Praticart - A Prática da Arte na Terceira Idade
WEIMER, Mabel Strobel Moreira (1)
FRAZÃO, Ana Maria Lima (2)
RESUMO

Este Artigo Científico tem como tema Praticart A prática da Arte na Terceira Idade. Objetiva responder ao questionamento: é possível proporcionar mudanças de hábitos utilizando as artes no desenvolvimento das atividades com o grupo da terceira idade? Apresentamos pesquisas e trabalhos realizados pelos integrantes do grupo de idosos do Centro de Convivência Bem Viver, do bairro Cristo Rei em Várzea Grande, MT. Por meio de oficinas de Capoterapia, Biodança, tendo a música como uma influência de caráter inovador, e a experiência agradável de estar dentro deste processo que é fazer da arte um meio de resgate de vida do ser humano. A convivência num ambiente imaginário, sonhador, cheio de uma magia, deixada para trás devido aos percalços que o cotidiano ofereceu. A socialização transforma-os em agentes pessoais de cultura, à medida que a divulgam para a sua comunidade e trás nova perspectiva de vida ao idoso. Estudo através de pesquisa bibliográfica em Moreno (2008) Aranha (1993), Shephard (2003), em outros, e em sites especializados. Na observação "In lócus", constatou - se os benefícios originados pelas artes, tais como a reativação da memória, melhora da qualidade de vida, saúde, o aumento da auto-estima e por conseqüência, um crescimento interpessoal e afetivo.
Palavras - chave: Arte, Idoso, Socialização.

ABSTRACT

This theme is Scientific Article Praticart Practice of Art in the Third Age. Aims to answer the question, Is it possible to provide changes in habits using the arts in the development of activities with the third age group? Present research and work undertaken by members of the group of elderly Living Well Living Center, Christ the King in the neighborhood Lowland Grande, MT. Through workshops Capoterapia, Biodanza, with music as an influence innovative character, is a pleasant experience to be inside this process that is to make art a means of rescuing human life. Living in an imaginary environment, a dreamer, full of magic left behind due to mishaps that offered daily. The socialization, become agents of personal culture, as we announce them to their community, brings new perspective on life for the elderly. Through literature as Moreno (2008) Spider (1993), Shephard (2003), others, and the Internet, and watching "In locus," found - if the benefits generated by the arts, such as the reactivation of memory, improved quality of life, health, increased self-esteem and consequently, an interpersonal and emotional growth.
Key - words: Art, Elderly, Socialization.
INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos são muitos os desafios que povos e governos vêem empreendendo na luta por um mundo mais humano e sem preconceitos. Preconceitos de todas as formas imaginárias, e entre eles o preconceito ao idoso. O crescimento populacional da terceira idade é inegável. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas ? IBGE, o Brasil possui uma população de 187 milhões (IBGE-2006). Leme (2000, p.14) cita que "a previsão para 2025, é que teremos mais de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos", e neste caso seremos a sexta maior população idosa do mundo.
O crescimento do número de idosos está relacionado à esperança de longevidade. E no Brasil, a população idosa entre 60 e 80 anos ou mais, tem se destacado nos últimos tempos. Dados desta natureza tornam-se um desafio para o país, pois o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo. A longevidade implica em aumento do tempo da velhice. E os anos vividos podem trazer sofrimentos, doenças, desconforto familiar, isolamento social, depressão, entre outros fatores. Mas, a velhice pode estar entrelaçada à autonomia e a independência do idoso. Este, portando uma boa saúde tanto física como emocional, desempenhando normalmente o seu papel dentro da sociedade a qual se encontra inserido, a sua qualidade de vida pode ser muito melhor.
Todos nós sabemos que o tempo é um fator decisivo na transformação da realidade, da sociedade e do próprio homem. E assim, a velhice surge, naturalmente. E, será vista como uma vitória sobre o tempo, se o ser humano usufruir o que tem à sua disposição e não ficar parado no tempo e nos espaço, esperando à hora "H" dela, a velhice, acontecer.
A falta de estímulo e os preconceitos sociais que nas últimas décadas o idoso tem sofrido têm grande influência na sua inatividade e seu isolamento social. Entendemos que isto vem a ser a grande dificuldade de uma vida participativa e agradável ao idoso. Para mudar este quadro a prática de atividades é essencial, principalmente a arte. A prática da arte vem trazendo um novo enfoque de vida à pessoa da terceira idade.
