1. Professor: construtor em formação 

Francisca Nildene Nogueira1 

A origem da eficácia está em se perceber que se pode realizar ainda melhor o que já foi bem realizado. (FLOR DE MANDACARU, 1995, p1)

O contexto educacional atual exige de nós educadores-professores posturas mais conscientes de fazer educação. Assim, estamos sempre em busca de alcançar o ideal, o desejado. Isso nos faz acreditar que podemos ir mais além, arriscar-nos ao novo, ao desconhecido, pois é essa busca constante que nos mantém convictos de que podemos fazer algo a mais e melhor.

Como afirma Delors (2001, p. 103), hoje em dia ninguém pode mais pensar adquirir na juventude, uma bagagem inicial de conhecimentos que lhe baste para toda a vida, porque a evolução rápida do mundo exige uma atualização contínua de saberes...

Partindo dessa afirmação indagamos: por que alguns professores e demais profissionais da educação resistem em mudar seu fazer pedagógico? Que compreensão teórica e prática possuem do seu ato pedagógico? Que concepção de homem está arraigada em sua prática pedagógica?

Esses são alguns questionamentos que incrementam as reflexões e provocam inquietações as quais trataremos de abordar nesse texto.

1.1                       . O homem como ser em processo permanente de formação

 

O homem descobre o sentido das coisas porque ele cria um sentido humano para as coisas. (KOSIK, apud KRAMER, 1994, p.35)

Pensar em uma educação ativa e participativa induz-nos a refletir numa concepção de homem em constante formação. Segundo Luckesi (2011, p. 61) o ser humano é um ser em processo de formação, em movimento, sempre com a possibilidade de atingir um resultado mais satisfatório no caminho da vida.

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1.Especialização em Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos (Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ) e graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará –UECE e em Letras pela Faculdade do Vale do Jaguaribe-FVJ.

 
Isso significa, conforme o autor, que se o aluno aprende, ele se desenvolve; se não aprendeu ‘ainda’, pode aprender se é claro, houver investimento por parte do professor, para que ele aprenda. Partindo dessa premissa, podemos dizer que o professor é peça primordial no processo de ensino e aprendizagem. Ele é o mediador dessa relação.

Desse modo frisamos a importância do professor ter clara a concepção de homem em construção. Saber que todo sujeito é capaz de aprender, embora em ritmos diferentes, já que todo ser é único e fruto de suas interações sociais. O ser humano individual constrói sua personalidade por meio de interações com o mundo no decurso de sua existência. (FREUD, apud LUCKESI, 2011, p. 70)

Assim, para Luckesi (2011), o ser humano é um ser ‘aprendente’e para aprender, necessita que aquele que o ajuda tenha uma decisão firme e clara de investir nele, que não desista jamais e acredite em suas potencialidades – que é um sujeito que aprende que se desenvolve.

Compartilhando desse conhecimento de Freud de que não nos formamos sozinhos, mas na interação com o meio no qual estamos inseridos. Então todas as pessoas com quem interagimos, segundo Luckesi (2011), de algum modo nos acolhem e nos confrontam em algum momento da existência. Acolher significa assumir, aceitar o outro como ele é; confrontar significa mostrar outras possibilidades de ação e de vida.

Isso evidencia que não nascemos prontos. Mas que ao chegar à escola já possuímos um vasto conhecimento de mundo, adquiridos de nossas vivências sociais. Cabe então a escola aprimorar esses conhecimentos para que outros conhecimentos possam ser elaborados e dessa forma nos constituirmos como sujeitos ativos e autônomos.

Conforme Luckesi (2011, p. 79), tendo por base nossas heranças, somos o que fizemos de nós mesmos, no decurso de nossa existência, contudo o que existiu e existe em torno de nós e o que fizemos com o que se passou em nosso interior. Dessa forma, o professor, bem como o aluno vão se constituindo, se formando, jamais serão seres acabados.

 1.2. A prática pedagógica e suas implicações para a formação

 Todos os momentos do dia de todos os dias da vida eram para aprender e ensinar e de novo ensinar e aprender, vivendo (...), trabalhando e sendo (...). (BRANDÃO, apud FONTANA, 1997, p. )

 Na busca de compreender o mundo em que vivem, criar formas de agir sobre ele e se comunicar, interagir com os outros que estão ao seu redor, o homem desde que nasce, constrói muitos saberes. Esses saberes lhe proporciona maneiras de se constituir como sujeito no mundo. Através da participação social e de suas relações nesse meio ampliamos e reelaboramos esses saberes, construindo novas formas de entender a vida e de agir sobre a realidade.

