Jacques Donzelot (1986) afirma que, a partir de meados do século XVIII, emerge uma farta literatura sobre o tema da “conservação das crianças”. Tais produções têm, inicialmente, a autoria de médicos e, posteriormente de moralistas e políticos da época, entre outros. Todos põem “em questão os costumes educativos de seu século, visando três alvos privilegiados: a prática dos hospícios de menores abandonados, a da criação dos filhos por amas-de-leite, a da educação „artificial‟ das crianças ricas” (DONZELOT, 1986, p. 15). Esse encadeamento de técnicas engendraria, ao mesmo tempo, o empobrecimento da nação e o enfraquecimento de sua elite. Em relação aos menores abandonados, é patente a preocupação com o alto índice de mortalidade dos menores recolhidos, pois se alegava custar caro manter os bastardos e perdê-los sem que antes fossem “úteis ao Estado”. Havia inúmeras tarefas nacionais que poderiam ser desempenhadas salvaguardados, tais como: a colonização, a milícia, a marinha. O fato de não possuírem obrigações de vínculos familiares, os tornava aptos ao exercício de tais funções. Como justificativa do alto índice de mortalidade (cerca de 90%) tem-se a “dificuldade da administração para encontrar-lhes nutrizes, da sua má vontade e incompetência”. Mas, por que as nutrizes? Que mulheres recorriam a tal recurso? Tratase da constituição de um hábito dominante da população das cidades: de um lado as mulheres de artesãos e comerciantes não tinham tempo para amamentar seus filhos porque estavam ajudando os maridos; de outro, as mulheres nobres e burguesas eram muito ricas para “evitar o fardo da amamentação”. As nutrizes, em sua maioria, eram mulheres pobres camponesas. “As aldeias das redondezas mais próximas das cidades forneciam nutrizes para os ricos, e os pobres tinham que procurá-las mais longe” (p. 16)...