Nas últimas décadas, percebemos que houve um aumento do preconceito ao idoso que sofria exclusão em detrimento a outras faixas etárias, porém, também não podemos negar que este grupo passou a ser alvo de preocupação e atenção por parte de vários segmentos da sociedade entre eles governos, estudiosos e pesquisadores. Os fatos que estão acontecendo com os idosos de hoje, o respeito como ser humano ativo, e não somente para ser o avô ou avó para cuidar dos netinhos, estão se alargando, valorizando o idoso como merece ser visto.
Essa nova realidade vem exigindo das Instituições governamentais e não governamentais a busca e atuação dos profissionais de todas as áreas, como a social, e educacional em espaço não formal, com o objetivo de atender as diferentes necessidades desse novo segmento populacional, que ultimamente, vem se apresentando cada vez mais forte e crescendo aceleradamente. O que sentimos é que cada vez mais está acontecendo o envelhecimento. E está acontecendo com menores condições sócio-econômicas, mas com coragem e perseverança estão também buscando dar novo sentido à vida.
Para nos inteirarmos sobre o assunto, buscamos conhecer essa população e suas necessidades, junto aos Projetos Federais atuantes no município de Várzea Grande. Procuramos conhecer as ações desenvolvidas com este segmento populacional e que possam proporcionar alguns benefícios, e de certa forma ajudar no seu dia-a-dia.

Para o desenvolvimento do tema proposto, foi necessário que buscássemos estudar algumas categorias tais como Arte, Envelhecimento e Socialização. Necessitamos também fazermos uso de pesquisa de campo e de obras como Terceira Idade - 250 Aulas, do autor de Guilherme Moreno, professor de Educação Física no Rio de Janeiro; Envelhecimento, Atividade Física e Saúde do autor Roy J. Shephard, Doutor em medicina, professor de Fisiologia em Toronto, obra traduzida por Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo, entre outros teóricos, pesquisas em sites que tratam do assunto e também o Estatuto do Idoso, que nos proporcionaram embasamento para discorrer sobre Terceira Idade e Educação e Artes.
Afinal o que vem a ser arte? Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, a palavra arte, no sentido que propomos trabalhar se trata de capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical. E, segundo Aranha (1993) a arte torna a pessoa diferente e capaz de proporcionar mudanças, pois:
A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro total. A arte capacita o homem a compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade (FISCHER, apud Aranha, p.349)


Assim, concordamos com a afirmação citada por Aranha, pois o ser humano deve ser visto como um ser total e completo, compreendendo a sua realidade dentro da sociedade. E, trabalhar a arte torna a pessoa mais sensível, ter nova visão do mundo em que vive, procura através de novas atitudes, e se tornar uma pessoa melhor.
O envelhecer, segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, é tornar-se velho, envelhecido. No caso do envelhecimento humano, representa a perda de alguns sentidos. A audição não é mais a mesma, começa a perda progressiva de adaptabilidades fisiológicas ocorrendo em muitos casos à redução da celeridade, dificuldades visuais, e mesmo de expressão, enfraquecimento da pele, que perde a viscosidade, entre outras perdas.
A socialização, segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, é o ato de socializar, com extensão de vantagens particulares. Então, socializar é tornar-se social e sociável. Que entendemos como estar entre outros trocando relações sociais, de forma agradável às relações humanas.
O estudo das categorias citadas auxiliou em muito. Trouxe-nos os subsídios necessários como: conhecimento sobre os fatores que ocasionam uma velhice conturbada; compreensão de que através da arte novos horizontes são abertos para os indivíduos que se encontram sem perspectivas de uma vida equilibrada; o despertamento para uma vida melhor quando se pratica atividades utilizando a arte; saber unir educação e arte seja ela formal ou não formal; convicção que a arte na educação é uma ponte que possibilita a realização de trabalhos diferenciados; trás benefícios aos indivíduos envolvidos; e que somente através de fundamentos teóricos temos condições de alargar o conhecimento, obtendo suporte para alavancar o trabalho idealizado.


Praticart - A Prática da Arte na Terceira Idade

A metodologia de pesquisa de campo no Centro de Convivência Bem-Viver, integrado no Centro de Referência da Assistência Social do bairro Cristo Rei em Várzea Grande, propiciou termos consciência da importância da prática da arte nas modalidades da música e dança, na educação não formal. Identificando as diferentes formas de desenvolvimento das atividades com este grupo em especial, apontando os benefícios proporcionados pela prática da arte, nos aspectos da expressão corporal e musical. Procuramos através do diálogo, estimular essa população a falar sobre a sua atuação em contato com a arte e as atividades mais interessantes para este grupo em destaque ? terceira idade.
