Prática docente: desafios e conquistas

 

Vanusa Beatrís Cabral Edinger

Graduanda do Curso de Pedagogia a Distância (Universidade Aberta do Brasil) Universidade Federal de Pelotas.

 

Este artigo tem como objetivo sistematizar minha experiência como estagiária do curso de Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Pelotas. O estágio foi realizado em uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental de 9 anos, em uma escola pública da rede municipal, situada na periferia de Sapiranga, RS. A turma totaliza 24 alunos com idade entre oito e nove anos. Planejar com o olhar atento às especificidades dos alunos é essencial para desenvolver um trabalho de qualidade visando o desenvolvimento total do aluno. E esse cuidado deve se estender em sala de aula nas atividades propostas e na avaliação como instrumento de orientação permanente da aprendizagem com retorno as dificuldades apresentadas.

Para o desenvolvimento deste trabalho além da prática em sala de aula utilizei como referencial as pesquisas e estudos dos autores da área da educação. A intenção é desenvolver a reflexão crítica sobre o estágio e melhorar minha prática docente.

O trabalho será dividido em quatro capítulos, sendo o primeiro a descrição da etapa em que o estágio foi realizado. No segundo o processo de ensino e a importância de considerar os saberes prévios dos alunos na elaboração do planejamento das aulas. No terceiro a aprendizagem dos alunos enfatizando a necessidade de acolhê-los e ajudá-los em seus estudos e, sempre que necessário, orientá-los em suas dificuldades e buscas. No quarto o trabalho docente, destacando a importância do professor se posicionar como mediador da aprendizagem dos alunos, e não somente transmissor de conhecimentos, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e ativos em nossa sociedade.

 

1. Etapa de ensino

A aprendizagem, independente da etapa de ensino, deve acontecer de forma prazerosa, natural e espontânea, respeitando o conhecimento prévio, o tempo e as características de cada aluno. É preciso fazer com que eles percebam a função da leitura e da escrita em sua vida. Também é muito importante que nos anos iniciais do Ensino Fundamental a aprendizagem da língua escrita, o desenvolvimento do raciocínio matemático e sua expressão em linguagem matemática e o desenvolvimento das outras áreas do conhecimento sejam trabalhados de forma que os alunos possam, através do lúdico, construírem e ampliarem a compreensão da realidade e do conhecimento histórico, estabelecendo novas formas de entendimento das ações e relações de vida.

Segundo o Plano de Estudos do município de Sapiranga a organização do conhecimento escolar do terceiro ano será desenvolvida através do ensino globalizado, abrangendo as áreas do conhecimento e temas transversais, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais para os anos iniciais do Ensino Fundamental, do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental de nove anos. Cada aluno tem e traz suas vivências para o ambiente escolar. Com a diversidade econômica, social e cultural que existem em nossas escolas é preciso pensar, refletir e inserir essa realidade para o planejamento e práticas em sala de aula. Com certeza não é uma tarefa fácil, levando em consideração a grande quantidade de alunos por sala e a diversidade de estágios de aprendizagem em que eles se encontram. Mas é necessário se quisermos que os alunos avancem, realmente aprendam e entendam os conhecimentos históricos de nossa sociedade.

Não é somente para ler e escrever que as crianças frequentam a escola. Os alunos precisam desenvolver habilidades que facilitem o processo de ensino-aprendizagem, ter conhecimento sobre cidadania, valores éticos e sociais e saber posicionar-se como cidadão. É importante que ele saiba que além de lutar pelos seus direitos ele também tem deveres que precisa respeitar. Enfim, saber a importância de ser um cidadão crítico e atuante em sua comunidade.

Acredito que a escola precisa ser: um lugar em que as crianças sintam prazer em frequentar, um local de exploração do mundo, onde pode-se observar, interagir, opinar, relacionar fatos e pensar, refletir, tirar suas próprias conclusões. Um lugar onde valoriza-se o ser, com ensinamentos de respeito ao próximo e a si mesmo. Manter a autoestima elevada é muito importante para a criança confiar em sua capacidade de aprender e manter-se motivada.

Todo o ambiente poder ser de aprendizagem e não somente a sala de aula. Diversificar as atividades fora da sala é muito importante para que a criança possa observar melhor o mundo a sua volta, pois através da observação, exploração e troca de experiência com as outras pessoas, e não somente com o professor, é que a criança poderá construir e reconstruir seu conhecimento e buscar soluções para dificuldades e desafios apresentados para ela. Devemos lembrar que o professor não é o único detentor do saber. Todas as pessoas tem algo para ensinar e para aprender, independente da idade e da escolaridade

Pensar nas ações e no planejamento das aulas é essencial para potencializar a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos. Conhecendo a turma, o professor pode planejar atividades individuais, em grupo e aproveitar as atividades coletivas da escola para trazer aos alunos os conhecimentos necessários para o aprendizado da turma. E isso pode ser feito em todas os espaços da escola e não somente dentro da sala de aula com os alunos sentados em suas cadeiras.