É nessa dinamicidade, nesse movimento que devemos pensar a prática pedagógica. Não como algo parado, pronto e acabado. Mas como algo que será construída, reformulada sempre que se fizer necessário, conforme as necessidades da escola.

Frisamos então, a necessidade de ter claro que concepção pedagógica orienta o fazer pedagógico. Esta por sua vez, compreende o sujeito como ser dinâmico, ativo e em processo de formação?

Agir na prática educativa (tal como em qualquer outra prática) com consciência clara da teoria que sustenta nossa ação nos dá força, pois dessa forma não só temos ciência do que queremos, mas também sabemos para onde estamos querendo caminhar e como queremos caminhar para lá, o que implica ter clareza dos fins que desejamos atingir (nossos objetivos filosófico-políticos) e da metodologia que vamos utilizar para chegar aos resultados desejados. (LUCKESI, 2011, p. 62)

Vale enfatizar que nenhuma ação pedagógica é neutra, estando consciente ou não, nossa prática está sempre atrelada a uma concepção pedagógica. Essa por sua vez, é elemento encadeador de toda ação pedagógica, ou seja, da concepção curricular, da metodologia de ensino e de toda didática que orientará o planejamento e sua execução.

Não podemos perder de vista, no entanto, o objetivo principal da escola – fazer com que todos os alunos aprendam e adquiram o desejo de aprender e com autonomia. Assim, o aluno é o centro da atenção de toda prática pedagógica. Portanto, para atingir esse objetivo faz-se necessário focar a prática pedagógica no desenvolvimento dos alunos. Este deverá está imbuído em um ambiente que possibilitem atividades desafiadoras e significativas que os levem a superar e criar novos saberes, um ambiente em que haja intervenções pedagógicas consistentes.

Desse modo, o planejamento das ações a serem desenvolvidas é de suma importância, pois ele é a base para uma ação sistemática. Segundo Barbosa (2006, p. 61), planejar é analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas da ação para superar as dificuldades ou alcançar objetivos desejados.

Isso evidencia a responsabilidade dos atores educacionais ao planejar as atividades e o tempo pedagógico, já que esse é fator que vem trazendo no âmbito da educação muitas discussões. É preciso ter clareza e otimizar o tempo pedagógico para o desenvolvimento das aprendizagens dos educandos. Todos os momentos que os alunos estão na escola são momentos pedagógicos, portanto, momentos que são processados muitos saberes.

O compromisso do professor com a aprendizagem é firmado na dinâmica que ele imprime no cotidiano, quando os processos individuais e coletivos são acompanhados de perto, quando são pensadas diferentes formas de organizar o tempo, o espaço e os recursos para desenvolver as atividades. (CORSINO, 2006,  pag. 34)

 Luckesi (2011) afirma que o educador deve ser o adulto da relação pedagógica, ou seja, ser o mediador da formação do educando. Ele deve desejar que seu aluno aprenda. Se ele estiver desejoso, seus alunos aprenderão porque investirá neles, criando as condições necessárias, incluindo o planejamento das atividades, sua execução e acompanhamento.

Exercer, didaticamente, o papel de educador significa, a nosso ver, desejar ser educador, o que exige um ato de vontade de ‘não desistir’ diante de possíveis dificuldades nossas assim como de nossos educandos. (LUCKESI, 2011, p. 141)

É nesse desejo incessante que vamos construindo, formando nossa identidade. Ser educador-professor é ter a capacidade de investigar a própria atividade para, a partir dela, construir e transformar os seus saberes-fazeres docente num processo contínuo de construção de sua identidade como professor. Hoje somos a imagem melhorada de nós mesmos.

 1.3. A leitura como componente importante para a formação

Cada descoberta cria possibilidades para novas descobertas, cada momento novo capacita à aquisição de novos conhecimentos, cada leitura abre novas leituras. (GARCIA, apud GARCIA, 1993, p. 76 )

 A leitura está presente no mundo do sujeito desde o momento de seu nascimento.  A leitura suscita a necessidade de familiarizar-se com o mundo, enriquecer as próprias ideias e ter experiências intelectuais. Resultado: formação de uma filosofia da vida, compreensão do mundo que nos rodeia. (BAMBERGER, 2002, P. 32) Assim, a leitura também nos constitui como sujeitos no mundo.