Não há como negar os benefícios da prática regularmente das atividades que envolvem o físico e o emocional. A Biodança e Capoterapia são atividades que envolvem o uso do corpo, da mente tendo a música como parte fundamental nesta ação. Como enfatiza Ribas (apud, Miryam P.F. Brauch et al, 2003, p.16) "A Biodança é como um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias de vida, através da música, movimento e comunicação em grupo". Podemos dizer que seria a própria reconciliação com sua vida. E a vida não se explica, é para ser vivida da melhor maneira possível.
O movimento como o gingado da capoeira usado como terapia unida à dança e a música, segundo pesquisadores, possibilita o resgate de valores e vivências que se encontram perdidos. De alguma forma vem a proporcionar o bem-estar geral do ser humano, onde incluímos o idoso. Observamos "In Lócus" que em alguns casos, houve a elevação da auto-estima que pelo passar do tempo e barreiras enfrentadas encontrava-se em baixa. Foi nos diálogos e na observação das atividades dos idosos no Centro de Convivência Bem Viver, que resultou este trabalho o qual denominamos Praticart - A Prática da Arte na Terceira Idade.
Este trabalho está voltado para mostrar às pessoas que apresentam dificuldades, que podem mudar seus hábitos diários que os tornaram sedentários e sem perspectivas de mudanças. Pretendemos mostrar que através da prática da arte, é possível o resgate daquilo que o grupo da terceira idade tem como algo perdido e inalcançável. As atividades realizadas utilizando-se da Biodança e da Capoterapia, que têm a música como um meio auxiliar muito importante, digamos até terapêutico, está favorecendo o rompimento das barreiras, de exclusão e preconceitos.
Mostrar como chegar à terceira idade, sendo valorizado e sem preconceitos, e incluí-los no meio social é nosso compromisso. Acreditamos que a utilização da arte como meio de motivação leva ao resgate de valores culturais e sociais, bem como a auto-estima, e que sendo bem trabalhada, auxilia ao idoso a realizar a mais pura expressão da vida. Pois o requisito fundamental para uma boa velhice é a preservação do potencial humano para o desenvolvimento do indivíduo, e que este pode ser estimulado e aprimorado.
Demonstrar os benefícios com o envolvimento da Biodança e da Capoterapia nas atividades desenvolvidas pelo grupo de terceira idade (educação não formal) foi evidenciado após pesquisas no Estatuto do Idoso e buscas teóricas sobre a importância das artes na Educação Não Formal. As pesquisas vislumbram as diferentes formas de desenvolver atividades e que podem ser realizadas com pessoas da terceira idade, pois apontam os benefícios proporcionados à vida social. E, diante de tantas polêmicas travadas hoje com referência ao idoso, surge o seguinte questionamento: é possível proporcionar mudanças de hábitos utilizando as artes no desenvolvimento das atividades com o grupo da terceira idade?
De acordo com as pesquisas realizadas, e a observação na prática do Projeto Praticart, observamos que trabalhar as artes, sendo ela em qualquer aspecto, tende a promover ao idoso uma nova dinâmica no convívio social. Daí entendermos que a experiência com estes novos conhecimentos certamente melhora a percepção do idoso sobre si mesmo e a entender o mundo que o rodeia. A se socializar e porque não dizer acontecer a ressocialização e a afetividade.
A arte em si estimula a trazer de volta o "elo perdido", que se encontra adormecido no íntimo de cada um de nós. Assim sendo, oferecer ao idoso de nossa região a oportunidade de voltar a ser ativo, adquirir e trocar os conhecimentos, buscar a melhoria na qualidade de sua vida é simplesmente seguir aos preceitos existentes no Estatuto do Idoso (2009), Criado através da Lei 10.741 de 01/10/2003. Este assegura às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social. "É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade" (art.9, p.14).
Buscando entendermos melhor a questão do envelhecimento, vimos que este pode trazer problemas sociais, físicos e emocionais. Shephard (2003) esclarece que os cientistas visualizam o corpo humano como uma peça de maquinário, de muita complexidade e sendo assim está sujeita aos desgastes, e falhas inevitáveis podem ocorrer com o passar do tempo. Este esclarecimento nos faz entender o envelhecimento no corpo humano como uma perda progressiva de adaptabilidades fisiológicas ao ambiente externo. Ocorre em muitos casos à perda de valores, baixa auto-estima, depressão, dificuldades de expressão, entre outros.
