INTRODUÇÃO

O processo de transporte de produtos da cadeia de hortifrúti movimenta bilhões durante o ano e é gerador de inúmeras percas. Percas estas que atingem 50% do que é produzido. Desta maneira é interessante a criação de processos que minimizem esta perda fazendo com que alimentos que poderiam ser utilizados no combate contra a fome não acabem aumentando a quantidade de lixo que é produzida diariamente e que torna-se um problema.

 

  Resumo

 Por se tratar de um enorme país, o Brasil apresenta diferentes condições de solo nas quais deferentes tipos de produtos podem ser produzidos em diferentes regiões. Para apresentar uma alimentação balanceada faz-se necessária uma vasta quantidade de tipos de produtos alimentícios. É neste momento que se faz necessário o transporte entre regiões destes alimentos. Por se tratar de produtos de alta perecividade, uma grande quantidade de produtos torna-se inútil ao consumo simplesmente pelo fato de não serem transportados e manuseados de forma adequada dentro do sistema logístico. Esta perca é prejudicial tanto ao sistema de alimentação nacional quanto a economia, pois representam valores muito expressivos representando uma fatia considerável do PIB. Além disso é apresentado um pequeno panorama de como é feito a distribuição na região norte do estado do Tocantins com dois exemplos práticos.

PALAVRAS CHAVE: Alimentos. Consumo. Logística. Perca. Regionalidade.

 

  Processo de acondicionamento e transporte de hortifruti

Importância nacional dos produtos de hortifruti

O Brasil é um país de dimensões continentais, neste é possível identificar os mais variados climas, bem como a capacidade produtiva e adequação do solo para os mais variados tipos de cultura. Cada região apresenta uma potencialidade para produzir certos tipos de produtos alimentícios sendo estes cereais, legumes, verduras e frutas. Desta forma é necessário uma distribuição a outras regiões para suprir todas as necessidades e demanda alimentícias dos indivíduos que nela se encontram. Para isso, um funcionamento de um sistema logístico adequado pode fazer com que estas frutas cruzem estas regiões de uma forma rápida e eficiente para que o produto chegue em perfeitas condições no local adequado.

De acordo com o IBRAF (2006) o Brasil encontra-se na terceira posição na produção de frutas do mundo, tendo uma produção anual acima de 38 milhões de toneladas anuais, empregando 27% da mão de obra agrícola. No entanto somente 1% desta produção é exportada.

Assim, a maioria desta vasta produção de frutas é voltada para o mercado interno, abastecendo assim o próprio país. Contudo é importante destacar que em alguns casos este consumo não é feito em cidades próximas a região produtora, mesmo existindo o grande consumo próximo, cabe assim a necessidade de um uso extenso de meios de distribuição entre regiões distantes.

O comércio de frutas brasileiras movimenta 5,8 bilhões de dólares, sem incluir as castanha, nozes e produtos processados. Com estes esta marca pode chegara a 12,2 bilhões de dólares. A área agrícola total utilizada a prática da fruticultura é de incríveis 2,5 milhões de hectares. Estes produtos podem ter médio e alto valor agregado. (IBRAF, 2006)

Um outro seguimento que possui uma fatia expressiva de mercado e que também tem um grande potencial econômico é o das hortaliças, que apresentam características muito semelhantes ao das frutas.

De acordo com a EMBRAPA (2005) a produção de hortaliças atingiu a marca de R$ 11,4 bilhões representando 2,1% do PIB – Agronegócio.  Seguindo caminho contrário a área de cultivo diminuiu 5% totalizando 785,2 mil hectares e tendo uma produção total de 17,4 milhões de toneladas de produtos cultivados.

Dentre esta produção é importante destacar que existe uma certa centralização da produção na região sul e sudeste, chegando até 75%.

Considerando os grupos de hortaliças e frutas, na região Sul existe a maior quantidade per capita adquirida por (39 kg e 31 kg, respectivamente). A região Norte apresentou a menor aquisição per capita de hortaliças, apenas 20kg, bem abaixo da média nacional que é de 29 kg e das regiões Sudeste o número é um pouco maior 32kg, Centro-Oeste apresentou 23kg e Nordeste 22kg.  Quanto às frutas, o menor consumo foi da região Centro-Oeste 17 kg, seguido de perto pela região Norte com 18 kg per capita. (IBGE 2003).

Analisando os dados apresentados pelo IBGE, as regiões produtoras conseguem ter um consumo per capita superior as demais pelo fato de terem o produto de uma forma mais barata, pois os custos logísticos são menores. Além disso existe a divulgação e conscientização nas regiões sul e sudeste para o uso de alimentos mais saudáveis.

