Apresentada a proposta de discussão, “Profissões Invisíveis”, na disciplina de Psicologia do Trabalho foi argumentado pelos envolvidos que o preconceito existente a cargos invisíveis, vinculadas como irrelevantes, leva ao preconceito trabalhista e a falta de conhecimento sobre como contribuem para a manutenção do sistema social.

Ao trabalho de identificação de uma Profissão Invisível, mencionamos o coveiro de extrema importância para o conjunto, uma vez que todos irão passar por esse profissional.

Coveiro ou sepultador é o profissional que trabalha garantindo a organização dos cemitérios, a limpeza das covas e jazigos, cavar e cobrir sepulturas, realizar sepultamentos e exumações, entre outras. Não existe formação específica para ser um coveiro, a exigência varia entre nível fundamental incompleto a completo.

As suas principais atividades são:

  • Preparar sepulturas, escavando a terra e escorando as paredes da abertura ou retirando a lápide e limpando o interior das covas já existentes, para o próximo sepultamento;

  • Carregar e colocar o caixão na cova aberta;

  • Manipular as cordas de sustentação, para facilitar o posicionamento do caixão na sepultura;

  • Fechar a sepultura, recobrindo-a de terra e cal ou fixando-lhe uma laje, para assegurar a inviolabilidade do túmulo;

  • Manter a limpeza e conservação de jazigos e covas;

  • Realizar exumação dos cadáveres de 5 a 5 anos;

  • Realizar, quando requisitado, a cremação do cadáver;

  • Zelar pela conservação de cemitérios, máquinas e ferramentas de trabalho;

  • Zelar pela segurança do cemitério.

A profissão ainda luta contra o preconceito e pelo reconhecimento diante da sociedade. Uma das ações que estão sendo executadas, em favor do profissional, é mudar a designação de coveiro para sepultador ou agente de apoio.

Em entrevista com o coordenador (que pediu sigilo do nome) do Cemitério Parque Vale dos Sonhos de Cláudio - MG, perguntamos como funcionava o dia-a-dia da profissão. Este respondeu que atualmente contava com uma equipe de 5 pessoas (ele incluído): um pedreiro, um ajudante/ sepultador, uma faxineira que limpa a capela e um jardineiro. Além disso, adotaram um mascote, um gato, que está no local já há algum tempo.

No sistema burocrático do cemitério, em questão do atendimento familiar é função do coordenador orientar e encaminhar para os órgãos responsáveis. Os outros funcionários só executam funções braçais. Contudo durante a entrevista, percebemos que mesmos estes desenvolveram uma linguagem própria para se referir à morte. Durante o encontro, outro funcionário, ao ouvir a música da Igreja Matriz, perguntou se alguém tinha descansado utilizando o termo para justificar a morte. Ao questionarmos o coordenador sobre o fato, este colocou que cada um aborda o tema da maneira que achar correto e que a linguagem não seguia uma padronização.

Como atrelado à palavra morte, perguntamos sobre casos que já ocorreram envolvendo o sobrenatural. Este se posicionou que cada vez que algo tinha ocorrido fora do comum e procurou a causa, era devido a algum fator físico, não envolvendo o misticismo. Ao questionarmos o que achava, falou que não acreditava e que durante sua carreira no cemitério, nunca ocorreu nada que não houvesse explicação racional.

Descobrimos também que na divisão das áreas ocorria todo um planejamento e administração logística, sendo que devido a erros de gestões passadas, o local sofre com problemas envolvendo a organização e distribuição das covas, e que devido a isto o trabalho do cemitério atualmente está mais exigente em sua busca por concertar o erro.

Relacionado à política, os profissionais do cemitério são efetivos. O coordenador falou que sim, mas que como servidores públicos podiam ser mudados de setor a qualquer hora.

Contou-nos que é interligado a Secretária de Arrecadação e estes detém todos os dados pertinentes do cemitério e informações de suas mudanças e avanços. Com as funerárias de Cláudio, elas têm uma chave para poderem entrar e arrumar a capela para sepultamentos a qualquer hora.

Ao questionarmos quais eram os maiores desafios do trabalho, colocou que é o relacionamento interpessoal com os familiares, que muitas das vezes, estão em choque e descarregam suas frustrações no sepultador.

Então perguntamos se há alguma exigência para trabalhar no local, que foi explicada que apesar de não se ter, deve-se saber lidar com as pessoas. Ter a habilidade de se colocar no lugar do outro e se solidarizar pela dor.

Voltando ao foco principal da pesquisa, indagamos sobre o preconceito, se sofria e como as pessoas reagiam ao saber de seu exercício. Colocou que no início de sua carreira, as pessoas ficaram surpresas, mas que nunca demonstraram qualquer outro tipo de sentimento ou algo agressivo. À medida que ficou conhecido na cidade, hoje ninguém mais se surpreende.

Em relação a nossa pesquisa, finalizamos então abordando o aspecto do vandalismo, que replicou que houve anos mais agressivos, com janelas quebradas, materiais fora do lugar e outros, porém atualmente está calmo e que nunca tiveram casos de pichação.

O coordenador ao se despedir nos perguntou se achávamos que a Terra guardava algum segredo. Nós respondemos afirmativamente e ele deixou a mensagem final de que a Terra é uma protetora de segredos, que encontramos ao procurarmos. Exemplificou, lembrando-se de um tempo anterior, quando achou ossos indígenas no terreno, que estão em São Paulo em exposição atualmente.

* Infelizmente não achamos nada na internet ou no site da prefeitura. Contudo o profissional tinha uma revista com a matéria sobre. Não a pegamos por ser de estima deste.

A partir de toda a pesquisa, tanto de campo quanto na internet, percebemos que a profissão coveiro enfrenta desafios muito maiores que o pensando socialmente. Lidar com as pessoas exaltadas demanda um grande recurso de habilidades como a paciência, compaixão, solidariedade, discernimento, entre outras além de não poder se deixar conduzir por suas próprias emoções durante o exercício. Na condição de servidor público, a legislação protege o coveiro de atitudes agressivas as quais é exposto diariamente em relação ao sentimento. Contudo, vai de sua percepção saber separar a situação de uma real agressão.

Precisa ter uma noção de administração logística, para poder organizar o cemitério de modo que todo o espaço seja aproveitado da melhor forma possível e de forma que um corpo esteja equidistante do outro.

Concluímos que está profissão, surpreendente em sua multiplicidade de funções, não recebe o devido valor que deveria em questão de sua atividade e apesar de que em Cláudio não ocorrer, o preconceito contra o profissional que a exerce impacta negativamente em sua autoestima o que poderá recair em seu trabalho.

O trabalho em sua proposta nos oportunizou grande aprendizagem e uma nova perspectiva administrativa se tratando de profissões e sua contribuição para a sociedade.