Ainda aponta Shephard (2003) em seus estudos que a pessoa idosa reage mais lentamente às diversas alterações do ambiente o que vem torná-la vulnerável a qualquer ameaça externa, por exemplo, as temperaturas altas. Entendendo-se essas temperaturas como o calor ou frio excessivo, que podem causar alterações no corpo humano. As alterações mais comuns elencadas pelo teórico são a frequência cardíaca, alterações celulares (enfraquecimento da pele), redução das atividades cerebrais (memória), baixa percepção, desequilíbrio dos membros, etc.
Analisando também o trabalho de Moreno (2008), concluímos que para amenizar o surgimento desses fatores causados pela velhice, o idoso deve sob uma boa orientação, praticar atividades físicas, que ajudam a melhorar a vida ativa e social, tornando o corpo e mente mais resistente, proporcionando assim ao individuo entrar em processo de recuperação. Lembrando que, em se tratando de pessoa idosa, a atividade a ser desenvolvida deve ser gradativa e de acordo com as condições de cada um. Estes escritos (MORENO, 2008), também nos fazem entender que a atividade física é, inegavelmente, um dos fatores que vem apresentando resultados positivos em termos de prevenir e melhorar a vida do idoso, sendo valiosa para a manutenção do físico e do psicológico, proporcionando assim longevidade saudável.
Pensando numa longevidade saudável, realizamos a pesquisa de campo e teórica, para conhecer mais sobre a influência das artes e os benefícios causados pela sua prática, principalmente à mente, ativando as partes do cérebro, que no caso da pessoa idosa, por se achar improdutiva, se encontra adormecida. Assim, como temos visto o desenvolvimento da arte nas modalidades de música e dança, com a prática da Biodança e Capoterapia no Centro de Convivência, acreditamos que estas atividades e outras práticas com o corpo, utilizando-se da ginástica, para a terceira idade são realmente as ideais a serem desenvolvidas com este grupo.
Ocorre também através dos profissionais do Centro de Convivência, o incentivo a uma boa alimentação, a valorização com o corpo, a procura pela manutenção da saúde e da auto-estima. Orientações deste tipo têm se tornando constante no cotidiano desta população que vem saindo de um túnel de preconceitos fabricado pela sociedade desta nova era, a contemporânea. Mas, nem sempre se teve este cuidado, o idoso era considerado como peso morto para a maioria da sociedade. Como se costumava dizer "Já deu o que tinha que dar".
O que se tem observado é que os valores culturais que fazem parte da existência do ser humano estão se perdendo ao longo do tempo. E, acompanhados dos fatores que proporcionam perdas no estado físico (desvalorização física), emocional e social, tem tornado as pessoas mais solitárias, com a auto-estima em baixa e apresentando sérios problemas de depressão. Para minimizar estas situações ao idoso é garantido por Lei a participação em eventos culturais, esportes, lazer e educação (Estatuto do Idoso, Cap. V, art. 20).
É assim, que trabalhando sob este olhar e buscando alternativas para amenizar as perdas ocorridas com o envelhecimento, o Centro de Convivência Bem Viver, vem desenvolvendo atividades com os idosos inseridos em seus programas, como a Biodança e a Capoterapia, além de outras atividades que auxiliam ao idoso a um novo despertamento para a vida. Essas atividades nas modalidades de música e dança, tem mexido com o emocional do idoso, onde se tem trabalhado corpo, mente e a afetividade. O trabalho tem encontrado resposta positiva junto ao grupo da terceira idade. Está propiciando a recuperação do gosto pela vida, elevando a auto-estima, amenizando problemas de saúde física e emocional e despertando também a criatividade.
Segundo Aranha (1993), a criatividade é uma capacidade humana, e como tal pode ser desenvolvida ou reprimida. Dependendo do ambiente, com as suas condições, o estímulo à exploração do comportamento e do pensamento, incentivando o uso da imaginação, a criatividade surge sem temor, sem preconceitos. Entendemos então, que criatividade não é um dom, mas uma capacidade que todos temos, e podemos desenvolver em qualquer momento de nossas vidas, independente de ser jovem ou não.