Segundo Vasconcelos

O planejamento enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teórica metodológica para ação, que em função de tal mediação passa a ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário estabelecer as condições objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo (VASCONCELOS, 2000, p.79).

 

Levar em consideração no planejamento o tempo das atividades, dependendo da complexidade do tema/projeto e a idade das crianças. Nem sempre aquilo que foi planejado sai conforme o previsto, mas saber improvisar é muito importante para que o domínio da turma não fique prejudicado. Acredito que isso se aprende com a prática. Aproveitar o gancho de algo que não foi planejado ou o questionamento de um aluno pode render uma aula bem proveitosa. Não se pode ficar engessado no planejamento, nem tão pouco solto sem nenhum planejamento prévio.

Ao planejar o professor precisa ser coeso nas atividades para alcançar o sucesso nos objetivos de seu plano. A sequência didática também é importante para que as atividades tenham um propósito pedagógico e que não sejam atividades para preencher o tempo em sala de aula. Já a flexibilidade é essencial para resolver problemas ou dificuldades que não foram previstos e também dúvidas ou outros assuntos apresentados pelos alunos que não estavam no planejamento, porém são de interesse dos alunos. A precisão e objetividade são importantes, pois as atividades propostas precisam estar claras e serem objetivas para que não sejam entendidas de forma errada pelos alunos.

Libâneo (1994) nos diz que o processo de ensino está sempre em movimento e que vai sofrendo alterações a cada aula dada, semana, mês e ano. Assim é necessário olhar e refletir para a prática pedagógica, para que possamos evitar a rotina e a improvisação, conseguir realizar os objetivos propostos, garantir o máximo de aprendizagem para os alunos, com a segurança de saber a direção que se quer seguir e os objetivos que se que alcançar.

 

2. Processo de ensino

O grande desafio encontrado no estágio foi colocar em prática a teoria estudada no curso. Pensar no planejamento, nas tarefas, organizá-las na rotina da turma esse foi o primeiro passo no processo de ensino-aprendizagem que precisei desenvolver para os alunos da turma de terceiro ano.

Desde o primeiro dia de estágio, percebi a importância de escutar o que os alunos têm para dizer. Me surpreendi com o entendimento que eles tinham sobre alguns dos assuntos trabalhados em sala de aula. Fica claro a importância de se levar em consideração o conhecimento prévio da turma, para que o assunto trabalhado não fique muito distante do conhecimento e entendimento deles ou, até mesmo fácil demais, sem nenhum desafio ou curiosidade como motivação.

Trabalhar as atividades coletivas como as tarefas e as apresentações em grupos me fez refletir sobre a importância de proporcionar aos alunos esses momentos de discussão e debates. As crianças dos primeiros anos do ensino fundamental também precisam expor suas opiniões, saber ouvir e respeitar o que os colegas tem para dizer, mesmo que elas sejam diferentes. E essa negociação para poder avançar na realização das atividades só se aprende praticando, mesmo que nas primeiras tentativas aconteçam momentos de conflitos. Então é necessário ter muita paciência para que eles possam ter essa experiência coletiva e saber que nem sempre podem fazer tudo o que tem vontade. Quando existe um grupo é necessário pensar o trabalho coletivamente.

Na reflexão sobre as observações do estágio escrevi que ser professor é um grande desafio, pois são muitas crenças que precisam ser derrubadas. Como cita Santos no artigo O desafio de promover a aprendizagem significativa: “... precisamos renovar o olhar sobre o caos, de forma que enxerguemos novos caminhos, novas ideias e novas possibilidades”.

Realmente é assim, pois em quase todas as atividades em grupo que realizei durante os estágio precisei mediar as discussões. Eles não estavam acostumados a realizar esse tipo de atividade, então foi necessária muita conversa, negociação e paciência de minha parte. Acredito que por esse motivo muitos docentes não contemplam o trabalho coletivo, pois as tarefas individualizadas são mais fáceis de “controlar” os alunos em sala de aula.

As atividades mais significativas são aquelas em que eles participam contribuindo com suas opiniões, vivenciando as ações e não apenas lendo textos prontos e escutando as explicações dos professores. Percebi isso no primeiro dia em sala de aula ao realizar um texto coletivo.

Na escrita é necessário planejar, revisar tantas vezes quantas forem necessárias são objetivos que um escritor busca em sua escrita particular. Pretende-se desta maneira que o texto tenha entendimento do destinatário no tipo de texto que se quer transmitir. Desta maneira os alunos têm a oportunidade de apropriarem-se dos conteúdos curriculares da escola com sentido nas práticas do seu dia a dia.

