De todas as profissões registradas oficialmente, a de gari – especialmente aquele que realiza a coleta de lixo em caminhões - é das mais duras em todos os sentidos, tanto no stress físico a que os funcionários são submetidos, quanto no stress psicológico (muitas vezes por não acreditarem na dignidade de suas tarefas). Não bastasse os riscos aos quais estes funcionários são expostos, num único dia superam aqueles que a maioria de nós corre ao longo de uma vida inteira.

São horas e mais horas subindo e descendo de um caminhão que, muitas vezes, ainda está em movimento – e quer esteja parado, ou não, os locais onde eles ficam apoiados é extremamente inseguro -, agarrando sacos de lixo e lançando-os na caçamba. São sacolas de todos os tamanhos, muitos deles mal amarrados e com materiais cortantes mal descartados, criando a possibilidade de cortes e do contato do ferimento com a sujeira. Nessa proteção, o equipamento de proteção individual é indispensável. Mas como é esse equipamento?

Para os pés

O gari é um trabalhador que não para quieto. Por onde passa, está sempre pulando do degrau do caminhão para a rua, e da rua de volta para o degrau. Quem olha, nota a facilidade com que fazem tanto malabarismo, mas não imagina como essa sucessão de movimentos é perigosa.

Muitas vezes, o gari salta para a rua com o caminhão ainda em movimento – nem tanto por imprudência mas pela pressão em realizar a coleta rapidamente (afinal, eles terão que realizar a coleta numa grande área da cidade, composta por muitos bairros e com horário a cumprir). Assim, se o calçado que estiver usando for inadequado, podem ocorrer, a curto prazo, torções importantes especialmente no tornozelo, inclusive com fraturas ósseas. A longo prazo, a constante pressão excessiva sobre os joelhos gerada pelos saltos traz problemas nas cartilagens dessa região, podendo provocar longos períodos de afastamento do trabalhador por motivos médicos.

Não bastasse, não é raro encontrar material descartado de maneira inadequada pelos moradores, como pregos e cacos de vidro. Muitas vezes, materiais desses tipos são simplesmente acondicionados em sacolas plásticas e colocados no cesto para coleta. Se um gari precisar pisar sobre a sacola onde esse material foi descartado, os ferimentos em seus pés podem ser muito sérios, pois o ferimento entrará em contato automaticamente com a sujeira e o risco de infecção é gigantesco.

Por isso, é importante que o calçado do gari seja adequado. Ele precisa ser resistente para agüentar a duríssima jornada de trabalho sem se romper nem se rasgar e ainda precisa ser impermeável, já que muitas vezes são descartados líquidos junto com sólidos – além da situação de trabalho com chuva. Os pés precisam ser mantidos o mais seco possível para evitar micoses e contato com líquidos e sujeira, que podem provocar doenças graves. A solução encontrada foi o uso de galochas de cano longo que protegem até os tornozelos, protegendo toda essa área de matérias perfurocortantes e mantendo a pele protegida de líquidos. A calça fica por fora, para evitar a entrada acidental de chuva e o acúmulo de líquidos no interior do calçado.

Para as mãos

Um gari não tem como avaliar previamente o conteúdo de cada sacola que maneja: é agarrar e lançar na caçamba. E esse “agarrar” significa, muitas vezes, pegar as sacolas sem cuidado e quase nunca pelas alças. Com isso, vem o risco do trabalhador se ferir com lixo cortante mal acondicionado, algumas vezes ferido com gravidade, tanto pela profundidade e extensão do ferimento quanto pelo risco do contato do ferimento com o lixo em si (tal como acontece com os pés).

A proteção ideal neste caso é óbvia: o uso de luvas apropriadas para o manejo do lixo de maneira segura. Porém, há um ponto a mais a ser notado, assim como no caso das botas: os saltos do caminhão para a rua e de volta para o caminhão. Essas luvas não podem atrapalhar que ele agarre as alças de segurança e se mantenha firme durante a viagem; do contrário, ele pode acabar caindo do caminhão e sendo atropelado pelo fluxo de trânsito que vem logo atrás.

Para ajudar o máximo e atrapalhar o mínimo, foi definido que os garis devem usar luvas de raspa, grossas o suficiente para evitar que matérias cortantes e perfurantes firam suas mãos e maleáveis o suficiente para não atrapalharem os movimentos e a agilidade dos dedos do trabalhador.

O uniforme, mais do que identificar os garis, tem uma função extra. Além de proteger o corpo do trabalhador do contato com a sujeira que ele manipula por horas seguidas, sua cor forte tem como principal função destacar o trabalhador em meio ao trânsito. As cores gritantes (normalmente laranja) os destacam e os tornam imediatamente visíveis, aumentando sua segurança ao longo da jornada de trabalho.

Eis aí um trabalhador sem o qual as cidades ficariam caóticas em poucos dias (como já aconteceu em alguns grandes centros quando ocorreram greves destes profissionais). A natureza de seu trabalho obriga as prefeituras a protegê-los, merecidamente, com muito cuidado para que possam trabalhar honradamente e com segurança.