Tony Luis Costa Araujo

RESUMO

Este artigo discute a construção dos significados e sentidos desenvolvidos por mulheres com problemas dentro do contexto reprodutório. Com o objetivo de identificar quais as dificuldades enfrentadas e demonstrar os estados psicológicos que foram alterados em relação a essa problemática. Enfatizar a necessidade de uma abordagem psicológica no trato reprodutório, com o objetivo de trabalhar as questões advindas da infertilidade e o possível tratamento. Espera-se contribuir através da revisão bibliográfica com conteúdos que possibilitem no entendimento e nas intervenções psicoterapêuticas e multiprofissionais.
Palavra-chave: Reprodução, Infertilidade, esterilidade, mulher, psicologia.

1 INTRODUÇÃO

 

Ao longo da evolução humana, um dos principais fatores foi a preservação da espécie, com isso a reprodução sempre representou um item axial.

Conceitos sobre infertilidade e esterilidade, representam para muitas mulheres hoje, sinônimos de dor e sofrimento.

Vale ressaltar a diferença entre infertilidade e esterilidade. A infertilidade representa a incapacidade de conceber após um ano de relações sexuais não protegidas (seis meses se a mulher tem mais de 35 anos de idade) ou a incapacidade de manter a gravidez até o termo. Enquanto que a esterilidade é uma condição irreversível que impede a concepção. (MENDONÇA. 1988, p23)

A medicina vem desenvolvendo técnicas e métodos para tratar os problemas sobre infertilidade e esterilidade feminina. Porém, existem poucos estudos que analisem os processos psicológicos que envolvem estas problemáticas.

Apesar das transformações observadas nas concepções e práticas relacionadas à infertilidade, fundamentadas principalmente no avanço do conhecimento cientifico e médico, a condição de infértil tem se constituído em um fardo para as mulheres, atravessando séculos de história e rompendo limites geográficos e culturais. Observa-se que a imposição social da maternidade para a "mulher normal" e as conseqüências pessoais e sociais de problemas reprodutivos, com exemplos que abrangem sociedades e momentos históricos diferentes.

Dentro do levantamento bibliográfico das produções na área da psicologia pesquisada, descrevem-se algumas criticas e observações que proporcionará um melhor entendimento e embasamento teórico. Intervenções nas psicoterapias em pacientes sujeitos aos desequilíbrios e desordens oriundas das problemáticas geradas pelas incoerências sócias dos estigmas elaborados da infertilidade e da esterilidade.

O presente artigo evidenciará a infertilidade e a esterilidade feminina, mais precisamente os processos psicológicos a partir do diagnóstico, já que a medicina tem desenvolvido muitos métodos e tratamentos, porém desconsiderando os aspectos psicológicos.

 


2 VIDA REPRODUTIVA: REVISANDO A BIBLIOGRAFIA 

 

Considera-se dentro da vida reprodutiva, quando dentro dos parâmetros temporais e junto com a anatomia normal de reprodução, os níveis adequados de hormônios e a produção de espermatozóides e óvulos que são necessários para atingir a máxima fertilidade (WARHUS, 2007, p.57).

Os hormônios são produzidos pelo corpo para transmitir instruções de uma área para outra. Os mesmos hormônios são produzidos em ambos os homens e mulheres, mas em quantidades diferentes. Eles desempenham um papel importante na fertilidade. Uma pequena área localizada no interior do cérebro é conhecida como o hipotálamo, situa-se perto de uma glândula de tamanho de uma uva chamada pituitária, estas estruturas ajudam a compreender como os hormônios reprodutivos reagem dentro do corpo. (WARHUS, 2007, p.57).

Elas promovem controle da produção e liberação de hormônios do corpo. O hipotálamo controla os níveis de hormônio no sangue. Assim como todos os hormônios no organismo, os hormônios reprodutivos são constantemente monitorados e ajustados de acordo com suas necessidades físicas e emocionais WARHUS (2007). Os homens precisam de níveis adequados de FSH, LH, e testosterona para a produção de espermatozóides saudáveis.

