Assim como tantos outros, o preconceito lingüístico está presente no meio social muito mais do que possamos imaginar, e só não é percebido mais facilmente, porque ele muitas vezes acontece de maneira velada, mas, a grande questão é que, quando manifestado, pode se tornar um meio de exclusão.
Alguns dias atrás, ao assistir um programa de televisão, cujo enfoque principal era "como se vestir corretamente, respeitando sua anatomia", pude perceber, por parte da dupla de apresentadores, um enorme interesse em demonstrar e transmitir seus conhecimentos sobre moda, uma vez que, ambos estão altamente capacitados para a tarefa.
Até aí tudo bem! Esse é apenas mais um entre tantos programas que propõem uma transformação visual àqueles que se candidatam (na sua maioria mulheres) para esse feito e que por sinal são muito concorridos. A entrevista com a candidata seguia tranquilamente até que a mesma pronunciou uma palavra de maneira equivocada! Pronto! Bastou para que os apresentadores se prendessem a esse fato e fizessem dele um grande acontecimento.
A partir desse momento deixei de prestar atenção nas "valiosas" dicas dadas por eles e só conseguia enxergar os excessos cometidos pelos dois, já que cada vez que a moça repetia a tal pronúncia (e foram muitas), ambos faziam gestos caricatos, tentando serem engraçados ao demonstrarem o descontentamento com a conversa. Nesse momento me dei conta de que muitas vezes somos irresponsáveis no trato com as pessoas... Embora possa parecer apenas uma brincadeira, essa é sim, uma atitude preconceituosa. O que acontece é que sem termos consciência de que podemos estar cometendo um erro, tratamos o assunto com deboche desconsiderando fatores que levam à diversidade na fala. Tal atitude em alguns casos pose provocar em nosso interlocutor, constrangimento entre outras coisas. O mais adequado nessa situação é muito simples: respeitar as diferenças, já que se trata de uma conversa informal e não uma aula de língua portuguesa .
Nossa língua é dinâmica, repleta de gírias e dialetos regionais, fatos que propiciam uma amplidão de possibilidades de fala. Portanto não existem bonito ou feio, certo ou errado, existem sim, maneiras diferentes de se expressar, mas que acima de tudo cumprem a função primordial da língua, que é a comunicação.