PROFESSOR INVESTIGADOR versus ENSINO DE BIOLOGIA[1]

                                                                     

 

 

FINGER, Johanna Emile²

SILVEIRA, Jonathan dos Santos da²

 

 

 

 

 

RESUMO: O artigo foi desenvolvido à partir de uma proposta de investigação por parte dos estagiários do Curso de Ciências Biológicas Licenciatura, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, buscando compreender as necessidades reais educacionais do Ensino Médio. O campo de estudo que fundamenta o trabalho trata-se da E.E.B. Nereu Ramos, com a 1° ano do Ensino Médio no período noturno, no município de Itajaí/SC. A problemática foi abordada na importância da inserção de uma docência investigativa no ensino de Biologia. Os conteúdos trabalhados têm importância e destaque em exames como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que busca por meio de seus ideais, avaliar os alunos concluintes do Ensino Médio por meio de habilidades e competências.

 

 

Palavras-chave: Ensino médio, Ensino de Biologia; professor investigador; ENEM.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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[1] Artigo apresentado como requisito para a disciplina Estágio Supervisionado: Pesquisa da Prática Pedagógica – 7º Período, do Núcleo das Licenciaturas da Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação da Profa. Dra. Yára Christina Cesário Pereira, 2009.1.

2 Acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas - Licenciatura.


1. INTRODUÇÃO

 

A democratização das escolas é fator de importância no processo de desenvolvimento cultural e econômico do nosso país, fornecendo aos cidadãos subsídios para que possam vir a ser aplicados em suas vivências, para melhoria das condições materiais e espirituais de todos os brasileiros.

A concepção de aprendizagem e desenvolvimento que fundamenta a abordagem tradicional de educação traz em seu bojo o entendimento de uma passividade do sujeito diante do objeto do conhecimento, pouco explorando a capacidade cognitiva e a construção de valores e atitudes no processo de formação do indivíduo. Neste contexto, o aluno tem espaço (ou até mesmo, não tem) para apresentar seus pontos de vistas e formas de compreender o conhecimento. O educando é percebido como sendo um receptor passivo em todo o processo de ensino e de aprendizagem, com poucos estímulos (muitas vezes, ausentes) e motivação, tendo que seguir um “modelo” pré-estabelecido, sem a sua participação e tido como “correto” por quem o elabora.

Nos últimos anos, no entanto, os educadores em geral, tem apostado numa educação formal e não formal que seja precedida de uma reflexão sobre o ser humano e de uma análise do meio de vida desse sujeito.  Ou seja, deve haver uma participação ativa do ser humano em seu processo de desenvolvimento como condição para a transformação individual e coletiva que permita a passagem das formas mais primitivas de consciência para a consciência crítica.

   De acordo com Araujo (p, 60),

A educação evita a servidão mental, os alunos não devem ser dóceis nem passivos, para pensar com pelo menos alguma dose de originalidade; em geral o que o professor ensina são os conteúdos pedagógicos, o que está nos livros ou apostilas. Nas provas são exigidas a memorização e a transposição daqueles conteúdos. Para Dewey, o professor deveria focar a relação do conteúdo com a experiência de vida, com os sistemas cotidianos com os quais os educandos têm a ver, para refinar e alargar essas experiências. Isso evita que os alunos vivam em dois mundos separados – o da escola, dos livros e das lições, e o da sua vida fora da escola.

 

No contexto escolar, em função do papel social da escola numa sociedade letrada, se faz necessário a busca constante de alternativas que possibilitem a profissionalização dos estudantes no Ensino Médio.

Atualmente contamos com mais de nove milhões de alunos matriculados no ensino médio no Brasil, um aumento de 135% em relação ao ano anterior, sendo que a rede pública abriga cerca de 85% do total de alunos matriculados. (OLIVEIRA, 2007. p. 43)

O ponto de vista histórico do Ensino Médio no Brasil é caracterizado em dois pontos de vista fundamentais, compreendendo as questões políticas Educacionais e os fatores que englobam as relações profissionais e de trabalho. Essa dupla visão na Educação é resultado de um processo social de longa data, seguindo um modelo de organização de trabalho.