Na mulher os hormônios desempenham um papel importante na fertilidade e no preparo do corpo para a gravidez. A pituitária ajuda a compreender como os hormônios reprodutivos reagem dentro de seu corpo. Em uma mulher, FSH e LH estimulam os ovários a produzir estrógeno e progesterona. Estes hormônios femininos flutuam ao longo do ciclo menstrual e desempenham um papel crítico em seu ciclo menstrual e ovulação WARHUS (2007).  

Em resumo, a fecundação ocorre quando o esperma e o óvulo finalmente ficam juntos. O esperma ejaculado, contendo 100 milhões de espermatozóides, dentro da vagina da durante o sexo, apenas algumas centenas de milhares conseguem chegar com sucesso nas duas trompas de falópio. Muitos espermatozóides são mortos ao longo do caminho pelo ambiente hostil ácido na vagina ou no colo do útero WARHUS (2007).

Estima-se que o esperma pode ser capaz de viver dentro de trompas de falópio da mulher por até três dias. Mas lembra-se que o óvulo de uma mulher só pode ser fecundado dentro de um período de 24 horas. Portanto, a gravidez pode ocorrer durante um período de apenas dois ou três dias a cada mês WARHUS (2007).

Se qualquer um espermatozóide se unir com o óvulo de uma mulher, o processo é chamado de fertilização. Quando a fertilização ocorre, quase sempre acontece dentro da trompa de Falópio.

 

2.1 Infertilidade e esterilidade

 

A infertilidade e a esterilidade são classificadas como doença dentro do CID-10 sob o código numérico N97, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O mundo médico define a infertilidade como não sendo capaz de conceber após 12 meses de ter relações heterossexuais regulares sem o uso de controle de natalidade. A mulher incapazes de engravidar após um ano de relações sexuais desprotegidas, sugere ao seu parceiro a submeter-se junto a ela a testes de fertilidade. WARHUS (2007). Em muitos casos, os testes podem ser realizados para determinar a causa da infertilidade. Com base os resultados do teste, o tratamento pode ser adaptado às suas necessidades e especialidade de sua infertilidade. Quando determinado as causas e em casos que seja possível a fecundação é estabelecido o estado de esterilidade, isto é, incapaz de conceber filhos.

Classificando dois tipos de esterilidade conforme o autor nos mostra:

[...] será considerada estéril primário quando nunca conseguiu obter uma gestação e estéril secundário quando já houve gestação a termo no passado, mas no presente ocorre de viabilizar uma gestação (MENDONÇA, 1988, p.1).

          Dentre os fatores avaliados, conforme Mendonça (1988), no estudo da mulher estéril inclui-se:

Fator ovário (10-15% dos casos): que abrange a ausência de ovulação;

Fator tubário (20 a 30% dos casos): mal formação na trompa;

Fator peritoneal (10-15% dos casos): incluem as aderências provenientes de processos inflamatórios ou cirúrgicos prévios e geralmente estão associados ao fator tubário;

Fator uterino originário do corpo e fundo do órgão (20% dos casos): incluem mal formações uterinas;

Fator uterino cervical (50% dos casos): raramente este fator é a causa única de esterilidade, estando na maioria dos casos associados a outros fatores;

Fatores imunológicos e genéticos (5% dos casos): são detectados no muco cervical e no soro sanguíneo, são geralmente os últimos fatores a serem considerados quando já se esgotou a pesquisa de esterilidade.

Fator coital ou vaginal: que incluem a causa anatômica, bloqueando ou dificultando a realização do intercurso ou a causa emocional que é a mais freqüente e gera disfunções ou inadequações sexuais;

Fatores emocionais: raramente representam fator causal isolado da esterilidade, estando geralmente associado a outros fatores da esterilidade.

