A PRÁTICA DOCENTE NA SALA DE AULA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Trabalhando as necessidades e particularidades

Giseide Maria Ferreira dos Santos¹


Resumo
Este artigo trata do estágio de observação na sala da Educação de Jovens e Adultos do ensino fundamental proporcionando aos estudantes a oportunidade de acompanhar a Prática Docente em situação real de aprendizagem. Para Tardif a prática docente é uma atividade que mobiliza diversos saberes pedagógicos através da formação dos cuja existência depende, de sua capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condições para a sua prática.

Palavras-chaves: Educação de Jovens e Adultos; Prática Docente; Formação de Professores.


Introdução


A Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino fundamental teve sua importância no mundo atual em 1997, na V Conferência Internacional do Ensino de Adultos, em Hamburgo-Alemanha, o sentido da educação de adultos alargou-se para absorver a idéia do aprender para toda a vida, como condição indispensável a vida adulta, porque os sujeitos se humanizam e se formam em processos continuados a de aprendizagem, não representados necessariamente pela escola, mas pelos múltiplos espaços sociais em que interagem, como o do mundo do trabalho, das relações familiares, sociais, religiosas de sindicatos, partidos políticos, associações, etc.

Metas foram estabelecidas e também foi reconhecido o direito dos sujeitos jovens interagem a modalidade educação de adultos, conforme vinha acontecendo, na prática educacional de muitos paises. A Educação de Jovens e Adultos, com o sentido de aprender por toda a vida responde as exigências do mundo contemporâneo, para além da escola. No atual momento político a EJA da concepção inicial de alfabetização ao ensino fundamental pela continuidade, entendida como garantia do direito constitucional. O que se reflete neste trabalho, enquanto professora da disciplina de prática de ensino no curso de pedagogia, oriento os estudantes de graduação numa atividade curricular, o estágio de observação numa sala de EJA do ensino fundamental, para o cumprimento da carga horária.

A pesquisa foi realizada numa escola escolhida pelos estudantes para observações da prática docente e dos alunos nas suas perspectivas dos seus estudos e experiências da formação profissional dos educadores e educandos.

Se, na experiência de minha formação, que deve ser permanente, começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me considero o objeto,que ele é o sujeito que me forma e eu, o objeto por ele formado, me considero como um paciente que recebe os conhecimentos-conteúdos-acumulados pelo sujeito que sabe e que são a mim transferidos (FREIRE, 1996a, p.23).

A discussão sobre a formação permanente do professor em especial a EJA compreende a formação inicial continuada, e ensinar passa a ser um desafio pois o mundo em transformação nos coloca questões diferentes a cada dia. Acreditamos que seja possível, a partir das analises das respostas dos alunos e professores possamos mostrar: que os alunos entendam a importância dos estudos para a vida e para o trabalho; a prática contribui na formação de qualquer atividade profissional, pois pode desenvolver habilidades, fundamentais para o aprendizado; a observação de uma aula pelos estagiários é um privilégio para investigar as relações entre o professor e alunos nas interações de ensino-aprendizagem. A proposta das professoras-pesquisadoras, é analisar a prática de ensino do professor da EJA como observadoras participantes deste procedimento didático.


1. Constatando o aprendiz(ado) da prática de ensino


Ao assistir uma aula estudantes-estagiário com o propósito de observar, estudar, examinar atentamente as pessoas e/ou ambiente que os cerca, vigiar as próprias ações ou preceitos ? são atividades especifica do processo de formação profissional do estágio. Assim na sala de aula o estudo de observar a prática docente do professor na sua manifestação espontânea, para adquirir um conhecimento determinado sobre um ou mais aspectos da realidade. E o que foi visto vai ser descrito uma situação, evento ou experiência, o observador fala de como ele percebe são muito influenciadas por nossa história pessoal, levando-nos privilegiar certos aspectos e negligenciar outros. Quando se pergunta dos professores que aceitam receber estudantes-estagiários o que isso lhe traz Perrenoud, habitualmente dizem que buscam contatos e uma ocasião de se renovarem através do encontro acolher a formação dos colegas e participar delas.