Nestas atividades procura-se incentivar ao idoso a valorização do próprio corpo, e o "fazer" em grupos. A troca de afeto, o convívio, vem proporcionando a interação, a amizade, despertando a afetividade, sendo esta um fator fundamental na relação entre pessoas. É grande o apoio encontrado dentro do grupo. Nas conversas informais vimos o prazer de se sentir novamente ativo, se sentir capaz de realizar algo agradável é surpreendente. Essas ações estão permitindo ao idoso não viver apenas de lembranças passadas, mas viver um presente cheio de perspectivas de uma vida melhor.
Em se tratando de espaço de educação não formal, a prática educativa, a exemplo do espaço formal, tem como base não a busca de talentos, mas vem se expressando na capacidade experimental de cada educador, sua ação como agente que exerce forte influência na vida das pessoas. Assim sendo, não se pretende grande artistas ou ídolos, mas estimula-se o educando, no caso a pessoa da terceira idade, a se arriscar a desenvolver uma nova vivência através da Arte. Uma proposta partindo deste principio movimenta o grupo, pois se sente valorizado e recompensado como ser ativo na sociedade. Dessa forma, as atividades estão fazendo parte do cotidiano destes indivíduos, diminuindo o nível de stress, e que segundo Moreno (2008) e Shephard (2003) vem auxiliando no desenvolvimento o lado direito do cérebro, que é o responsável pela criatividade, pelo imaginário, e pelo intelecto. Isto é notório e real. "Esta atividade torna o individuo mais sensível e facilita a expressão de sentimentos e emoções, tornando-o mais acessível a um bom relacionamento interpessoal", conforme o professor de música Jaime Correa, em Belo Horizonte Minas Gerais.
"A Biodança que nasceu no Chile em meados dos anos 60, tinha a intenção de promover uma transformação na evolução do ser humano" (NEGRINNE, 1988, apud, Miryam P.F. Brauch et al, 2003, p.16). Foi criada por Rolando Toro Arañedam, médico psiquiatra, que realizou estudos na área da antropologia cultural. Durante os estudos, observou que os povos primitivos, diante de situações de enfermidades, se valiam de seus rituais, utilizando a dança e a música no tratamento com seus doentes. Assim, o médico iniciou o trabalho com a dança em seus pacientes psiquiátricos no Hospital do Chile. Segundo Negrinne (1988), foi como forma de uma ação pedagógica, que tinha como base métodos de trabalho cuja essência era vivenciar a emoção e o contato de pessoa a pessoa. Assim, utilizar a música e a dança na interação com o outro no grupo, proporciona à pessoa reconstruir sua individualidade, que vem a ser a base para uma sociedade sadia.
Segundo Marcelino (2008), a Capoterapia surgiu a partir da capoeira, pois trabalha o seu gingado e movimentos, acompanhada de músicas que despertam a mente e o corpo (terapia). Os trabalhos vêm acontecendo a cerca de mais ou menos 20 anos, sem ser visto como algo que venha a favorecer a alguém. Em Mato Grosso, como em quase todo Brasil, até algum tempo atrás era um atividade marginalizada, não tendo nenhum crédito. No entanto, vem se inserindo aos poucos no contexto social de vários Estados, e obtendo resultados positivos, em escolas com jornada ampliada, nos Centros de Convivência de idosos, nos grupos do programa pro ? jovem. Para os jovens, vem auxiliando no rompimento de barreiras, nos conflitos a aprender regras e respeito mútuo. "Para os idosos trás como positividade a socialização, o convívio" (MARCELINO, 2008). A Capoterapia, e a Biodança, trás a alegria de volta aqueles que não mais tinham motivos de alegrar-se.
Ambas, as expressões artísticas e culturais, como uma prática pedagógica, em espaços não formais, devem ser organizadas de forma que os alunos, independente da faixa etária, são incentivados a se expressarem de forma espontânea. Estas levam o idoso a se tornar uma pessoa positiva, valorizada pelo grupo em que atua. Isto faz com que busque o pleno desenvolvimento, levando-o a deixar de lado a vergonha, o medo, às angustias.
Este trabalho pretende levar não somente os participantes a se conhecerem trocarem experiências, mas, a dominarem seus próprios instintos. Despertar ou aumentar a afetividade e assim terem uma melhor qualidade de vida. As orientações, as atividades, a música os tornam mais ágeis possibilitando assim que saiam do casulo criado durante a vida, e se realizem como seres humanos que são capazes de criarem, recriarem, serem ativos e contribuírem para uma vida mais sadia e com qualidade.