 

Apesar do interesse antigo da Psicologia pela maternidade, mais especificamente pelos efeitos da relação mãe-criança no desenvolvimento infantil, os estudos sobre a infertilidade só começaram a ganhar visibilidade na década de 50. Talvez porque não houvesse interesse real na mulher-mãe e sim na mãe-instrumento, a serviço do filho. (TRINDADE & ENUMO, 2002, p.2)

 

2.2 Fertilização Artificial

Com o atual avanço tecnológico, a temática da infertilidade tem sido bastante abordada e as tecnologias reprodutivas estão sendo utilizadas por um grande número de pessoas (BERLOT, 2004, p. 64).

A utilização de drogas para fertilidade, inseminação artificial, fertilização in vitro, a amniocentese e parto cesárea, onde maioria dos casais indicou uma disposição de considerar a tecnologia como parte do projeto da natureza, mesmo que também possa expressa alguns sentimentos ambivalentes para essa reconciliação. VOLICH (2007). Para muitos dos casais inférteis, havia uma urgência especial sobre os seus esforços para separar o sentimento da realidade e assimilar à natureza o que muitos em suas culturas consideram como antinatural.

Ao observar as representações que homens e mulheres envolvidos com a temática da infertilidade, constroem sobre o filho biológico, não se pode esquecer que as representações sociais da infertilidade são permeadas por crenças e simbologias em torno do significado do filho biológico para o casal e para a manutenção do próprio casamento (BERLOT, 2004, p. 65).

 

Considera-se o senso de auto competência dependia para engravidar, em parte, o sucesso de seus esforços no sentido de intervenção tecnológica, como parte de um processo natural, normal e moral das pessoas. Assim, superar os métodos intrusivos e considerados antinaturais diante das incertezas geradas pelo contato com a infertilidade, definido por alguns como mudanças de paradigmas e quebras de tabu, que podem ser muito bem conduzidos, dependendo do trato do profissional de saúde envolvido no processo.

Um marco na história da reprodução humana no Brasil foi o anúncio do nascimento do primeiro bebê de proveta brasileiro em 1984, seis anos após o nascimento do primeiro bebê por fertilização in vitro no mundo (Inglaterra), marcando a entrada do Brasil na modernidade da revolução tecnológica da biomedicina (BORLOT, 2004, p.03)

 

 

2.3 Função reprodutiva e a psicossomática

 

            Na prática clinica é comum a relação de irregularidades menstrual ou anovulação, conseqüentes ou relacionadas a eventos traumáticos e estressantes MOREIRA (2006). Visto que em algumas mulheres é predominante a irregularidade menstrual, principalmente quando submetidas a fortes impactos emocionais.

            Em nossa sociedade atual os padrões de estética e beleza estão bem delimitados conforme o contexto cultural inserido, desta forma a mulher fica exposta num contínuo jogo de aceitação, juntamente com questões de posicionamento profissional e afetivo.

A abordagem psicossomática das manifestações patológicas, leva em conta todas as dimensões do ser humano, sendo de origem física, psíquica, social, econômica e cultural, que podem estar relacionadas num processo de inter-influência, afetando desta maneira o equilíbrio orgânico e a saúde do sujeito. É uma visão mente e corpo em interação com o contexto e desta forma, permite compreender de maneira mais ampla, o caráter multifacetado destas manifestações e o ser que adoece. (VOLICH, 2007, p.104)

 

A função reprodutiva feminina depende de complexas funções e interações dentro do sistema nervoso central e outras estruturas endócrinas vistas no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano MOREIRA (2006). Para que um ciclo menstrual se complete é necessária uma intrigada relação com o sistema reprodutor anatômico e o equilíbrio psico-emocional.

Fatores psicossomáticos tem ganhado grande importância nos olhares dos profissionais de saúde VOLICH (2007), hoje sabe-se de inúmeras doenças e distúrbios que antes eram considerados como causas desconhecidas e que hoje ganham conotação exclusiva baseado nos conceitos e predisposições da dinâmica psicossomática.