            A busca de uma centralização entre a formação geral e habilitação profissional vem através das Leis de Diretrizes e bases (Lei n.º 9.394/96) que visa finalizar essa dualidade entre Ensino Médio e Ensino Profissionalizante.

            Buscando o entendimento e perspectivas do Ensino Médio, em 1998 através dos órgãos competentes de educação MEC (Ministério da Educação e Cultura) e INEP (Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais), cria-se o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) como forma de abordagem educacional pautada na formação de habilidades e competências. O processo que no início tratava-se de algo, transformou-se em caráter indispensável para os educandos concluintes do Ensino Médio, tornando ainda mais acessível à entrada no ensino superior brasileiro, por meio de programas como PROUNI (Programa Universidade para Todos) que permitem a entrada de estudantes de baixa renda em Universidades Privadas.

            As mudanças ocorridas nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que vieram a atender as colocações de inovações nas políticas mundiais sobre Educação, também contribuíram para uma nova visão de mundo no espaço de preparação dos alunos para a vida e o contexto social e profissionalizante, como citada em Lei n° 9394-96, em seu artigo 2. A respeito da Educação: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

            Estes pressupostos também estão presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais em seus conteúdos de aprendizado busca trazer sentidos de mobilização à favor da produção de novas teorias à respeito de formas de aprendizado, inter-relacionando aspectos cognitivo, afetivo e social.       

Deve propiciar a construção de compreensão dinâmica da nossa vivência material, de convívio harmônico com o mundo da informação, de entendimento histórico da vida social e produtiva, de percepção evolutiva da vida, do planeta e do cosmos, enfim, um aprendizado com caráter prático e crítico e uma participação no romance da cultura científica, ingrediente essencial da aventura humana. (PCN+, 2003, p. 07)

 

 

Para avaliação das competências o Enem estabeleceu um conjunto de 21 (vinte e uma) habilidades que expressam como os alunos podem resolver as situações problemas que lhes são colocadas no cotidiano e que exigem mobilização de diferentes domínios do conhecimento. A saber: compreender e utilizar variáveis; compreender e utilizar gráficos; analisar dados estatísticos; inter-relacionar linguagens; contextualizar arte e literatura; compreender as variantes lingüísticas; compreender a geração e o uso de energia; compreender a utilização dos recursos naturais; compreender a água e sua importância; compreender as escalas de tempo; compreender a diversidade da vida; utilizar indicadores sociais; compreender a importância da biodiversidade; conhecer as formas geométricas; utilizar noções de probabilidade; compreender as causas e conseqüências da poluição ambiental; entender processos e implicações da produção de energia; valorizar a diversidade cultural; compreender diferentes pontos de vista; contextualizar processos históricos; compreender dados históricos e geográficos.(PCN+, 2003, p.13-14).

A efetivação dos pressupostos teóricos e da concepção metodológica do ENEM na educação nacional explicitam uma mudança de paradigma no campo da educação, em direção a uma maior qualificação dos sujeitos, (im)posta pelas exigências do mercado de trabalho. O foco não é mais o ensino e sim, a aprendizagem.

A esse respeito, em acordo com o objetivo fundamental do ENEM, os PCNEM afirmam que “a Base Nacional Comum (...) deve caminhar no sentido de que a construção de competências e habilidades básicas, e não o acúmulo de esquemas resolutivos pré-estabelecidos seja o objetivo do processo de aprendizagem” (PCNs: Ensino Médio, 1999, p. 30).

            Portanto, por meio do exame, torna-se possível considerar que o mesmo caracteriza-se como articulador de um processo investigativo, por meio de análises dos dados, gerando uma reflexão à respeito da necessidade do caráter do professor investigador no sistema de ensino.

O artigo vem com o propósito de fundamentar a importância da inserção do professor investigador como forma de renovação das práticas pedagógicas desgastados do ensino médio tradicional, trabalhando de forma tecnicista.

 

PROFESSOR INVESTIGADOR: por quê? para quê? a favor de quem investigar?