A Biodança e a Capoterapia vêm como um auxiliar no processo de inserção da pessoa idosa no ambiente social. Por meio deste trabalho, o profissional tende a levar os participantes a falarem de si e de seu mundo, de suas fantasias, suas histórias de vida, seus sonhos. Proporciona a saírem do marasmo, da improdutividade e do esquecimento de si mesmo como ser criado para sobressair.
A Capoterapia teve inicio no Centro de Convivência no dia 13/03/2010. E já com uma realização da 1a Vivência em Capoterapia no dia 16/05/2010, sob a coordenação do professor Shaoollin (codnome dentro do grupo de Capoeira), que não mede esforços em trabalhar com a pessoa idosa, sendo notório seu envolvimento com o grupo, e o prazer que os idosos têm em realizar as atividades por ele direcionadas. A Biodança já está há mais tempo como atividade praticada pelos idosos. Tanto uma com o a outra, tem trazido muitos benefícios ao grupo da terceira idade, com relação ao estado físico e emocional, como minimizar dores de coluna, dores nos braços, mãos, sensação de angústia, pensamentos negativos, apatia, sensação de perda, a solidão, e principalmente a reativação da memória em que alguns já sentiam alguns sintomas de enfraquecimento. Isto além de muitos outros benefícios, conforme nos foi dito pelo grupo, que hoje não abre mão das atividades ali trabalhadas.
O grupo de idosos relata que a música nestas atividades é igual ao envelhecimento, faz parte de suas vidas, e pertencem ao tempo. Tempo esse, principalmente o passado que faz parte de suas memórias. Consideram estas atividades como uma reconstrução de suas vidas, e que com certeza estão reafirmando suas identidades. Outra importante atividade e que não pode deixar de se mencionada e que faz parte do cotidiano do idoso é realizada todas as 2as Feiras, a partir das 13H00, é o Bailão, no qual participam cerca de 190 a 200 idosos. O que tem demonstrado que a música realmente faz parte da vida do ser humano.
A arte trabalhada com a terceira idade se apresenta como uma terapia e de grande atuação em diferentes contextos e tende a minimizar algumas enfermidades, tanto física como emocional. Ela atua de maneira extraordinária na melhoria da qualidade de vida, estimulando as ações físicas, perceptivas, psicológicas e sociais do indivíduo. Entendemos com Shephard (2003) que o exercício físico, fornece eficácia na prevenção de muitas doenças, maximizando a independência do idoso e melhorando sua qualidade de vida. As pesquisas, as conversas com os idosos, mostram que a utilização da arte, vem auxiliando para que a pessoa tenha uma boa comunicação, um relacionamento aceitável, desenvolvendo também a aprendizagem. O desenvolvimento físico, emocional, mental, social e cognitivo do ser humano, pode e deve ser auxiliado pelo uso da música e atividades físicas (como arte), no espaço escolar ou não escolar, como é o caso do Centro de Convivência. O fazer atividades envolvendo a música, corpo e mente para os integrantes da terceira idade torna-se algo importante, pois os faz retornar ao passado, aguçar sua criatividade, desenvolver a coordenação motora, já cansada pelo tempo.
Atualmente há cerca de vinte e cinco pessoas participando das Oficinas de Biodança e Capoterapia, com idades que variam entre 55 e 85 anos. E o que se tem observado é que em todas as atividades do Centro de Convivência, as mulheres são as maiores apreciadoras das oficinas. Para elas, o envelhecimento humano é certo, e não têm preconceitos, mas está sendo um dos melhores períodos de suas vidas, pois estão aprendendo a conhecer possíveis atividades diferenciadas e que podem trazer mudanças em seus hábitos como pessoa idosa.
Os preconceitos os receios, são como pedras no caminho que devem ser retiradas, pois limitam e impedem a atuação das pessoas no seu meio social. As atividades físicas junto com a música vêm como um estímulo à criatividade, ao improviso, à resolução de problemas, reaviva a memória, que já cansada pelos idos da vida, está lenta e apagada. Sobre esta memória, Ecléa Bosi nos diz que:

[...] a velhice é o momento de desempenhar a alta função da lembrança. Não porque as sensações enfraquecem, mas porque o interesse se desloca, as reflexões seguem outra linha e dobram-se sobre a quintessência do vivido. Cresce a nitidez e o número das imagens de outrora e esta faculdade de relembrar exige um espírito desperto, a capacidade de não confundir a vida atual com a que passou, de reconhecer as lembranças e opô-las às imagens de agora (BOSI, 1979, p.39).