3 PSICOLOGIA E REPRODUÇÃO HUMANA

 

            Fatores como ovulação irregular e os efeitos secundários de terapias de drogas, frequentemente causado os sinais presuntivos e prováveis da gravidez, como indicadores da gravidez. Teste de gravidez precoce, muitas vezes captura os efeitos das terapias, em vez do início da gravidez SANDELOWSKI (1993).Terapias destinadas a induzir a concepção causando sinais e sintomas, tais como inchaço abdominal, alterações menstruais, náuseas e alterações do humor, que poderia ser interpretado como indicativo de gravidez.

A teoria biopsicossocial da infertilidade MOREIRA (2006) concebe a infertilidade como fator humano no qual estão envolvidas uma pessoa e algumas relações dos cônjuges entre si, e com o contexto social no qual estão inseridos.

Nessa perspectiva, o psicólogo pode desempenhar papel importante auxiliando os casais na elaboração dos conflitos psicológicos desencadeados ou agravados pela infertilidade. A atuação do psicólogo deve estar associada ao tratamento médico, avaliando como o diagnóstico, a sugestão de tratamento e os pedidos de exames estão sendo entendidos pelo casal e identificando as dificuldades psicológicas que possam afetar a evolução do tratamento. (MOREIRA, 2006, p.5).

 

             (MOREIRA, 2006, p.5) ainda cita que algumas pesquisas apontam a infertilidade como experiência devastadora em comparação ao divórcio e ao diagnóstico de doença crônica grave.

            Percebe-se que algumas mulheres inférteis e estéreis sentem-se desvalorizadas, inseguras, incompletas e principalmente insatisfeitas. Dentro do histórico sócio-cultural da mulher, onde sua função principal sempre foi a de geradora da vida e o cuidado com a prole, este papel vem se configurando de uma forma totalmente diferente nas ultimas décadas, dentro do novo contexto a mulher “moderna” ainda não obteve o suporte necessário para compreensão e elaboração de seus desejos e valores, perante as novas cobranças sociais e internas, de ser ao mesmo tempo mãe, dona de casa, esposa exemplar e principalmente profissional competente no nível de competir de igual tamanho contra o “paternalismo” predominante.

            Diante do fracasso junto à infertilidade ou esterilidade, a maioria das mulheres tendência ao fracasso ou a insatisfação conjugal e profissional SANTON (1996). Adentram nas psicoterapias, alegando problemas de afetividade e realização, que na maioria dos casos está diretamente ligado a problemas de reprodução.

 

3.1 Infertilidade como doença e causadora de sofrimento

 

Dentro de algumas abordagens terapêuticas onde destacam-se a psicoterapia de orientação psicanalítica, as terapias cognitivo-comportamentais e as propostas de Counselling (FARINATI, 2006, p. 06). Considera-se a infertilidade e esterilidade não apenas como doenças, no sentido clássico, mas também como precursora de distúrbios psíquicos e desajustes funcionais, que podem perdurar por muito tempo, até mesmo depois da gestação e nascimento da prole.

Mesmo quando possa existir certa relutância para definir a infertilidade como uma doença, a infertilidade é, no entanto, amplamente reconhecida como patogênica, isto é, como a causar ou contribui para a incapacidade física ou emocional e sofrimento psíquico. Quando definido em termos de um período prolongado de nunca estar grávida no período de vida, quando se é normal e esperado que a gravidez seja alcançada, a infertilidade é visto como patogênica em virtude do aumento ou prorroga exposição dos indivíduos a doenças, os agentes infecciosos, e outros fatores (tais como contraceptivos e riscos ambientais) que podem impedir a reprodução. (VOLICH, 2007, p.120)

 

Nota-se que os aspectos simbólicos contidos no processo da concepção, em si, representam para a mulher sentidos e sentimentos voltados para o ato de gerar, não só vida, mas também outro tipos de gestações, do tipo consciêncial, profissional e afetiva.

