A história do vereador montemorense Alexandre Pereira dos Santos (PR) começa bem longe da política. Diferente de grande parte de seus pares, Alexandre não foi criado em uma família de barões, acostumada ao poder e de grande influência política. É verdade que isto não o faz uma exceção, afinal não é mais novidade alguém do povo chegar ao poder e representar sua classe no parlamento. O que faz Alexandre ser diferente é a sua formação no rap, ritmo cada vez mais popular, mas ainda marginalizado por boa parte da sociedade. Pobre no poder, pode! Mas e um rapper? Alexandre mostrou que isto é possível. Um cantor de rap também pode ter um lugar na política.

As músicas de seu grupo – Outra face – falam de problemas como a violência, a desigualdade social e o preconceito, mas falam também de esperança, de liberdade de expressão, de educação e de fé. Ou seja, a música é tratada como forma de conscientização e de transformação social e isso não é só discurso do grupo, é ideologia.

Com o tempo, Alexandre percebeu que poderia agir de outra forma além da música e de uma maneira ainda mais efetiva e abrangente. Decidiu levar seus versos para a Câmara Municipal e transformá-los em projetos de Lei, requerimentos, indicações e ofícios. A percepção de que poderia realizar na política o que idealizava nas músicas só veio em 2004, quando disputou sua primeira eleição para vereador. “Comecei a perceber que falávamos de política e aos poucos fomos percebendo que para fazer uma festa, uma campanha de solidariedade, tudo dependia de política e não tínhamos ninguém que defendesse nossos interesses, nosso povo, nossa comunidade e nossos jovens”, conta o vereador rapper.

A militância no rap, porém, remete aos anos 80. Aos 8 anos começou a ouvir rap influenciado pelo padrinho. Na época, tinha um toca disco garrard. Nele, ouvia “Pepeu”, “Thayde e Dj Hum” e álbuns clássicos como “Corpo Fechado” e “Coletânea Som das Ruas”. Ainda criança integrou um grupo de Break formado por amigos chamado “The power DMC Dance”. Em 1990, aos 11 anos, formou outro grupo, o “Public Rappers”, que mais tarde se tornaria o “Direto do Guetto”, onde já compunha músicas contra a violência e a desigualdade social.

Em 2001, o “Direto do Guetto” lançou o álbum “+ 1 guerreiro” com 11 faixas. No mesmo ano, Alexandre Santos participou da coletânea “Fábrica da Vida”, do poeta Genival Oliveira Gonçalves, o GOG. Em 2004, Alexandre resolveu unir o “Direto do Guetto” com o grupo “A Outra Face”, do seu amigo César Rasec, com quem já realizava trabalhos sociais como: campanha do agasalho, campanha contra as drogas, de educação sexual e doação de cestas básicas e preservativos.

Da junção dos dois grupos surgiu o “Outra Face”. Em 2006, o novo grupo já lançava seu primeiro CD, “A Esperança é um livro”, com a participação de Demis, do grupo “A Família”, nas letras das canções “Conflitos” e “África”, está última interpretada por Gato Preto.

Nesta época, a política já fazia parte da vida de Alexandre Santos. Em 2008, ele foi o sexto candidato mais votado para vereador, mas não se elegeu porque o seu partido, o PL (Partido Liberal), não atingiu o quociente eleitoral. Em 2008, ele repetiu o desempenho pelo PR (Partido da República) e foi eleito com 534 votos (2,07% dos votos válidos).

Na Câmara, seu primeiro projeto de Lei criou a Semana do Hip Hop em Monte Mor, que será comemorado todos os anos na semana do dia 21 de março – Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Social. “O rap foi a minha escola e o Hip Hop a faculdade que me proporcionou o contato com a vida real, com as dificuldades e os obstáculos, mas sempre consciente, persistente e batalhador. Me orgulho de ser o representante do Hip Hop na Câmara Municipal”, afirma Alexandre Santos.

O vereador, no entanto, não é um vereador do Hip Hop, mas sim de toda Monte Mor (Município do Estado de São Paulo). Entre seus projetos estão: o limite máximo de 15 minutos para permanência em filas de bancos e o atendimento preferencial a doadores de sangue, além de dezenas de indicações e intermediações por melhorias à comunidade, principalmente aos mais carentes.

O grupo Outra Face

Para o grupo Outra Face, que tem quatro integrantes fixos (César Araújo, Alexandre Santos, Candango e DJ Panico), estilo é ser abrangente, conseguir chegar aos mais diversos públicos com um mesmo trabalho. Sob essa partitura de trabalho, o grupo lança seu primeiro CD, que leva o título de "A Esperança é um livro".

O CD apresenta 13 faixas. "O disco é um resumo entre mais de 50 composições ao longo de 10 anos. Selecionamos essas musicas de acordo com a proposta do Outra Face, que hoje está voltada para um lado bem musicalizado", diz César.

"Sem duvidas o grande momento desse trabalho foi a participação do Gato Preto - do grupo 'A Família' - na musica África. Foi um grande aprendizado ter um grande nome da musica brasileira ao nosso lado", afirma Candango.

"No Outra Face todo mundo tem brilho próprio. Carregamos sonhos desde garotos e esse sonho não mudou. O que muda é a forma com que as pessoas enxergam esse sonho e quantas pessoas passam a acreditar nesse sonho junto a nós", diz o vocalista Alexandre.