Os partidários da nova pedagogias e do ensino recípoco descobriram há muito tempo que formar alguém é uma das mais seguras maneiras de se formar (PERRENOUD, 2000a, p.167). O encontro em sala de aula permite uma ruptura com as evidências do senso comum e da consciência limpa. É também a função da análise de práticas, mais um professor não pode contar senão o que sabe. Um questionamento bem conduzido pode fazê-lo dizer um pouco mais do que ele manifesta espontaneamente, mas não a ponto de atualizar faces inteiramente inconscientes de sua prática e de suas atitudes em aula. Um observador vê coisas elementares que o discurso mascara porque o professor, literalmente, "ao sabe o que faz", ou porque não se empenha em pôr em palavras certas práticas nas quais ele se sente vunerável. A observação é formadora em outro sentido: vendo um estagiário reagir, mesmo que não seja "seu responsável" o professor mais experiente, por contraste, toma consciência do que faz. Tenta explicar a diferença, dá-se vontade que não está ligada só a seu nível de especialização, que ela depende das personalidades, das escolhas, das obsessões e das angústias de cada um. Isso é um elemento formador para o professor experiente e, se ele aceitar verbalizar suas reflexões e discuti-las, também para o estagiário (ibden, p.168).

Ao observar na sala de aula um fenômeno ou coisas elementares, o observador pertuba a situação, interferindo no fenômeno que esta sendo observado. A presença do observador muda a realidade e a forma ou modo escolhido para observar, vai determinar, em parte, o que se vai ver ao descrever uma situação, evento experiência, o observador fala de como ele percebe, as observações da realidade que são influenciadas por nossas história pessoal, levando-nos privilegiar certos aspectos e negligenciar outros.

Porém o aprendizado da prática na escola requer que os estagiário observem o fenômeno da sala de aula para mudar a sua própria realidade refletida naquele momento sob a orientação do professor da disciplina abalisados pelos teóricos estudados. Na orientação do professor identifica-se a escola escolhida com escaminhamentos para após o estágio emitirem um relatório. Os estágios curriculares são definidos pela resolução nº 54/87, em seu artigo 2º consta que os estágios curriculares são um conjunto de atividades de aprendizagem social, profissional e cultural.

A ação do educador deverá, ao contrário se revelar como resposta as diferentes necessidades colocadas pela realidade educacional e social. Para tanto, a sua formação deverá ter como finalidade primeira a consciência crítica da educação e do papel exercido por ela no seio da sociedade... Todos os componentes curriculares devem trabalhar a unidade teoria-prática sob diferentes configurações, para que não se perca a visão de totalidade da prática pedagógica e da formação como forma de eliminar distorções decorrentes da priorização de um dos dois pólos. Acreditamos que esta alternativa traz em si a possibilidade do educador desenvolver uma "práxis" criadora na medida em que a vinculação entre o pensar e o agir pressupõe a unidade, a inventividade, a irrepetibilidade da prática pedagógica (CANDAU, 1989a ,p.60).



2. Metodologia


Este trabalho foi realizado a partir das observações dos estudantes-estagiário do curso de pedagogia da disciplina prática de ensino na EJA onde colocamos a analise da prática docente e aprendizagem entre professores e alunos. Realizamos uma pesquisa qualitativa, segundo Oliveira (2005a) esse tipo de pesquisa é usado quando se trata de um processo que exige reflexões e analises da realidade através da utilização de métodos e técnicas que ajudem na compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico. Utilizamos um questionário para os professores.


2.1 Os Professores falando do seu trabalho

Questão 1: É difícil trabalhar com EJA. Justifique.
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A turma logo de inicio é fácil, mas quando nós nos apegamos com os alunos o programa se torna fácil, desde que haja compreensão entre alunos, professores ou vice-versa .É um desafio para nós professores enfrentar a cada dia, além do amor a profissão pois sabemos que ao ver um jovem lendo ou escrevendo algo e de um adulto tendo a oportunidade que nunca teve, esse é o maior salário para o professor da EJA, ver o aluno ler e escrever (L).

Achei bem difícil no inicio há 4 anos atrás, mas com o passar do tempo fui me adaptando.A dificuldade é quanto a metodologia que é diferente e o cotidiano dos alunos leva-os a evasão escolar (ME).


O alunado é muito disperso e ansioso ao mesmo tempo, porque quer aprender rápido, mas o cansaço não deixa.Estou sempre aperfeiçoando os conteúdos levando para a vivência de cada um, assim o resultado é mais eficaz e favorável (MLM).

As dificuldades aparecem em todos os campos da educação, no EJA não seria diferente, porém as dificuldades vão ficando para trás, quando consigo atingir meus objetivos e ao mesmo tempo dos meus alunos (J).