       Entender relações e aspectos também em mulheres que já engravidaram após o encontro com a infertilidade, onde são mais comuns a super-proteção e insegurança em relação à prole, distanciamento afetivo do cônjuge (devido a excessiva ligação com a prole), irritabilidade, insônia, dieta irregular SANDELOWSKI (1993) Alguns desses fatores já acompanham a mulher quando ainda esta vivenciando a infertilidade, porém na maioria dos casos, estes ainda persistem, mesmo quando o fator orgânico reprodutor já esta em equilíbrio, mediante inúmeros tratamentos de contracepção.

       Assumir uma identidade de si mesmo como, finalmente, com uma criança, exige deixar ir a identidade do "eu" como ainda sem filhos. As mulheres inférteis que conseguiram engravidar e, em seguida, começam a abandonar os aspectos gerados no encontro com a infertilidade. Desistência da infertilidade era um caso especial de retorno ao trabalho biográfico de deixar para trás a identidade negativa, sentimentos e pensamentos e padrões de comportamento desenvolvidos no curso de sua luta para engravidar VOLICH (2007).

       Depreende-se que em casos de infertilidade ocasionada por disfunções psicossomáticas, a psicoterapia se faz necessária, mesmo após a concepção, a gestação e o nascimento, visando não só uma qualidade de vida para a mulher, mas conseqüentemente também para a prole e de todos envolvidos no processo.

 

 

3.2 Infertilidade como conseqüência de doenças

 

No contraste à visão da infertilidade como um agente patogênico é a conceituação da infertilidade como uma conseqüência, sintoma, ou manifestação de doença física ou mental (VOLICH, 2007, p. 158).

Múltiplos paradigmas biomédicos da infertilidade e muitos em que a doença causa processos da infertilidade (SANDELOWSKI, 1993, p.38). Existem processos endocrinológicos, genéticos, de desenvolvimento constitucional, explicações ambientais, imunológicos e psicossomáticos. Estes fatores, atuando isoladamente ou em combinação, foram identificados como causadores das anomalias e obstruções no trato reprodutivo, anormalidades endocrinológicas, e outras aberrações biológicas que impedem a concepção e a manutenção da gravidez (VOLICH, 2007, p. 162).

 

3.3 Infertilidade sob o olhar da Psicologia

 

            Apesar do interesse antigo da Psicologia pela maternidade, mais especificamente pelos efeitos da relação mãe-criança no desenvolvimento infantil, os estudos da psicologia sobre a infertilidade só começaram a ganhar visibilidade na década de 50 (TRINDADE, 2001, p.12). Possivelmente porque não houvesse interesse real na mulher-mãe e sim na mãe-instrumento, a serviço do filho.

Até a década de 70, predominou o primeiro modelo, que focalizava as causas da infertilidade e a conceitualizava como doença psicossomática, que atingia principalmente as mulheres. Baseados em pressupostos psicodinâmicos, os pesquisadores da época atribuíam esses mecanismos psicogênicos a conflitos relacionados ao papel materno, a problemas com a identidade sexual feminina, à imaturidade feminina e à neurose. (STANTON, 1991, p. 7).

 

Ainda STANTON (1991) nos relata que as pesquisas conseguidas por este modelo conseguiram demonstrar diferenças entre: mulheres férteis e inférteis, tanto na estrutura da psique como no padrão emocional; mulheres cuja infertilidade tinha causa orgânica e mulheres cuja infertilidade não podia ser explicada da mesma forma; e mulheres consideradas inférteis que conseguiam engravidar posteriormente e aquelas que não conseguiam. Contudo, observa-se que os estudiosos que se dedicaram à revisão da literatura sobre a psicogênese da infertilidade "concluíram que a maioria dos estudos não revela evidências consistentes ou que causem maior impressão sobre as causas psicológicas da infertilidade".

O esforço para esclarecer e, se necessário, reformular desejo era um abster-se nos esforços de casais inférteis para entrar e sair do outro lado "do labirinto” com o que eles queriam. Para aqueles indivíduos que entraram no seu casamento com um pouco ou nenhum desejo de ter filhos, a clarificação e resignificação dos casais desistirem do processo usado para examinar, reconsiderar, aperfeiçoar ou alterar as suas necessidades em relação ao tratamento de resolver sua ambivalência sobre como se tornar pais. (SANDELOWSKI, 2007, p.113).