 

            Tendo como base esses dados, estima-se que o ensino médio seria o foco principal da política de financiamento educacional, porém os dados oriundos do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) comprovam a precária situação de sua estrutura e investimentos. Desempenhos consideravelmente baixos de acordo com o esperado pelo PCN e a diferença entre alunos de escolas particulares e escolas públicas é persistente e alarmante. Diferença que não acontece quando analisado o ensino superior particular e público, já que há diferenças de investimento do Governo em infra-estrutura das escolas, materiais didáticos, estímulo a educação continuada e melhores salários dos professores. Esses fatores são fundamentais para uma renovação na educação em contraposição a educação tradicional, precária e desgastada por falta de recursos destinada ao ensino médio.

Dessa forma o ENEM vem desvelar as reais condições do Ensino Médio em nosso país, remetendo de certa forma ao desempenho dos papéis docentes, indagando sobre quais as necessidades emergentes na formação inicial e continuidade dos professores, apontando como possibilidade de mudança, a viabilização de processos investigativos no “chão das escolas”.  

 

 

 

Os “olhares investigativos” são fundamentais para novas percepções da realidade local e global. Estes, são instrumento para a reflexão docente sobre a sua ação pedagógica, como caminho para a construção de metodologias inovadoras à partir de uma visão crítica de educação, onde o sujeito aluno é o foco de discussão.

Os alunos do ensino médio trazem para a sala de aula suas vivências e conceitos prévios de situações e problemas sociais/individuais.  A prática reflexiva do ato de investigar por parte do educador pode compreender tais situações com base na alta teia de informações que norteiam nosso cotidiano, por de tecnologias cada vez mais avançadas, tornando o processo de aprendizagem e conhecimento ainda mais qualitativo, se comparado ao conceito tradicional, onde se dá maior ênfase no processo que abrangem a utilização de atividades descritivas e a conteúdos quantitativos, negando veemente o aspecto da qualidade de ensino.

Para Candeias (1994, p. 475):

 

[...] não são os métodos de ensino que fazem com que uma criança seja um ser ativo, a criança é em si um ser ativo – será a própria significação que a criança consegue conferir àquilo que ouve, conseqüência de uma série de fatores, entre os quais se destaca a forma como o professor consegue estruturar e transmitir os conteúdos do ensino.

 

De acordo com Hernández (1998, p. 128), “o professor torna-se um pesquisador, dividindo com os alunos a responsabilidade pela construção do conhecimento”. Dessa maneira devido ao amplo campo do conhecimento, as características requisitadas nos docentes estão muito além de serem vistos como meros mediadores e executores do planejamento de um currículo escolar, e sim, indivíduos que desenvolvem a capacidade de interpretação ampla, como também mobilidade crítica, contribuindo para o processo educacional.

 

 

 

   Como afirma OLIVEIRA (2002, p. 132)

 

A perspectiva do professor investigador rejeita a concepção do professor como técnico, consumidor, receptor, transmissor e implementador do conhecimento de outras pessoas, e assume que o seu papel é como intelectual, produtor de conhecimento, investigador e até, em alguns casos, como crítico e teórico em matérias educativas e sociais.

 

 

Nesse sentido, ensinar Biologia é permitir ao aluno que participe ativamente da investigação, pois a medida que se apropria do  conhecimento científico, este pode preparar-se para interagir de forma argumentativa com o mundo que o rodeia. E, para alcançar tal objetivo, os professores Biologia, precisam ser capazes de inserir para a sala de aula não só os conteúdos problematizados previstos nos currículos, mas também os questionamentos, as contribuições, as incertezas apresentados pelos alunos. A medida que vão sendo investigadas e reconhecidas as situações problemas pelos alunos os obstáculos epistemológicos vão sendo mediados pelo professor.

Atualmente os responsáveis pela supervisão e orientação docente reclamam que o professor não deve ser um mero executor de currículos desenvolvidos com extremos detalhismos, mas sim, que seja decisor quando houver dubiedade, gestor se precisar de manejo e um interprete crítico quando não houver discrepância entre o que lhe foi determinado e as necessidades reais de seu grupo de alunos. Exige-se, mas ao mesmo tempo, lhe é confiada essa tarefa, acreditando que tem capacidade de executar (Alarcão, p.03) o que na maioria das vezes não acontece.