O aluno de EJA tem maiores dificuldades para aprenderem, pois são pessoas que trabalham o dia inteiro, muitos são casados, tem filhos e muitas vezes trazem uma mente cheia de preocupação e problemas, e com isso o professor tem que ser criativo para alcançar um resultado que deixe os alunos satisfeitos, evitando a evasão (MLA).

O professor deve ter disponibilidade de pesquisar e selecionar a sua turma fazendo uma sondagem. Assim, fica mais fácil trabalhar com jovens e adultos (SM).


Os seis professores ensinam da 1ª a 4ª fases das séries do ensino fundamental e falam da evasão, dificuldade do educando, o conteúdo metodológico e o programa. Outros inúmeros problemas que todos vão encontrar, porque para trabalhar com um método diferenciado citamos que Freire (1983b) elaborou uma metodologia dos temas geradores, mas com a apropriação de novos conhecimentos que lhes permitam constituir-se em sujeitos emancipados e protagonistas de transformação de si e do meio em que vivem. Com isso, o professor sente dificuldade em si apropiar dos conteúdos básicos por não ter na sua formação continuada a metodologia especifica para essa clientela. Com a sua prática ao longo de várias experiências adquiridas, o professor tem sua maneira própria de tratar a prática educativa advinda de capacitações pesquisas e leituras formando o seu saber docente bem como os diferentes saberes Tardif (2003a) um professor é antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a outro (p.31).


Questão 2: Como você analisa o rendimento da turma.

Procuro fazer sempre uma avaliação contínua analisando o que foi aprendido pelos educandos.O rendimento é médio, poderia ser melhor se todos não tivessem outras atividades no seu dia-a-dia (MLA).


Está em fase de desenvolvimento pois, a meta e constituir a aprendizagem na linguagem como no raciocínio do jovem e do adulto.Igual a uma série regular mesmo se tratando de pessoas com mais idade (L).

O processo de ensino-aprendizagem é lento.Os alunos já tem uma bagagem de aprendizado razoável e ajuda bastante.O professor deve avaliar constantemente a turma, os desafios pelas atividades dos alunos realizadas em sala de aula (SM).


Os três relatos acima trasncritos dos professores falam em avaliação e não no rendimento do aluno é a produtividade continua para avaliar aprendizagem.

Oliveira (2008b) supõe a avaliação um momento de reflexão, mudanças, de interação entre o aluno e o conhecimento onde o professor atua como o mediador. É preciso resgatar a idéia, durante a avaliação, de que o peso do processo não recai apenas sobre o aluno, mas o professor também acarreta uma grande parcela de mudança em suas próprias habilidades. Colocar o professor como um "aprendiz" diante da ação educativa ajuda a minimizar o medo e a ansiedade do aluno (p.384).

Questão 3: Que tipo de apoio pedagógico você recebe.

Capacitações e encontros com os coordenadores e/ou supervisores, palestras, materiais didáticos, livros, vídeos, material de apoio, diversidades textuais, etc.

Torna-se necessário essas capacitações e encontros na formação continuada dos professores a participação em encontros e treinamentos desde que haja a intervenção na escola. Essa formação continuada oferece ao professor a oportunidade de ampliar seus conhecimentos, numa participação ativa para o resgate da valorização profissional.


Questão 4: Por que apesar das dificuldades você continua em sala de aula de EJA.

No momento foi o que me adaptei, prefiro a sala de aula do que a secretaria
(MLM).
Através da educação podemos mudar o quadro do nosso Brasil, tanto politicamente como profissional e quero sempre permanecer em sala de aula , além do apego dos nossos alunos ou seja o relacionamento aumentando entre nós (L).

Acredito que a educação é uma oportunidade para provocar mudanças. E quero ser gente ativa nessa mudança e me inquieto com a realidade dos nossos educandos, quero colaborar para essa realidade ser transformada para melhor (ME).

A escolha da minha profissão já sabia que era árdua, apesar das dificuldades gosto do que faço apesar das barreiras encontradas as dificuldades são para serem vencidas e desenvolver no educando uma forma cada vez mais lúcida de pensar, através da analise critica de sua prática de vida levando os conhecimentos que servem para ajudar a resgatar sua cidadania (J).

A sala de aula deve estar em diferentes situações e o educador deve conduzí-la de modo a garantir que os alunos possam expor suas dúvidas, receber orientações e trocar informações constantes e como educadora continuo com a perspectiva de que um dia vai melhorar (SM).