 

A relação existente entre as representações de maternidade e paternidade e as condições de vida dos sujeitos. De certa forma a infertilidade feminina diagnosticada em um casal já formado, promove em alguns casos representações dificultosas por parte do homem, na importância implícita no exercer da paternidade TRINDADE (1993). Desta forma a mulher encontra-se encurralada no atendimento as suas representações de desejo de ser mãe e do parceiro em ser pai.

SANDELOWSKI, (1993) ainda comenta que uma vez que o desejo de um filho foi afirmado, mas ainda não cumprido, a resignificação do desejo de envolver o ajuste para a perspectiva de ter um filho com a ajuda e não de forma natural. Uma mulher deseja fazer acontecer a gravidez sozinha, mas foi forçada a considerar o método "antinatural". Querer ter um filho sozinha e não ter, de querer um bebê com ou sem ajuda.

A busca das mulheres e casais por uma criança adotada é um processo deliberativo que ajudou a preservar o domínio ao enfrentamento interior e caráter aberto da infertilidade SANDELOWSKI, (1993). Embora as mulheres e casais em busca de uma criança apareceram em um labirinto de opções de tratamento e adoção, e em muitos casos finalizados em uma decisão baseada na contabilidade, o de menor custo e risco.

 

 

4 IDENTIDADE E EMOÇÃO

 

Infere-se que abandono da identidade de si mesmo como infértil e assumir nova identidade de paciente obstétrica, mesmo que a infertilidade de um ponto de vista fisiológico não seja “anulada”, porém no emocional, onde muitas mulheres convivem com o processo de engravidar por um longo tempo, e após a concepção por todas as modificações hormonais, emocionais e fisiológicas, que de certa forma, distancia, em alguns casos, a identidade de infértil.

A dificuldade de renunciar a infertilidade era, não permitindo-se a pensar muito sobre qualquer bebê especial que possa ter. A gravidez era algo que tinha conseguido, mas, como bem sabia, havia gravidez que não eram nada mais do que "saco vazio", ou nada mais do que os efeitos da terapia hormonal que tinham sido submetida a indução de gravidez, ou que tinham a mesma probabilidade de não ser perdido. (SANDELOWSKI, 1993, p.137).

 

SANDELOWSKI (1993) ainda nos relata que a gravidez após infertilidade para as mulheres envolvidas em inversões na transição normal para a maternidade, oscilar para frente e para trás entre as identidades como ainda inférteis e como finalmente grávidas. Em um sentido importante, é o trabalho da concepção, e não o trabalho de parto e da criança, que constituíram o evento culminante na gravidez. Sendo que para muitas destas mulheres o período gravidez, é na verdade nove meses de preocupação e estresse.

Infere-se a importância do conhecimento ontológico que a mulher apresenta diante das questões de alto valor significativo contidos na maternidade, sua representações e significados.

Considera-se, entretanto as divergências sexuais e a feminização da sociedade provando mudanças no cerne da formação familiar, do modo de vida, diante de aspectos tanto social como econômicos.

Com relação à discussão sobre a igualdade entre homens e mulheres, atravessamos todo o século questionando os princípios da divisão sexual nos espaços do público e, depois no privado.  A crescente feminização da sociedade moderna ao longo de todo o século não eliminou, contudo, formas, nem sempre sutis, de segregação da mulher no mundo do trabalho, formas que permanecem até os nossos dias (SZAPIRO, 2002, p.2).

 

 

4.1 Maternidade como produção independente

 

Interliga-se, aspectos dos processos psíquicos envolvidos na infertilidade e nas chamadas “produções independentes”. Na busca por autonomia, para agregar novos valores, a mulher, quebra antigos tabus.

