A primeira vista, pareceria não haver esta coisa chamada “desorganização mental”, mas, qualquer pessoa que se atentar a seus hábitos intelectuais verá que pode sim existir esta coisa de outro mundo, a qual chamo nomeio desta maneira. Desorganização no real sentido da palavra: falta de organização, desordem, confusão. A junção de desorganizar, mais, ação. Mental devido ao fato de estar em nossas mentes. 

Quem nunca deu inicio a um assunto e não o consumou? Quem nunca se engajou em criar algum texto e não o terminou? Quem nunca ficou de fazer algo que exigisse algum esforço intelectual, e após algum tempo e algumas tentativas, simplesmente abandonou aquela tarefa? Todos nós, pelo menos uma vez no decorrer de nossas vidas. E é partindo destas pequenas pendências aparentemente insignificantes que quero tratar. Pois, de que importa se terminei ou não um assunto com aquele amigo? Importa mesmo se deixei de terminar aquela tarefa por preguiça?

Comparado a uma maquina, nosso cérebro é semelhante a um computador. Neste, passados quatro ou cinco anos de tarefas o sistema passa a ficar cada vez mais vagaroso, chegando até a estagnação por completo, coisa que acredito não ser possível, contudo, somente a vagarosidade corrosiva já basta como penitencia ao usuário, por não ter desfragmentado o disco rígido com mais regularidade. A desfragmentacão nada mais é do que a eliminação das lacunas deixadas pelas atividades corriqueiras dos usuários. Com nosso cérebro se da quase da mesma maneira. Após anos de atividades intelectuais não finalizadas e a não organização destas, nós passamos a apresentar alguns pequenos “defeitos”, tais como inquietação, irritabilidade, desejos excessivos por estímulos exteriores, etc., justamente para não deixar aflorar toda a  progressiva desorganização mental, que está diretamente ligada a nossos estados emocionais. 

Contudo, isto ocorre nas mentes que não tem a noção, breve que seja, sobre a desorganização que existe dentro de si mesmas. A partir do momento em que há este despertar, a mente passa a se curar naquele mesmo instante, somente pelo fato de ter reconhecido que não esta devidamente organizada. Doravante, é questão de tempo – se combinado a um nível razoável de interesse do próprio individuo – a começar a se sentir incomodada em não findar uma atividade intelectual, e em contrapartida, sentir um incomensurável prazer em cumpri-las e em observar a instabilidade e ordem que passa a aflorar no interior de si mesma. E daí, por fim, não somente as atividades intelectuais como também as emocionais passarão a ter muito mais instabilidade e vigor.