Tal exigência é co-relacionada a preocupação com a qualidade do nível de ensino-aprendizagem e o professor capacitado a desempenhar com clareza tais funções é o professor-pesquisador já que este contribui para o desenvolvimento profissional de todos os professores e para o desenvolvimento institucional das escolas em que estes se inserem através da pesquisa da prática pedagógica, incluindo a de si próprio.

A esta abordagem de desenvolvimento curricular implicada, Stenhouse chamou “o modelo investigativo” (The research model) (Stenhouse, 1975, p.142).

 

[...] a investigação e o desenvolvimento curriculares devem pertencer aos professores” (1975, p.142) e que “o desenvolvimento curricular de alta qualidade, efetivo, depende da capacidade dos professores adotarem uma atitude de investigação perante o seu próprio ensino” especificando que, por atitude de investigação entendia “uma predisposição para examinar a sua própria prática de uma forma crítica e sistemática” (1975, p.156).     Stenhouse apud Alarcão p.4

 

Esse tipo de professor deve estar sempre com um espírito de pesquisa inquieto, motivado por inovações e nunca alheio ao compartilhamento com o grande grupo sobre as novas descobertas, disposto a contribuir para o conhecimento sobre a educação e seu aprimoramento.

Pensando no modelo investigativo de Stenhouse (1975) surgem os seguintes questionamentos: Mas será mesmo que o professor já vem com essa capacidade? Se não, será mesmo que há essa necessidade de habilitar os professores a essa tarefa? Como? É possível ser professor-investigador na escola pública? A responsabilidade pela qualidade do ensino e aprendizagem não se faz por decreto e requer dos professores a iniciativa da pesquisa que contribua para a educação, por isso sim, é necessário habilitar os professores a uma interatividade com o currículo. 

Nesse contexto o professor tem o papel de criar condições que propiciem o desenvolvimento de atividades humanizadoras, como trabalhos em grupos, atividades mais dinâmicas em diferentes locais, diversidade de aulas, uso de  recursos tecnológicos, trazendo o conteúdo de forma mais contextualizada sem perder a cientificidade, pois são por meio destas, que o conhecimento é apropriado mais facilmente, de forma mais prazerosa criando outras  possibilidades de explorar a capacidade argumentativa no confronto de idéias e posicionamento diante das problemáticas sociais contemporâneas.         

Segundo Martins, (2002, p. 234),

 

[...] para que as atividades grupais sejam estimuladoras de desenvolvimento e se tornem práticas efetivas no espaço escolar, é imprescindível a organização individual e coletiva dos educadores. Deste modo, os grupos organicamente presentes na escola podem atuar como facilitadores do desenvolvimento do pensamento científico dos alunos. Por um lado, ao identificar o nível de desenvolvimento real de seus alunos; verificar quais os alunos da sala que podem cooperar com outros para facilitar o desenvolvimento e a aprendizagem de colegas. Por outro lado, professores que se agrupam na elaboração e execução de projetos coletivos, podem de modo mais sistemático e dirigido, incrementar o conteúdo e atividades em sala, sejam elas realizadas individualmente ou em grupos pelos alunos, levando em consideração o sentido pessoal e subjetivo que os conteúdos trabalhados têm para os alunos e as atividades que estes priorizam.

 

 

   Além da investigação dos conteúdos curriculares e da elaboração das estratégias mais pertinentes ao conteúdo trabalhado levando e consideração a morfologia e o histórico das turmas, o professor investigador também tem a possibilidade de levantar hipóteses e eles mesmos as testarem ao investigarem onde trabalham avaliando a sua própria prática pedagógica que se analisada detalhadamente, constitui um caso único e especifico pra cada situação. Deste modo, a prática é sujeita a um processo constante de vaivém que conduz a transformações e a investigações futuras.