A produção independente na perspectiva de uma construção, um acontecimento, dentre outros, que se inscreve no interior das mudanças subjetivas em curso nas sociedades ocidentais modernas, particularmente as que surgiram a partir da segunda metade do século XX. Estas mudanças têm produzido uma inflexão profunda nos valores ligados à idéia de liberdade e de autonomia dos indivíduos (SZAPIRO, 2002, p.2).

 

Nota-se que algumas conquistas femininas, especificamente a criação dos anticoncepcionais. SZAPIRO (2002) demarcou nas formações subjetivas da sexualidade reprodutiva, da função masculina e da formação simbólica do filho.

Os novos recursos contraceptivos que surgiram nos últimos tempos - a pílula anticoncepcional, em particular se, por um lado, vieram atender à demanda crescente de liberdade da mulher, por outro mobilizaram também todo um campo desejante, ligado à procriação, seja no homem, seja na mulher. O controle da concepção, quando se torna possível cientificamente, modifica as condições inconscientes de emergência do desejo de filho (SZAPIRO, 2002, p.2).

5 RELAVÂNCIA DA INTERVENÇÃO PSICOLOGICA

 

Quando falamos da importância da intervenção junto a mulheres e casais submetidos à problemática da infertilidade, também depara-se com as mais diferentes abordagens da psicologia e o modelo terapêutico que cada uma compreende a infertilidade e o nascimento. Destacam-se a psicoterapia de orientação psicanalítica, as terapias cognitivo-comportamentais e as propostas de aconselhamento terapêutico. (FARINATI e al, 2010). Independente da abordagem adotada, a presença do psicólogo antes, durante e depois dos tratamentos na infertilidade e de grande importância. Este acompanhamento justifica os problemas de infertilidade como problemas de saúde, que depende não só do profissional de psicologia, mas de toda equipe multidisciplinar, um olhar especial sobre estes casos. Pois para muitos, ainda prevalece, o ponto de vista de que a procriação é apenas uma satisfação estética e social.

Os casais inférteis que se encontram em tratamento nos centros de medicina reprodutiva que têm em sua equipe um psicólogo têm à sua disposição um espaço de escuta e apoio e podem contar com acompanhamento psicológico nas diferentes fases do tratamento médico tanto na modalidade individual, quanto de casal e de grupo. (FARINATI e al, 2010, p. 34)

 

Outro contexto relevante aos casais que passam pelo processo tratamento da infertilidade é o encaminhamento feito pelos profissionais de saúde para psicoterapia com outros profissionais, isso colabora não só no tratamento mais amplo dos problemas relacionas a infertilidade, mas também de todos os conflitos gerados na vivência e no investimento emocional, diante da gestação tanto desejada WARHUS (2007).

Dentro do processo psicoterapêutico, observa-se que o sujeito expõe seu problema, suas dores, ansiedade e duvidas. Assim a mulher, infértil ou estéril, expõe metaforicamente seu útero, este que é considerado pela cultura e religião como algo sagrado, é o que lhe confere o poder de gerar a vida, ser diferente e sentir-se superior ao masculino, responsável pela continuação da espécie. Esta exposição seja nos centros de tratamento de infertilidade ou no setting terapêutico é sempre coberto de significados e sentidos, que transpassam a mulher, tocando no ponto que lhe é mais forte e ao mesmo tempo mais sensível.

Nota-se que esta exposição vista de uma forma holística, onde qualquer desequilíbrio dentro do organismo biológico e mental, será gerador de disfunções que abalam e comprometem o desempenho e desenvolvimento deste organismo. Assim, uma mulher, mesmo que não deseje a gestação, mas tendo seu órgão reprodutor, uma indisposição para gerar vida, indispõe também para um desenvolvimento equilibrado da psique.

A valorização da procriação, principalmente em função de uma necessidade intrínseca à mulher, já é antiga. Muitos povos, desde a Antigüidade, valorizavam e enalteciam as mulheres que eram capazes de reproduzir, enquanto as inférteis eram excluídas e a infertilidade era vista como um castigo (BERLOT, 2004, p. 64).