O grupo de alimentos tidos como vegetarianos recebe a nomenclatura de FLV, que significa: Frutas Legumes e Verduras. Este setor sofre influência direta do poder do mercado de Grande Distribuição como, hipermercados, refeições coletivas, fast-food, etc. Onde o produtor passar a buscar novos meios de produção e comercialização destes produtos, voltando cada vez mais às questões ligadas à qualidade e à segmentação do produto. Os atacadistas perderam seu lugar nas negociações para agentes, tendo estes apoio nas novas tecnologias de informática e telecomunicações. (BELIK, CHAIM).

Contudo, o que merece destaque dentro do tema abordado é a dificuldade de escoamento dos produtos da região produtora até a mesa do consumidor final. Todo este trajeto necessita-se de práticas adequadas para que o produto chegue às prateleiras com uma longevidade que admita práticas de negociação adequadas.

Segundo Machado (2002) “A infra-estrutura de apoio é precária, não contanto com número suficiente de câmaras frias e apresentando todas as estruturas logísticas (estradas, armazéns, entre outros) mal cuidadas e obsoletas”. Principalmente se comparado ao sistema de distribuição holandês descrito em seu trabalho.

 

Histórico da comercialização

 

Esta precariedade na estrutura de transporte e apoio deve-se essencialmente a formação histórica do comercio de hortifrúti dentro do cenário mundial aliado ao baixo poder de compra do consumidor, não podendo pagar um valor adequado para satisfazer a atualização do sistema logístico. A questão é que o custo logístico também é muito caro e existem regiões muito distantes, deste modo o frete faz com que o custo final do produto se expanda.

O sistema de comércio de hortifrúti, em tempos primórdios era simples. O produtor levava seus produtos para uma feira e os vendia para o consumidor, desta forma existia um contato direto entre produtor e consumidor que muitas vezes tinham certa relação de amizade. Este sistema funcionava de forma ordenada e com produtos sempre novos, o problema dele é que a variedade de produtos era um pouco escassa por causa da regionalidade do plantio.

A dieta da família anteriormente era composta por produtos “in natura” ou semi-processados, que antes eram adquiridos em mercearias, quitandas e feiras-livres. Por uma questão social, as mulheres, até o fim da década de 60 tinham uma presença reduzida no mercado de trabalho. Desta forma o homem era o único responsável pelo orçamento doméstico. Assim, a figura da dona-de-casa era quase que unanime na maioria dos lares, estas eram responsáveis pelas compras do dia-a-dia mantendo as formas tradicionais de comercialização. (Goodman & Redclift, 1990).

 

Processo de transporte

 

O processo de transporte de produtos de hortifrúti pode ser hoje identificado de forma homogênea. Concentrando-se na figura dos CEASAs, como exemplificado na figura I em anexo, sendo depois distribuído para as demais cadeias de produção. No entanto, os CEASAs não conseguem atender toda a uma política adequada.

O sistema atual de comercialização, baseado nas Centrais Estaduais de Abastecimento (CEASAs), não tem capacidade de transmitir eficientemente informações sobre preços, condições de mercado, consumo e qualidade. Observa-se que o setor público não conseguiu definir padrões e classificações na cadeia produtiva de FLV, prejudicando o desenvolvimento do setor. Apesar do padrão público existir, o formato atual não consegue atender às necessidades dos agentes privados da cadeia e, na maioria  dos casos, dificulta a realização da transação. (MACHADO, 2002).

Em casos de estados como Amapá, Roraima, Amazonas, Tocantins, Mato Grosso e Acre que não dispõe de uma CEASA, os produtos que não são produzidos dentro do estado, são entregues por atacados e distribuidores de verduras de outras regiões.

Cabe ainda destacar que nem toda venda de produtos de hortifrúti são feitas através da utilização do CEASA local, existem as vendas do produtor diretamente para o atacadista ou distribuidor ou mesmo a venda direta entre produtos como era feita em tempos primórdios, esta ultima feita em menor quantidade. Então é importante demonstrar que o transporte é feito da origem, sendo entregue a um atravessador seguindo até o ponto de encontro da venda.

Franco (2011) destaca que a falta de técnicas é uma das principais dificuldades dos produtores brasileiros, a maioria destas técnicas está ligada ao manuseio, transporte e estocagem de alimentos perecíveis. Além disso, a especialização dos trabalhadores para a colheita é um mal existente para o acondicionamento dos produtos. Gerando assim uma quantidade extra de perca nos alimentos.

Ainda de acordo com Franco (2011) a maioria dos armazéns, e almoxarifados no Brasil que fazem operações com alimentos perecíveis não consegue manter um padrão de estocagem correta, suas instalações são antigas e dependem de uma qualificação na distribuição, onde a logística entra como suporte para o crescimento do mercado que está cada vez mais exigente.

