Crônica

    PRESERVAÇÃO AMBIENTAL, UM OLHAR DE ESPERANÇA   

                   

                                                                         Edevaldo Leal

                    

                                          Nunca vi a senhora Patrícia Sales, nem sabia de sua existência. O que fazia ela naquele bosque? Paralisada por um susto? A mim me pareceu contemplar a esperança. Foi uma fotografia de Frederico Mendonça, publicada no jornal, que me revelou o que a notícia não diz sobre Patrícia. Entendam: ela não posou para o repórter, nem pretendeu fazê-lo,  respeitável senhora com motivos mais sérios para expor em público: a preservação ambiental. Trata-se de   foto jornalística em que o fotógrafo registrou o gesto espontâneo ,a emoção do instante e o olhar de Patrícia, um olhar de esperança.

                                          O repórter fotográfico é o profissional que traduz em imagens o que as palavras ,às vezes, não  são capazes de revelar. E, dependendo de sua sensibilidade e arte, a fotografia adquire alma e voz. É quando substitui a palavra.

                                          Só  conheço a senhora Patrícia Sales    por  uma referência solta no texto e pela já referida   fotografia, que me dão a certeza de seu olhar atento à  anunciada devastação daquele  bosque particular localizado no centro de Belém. Felizmente, ela não está só. Patrícia faz parte de uma comissão que defende a preservação do Bosque Camillo Viana. Localizado entre a José Malcher e  a  Magalhães Barata, essa cobertura vegetal, que pertence à Feij – Federação Educacional Infanto Juvenil – , poderá ser derrubada para dar lugar à construção de uma quadra de tênis. Árvores em extinção ,como o mogno , o cedro, o pau d’arco e o pau – brasil  ainda não foram derrubadas , graças à ação de outra mulher ,Vitória do Carmo , uma juíza que acionou o Ministério Público  para requerer o tombamento do espaço ecológico.

                                           Por que não combater a derrubada de árvores na Amazônia com o mesmo empenho com que se combate o tráfico de drogas?  A devastação da Amazônia não só abre clareiras na mata, que não se recupera, como alimenta um comércio, cujo produto  é  comprado por matadores de aluguel: a vida de posseiros e de pequenos proprietários rurais, que resistem à ação de madeireiros ilegais, visíveis , mas, muitas vezes,  protegidos pela omissão do Estado.     

                                        A devastação ambiental pela derrubada de árvores  não ameaça apenas a fauna , a flora e o ar que respiramos. De tão  habitual, ameaça- nos a capacidade de se indignar  e espanca a nossa sensatez. Não à toa fomos expulsos do paraíso. Não o merecíamos.

                                        “Patrícia Sales integra grupo que luta para evitar  a extinção  da área verde na Feij “ , diz a legenda da foto tirada no meio do bosque. O olhar distante e esperançoso de  Patrícia, registrado  pelas lentes de Frederico Mendonça, na foto que ilustra o texto, diz mais do que mil palavras. 

                                          Minha esperança, como a de Patrícia, é a de que o bosque seja preservado  e a foto, apenas a lembrança de um susto que passou.

                                                                8 de fevereiro de 2013.