 

Outro contraponto, de muito importância, é em relação a mulheres e casais que não adquiriram a “cura” frente a infertilidade, voltando-se para a opção de adoção, onde enfrentaram outros processo de exposição e fragilização frente aos burocráticos sistemas envolvidos na adoção SANDELOWSKI (1993). O corredor de espera para efetivação da adoção, torna-se de igual ansiedade  e estresse, em comparação as mulheres na gestação.

Observa-se que o desenvolvimento da sublimação dos sentimentos e afetos, perante uma criança de origem genética diferente, mas que optou-se na construção dos significados de  maternidade e paternidade.

As desventuras e inquietações geradas na aplicação da criação moral e educacional da prole, seguem com freqüência tendenciosa a causas de incompatibilidade consangüínea. Logo o aconselhamento psicoterâpico poderá ser direcionado nesta vertente, na condição de prevenção, e o fortalecimento das novas identidades e responsabilidades. SANDELOWSKI (1993).

Atitudes de casais e mulheres que optaram pela adoção, mesmo sem diagnostico de esterilidade ou infertilidade, denunciam formas bem diferentes de significar a propagação da espécie, ou mesmo os valores intrínsecos nos vínculos pais-filhos, filhos-pais (VOLICH, 2007, p. 22).

Além disso, uma combinação de fatores relacionados com as profundas mudanças sócio-econômicas provocada pela industrialização, urbanização e modernização contribuiu para uma ênfase a partir da qualidade de vida mais do que na quantidade de crianças e para o surgimento de um novo papel da família para as mulheres que responsabilizavam-se em tomar decisões sobre quantas crianças teriam. (VOLICH, 2007, p. 26) Assim, temos o confronto de duas forças antagônicas, a do desejo de procriar e o controle desta procriação imposto pelas mudanças sociais. Um casal que possuía numerosa quantidade de filhos era vista antigamente como uma família virtuosa e prospera, atualmente esta visão modificou-se, devido as novas perspectivas e novos conceitos de qualidade de vida.

 

 


6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Observa-se que independente das mudanças sócio cultural e econômico, o organismo evolutivo da espécie humana continua a utilizar o mais básico meio de continuidade da espécie – a Reprodução. Onde a ciência já descobriu muito a estudar o DNA, mas continua escassos estudos sobre a mente e a psique. Apesar de já conceber a importância da relação corpo e mente. Definindo um processo complexo na formação e desenvolvimento da pisque relacionada no sistema reprodutivo.

            Inumemos tratamentos contra a infertilidade, mas tem-se visto sobre as questões psíquicas entrelaçadas neste contingente de aços multiprofissional.

Noções de envolvimento familiar, social e econômicos estão bastante interligados. Quaisquer umas dessas variáveis interferem em todo processo de gestação.  Em relação as variáveis de nível subjetivo aos poucos estão sendo utilizadas e estruturadas, um novo universo de relações e interações abrem na direção de uma psicoterapia satisfatória.

Outras características que pode-se evidenciar são as questões vivenciadas pela mulher na luta por sua emancipação, onde nesta luta foram defrontados muitos sacrifícios, entre eles o comprometimento da procriação, num sentido mais profundo o processo de gerar e educar. Pode-se observar a dificuldade inserida no ato de gerar, ficando inevitavelmente as questões de cuidado e educação da prole comprometida.

Com uma visão do organismo dinâmico da vida do homem atual, pode-se avaliar as mudanças ocasionadas nas novas medidas e valores da mulher, alterando e influenciando a vida do ser humano desde de sua concepção.

A mudança de atividade passiva para ativa da mulher, acarretou no decorres dos últimos anos, muitas cicatrizes e fissuras na psique feminina. Trabalhar com enfoques terapêuticos dentro do universo feminino e reprodutor, rever todo o conhecimento biográfico e ontológico.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

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MENDONÇA, Lucy Ker de. A Esterilidade Feminina. 1.ed. São Paulo: Gráfica Rochedo, 1988.

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