Trabalhar com jovens e adultos, é se reciclar porque eles tem muitas experiências para repassar (MLA).


Segundo Rubem Alves é nas perguntas que a inteligência do professor se revela. O filósofo Ludwig Wittgenstein afirmou: "Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo". Minha versão popular: as perguntas que fazemos revelam o ribeirão onde quero beber...(ALVES, 2004, p.15-16). No ribeirão de dificuldades apontadas pelos professores revelam o mundo da sua profissão e escolha pela educação retomamos para repensar no, que fazemos. Sabe-se que nascemos proporcionados as nossas ações, e estas, quando deflagram, encontram sua medida de ser (ANDRADE, 2008a, p.125). Sabemos que as dificuldades não desanimam a vontade de ensinar, realizar, acreditar, fazer são as ações deflagradas do ser professora e professor sempre querendo ter um aprendizado e ser aprendiz para (re)passar aos alunos. Quando falamos a palavra aprendiz repensamos o professor.


Andrade indica em principio, aquele que tateia em um ofício, que não passa de um iniciante. O poeta era, na poesia um mestre. É do exercício dessa maestria, e do prazer em experimentá-la em terrenos distantes, de transportá-la para outras regiões sem que ela se perca, portanto, que se trata (ANDRADE, 2008b, p.7).


Por enquanto, o professor aprendiz é um principiante na apreensão do conhecimento didático pedagógico da EJA, ensinar nessa modalidade desenvolvendo um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos.Tardif nos saberes experienciais dos professores, no exercício de suas funções prática e na prática de sua profissão, desenvolvem saberes específicos (TARDIF, 2003b, p.38). A mediação entre saberes e inteligência se dá pela didática. Se a aprendizagem não acontece, o problema se encontra ou na inteligência deficiente da criança ou numa didática inadequada (ALVES, 2004, p.55) .



2.2. Apreciação dos professores


A última questão os professores fazem comentários sobre o ensino como transmissão de conhecimentos, instrução e os métodos empregados na EJA, uma modalidade que como os outros tem suas características próprias, nem sempre respeitadas pelos professores e muitos alunos não conseguem se adaptar e desistem. A EJA, é uma oportunidade para muitos que não tiveram acesso a escola em idade própria ou por outros motivos, só que alguns professores excluem encarando ser um ensino de especificação própria que já passou por grandes mudanças. Hoje, temos um maior apoio por parte do sistema educacional, os alunos vão a escola com o objetivo maior, a não ser apenas passar o tempo. Entretanto, o ensino da EJA, antes de ser uma questão pedagógica, é uma questão sócio-política-econômica. Seria necessário uma ação educativa que buscasse a real integração de jovens e adultos analfabetos ao mundo letrado, com um caráter de ensino permanente, regular e integrassem a outras medidas que visem a melhoria das condições de vida dos mesmos.


Nos comentários, é dificil ser professor da EJA, porque os alunos chegam para nós com uma gana de aprender uma sobrecarga sobre eles muito grande e avaliar-nos nós mesmos o nosso trabalho é progressivo, dependendo da turma e o desempenho desses alunos fora de faixa etária para freqüentar o ensino regular da escola, tendo assim oportunidade de recomeçar com muitos sonhos e ajudarem seus familiares. Essa vontade de aprender professor e alunos estão atrelados no contexto escolar, que tem como fundamentos da aprendizagem o aprender a conhecer com os educadores; aprender a ser pessoa, na construção do projeto de vida com coerência e autonomia; aprender a fazer desenvolvendo a sua capacidade de relacionar conhecimentos e aprender a conviver como educadores fazer do nosso trabalho uma ferramenta útil para o exercício da democracia.


Um aprendizado da prática é condição necessária para um bom desempenho da prática docente, mas não é suficiente para ser um professor, é mais do que tudo isso que foi observado e relatado nas respostas dos professores. O estágio realizado na sala de aula da EJA, observou-se o procedimento do professor e alunos como mais uma experiência profissional para exercer a função nessa modalidade de ensino.

Isto significa que a educação de adultos é uma tarefa com características próprias que exigem um educador com habilidades especiais. Ela é, portanto, um processo educativo onde são relevantes sua especificidades dos educandos, que exige habilidades especificas por parte do educador, e que ocorrem em espaço circunstancial que é a sala de aula. O professor que seguir a profissão no caminho da educação de jovens e de adultos não é pensada como um trabalho profissional ela é sempre tratada como uma ação menor, cujos resultados são medidos, nas mais das vezes, por dados estatísticos obtidos através de métodos que possam apresentar resultados a imagem do governo que a implantou (FÊNIX,2003,p.18).