 

Podemos dizer que o ensino reflexivo requer uma permanente auto-análise por parte do professor, o que implica abertura de espírito, análise rigorosa e consciência social. Por exemplo, quando se fala em ensino da Biologia, o professor, inserido na equipe de professores com que trabalha, tem de analisar a situação concreta, perceber os alunos com que está a trabalhar, o que se espera que eles aprendam em Biologia, o que se entende hoje por aprender e ensinar Biologia e o seu papel na formação pessoal e social do aluno. É este processo investigativo realizado pelo professor, em termos individuais e coletivos, que o leva a ação. Para que este processo tenha lugar é necessário que o professor questione e reflita sobre situações de sala de aula e que o faça no contexto da sua equipe.  (Oliveira e Serrazina, p. 09)

 

A prática investigativa deste professor leva a uma ação reflexiva que confere aos alunos um poder emancipatório devido ao contexto social e cultural no qual a escola deve estar inserida. O professor que consegue manter essa prática investigativa-relfexiva consegue atribuir importância a questões globais da educação, como as finalidades e as consequências do ponto de vista social e pessoal dos alunos, a racionalidade dos métodos e do currículo e a relação entre essas questões e a sua prática de sala de aula. Assenta, pois, na procura de autonomia e melhoria da sua prática num quadro ético de valores democráticos, qualidades fundamentais para a prática da interdisciplinariedade.

 

OS OLHARES VOLTADOS A INTERDISCIPLINARIDADE

 

   O aspecto da Interdisciplinaridade é atualmente um dos grandes assuntos discutidos quando nos referimos às formas do educar. Não se pode ocultar nos conteúdos passados, as ligações e transições de outras disciplinas, pois o entendimento de um assunto é muitas vezes o compreender do todo, seja ele biológico, histórico ou somente no esboço de algumas palavras.

Na compreensão de Pires (2000, p. 74),

 

[...] a interdisciplinaridade vem se constituindo em foco principal de discussão no campo educacional. A organização de um currículo escolar tradicional, composto por disciplinas que se justapõem sem algum tipo de inter-relação mútua, é apontada como responsável de uma formação fragmentada, baseada na dissociação e no esfacelamento do saber.

 

   As questões que envolvem a interdisciplinaridade são constantemente debatidas nas problemáticas atuais. Como desenvolver um processo que busca em outras disciplinas conceitos e entendimentos para uma melhor compreensão?

A base do estudo consiste primeiramente na estrutura de um currículo interdisciplinar de fato, com estudos e construção de conteúdos “entredocentes”, sendo um dos aspectos que mais validam a conjunção disciplinar, capacidade notável do professor investigador, que sabe se posicionar diante da turma, observar especialidades e dificuldades trabalhando-as no currículo e ainda socializando com o restante da escola.

Trabalhar interdisciplinariedade é concretizar uma das competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos sobre investigação e compreensão segundo o PCN: Relacionar o conhecimento das diversas disciplinas para o entendimento de fatos ou processos biológicos (lógica externa).

 No entanto, essa atividade proposta acaba sendo muitas vezes inviabilizada, seja por empecilhos profissionais/pessoais, ou pela burocracia interna na organização das escolas, dessa maneira desfragmentando a evolução e elaboração de atividades que buscam essa interação entre matérias e conteúdos.

 

A METODOLOGIA ATRAVÉS DA INVESTIGAÇÃO DOCENTE

 

Nas instituições de ensino, são colocadas situações que em primeiro momento apresentam-se como “rótulos” de um aluno ou até mesmo de uma turma específica. Mas é comum a posicionamento do “rotular” sem o “investigar”. Os prejulgamentos precisam ser substituídos por uma aproximação do sujeito. É necessário observar, questionar e questionar-se, para entender um pouco mais da relação, esclarecendo os “porquês” de eventuais atitudes por parte do aluno. No processo de investigação é preciso estar aberto a modificações e adequações constantes, seja em um ponto de vista curricular ou por meio das metodologias aplicadas no lecionar do professor.

