PRINCÍPIOS E CAUSAS  DA  CONDUTA  HUMANA 

Confessa-me um amigo, grande simpatizante do Espiritismo, estar muito decepcionado com pessoas ingratas e não merecedoras do que tem buscado fazer por elas. Alega, em suas palavras mesmas, a mim dirigidas por Email, que: 

“Tenho vindo a sofrer com gestos, atitudes e comportamentos de pessoas a quem tenho feito tanto bem, a quem me tenho afeiçoado de alma e coração e que infelizmente me retribuem muitas vezes com descaso, desconsideração, e até, me parece, com alguma rejeição”.

Com efeito, quando o amigo me comunicara dita decepção, este modesto articulista também estava experienciando algo muito semelhante com pessoa ingrata que, em retribuição, expendia desprezo, atitudes estranhas, egoísticas e opostas ao amor e ao bem. Em meu caso, especificamente, mais me parece uma dívida, pois quanto mais insistia e insisto em beneficiá-la, mais recolho desprezo da pessoa alheia, astuciosa, dissimulada. Parece uma expiação, ou seja, um meu resgate pessoal, já próximo do fim, e, quando chegar a hora, como já vem se verificando, tal pessoa será afastada de meu convívio, porquanto venci e superei o passado expiatório e novos degraus do progresso espiritual estarei a palmilhar doravante, com as muitas bênçãos provenientes do Mestre Nazareno. 

No meu caso confesso que eu já antevira tal situação, que algo de perverso estava por vir, quando o destino me aproximara de tal pessoa; mas mesmo assim me mantive firme na atitude de amor e de caridade para com o próximo consoante luminosidades das máximas cristãs. Todavia, no que refere às alegações daquele nosso amigo, inicialmente citado, com problemas da ingratidão alheia, tal como raio de luz a me clarear os raciocínios e o coração, recordei-me da notável sentença espiritista de um Guia Protetor, ensinando magistralmente que: 

“Deus permite que sejais pagos, por vezes, com a ingratidão, para experimentar a vossa perseverança em fazer o bem”.

E, com tal medida celestial, e também cristã, busquei orientar da melhor forma possível o nosso amigo que, de pronto, nos agradecera pela atitude; que, por sinal, não fora exatamente minha, pois que este humilde e pequeno articulista não passara de um mero instrumento das mensagens divinas que promanam do Magnânimo Evangelho. Todavia, tomando um pouco mais do vosso precioso tempo, daquele que nos estuda e nos lê, que tal registrarmos a mensagem integral daquele Guia Protetor. A mesma está inserida na obra central do Pentateuco Espírita, ou seja, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Allan Kardec – 1864 - Ide), no capítulo treze: “Que a Vossa Mão Esquerda Não Saiba o Que Dá a Vossa Mão Direita”, quando, concomitantemente, ver-se-á como a palavra emanada dos elevados amigos espirituais são perenes e promanam realmente de altas fontes: dos mananciais sublimes e imorredouros do Mestre Nazareno: 

Pergunta: 

“Que pensar das pessoas que tendo seus benefícios sido pagos com a ingratidão, não fazem mais o bem com medo de reencontrar ingratos?”. 

Resposta: 

“Essas pessoas têm mais de egoísmo do que de caridade, porque não fazer o bem senão para dele receber sinais de reconhecimento, é não fazê-lo com desinteresse, e o benefício desinteressado é o único agradável a Deus. Também são orgulhosas porque se comprazem na humildade do beneficiado que vem depositar reconhecimento aos seus pés. Aquele que procura na Terra a recompensa do bem que faz, não a receberá no Céu; mas Deus terá em conta aquele que não a procura na Terra. 

“É preciso sempre ajudar os fracos, mesmo sabendo de antemão que aqueles a quem se faz o bem não estarão satisfeitos. Sabei que se aquele a quem prestais serviço esquece o benefício, Deus vo-lo terá mais em conta do que se estivésseis já recompensados pelo reconhecimento do beneficiário.

“Deus permite que sejais pagos, por vezes, com a ingratidão, para experimentar a vossa perseverança em fazer o bem. 

“E sabeis, aliás, se esse benefício, esquecido no momento não dará mais tarde bons frutos? Estais certos, ao contrário, de que é uma semente que germinará com o tempo. Infelizmente, não vedes sempre senão o presente; trabalhais para vós, não tendo em vista os outros. 

“Os benefícios acabam por abrandar os corações mais endurecidos; eles podem ser menosprezados nesse mundo, mas quando o Espírito se desembaraçar de seu envoltório carnal, lembrar-se-á, e essa lembrança será o seu castigo; então, lamentará a sua ingratidão e quererá reparar sua falta, pagar sua dívida noutra existência, freqüentemente, aceitando mesmo uma vida de devotamento para com o seu benfeitor. É assim que sem disso suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral, e reconhecereis, mais tarde, toda a verdade desta máxima: 

“Um benefício jamais se perde. 

“Mas tereis também trabalhado para vós, porque tereis o mérito de haver feito o bem com desinteresse, e sem vos deixar desencorajar pelas decepções. 

“Ah! Meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que, na vida presente, vos ligam a vossas existências anteriores; se pudésseis abarcar a multidão das relações que aproximam os seres uns dos outros para o progresso mútuo, admiraríeis bem mais ainda a Sabedoria e a Bondade do Criador, que vos permite reviver para chegar até Ele”. (Mensagem intitulada: “Benefícios Pagos Com a Ingratidão” - Opus Cit.). 

Eis aí, pois, problemas que só a dilatada e luminosa Filosofia Espírita poderia resolver, revelando-nos a todos que já vivemos outras vidas, nos entrosamos preteritamente com outros seres, outros homens, nossos irmãos espirituais, para o nosso “progresso mútuo” no vasto campo da afetividade e da intelectualidade.

Óbvio que todas as áreas do conhecimento humano muito estarão e, já estão, se enriquecendo com os postulados e ensinamentos espiritistas, sejam elas da Filosofia e da Moral, da Antropologia e da Sociologia, da Medicina e da Biologia, e, mais notadamente ainda, da Psicologia que, desde já, acena com a Psicologia Transpessoal buscando compreender o ser humano como um indivíduo completo, palingenésico e transcendental, sendo este, portanto, o Ser principal, imorredouro, que já plasmara, habitara e comandara outros corpos, com experienciações e relacionamentos os mais diversificados, consolidando afetos e desafetos, guerreando contra o próximo e contra si mesmo, no rosário imenso das vidas transcorridas, e de muitas outras que certamente sobrevirão para a sua maturidade e engrandecimento espiritual, até libertar-se das amarras do Complexo Fenomênico Involutivo-Evolutivo que o arrastara para tais contingências, renovando-lhe e ampliando-lhe as noções de responsabilidade pessoal, preparando-o para as glórias de uma vida infindável no seio do Deus-Pai: Justo, Sábio e Amoroso Criador.

 

Destaca-se, assim, que os princípios e causas do comportamento humano estão dentro de nós mesmos, na centelha anímica imorredoura, que encerra o livre arbítrio de suas ações, mas também linhas e diretrizes várias da causalidade, do determinismo das coisas que parecem distanciar-se longamente na noite dos tempos que se transcorreram, encerrando, substancialmente, o paradoxal conceito de que estão presentes, vivos e atuantes em nosso psiquismo de profundidade que se revela no imediatismo de nossa existência, na contemporaneidade de nossas ações, onde o dinamismo intrínseco da Lei trabalha, opera e atua conduzindo-nos de retorno à harmonia regente na Ordem Universal.

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocinio

E.mail: [email protected]

Blog: fernandorpatrocinio.blogspot.com.br