3. Perspectivas dos alunos da EJA


As perguntas formuladas foram as seguintes: Por que você não concluiu seus estudos. O que espera da EJA. O que motivou você voltar a estudar. Dê sua opinião sobre sua aprendizagem. Faça comentários sobre o ensino.


1. Não concluiu os estudos: A maioria dos alunos não concluíram os estudos por questões familiares, trabalho, obstáculos e problemas na vida(casamento,saúde e outros). Conclui Frigoto é crucial que entendamos que não se trata de jovens em geral.

Os sujeitos que procuram a educação de jovens e adultos pertencem a classe de filhos de trabalhadores assalariados ou que produzem a vida de forma precária por conta própria, no campo e na cidade, em regiões diversas do Brasil e com particularidades socioculturais e étnicas (FRIGOTO, 2004a, p.106).


2. Esperam do EJA: Alcançar seus objetivos investir no futuro, estudar e se formarem, aprender (a ler, fazer contas, coisas boas) Sousa(2002) diz que do ponto de vista didático, trabalha-se com a idéia de que o sujeito que aprende o que faz a partir de estruturas prévias e de uma maneira ativa de sua cultura singular. É uma oportunidade concreta de preparação dos indivíduos para melhor enfrentar a competitividade no mercado de trabalho. Na EJA, defendida por Freire(1974), o educando é convidado a refletir sobre a sua condição de vida é levado a perceber a contribuição na construção do mundo do qual é parte.


3. Retorno aos estudos: Os motivos variam de causas diversas; pedidos, incentivos, necessidades de recuperar o tempo perdido, chegar nos lugares e não saber ler, necessidade de aprender, ler e descobrir o mundo, escrever melhor e para trabalhar tem que saber ler. Isso tudo requer um momento escolar apropriado para que se realize como uma mudança da percepção da realidade Freire afirma.

Que antes, era vista como algo imutável, significa para os individuos vê-la como realmente é: uma realidade histórico-cultural, humana, criada pelos homens e que pode ser transformadas por eles (FREIRE, 1985c, p.50)e Silva acrescenta que muitos buscam na escolarização a sua chance de inclusão social, entendida como participação no mercado de trabalho ou possibilidade de uma melhoria salarial (FÊNIX, 2003, p.19).


4. Falando de sua aprendizagem: opiniões variadas tais como; dificuldade para escrever, aprender a falar bem, aprendizagem vagarosa, hoje sou uma pessoa informada, aprendi (a ler jornais e as noticias, a fazer cálculos) e tenho muito a aprender.
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Cada concepção de aprendizagem (...) Weisz considera que na concepção construtivista - no qual o conhecimento é visto como produto da ação e reflexão do aprendiz ? esse aprendiz é compreendido como alguém que sabe alguma coisa (...). E o conhecimento novo aparece como resultado de um processo de ampliação, diversificação e aprofundamento do conhecimento anterior que ele já detém (WEISZ, 2002, p.24).




3.1 Comentários dos alunos da EJA


A grande chance para concluir seus estudos durante 12 meses na EJA faz duas séries precisamos de muito mais a professora é a motivação incentiva e dá força é dez, aprendo cada vez mais (AF).


O curso é como se sentisse em liberdade para obter sucesso no mercado de
trabalho e ser um profissional (V).


Oferecendo o ensino fundamental de 5ª a 8ª série em dois anos e o ensino médio em 1 ano e 5 meses com alunos na faixa etária de 15 a 24 anos, com aulas presenciais, a educação de adultos torna-se mais que um direito: é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além disso, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e cientifico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e a cultura de paz baseada na justiça.


Contudo, a Lei 9394/96, amplia a noção do EJA, entendendo-a como o conjunto do ensino fundamental e do médio com identidade própria quando oferecidos aqueles que acima de 15, não tenham concluído o ensino fundamental nem estejam matriculados no ensino médio. Essa lei em seus artigos 37 e 38, indica algumas condições e características:

- gratuidade quando oferecida pelo poder público;
- apropriada segundo as características dos alunos, seus interesses e condições de vida e trabalho;
- ofertas: cursos e exames;
- currículo: base comum nacional;
- os concluintes da EJA ? Ensino Fundamental deverão ter completado, 15 anos, e 18 anos os da EJA ? Ensino Médio quando na prestação de Exame Supletivo.


