansão da endemia no Estado de Pernambuco no Brasil. Rev. Saúde Pública 30: 609-616, 1996.

 

CIMERMAN, Benjamim; CIMERMAN, Sérgio. Parasitologia Humana e Seus Fundamentos Gerais. São Paulo. Editora Atheneu, 1999. 375 p.

 

GONÇALVES, J.F.; SANTANA, W.; BARBOSA, C.S.; COUTINHO, A. Esquistossomose aguda, de caráter episódico, na ilha de Itamaracá, Estado de Pernambuco. Cad. Saúde Pública, 7: 424-5, 1992.

 

 Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – O. ed – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 816 p.

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Pecuária Municipal 2000. Brasil. Disponível na internet http:// www1.ibge.buiatria.org.br. Capturado em 20 nov.2008. On line.

 

REY, Luiz. Bases da Parasitologia Médica. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1992. 349 p.