Preconceito contra conceitos

 Certa vez, ainda na faculdade, fui fazer uma reportagem na Praça da Sé, em Salvador, sobre prostituição. Com o endereço em mãos, estava procurando a Associação das Prostitutas da Bahia (APROSBA). Chegando na praça, perguntei a um vendedor ambulante onde ficava a Associação das Prostitutas da Bahia nessa área.

 

 O mesmo fez uma cara de espanto e me disse: “Associação das Prostitutas da Bahia? Tem certeza que o nome é esse? Rapaz, eu acho esse nome muito pesado: “prostituta”. E repetiu: Tem certeza que o nome é esse? Então eu lhe disse: Sim, é este o nome, é assim que está no catálogo de endereços na internet.

 Na mesma hora apareceu uma senhora, que ao ouvir a nossa conversa me falou que sabia desse endereço e que a mesma era prostituta. Eu nem precisei ir lá, porque ali mesmo eu já aproveitei pra entrevistar esta senhora. Falei pra o rapaz que não se tratava de preconceito, apenas é o nome que se dá a essa profissão, sendo que as próprias prostitutas deram o nome de sua profissão a associação.

 Seguindo outros exemplos, já tive colegas que diziam: Eu não sou negro, eu sou moreno. E eu disse. Então tá, se você é moreno eu sou nórdico, tenho olhos azuis e a minha pele é mais alva que as nuvens. Afinal, qual o problema de afirmar a cor da pele, a opção sexual ou profissão? E pasmen, isso na Bahia, a cidade com a maioria de sua população constituída por afro descendentes.

 Recentemente, o clipe de uma música de Alexandre Pires, em que ele aparece fantasiado de King Kong, juntamente com Neymar e Mr. Catra na beira de uma piscina, foi criticada e até processada por movimentos negros, por segundo eles, fazer apologia ao racismo. O argumento utilizado foi de que historicamente o negro sempre foi associado ao macaco. Mas a música em nenhum momento fala dessa associação de negro e macaco. Não vi nada de racismo no clipe e nem na canção. Quer dizer que se eu tiver um filho e ele estiver brincando com outro amiguinho negro numa árvore e eu disser: Meninos desçam daí, vocês estão parecendo dois macaquinhos. Houve racismo nessa brincadeira? Houve má intençao nisso? Claro que não. Se eles estavam numa árvore, eu não poderia dizer que eles estavam parecendo dois cachorrinhos, até porque cachorros não sobem em árvore. Deve-se interpretar a intenção antes de julgar. Nem tudo é racismo.

 Voltando o assunto da prostituição. Já assistir diversos programas de televisão, em que prostitutas ao serem entrevistadas, diziam que eram garotas de programa, acompanhantes, damas de honra, atrizes de Hollywood, mas o termo prostituta era negado com veemência.

Ora, qual o problema em ser prostituta, negro, baiano boliviano, sunita, xiita? Por que negar quem realmente somos? Por que ver preconceito por aquilo que se é ou por aquilo que se faz? Será que o preconceito não está muito mais em nós, vendo preconceito em tudo?

 Da mesma forma que tem gays que não gostam de serem chamados de gays, homossexuais, sei lá. Mas, se os termos existem, eles servem pra designar pessoas, profissões, opções, situações e portanto, deve-se usá-los, ou então, sugiro que reformulem os manuais de Língua Portuguesa.

 Lembro-me de uma entrevista do deputado Jean Willis sobre sexualidade, em que o mesmo defendia o direito dos gays. Pode falar assim? Então vamos lá. Houve um momento em que o entrevistador usou o termo “homosexualismo”, então Willis educadamente lhe repreendeu dizendo: “homossexualidade”, prefiro que você se refira assim.

Eu entendo a postura do deputado, mas mudança de tais conceitos não implica necessariamente uma mudança na mentalidade de determinados grupos, no sentido se aceitarem, e criticarem aos que se refirirem aos mesmos de uma forma específica e por que não dizer, respeitosa.

 Cada vez mais estão usando meios “sofisticados” para designar determinadas profissões, opções, raça, preferência política e por aí vai. Há uma hipocrisia em tudo isso, vindo principalmente de pessoas que deveriam se auto afirmarem. Desse jeito, a sociedade não sabe como se referir a tais grupos, correndo o risco de serem taxados de preconceituosos, já que muitos desses grupos preferem muitas vezes negar quem realmente são, ou dissimular pra si mesmos ou pra sociedade, Ah! Eu sou, mas prefiro não dizer ou que ninguém fale, ou prefiro que você diga de uma forma melhor. E qual é a forma melhor?