Trabalhando na perspectiva de docência investigativa, realizamos na E.E.B. Nereu Ramos no município de Itajaí/SC, com o 1° ano do Ensino Médio (turma 16) com cerca de 20 alunos, práticas investigativas-reflexivas, primeiramente observando o comportamento das duas turmas, depois tentando acompanhar individualmente o desempenho de cada aluno, pesquisando o contexto social e cultural em que estes estavam inseridos, as documentações das observações estão na ficha de observação (APÊNDICE A). A turma não possuía grandes alterações comportamentais como agressividade, hiperatividade, falta de respeito com os estagiários, sendo relativamente pequena, com muitos casos de alunos faltantes e casos isolados de alunos portando entorpecentes.

As intervenções foram idealizadas com carga horária de 40 h/a entre observações e planejamento de conteúdos. Devido a fatores extracurriculares como conselho de classe e feriado prolongado, os horários não atingiram a quantidade estimada inicialmente, atingindo o total de 36 horas entre atividades de observação e prática no campo de estágio.

Buscando trazer sentidos de mobilização à favor da produção de novas teorias e contribuindo para a realização das competências e habilidades propostas pelo PCN o grupo de estagiários realizou um mapa conceitual (APÊNDICE B) que acabou por auxiliar na elaboração do Plano de Ensino (APÊNDICE C) com objetivo geral de que os alunos reconhecessem a Biologia como um fazer humano e, portanto, histórico, fruto da conjunção de fatores sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos e tecnológicos.

Para avaliarmos a turma e suas perspectivas perante o ensino e capacitação profissional, elaboramos um questionário sócio-cultural (APÊNDICE D) que por meio deste, posteriormente reconhecemos o nível cognitivo destes alunos. Fizemos as adaptações no plano de ensino para suprir carências e dificuldades, trazendo um material diferenciado e motivador para o desenvolvimento de aulas mais participativas, tentando aumentar expectativas dos alunos enquanto cidadãos conscientes e transformadores do contexto onde estão inseridos.

Buscando melhorar metodologias de Biologia para trabalhar educação informal realizamos uma visita técnica (06/06/2009) ao instituto Rã Bugio (APÊNDICE E) situado na cidade de Guaramirim/SC, na qual o aluno tem a oportunidade de entrar em contato com o objeto de estudo em determinaria área (nesse caso Biologia), podendo compreendê-lo de forma contextualizada, sendo nesse caso o uso de Trilhas Ecológicas, totalizando 8h/a de atividade.

O propósito da observação com foco no aluno pode ser uma das maneiras de se aplicar metodologias que atendam suas expectativas como sujeito. Outro aspecto importantíssimo quando citamos o olhar do professor investigador, está na riqueza de informações que essa simples ação pode acarretar. Um dos exemplos a serem citados para melhor relação entre professor/aluno está no vocabulário que pode vir a ser adotado, sendo a aplicação do conteúdo com linguagem mais próxima do adolescente, baseado no ambiente destes estudantes, sendo preferível o uso por parte do docente de uma linguagem coloquial sem perder a cientificidade das palavras. Sabe-se que o vocabulário é uma das formas de aproximação e interação entre sujeitos, visando trabalhar conceitos específicos de Biologia de forma mais dinâmica viemos com propostas de aulas em Power Point (APÊNDICE F), trazendo a realidade dos alunos para facilitar a apropriação dos conteúdos. Outro recurso também utilizado com esse propósito de aproximação da turma com o conteúdo de Biologia foi a composição de uma música (APÊNDICE G) trabalhando conceitos de evolução como também a interação professor-aluno e aluno-aluno.

Por ser um dos objetivos remeter a importância do ENEM, focalizamos o conteúdo que estava mais persistente na mídia para os alunos do primeiro ano do Ensino Médio noturno, conteúdos sugeridos pelo PCN, o centenário de Darwin e os 150 anos da obra A Origem das Espécies, através da Evolução e Genética, de forma investigativa-reflexiva.