Esta cadeia produtiva pode ser identificada através da figura 2 em anexo, esta mostra a importância dos CEASAs, distribuidores, produtores até o consumidor final, demonstrando todo o processo envolvido. Deste modo muitas vezes o consumidor não tem conhecimento da origem certa do produto, nem o que ocorreu com relação ao transporte até o local da compra.

A partir de então se fez necessário um maior controle sobre os bens que fossem comercializados, o sistema de distribuição passou a fazer uso de técnicas já consagradas pela economia industrial. O crescimento das centrais de compra e distribuição existentes nos países desenvolvidos está ligado de forma direta com a aplicação do uso de estoques mínimos e uma produção flexível utilizada nas indústrias em meados dos anos 60. (Ohno, 1989 in BELIK, CHAIM)

 

O sucesso destas novas técnicas na logística e distribuição de mercadorias incentivou o seu aperfeiçoamento para sua adaptação a situações extremas, como é o caso de alimentos frescos com alta perecibilidade. No Brasil, a introdução do sistema de CC - Centrais de Compras e CD - Centrais de Distribuição, vem se processando desde meados dos anos 80, substituindo gradativamente os sistemas de integração com fornecedores ou mesmo o obsoleto sistema de compras nos entrepostos montados pelo governo. (BELIK, CHAIM).

 

Contudo a implantação dessas técnicas resultou em uma melhoria dos processos, que minimizaram as percas, no entanto é necessário entender que estas não conseguiram atingir um patamar mínimo de deterioração do produto no decorrer da cadeia produtiva.

De acordo com a Embrapa (2010), o Brasil desperdiça anualmente um total de R$ 4 bilhões, no que diz respeito à produção e distribuição de frutas, legumes e verduras. A principal causa desta perca está relacionada a embalagens irregulares, excesso de manuseio e um transporta completamente inadequado.

A Embrapa destaca ainda que de cada 100 quilos de frutas que são produzidas no país, cerca de 50 kg são desperdiçadas. Ocorrendo uma perca diária aproximada de 15 toneladas de alimentos, que acabam sendo encaminhadas para o lixo em grandes centros de consumo e distribuição das quais só uma é desperdiçada quando chega ao consumidor final.

Desta forma é interessante destacar que o problema evidente neste sistema logístico está no manuseio e transporte dos produtos, uma mudança radical tanto no que se diz respeito a embalagem e refrigeração do transporte destas é fundamental para a redução destas percas.

SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO NO TOCANTINS

Por não apresentar um centro estadual de distribuição estadual (CEASA), o estado do Tocantins conta principalmente com a distribuição feita principalmente por distribuidores independentes que compram seus produtos em outras regiões, pois a maioria dos produtos vendidos vem de outros estados.

A principal origem dos produtos de hortifrúti do estado tocantinense vem do CEASA-GO e é a este que está subentendido, no entanto mesmo que uma grande parte da produção vem de cidades goianas, certa quantidade vem dos estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais e outros.

Destaca-se neste quadro a produção de tomates em Goianápolis-GO, que é principal fornecedora do mercado Tocantinense.

Duas empresas do norte tocantinense foram consultadas pra exemplificar como funciona este sistema de distribuição na prática: Distribuidora Soares de Ananás-TO e Supermercado Pag Menos de Araguaína-TO.

A Distribuidora Soares faz carregamentos semanais de 14 toneladas de produtos de hortifrúti através de caminhão próprio do tipo carga seca (não refrigerado) originários de outras distribuidoras de Anápolis-GO: Distribuidora Anápolis, Sacolão Frutos da Terra, entre outras, estas fazem a compra de produtores próximos e de distribuidores de outros estados, fazendo com que o valor do produto tenha certa sobrecarrega de preços.

O Supermercado Pag Menos utiliza certas distribuidoras para atender a sua demanda, dentre elas destaca-se a Rota Verde que traz produtos de vários outros estados até a região de Araguaína. Este já recebe o produto no estabelecimento, não tendo nenhum conhecimento sobre o que diz respeito a transporte e armazenamento, só existe a barganha de preços entre as duas partes e o produto é colocado nas prateleiras.

 CONCLUSÃO

 

Com a análise dos dados apresentados no trabalho pode-se concluir que uma melhoria no sistema logístico e não só de transporte faz-se necessária para evitar percas que podem ser revertidas em um capital que poderá dar mais gás a economia brasileira. Também são necessários investimentos governamentais para a conservação e atualização (duplicação e melhoria) de vias para que este sistema possa atuar de maneira mais eficiente, sem comprometer a carga que é sensível.