Diante do exposto, destaca-se o importante papel da leitura e consequentemente, da escrita em nossas práticas sociais, no nosso existir no mundo. Sendo o educador-professor elemento chave para mediar à aprendizagem, faz-se necessário que esse esteja imbuído nesse mundo encantado e de oportunidades da leitura para que possa estimular seus alunos.

Devemos, no entanto, levar em consideração que assim como os alunos estamos nos formando leitor-escritor, porém, em patamares diferenciados. O professor antes de querer encantar seu aluno no mundo da leitura, ele mesmo deve já ter sido tocado, pois,

parte-se do pressuposto de que só se pode ensinar aquilo que se faz com prazer; ou seja, que é impossível ensinar a importância, o sentido e o prazer da leitura e da escrita, se esta não é uma prática autêntica que o adulto/mediador tem com essa modalidade de linguagem. (SILVA, 2005, p. 45)

Isso nos instiga perguntar: como posso formar leitores e escritores aquele que não é, ele mesmo, um leitor e um escritor? Temos que pagar essa dívida com nós mesmos, professores, devemos isso a nós e aos nossos alunos que necessitam de nosso encantamento, das nossas experiências de leitor e escritor para que possam mergulhar nesse mundo.

Como afirma Rubem Alves, quem lê (...) tem muitos milhares de olhos: todos os olhos daqueles que escreveram (apud, BRASIL, 2001). Não podemos negar isso nem a nós e muito menos aos nossos alunos.

Portanto, convidamo-los a entrar e degustar esse mundo da leitura e da escrita, a desvendar os tesouros escondidos no interior de cada palavra, cada frase e de cada texto, fazendo parte, sendo leitor e escritor da história da vida.

Ressaltamos a importância do educador-professor reconhecer o ato da leitura e da escrita como um momento privilegiado para ação pedagógica, independente da disciplina que ministra.

Partindo das discussões aqui levantadas, podemos destacar que a prática da leitura é imprescindível para a formação do ser humano e apontar que o gosto pela leitura não é intrínseco ao homem, mas pode ser cultivado, regado à medida que o sujeito se constrói como leitor.

 Considerações finais

 Diante de todas as discussões e reflexões levantadas até aqui, esperamos ter provocado inquietações e ter levados a pensar em toda a sua prática pedagógica. Acreditamos que o educador-professor consciente de sua teoria pedagógica conduzirá sua prática de forma mais eficaz e comprometida com a aprendizagem de todos os alunos.

Desse modo, terá condições de incrementar estratégias que possam ajudar os alunos e a si mesmo a resolver as dificuldades que por ventura surgirão, como também, aumentar o nível de desenvolvimento de todos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

Assim é na busca incessante de alcançar o desejado que mergulhamos de cabeça na roda da vida, possibilitando-nos cada dia aprender e aprender. Pois somos sujeitos em constante processo de formação.

Referências

 BAMBERGER, Richard. Como Incentivar o Hábito de Leitura. 7 ed. 4 impressão. São Paulo: Ática/UNESCO, 2002.

 BARBOSA, Jane Rangel Alves. Didática do Ensino Superior. Curitiba: IESDE, 2006.

 BRASIL (MEC/SEC). Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Brasília, MEC/SEF, 2001. (Coletânea de Textos)

CORSINO, Patrícia. O Planejamento da Prática Pedagógica. Disponível em < http://tvbrasil.org.br/fatos/salto/serios/165418LetraViva.pdf. > Acesso em: 05 jan. 2012.

 DELORS, Jacques. Educação: Um Tesouro a Descobrir. 6 ed. São Paulo: Cortez: Brasília, DF:MEC:UNESCO, 2001. (Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI).

 FLOR DE MANDACARU. Folhetim. Palhano, CE, Ano I, n. 7, p. I, nov.1995.

 FONTANA, Roseli e CRUZ, Maria Nazaré da. Psicologia e Trabalho Pedagógico. São Paulo: Atual, 1997.

 GARCIA, Regina Leite (org). Revisitando a Pré-escola. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1993.

KRAMER, Sônia. Por Entre as Pedras: Arena e Sonho na Escola.2 ed. São Paulo: Ática, 1994.

 LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem: Componente do Ato Pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011.

 SILVA, Ana Paula Berberian Vieira da. Psicogênese da Linguagem Oral e Escrita. Curitiba: IESDE, 2005.