Desde o início das intervenções os alunos souberam do conteúdo programado para as intervenções, trazendo dúvidas e questionamentos de casa para que tivessem oportunidade de debaterem entre si e seus familiares como forma de estimulação. Achamos interessante o corpo docente saber se posicionar frente a críticas e sugestões que possam ser colocadas, construindo conteúdos com base em opiniões e pensamentos, adaptando as formas do lecionar, através do processo de investigativo.

Tentamos trabalhar interdisciplinariedade, com os alunos de História e Português, pois sabíamos do enriquecimento das aulas e o quanto trabalhar nessa perspectiva era interessante para o desenvolvimento dos alunos, porém sem sucesso, já que em seus planejamentos não contavam com este propósito.

Para finalizar o estágio realizamos um simulado com questões do ENEM (APÊNDICE H) testando as habilidades e competências trabalhadas durante as aulas. A análise dos resultados nos mostra com clareza que todo o ensino médio de tal escola está com um nível de qualidade muito inferior ao básico, já que esse resultado ocorreu não só no ensino de Biologia, mas da mesma maneira nas disciplinas de História e Português. A perspectiva dos alunos perante o futuro é desanimadora segundo a maioria da turma, pois não queriam realizar a prova e anunciavam que fariam de qualquer maneira, isso é demonstrado nos resultados do simulado, significativamente inferior se comparado a uma escola particular.

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Ressalta-se a indispensável atuação e constante reformulação de Leis que regem o processo educacional (LDB), por meio do Ministério da Educação e Cultura (MEC), promovendo mudanças significativas no direito universal no acesso à educação, com qualidade a nível de aprendizado, resultando em valores expressivos para/com a formação de uma sociedade participativa. 

            O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), com sua abordagem de educação por meio dos aspectos de habilidade e competência, caracteriza-se como um possível agente articulador do processo de investigação, trazendo como suporte seus dados, revelando as habilidades e necessidades dos estudantes como um todo, em especial do Ensino Médio de nosso país.

            Tendo como base o nível baixo de qualidade do ensino médio é imprescindível que os professores que estão saindo para o mercado de trabalho tenham uma nova visão de práticas pedagógicas, uma delas que colocamos em questão nesse artigo é a prática reflexiva-investigativa na qual os professores refletem em acção e sobre a ação que estão envolvidos ao ministrar suas aulas, não somente na biologia. É preciso compreender-se a si próprios como professores, mas também investigando sobre seus alunos e o nível de aprendizado, procurando melhorar o seu ensino, concomitantemete ao expor suas pesquisas no ensino contribui para a formação de outros professores.

O desenvolvimento do investigar torna necessário o ato da investigação propriamente dita, conciliado com atitudes persistentes e empenho individual nos ideais do professor de Biologia, este podendo fazer uso de ferramentas metodológicas novas para conclusão de seu trabalho.

O professor investigativo é, então, o que busca o equilíbrio entre a ação e o pensamento e uma nova prática implica sempre uma reflexão sobre a sua experiência, as suas crenças, imagens e valores. Ele observa os alunos de forma individual, pesquisa os conteúdos e faz o currículo de acordo com o desenvolvimento da turma. Consegue estimular o grupo como um todo sem perder as características individuais de cada aluno, assim recebendo de volta através das avaliações feedback de sua pratica fundamentada na pesquisa.           Sempre há a possibilidade de se reavaliar e avaliar o acompanhamento de suas práticas. Sendo assim, a inovação, adaptação, reavaliação das metodologias usadas para essa nova gama de estudantes tem caráter fundamental, pelo fato das questões relacionadas à área de Biologia constantemente estarem sendo aprimoradas e compreendidas. Destaca-se que o “inovar” nas aulas não requer grandes custos para sua efetivação. Portanto o novo mundo educacional comporta cidadãos com necessidades educacionais diferentes, e um dos grandes responsáveis pela qualificação e entendimento das lacunas de aprendizagem destes alunos, compreende o professor investigador, que possui a chance de procurar soluções com o objetivo de transformação social e profissional.

 

"Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias." (Paulo Freire, 1983)


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ARAÚJO, Inês Lacerda. Comunicação & política, v.25, nº2, p.057-077

 

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