4. Analise dos dados


Participaram desta pesquisa onze professores que atuam na EJA de 5ª a 8ª série do ensino fundamental em campo da escola localizada no município de Bonito, no segundo semestre de 2008. A escolha da mesma deu-se pelos estudantes-estagiário residirem na localidade. Dos onze professores escolhemos seis questionários assinados pelos professores já que não era obrigatório colocar seus nomes. Também participaram da pesquisa vinte e três alunos. Com cinco questões abertas responderam o questionário e na coleta de dados usamos a metodologia interativa na categorização demonstrada abaixo.

(Observação inserir o quadro de categorização)


5. Ensino Integrado: Dialogando com a cidadania, trabalho, Aprender a ler e escrever


Existem muitas maneiras de ajudar alguém, mas nehuma é tão gratificante quanto ensinar (Prof . SM).


Na pergunta sobre a sua vida estudantil, as respostas são idênticas, pois a realidade financeira é sempre igual. Alegam ausência a escola devido a família numerosa, necessidade de trabalhar, cidadania e sua vontade de saber ler e escrever para se sentir mais independente e não se sentir um cego na multidão. Consideram o curso uma segunda chance para aqueles que não tiveram oportunidade de estudar quando crianças. Fazendo uma integração do que a EJA propõe na Lei de Diretrizes e Bases, Lei n° 9394/96, define logo no artigo 1º, que a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social. Essa educação escolar tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, e tem como um dos princípios, justamente, a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais (artigo 3º Inciso XI).


Os estudantes da EJA do ensino fundamental vem a escola com essa finalidade de estudar para ter uma vida profissional, ser um cidadão, ter uma qualificação profissional. E a educação se baseia em uma filosofia de vida e do homem em suas práticas sociais. Na verdade a educação escolar vincula ao mundo do trabalho, ao mundo atual, automatizado, computadorizado, em crise de emprego, onde tudo acaba se transformando em mercadoria e exige conhecimento. A experiência do trabalho duro e precário é parte da vida cotidiana dos jovens e adultos comenta Frigoto aos quais a sociedade brasileira negou a escolaridade ou apenas a concedeu por alguns anos. Da mesma forma a cultura, como expressão da atividade humana que produz bens materiais e simbólicos, forja-se dentro dos limites do imperativo da necessidade (FRIGOTO, 2004b, p.111).

Nesse comentário o trabalho é o contexto mais importante da experiência curricular a lei reconhece que todos independente de sua origem ou destino profissional devem ser educados na perspectiva profissional. Segundo Costa educar, para ser somente empregável é uma idéia neoliberal dominante no ensino-técnico profissional da reestruturação produtiva do processo de globalização excludente que na, formação técnico-profissional, nem subordinada a lógica única da produção e do mercado.


Diante das mudanças no mercado de trabalho referente da crise estrutural do emprego, já não se pensa em "formar para o posto de trabalho", mas para a "empregabilidade". Passa-se, portanto, a ideia de que, com os diversos cursos técnicos espalhados pelo país, todos os estudantes se tornarão empregáveis, já não se fala do ensino para a formação da cidadania e para a luta pelos direitos, mas para as exigências do mercado. Portanto a novidade não é integrar todos, mas apenas aqueles que adquirirem "habilidades básicas" que gerem "competências" reconhecidas pelo mercado (COSTA, 2007, p.81).


Nas Bases legais das Diretrizes Curriculares para a EJA a educação de jovens e adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. A palavra cidadania significa a qualidade do cidadão, cidadão é aquele que está no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. A escolaridade é obrigatória todos tem direito diz o parecer CNE/CEB nº 04/98 quando defende a função reparadora da EJA, nada mais significante e importante para a construção da cidadania do que a compreensão de que a cultura não existiria sem a socialização das conquistas humanas.


Em Diálogo com os pressupostos referenciais do PROEJA Programa de Integração da Educação Profissional ao ensino médio na modalidade de EJA, indicam a necessidade de ampliar seus limites, tendo como horizonte a universalização da educação básica aliada a formação para o mundo do trabalho fazendo parte de uma sociedade como homem competente, um sujeito político, um cidadão capaz de atuar sobre a realidade e dessa forma ter participação ativa na história da sociedade da qual faz parte. Assim sendo o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo não se esgotando, portanto, na relação eu-tu (FREIRE, 1994d, p.93).


