Produzir texto: o desafio de saber ler

Para produzir textos de qualidade é necessário saber o que se quer dizer, para quem escrever e qual o gênero que melhor exprime essas ideias. A chave é ler. LER, na expressão da palavra: localizar os elementos básicos do material lido, entender e interpretar, a ponto de reproduzir o que leu.

Um dos maiores indicativos para justificar a distância entre o que se pensa, se fala e se escreve, da pessoa a quem se destina o texto é a dissociação de interesses ente os vários lados dos interlocutores envolvidos na trama que exige interação. Para aproximar a produção escrita das necessidades enfrentadas no dia a dia, a estratégia é provocar o aluno/aprendiz/escritor a se envolver e participar de forma eficiente de atividades da vida social que impõe a necessidade de se envolver com as questões sociais que definem as condições de vida de cada um.

Torna-se imperativo que os adultos, pais e professores, envolverem os alunos nas questões reais que envolvem salários, alugueis, transporte, plano de saúde, e educação, por meio de projetos e atividades reais. Para escola vem a necessidade de estimular a leitura, a pesquisa, a discussão e interpretação de temas que envolvem qualidade de vida. Esse caminho é curto e necessário, desde que se respeitem as questões individuais como ritmo, competência, vivência, níveis intelectuais e linguísticos e esferas sócio-econômicas.  

Interpretar e produzir textos para responder às demandas da vida social enquanto cidadão é o grande desafio      que envolve a leitura, compreensão, interpretação e reprodução do pensamento aliando-se tudo isso à busca que cada um faz para resolver os seus problemas, no campo da comunicação, interação e crescimento.

Ler um fato noticiado em um jornal, aprender os passos para fazer uma refeição rápida ou argumentar para conseguir que um problema seja resolvido por uma empresa, pública ou privada: todas essas ações trazem uma finalidade, um propósito, cobrando para cada expressão textual um veículo, um suporte, um meio por onde há de ser divulgado/publicado. Para que alguém se sinta motivado a discutir um assunto é necessário que ele veja sentido nessa ação, que haja interesse.

O desafio [...] é formar seres humanos críticos capazes de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente à mantida, explícita e implicitamente, pelos autores dos textos com os quais interagem em vez de persistir em formar indivíduos dependentes da letra do texto e da autoridade dos outros. Délia Lerner – Ler e escrever na escola: o real, o possível o necessário.(p.27).

 

Ler, além do visível tem sido o desafio de todos aqueles que pretendam fazer a diferença na arte de ler e compreender os conteúdos lidos a ponto de reproduzir por outros meios, com outras expressões , com vieses próprios de mentes críticas que analisam e se propõem a emitir conceitos e pontos de vista. É exatamente a autoridade do discurso que atrai as mentes brilhantes e inquietas que se tornam fortes à medida que imprimem suas próprias opiniões pautadas, sempre, em fatos reais, situações palpáveis e comprováveis nos planos midiáticos, sociais e estruturais da sociedade em ebulição.

As expectativas de respostas nos conduzem à aprendizagem e à escrita. Quando se formula uma pergunta, quando se emite uma opinião, espera-se que haja uma reação, uma resposta, independente de ser correta ou não; adequada, ou não; favorável, ou não. Para o professor, torna-se imperativo que o aluno dê uma resposta o mais próximo possível do que foi discutido, apresentado. O que não é fato: o aluno não tem que responder o que o professor quer, mas há uma expectativa de resposta. É nessa perspectiva que nasce o entendimento, a compreensão do que foi compreendido e quais os próximos passos provocados pela pergunta que provocou a resposta.

”Conta uma lenda que o uma serpente perseguia sistematicamente um indefeso vagalume nas frias noites de uma floresta tropical. O vagalume perdeu todos os seus movimentos, posto que a temida serpente não lhe dava sossego. Sempre a presa conseguia fugir, não se sabia por quanto tempo. O temido momento chegou: já próximo das garras afiadas da serpente, o vagalume sentiu-se no final da linha, era o seu fim. Encheu-se de coragem e pediu à serpente: -“sei que não terei grandes chances mas, peço a oportunidade de fazer três perguntas, antes de eu ser devorado” – A serpente, surpresa, disse que responderia com muito prazer. O vagalume, a muito , conseguiu perguntar; “- faço parte de sua cadeia alimentar?” A serpente sorriu e respondeu que não. Mais uma vez, ele perguntou: “- eu já te fiz algum mal?” . A serpente, mais tranquila, respondeu que não. O vagalume já não mais entendia, então, porquê, essa perseguição infinda. E jogou a última pergunta; - “Se não pertenço à sua cadeia alimentar, se nunca te fiz mal algum, por que, então, você quer me devorar?”

A serpente riu a gosto diante do nervoso vagalume e disse: eu não quero, nem quis te devorar, eu simplesmente sigo o teu brilho.”

A vida real, no campo das linguagens, enquanto ferramentas de interação, qualificação e status, a leitura e a escrita provocam brilhos intensos para os que delas se apropriam e que, de forma processual, vai aos poucos ampliando possiblidades de crescimento para quem escreve e para quem lê, para quem lê e para quem escreve, para quem escreve e para quem compreende o que está escrito, por letras, símbolos e sinais gráficos ou não.

A leitura para uns é uma atividade prazerosa para outros um desafio a conquistar, que somente será alcançada através de muitos incentivos, das escolas, das famílias e na sociedade. Um bom leitor não é aquele que lê muitas vezes o mesmo tipo de texto, mas aquele que lê diversos tipos de texto com profundidade.(THOMAZ, 2009, p.3).

 

É o que falta nos dias de hoje, na prática. Seja o comportamento d as famílias que às voltas com seus desafios de subsistência e busca da melhoria de qualidade de vida, põem em segundo plano, a dinâmica da leitura com vista à escrita. Até porque, o desenvolver de atividades sociais não traz em si, labores voltados para a leitura e análise dos fatos que povoam suas existências. As escolas, por seu turno, envoltas em programas, projetos e atividades curriculares, nem sempre fazem da leitura, uma ferramenta interpretativa para o raciocínio e solução para os desafios da prática cotidiana dos seus afazeres, que não são poucos. Nesses descaminhos, por assim, dizer, perde-se a oportunidade de se incentivar uma prática milenar de entender o que precisa ser cristalizado.

Ler, por que lê a mão, como pregam as longas lendas e histórias do imaginário popular que imortalizam o ritual das ciganas. Por que lê a mão, e não outros órgãos dos sentidos? Porque o que se lê precisa estar à mâo, nas mãos, sob o domínios de quem lê, de quem escreve, de quem sabe por que leu, de quem leu porque se interessou e de quem se interessou porque precisava saber e retransmitir. Assim se concretiza uma ação trilógica do  conhecimento: localizar os pontos chave, entende-los e reproduzir com seu jeito, sua marca, seu texto, sua autoridade.

Sebastião Maciel Costa

Mestre em Ciências da Educação

Referências

CARNEIRO, Agostinho Dias. Redação em construção. São Paulo: Moderna, 2001;

GONÇALVES, Susana. Aprender a ler e compreensão do texto: processos cognitivos e estratégias de ensino. Disponível em: < http://www.rieoei.org/rie46a07.htm>. Acesso em: 12 de maio de 2010.

LERNER, Délia - Ler e Escrever na Escola - O Real, o Possível e o Necessário, Ed. Artmed, 2009

THOMAZ, Jaime Roberto. Relação entre leitura e alfabetização. Disponível em: . Acesso em: 13 de jun de 2010.