Por meio do que se tem trabalhado no Centro de Convivência, acreditamos na queda dos mitos que estão ao redor do que é envelhecer. Muitas crenças são equivocadas, principalmente de que uma pessoa idosa não aceita transformações, que é irredutível no processo de mudanças, e que seu cérebro tende a produzir pouco. O que sentimos não ser verdade, pois a pessoa da terceira idade tem muito a oferecer nas conversas, na convivência grupal, nas construções coletivas, pois novos contatos, novas pessoas começam a fazer parte das vidas destas pessoas. Através do desenvolvimento de atividades o idoso coloca em prática o grande sonho de atuar, através de aulas de improvisação, expressão corporal com aulas de aquecimento físico e vocal, que tem o intuito de despertar a imaginação e o raciocínio lógico. Estas são algumas das técnicas utilizadas pelo profissional da área que atua com os idosos.
Deparamos ao longo da vida com possibilidades e impossibilidades, que são comuns à vida de todos. O idoso, independentemente do meio social ou crença sofre com seu maior inimigo, o tempo, mas vem sofrendo ainda mais com os preconceitos. Apesar das mudanças, ainda ouvimos frases como "ele não tem mais idade para isso", isto pode ter um efeito altamente desencorajador para o idoso. Muitos com certeza desistem dos seus sonhos, internalizando uma crença imposta de que "não têm mais idade" para isso ou para aquilo, acreditam que sua memória já está cansada e de nada valerá, mas "A memória poderá ser conservação ou elaboração do passado, mesmo porque o seu lugar na vida do homem acha-se a meio caminho entre o instinto, que se repete sempre, e a inteligência, que é capaz de inovar." (BOSI, p.68)
Nosso objetivo aqui não é criticar idosos que desistem de acalentar sonhos. Mas mostrar que com pequenas atitudes vale muito à pena deixar de lado os medos e esquecer-se um pouco de ver o mundo pelo olhar do "outro", do filho, do neto, etc. Acreditar que, em qualquer idade, apesar das limitações, é, sim, possível "sonhar", e realizar este sonho, criando, atuando, confraternizando, aprendendo e ensinando, estudando e não deixar de fazer algo, porque simplesmente acha que não dá mais tempo.

Considerações Finais
O tema deste estudo teve como questão descrever e analisar o desenvolvimento da ação produzida no ser humano através da prática da arte, nas modalidades de música e dança. Realizar atividades exercitando o corpo e a mente como meio auxiliar na reativação do idoso ao convívio social. Isto leva o idoso novamente a ser ativo dentro da sociedade ao qual está inserido, saindo de "doenças do século" como depressão, síndrome do pânico, isolamento, etc.
Os resultados deste estudo demonstraram que houve uma evolução no procedimento de pessoas idosas, que se sentiam inúteis e isoladas, isto através do reconhecimento como um ser único, provido de inteligência, com capacidade de ação e reação. Notamos que essa evolução vem acontecendo a passos lentos, mas constantes, e que tem uma grande tendência em alargar este leque de idosos, vivendo e revivendo momentos que os tornam como seres humanos capazes de grande contribuição para esta geração que está caminhando para a terceira idade.
Acreditamos, a partir da análise dos resultados, que o ser humano muda seus hábitos e comportamentos, influenciados pelo acontecido no coletivo. Essas mudanças ocorrem por meio da troca de relações. Afinal o homem é um ser social, e mesmo inconscientemente, está à procura por inovações que o favoreçam.
Observamos que diante de nossos olhos, no dia-a-dia passam algumas pessoas que, à medida que o tempo vai passando, abrem mão de seus sonhos, suas expectativas de uma vida bem sucedida. Outras, no entanto, guardam vivas dentro de si os muitos sonhos e esperanças, mesmo sem acreditar que ainda há tempo para a realização desses sonhos. Mas de repente, encontram uma luz que lhes dá um novo sentido e se colocam na busca de concretizar o sonhado.
Fazer parte de um grupo ativo e valorizado é um sonho sonhado e que está sendo idealizado por muitas pessoas, que hoje se encontram na chamada terceira idade. E os Centros de Convivência são as portas que dão abertura para a realização deste sonho. Para tanto, estas pessoas necessitam se despirem da timidez, do medo adquirido com o passar dos anos, voltarem a acreditar em si mesmas, e colocar de lado os preconceitos, e se despojarem dos receios e do "não".