Nas últimas décadas o marco inicial da EJA no Brasil, a alfabetização que Paulo Freire direcionou experiências com o seu método para alfabetizar jovens e adultos. Em 1997 a Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Adultos, cita (...) a alfabetização em toda sociedade é uma habilidade primordial em si mesma é um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. Tendo a habilidade de ler e escrever os alunos da EJA valorizam a importância de aprender muito mais na leitura e escrita.


Não basta saber ler e escrever, é preciso também, saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder as exigências de leitura e de escrita que a sociedades faz continuamente, a autora esclarece dissociar alfabetização e letramento é um equivoco porque, (...) no mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita ? a alfabetização, é pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividade de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita- o letramento (SOARES, 1998, p.20).





6. A Dialética do professor: Capacitação, Competência e Interação


Gostaria de aprender a linguagem matemática e escrita simples para usar nos afazeres do dia-a-dia(MS).

No que se refere o que diz os professores na sua prática educativa a dialética na sala de aula predomina ensino e aprendizagem. Apesar de antiga a dialética nunca prevaleceu como concepção dominante e resistiu através dos tempos vem sendo reconstruída por todo educador que se propõe sistematizar a teoria e a prática dialética. E como se dá essa prática? Através do diálogo em sala de aula nas interações com alunos, professores, nas capacitações, entre iguais e diferentes, pois implica em conhecimento e respeito ao pensamento lógico e valores de cada um. A educação dialógica pressupõe um homem histórico, compromissado com as tarefas de seu tempo e com as transformações sociais. Preconiza uma sociedade onde todos possam participar de sua direção social, cultural, política e ideológica. É um processo de formação, capacitação e fortalecimento de consciência de classe em busca de uma intervenção criativa e organizada na transformação estrutural da sociedade.


Parte da problematização da prática, passa pela teorização dessa prática, onde se busca refletir e conhecer melhor o tema problematizado para depois retornar a prática, a fim de transformá-la. Voltar a prática com referenciais teóricos claros e agir de modo mais competente. No texto concepções de educação de Ferreira parte da problematização da prática, teorização dessa prática, a uma nova reflexão e teorização num processo continuo de ação-reflexão-teorização (MOVA).

l. Na condição essencial para o êxito do professor e do seu ensino, abrange os fundamentos metodológicos e pedagógicos para prática educativa e o seu processo tem como ponto de partida a realidade e a necessidade de cada grupo, atendendo, assim, a sua especificidades. A formação contínua ou saber explicitar as próprias prática na concepção de Perrenoud escolarizou-se muito e espera dos professores que a freqüentam o domínio do "oficio de formado"(PERRENOUD, 2000b, p.159).


2. Na noção de competência Alarcão inclui não só conhecimentos, mas a capacidades (saber o que fazer e como), experiências (capacidade de aprender com o sucesso e com os erros), contatos (capacidades sociais, redes de contatos, influência), valores (vontade de agir acreditar, empenhar-se, aceitar responsabilidades) e poder (físico e energia mental) (ALARCÃO, 2008, p.17) para Perrenoud a noção de competência designará uma capacidade de mobilizar recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação (p.15) e acrescenta toda prática é reflexiva, em que seu autor reflete para agir e estabelece a posteriori uma relação reflexiva com a ação realizada (PERRENOUD, 2000c, p.160).


3. Na perspectiva de uma educação dialógica, como a proposta por Freire ocorrem interações verbais e orais; no entanto, ele não se confunde com o simples conversar ou dialogar entre professor e aluno. A dialogicidade do processo diz respeito a apreensão mútua dos distintos conhecimentos e práticas que os sujeitos do ato educativo- alunos e professores ? tem sobre situações significantes (DELIZOICOV, 2002, p.193).


Nessa perspectiva as Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA diz que a formação implica na compreensão da importância do papel da docência, que buscara um conhecimento cientifico e pedagógico, possibilitando assim o enfrentamento das questões fundamentais da escola como instituição social na qual as práticas sociais direcionem as idéias de formação, reflexão critica, compreendemos a formação de professores como uma dimensão social, continua e progressiva, em que a construção da identidade docente perpassa toda sua vida profissional.


7. Considerações Finais


Mediante as observações relatada é possível afirma Fazenda, pensar o papel do estágio nos cursos de formação de professores tem sido para mim um tarefa complicada, pois sempre acabo defrontando com questões altamente contraditórias e paralelas (FAZENDA, 1991a, p.53). A educação de jovens e adultos como qualquer outra educação, tem um papel importante na formação de professores e no processo de transformação da realidade social. Neste processo os aprendiz no oficio de professor concluiram o estágio, escolhemos o que escreveram as estágiárias ao considerar o trabalho.

Para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir mas também sonhar, não apenas planejar, mas também acreditar (Anatole France). Trabalhar com Jovens e adultos é uma tarefa não só difícil como requer muita responsabilidade. Diante dessa afirmação é necessário que o educador além do compromisso com os alunos tenham também idéias inovadoras para que a aprendizagem venha de forma interessante aos alunos, refletindo a sua realidade e do meio em que vivem. A educação de jovens e adultos é também uma educação especial, requer uma metodologia direcionada, pois a estudar na fase adulta com toda uma linguagem de responsabilidade práticas e precisam conciliá-las com a escola.


Esse estágio foi realizado com alunos da 1ª fase que moram na zona urbana são vários os motivos e alegações do porque não estudam. De acordo com a professora, seus alunos chegam a escola cheio de expectativas e sonhos de aprender a ler e escrever. Ela trabalha de forma simples para torná-los capazes de resolverem problemas e necessidades do meio em que vivem para realizar seu trabalho com a ajuda de livros do EJA, porém reclamam da falta de uma didática voltada para o curso. A falta de apoio de uma capacitação voltada ao EJA. Diante das dificuldades, ela não desanima, pesquisa, busca novos meios de ensinar e trabalhar o conhecimento trazido por seus alunos e prefere trabalhar com essa modalidade por gostar. Repassando todas as dificuldades, acreditamos que todos os jovens que levam ao analfabetismo de jovens e adultos devem ser objeto de profunda reflexão.

Atualmente são oferecidos pelo governo federal ajuda de custo as crianças e suas famílias justamente para que a escola seja freqüentada na idade adequada. Diante de tudo que observamos durante este estágio foi possível conhecer os entraves que dificultam a aprendizagem no EJA e a evasão sofrida nesta modalidade, diante de tudo isso partilhamos da opinião de que o problema deve ser combatido com objetividade e resistência não só pelos educadores, mas também pelos próprios alunos e por não deixar anular as expectativas e sonhos desses alunos (estagiárias Ana Paula de Lima e Rosa de Lima Barbosa, 30/10/08).


As considerações feitas pelas alunas sobre a prática de ensino do professor da EJA, os desafios do dia-a-dia com seus alunos e os empecilhos encontrados por eles no desenvolver de suas atividades diárias, considera Freire ensinar exige apreensão da realidade que é outro saber fundamental a nossa experiência.


O aprendiz paciente da transferência do objeto ou do conteúdo do que como sujeito crítico epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa de sua construção. Creio poder afirmar, na altura destas considerações, que toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina (FREIRE, 1996d, p.69).


Analisando essa prática de ensino do curso de Pedagogia durante o segundo semestre de 2008, e tantas outras que já havíamos trabalhado resolvemos descrever as respostas dos professores e alunos relativas ao que foi visto pelos estagiários da educação de jovens e adultos, lembramos de Ivani Fazenda o papel do estágio nos cursos de formação: pensar o Estágio como pesquisa, volto a afirmar, de nada valeria se não pudéssemos pensá-lo numa dimensão maior: a de um projeto coletivo de formação (FAZENDA,1991b, p.61).



Referências

ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 6ed. São Paulo: Cortez, 2008.
ALVES, Rubem. O desejo de ensinar e a arte de aprender. São Paulo, Campinas: Educar DPaschoal, 2004.
ANDRADE, Carlos Drumond de. Contos de Aprendiz. 54ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação.
_________Lei 5.478 de 24 de junho de 2005. Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos.
_________Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental proposta curricular para educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série, 2002. Disponivel no site http//:www.cinterfor.org.uy/public/spanish/region/ampro/cinterfor/temas/youth/doc/not/livro287/livro 287 pdf.
CADERNO de Capacitação Telecurso-ensino fundamental 2000. Fundação Roberto Marinho.
CADERNO de Formação Telecurso-Ensino Médio.Caderno de textos. Programa Travessia de aceleração de estudos de Pernambuco. Fundação Roberto Marinho.
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes.et al. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas, São Paulo: Papirus, 1991.
FÊNIX. Revista pernambucana de educação popular e de educação de adultos. NUPEP Centro de Educação da UFPE, Recife, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.