Com tudo isto, entendemos que é por meio de atividades físicas e lúdicas, é que podemos explorar os movimentos, e que as pessoas da terceira idade conseguem liberar suas capacidades de criar e de agir, de se expor com relação ao seu lado afetivo, trabalhar o imaginário. Enfim, viver suas fantasias e explorá-las. Nosso corpo reflete a nossa história de vida e, à medida que vamos amadurecendo vãos sendo acumuladas experiências boas e más. A experiência com o sofrimento é impressa em nosso corpo como uma marca, uma tatuagem sem esperanças de ser retirada. As tensões que são internalizadas ao longo do tempo nos deixam como a carregar um peso difícil e enfadonho. Fazer atividades com nosso corpo, nossa mente, nossa voz, representar, trabalhar com a música, talvez sejam atividades muito mais completas e interessantes, do que se possa imaginar.
Pode-se trabalhar a arte a partir de diversos enfoques e explorar seus benefícios causados tanto aos jovens com aos idosos. Esta atividade é tão antiga que tem acompanhado o homem desde os primórdios. A música, a dança está muito ligada ao cotidiano do ser humano, e em outras épocas foi realizado de forma muito mais natural e espontânea. Despertar o corpo para a prática da arte tende a resgatar um hábito de longos tempos. Para que haja o resgate dos valores, dos costumes, do "elo", que está perdido, basta re-descobri-lo dentro de si, e desfrutar desta habilidade com prazer. Isto significa na superação de bloqueios, barreiras e preconceitos.
Na realidade, muitas pessoas idosas sentem o desejo de cantar, dançar, fazer uso do seu corpo, que para muitos já estão cansados e não têm a coragem de se expor, pois temem as críticas de filhos e parentes, e assim se recolhem dentro de si mesmos. Mas, é necessário coragem e perseverança, e se conduzir à superação. Conscientizar-se do próprio "eu", é o primeiro passo para se obter transformações positivas. Pois por trás de cada ser humano existe uma motivação, que pode ser externalizada. Conhecer a si mesmo através da arte é um processo evolutivo e próprio do ser humano.
Quanto ao questionamento: é possível proporcionar mudanças de hábitos utilizando as artes no desenvolvimento das atividades com o grupo da terceira idade do Centro de Convivência Bem-Viver? Vimos o quanto se pode obter de positivo com a prática da arte na terceira idade, e por isto, afirmamos positivamente, e o quanto é importante mostrar às pessoas que estão a caminho da terceira idade o quanto o trabalhar com a arte, seja em qualquer contexto, pode contribuir e acrescentar às suas vidas. Incentivá-las à sua prática e estimulá-las a libertarem a expressão de suas vozes, seus corpos e suas emoções, suas memórias, seus sonhos, se abrir para um mundo melhor, deixar-se levar pelas ondas dos sonhos.
Emergirem de um mundo sem perspectivas de crescimento para andar nas asas da imaginação, galgar os mais longínquos lugares. Crescer mental e espiritualmente através da ação praticada. Viver o que resta da vida com dignidade e esperança de viver melhor. Ser atuante neste mundo de jovens, deixando legados que servirão de exemplo para muitos, não desistindo de seus sonhos, deixando sua marca por onde passar, afinal, Deus não nos colocou aqui para fazermos peso sobre a terra, mas para trilharmos nela deixando para trás exemplos a serem seguidos.
Finalizando, a música, a dança faz parte da arte e segundo Aranha (1993) a arte não pode ser algo abstrato no mundo. Ela deve ser a percepção, pelo homem, da realidade. Ela proporciona uma familiaridade com a experiência afetiva. Apreender do real através da arte tem um alcance profundo na vida do ser humano.
A arte é uma realidade social, e como tal, o ser humano necessita dela para continuar criando, recriando, vivendo e revivendo, formando ideal e transformando sua vida levando-se a pontos inatingíveis pelo natural, mas que pelo imaginário, pelo sonho sonhado pode ser alcançado. O trabalhar o lúdico com a terceira idade tornou-se uma forma de aprendizagem particularmente poderosa que estimulou a vida social e a atividade construtiva do ser humano, dando oportunidade ao grupo em ter momentos de descontração, interação e valorização pessoal





Referências

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