Circular entre as classes e manter esse contato direto com as alunos facilita muito a verificação do rendimento dos estudantes. Não são somente as provas e testes com dia marcado que verificam o entendimento, compreensão e evolução do aprendizado dos alunos.

Segundo Luckesi (2004)

O ato de avaliar a aprendizagem implica em acompanhamento e reorientação permanente da aprendizagem. Ela se realiza através de um ato rigoroso e diagnóstico e reorientação da aprendizagem tendo em vista a obtenção dos melhores resultados possíveis, frente aos objetivos que se tenha à frente. E, assim sendo, a avaliação exige um ritual de procedimentos, que inclui desde o estabelecimento de momentos no tempo, construção, aplicação e contestação dos resultados expressos nos instrumentos; devolução e reorientação das aprendizagens ainda não efetuadas. Para tanto, podemos nos servir de todos os instrumentos técnicos hoje disponíveis, contanto que a leitura e interpretação dos dados seja feita sob a ótica da avaliação, que é de diagnóstico e não de classificação. O que, de fato, distingue o ato de examinar e o ato de avaliar não são os instrumentos utilizados para coleta de dados, mas sim o olhar que se tenha sobre os dados obtidos: o exame classifica e seleciona, a avaliação diagnostica e inclui (LUCKESI, 2004, p.4-6).

No dia a dia é possível perceber como o aluno está se desenvolvendo, se está evoluindo, quais são suas dificuldades e onde é necessário retomar o conteúdo para auxiliá-lo em seu aprendizado. Porém todos esses procedimentos necessitam do olhar atento do professor, da pesquisa e diagnóstico da turma. E com certeza necessitam de tempo e dedicação por parte do docente.

Às vezes pensamos em atividades sofisticadas que não saem conforme o planejado, o que acaba nos frustando. Acredito que o importante é mesclar o simples com o mais elaborado. Os jogos também fazem sucesso, tanto os concretos em sala de aula quanto os virtuais na informática. A maior parte dos alunos têm muita dificuldade no cálculo mental e os jogos proporcionam trabalhar a matemática de maneira lúdica. Um dos jogos que trabalhei foi o da multiplicação que auxilia na memorização da tabuada. É um maneira de estudá-la sem recorrer ao ato mecânico da decoreba. Os seis tabuleiros do jogo ficaram para a escola, na biblioteca, para ser utilizado por todas as turmas.

O tempo das atividades é algo que precisa ser bem planejado. Percebi que é preciso ter mais tarefas para os que terminam primeiro e também ter o olhar atento para os que demoram mais para desenvolvê-las. Existem os alunos autônomos que desenvolvem suas atividades sozinhos e aqueles que exigem muita atenção por parte do professor. Isso não é um tarefa fácil, pois é preciso atendê-los sem deixar os alunos independentes sozinhos. Todos em sala de aula precisam da atenção do professor. É bem difícil organizar isso, já que cada aluno tem seu tempo. Mas com a experiência vamos encontrando maneiras de organizar as atividades.

 

3. Aprendizagem dos alunos

A avaliação de aprendizagem dos alunos é um grande desafio para o professor. Alguns alunos conseguem realizar suas atividades com independência, entendem as atividades propostas e quando solicitam ajuda geralmente é para confirmar suas hipóteses. Já a grande maioria apresenta dificuldade de concentração ou dispersam-se com facilidade. Porém, algumas vezes, não são somente os alunos e sim as atividades propostas que são desinteressantes e o aluno não vê muito sentido ou utilidade no conteúdo ou atividade solicitada.

Segundo Luckesi (2004) “o papel do educador é acolher o educando, subsidiá-lo em seus estudos e aprendizagens, confrontá-lo reorientando-o em suas buscas”.

Ao chegar à escola o aluno já vivenciou em maior ou menor grau atividades de letramento. Placas de trânsito e propaganda, televisão, anúncios, embalagens de produtos e muitos outros tipos de escrita já fazem parte do dia a dia da criança.

Não podemos descartar todas essas vivências, pois

A criança vê mais letras fora do que dentro da escola: a criança pode produzir textos fora da escola enquanto na escola só é autorizada a copiar, mas nunca a produzir de forma pessoal. A criança recebe informação dentro mas também fora da escola, e essa informação extraescolar se parece à informação linguística geral que utilizou quando aprendeu a falar. É informação variada, aparentemente desordenada, às vezes contraditória, mas é informação sobre a língua escrita em contextos sociais de uso, enquanto que a informação escolar é frequentemente informação descontextualizada. (FERREIRO, 1995, p.38,39).

 

Então não podemos simplesmente alfabetizar as crianças. Precisamos ir além e perceber os avanços e as dificuldades dos alunos. E esse foi outro grande desafio do estágio: compreender quais as necessidades de aprendizagem, o tempo e o ritmo dos alunos.

Ao trabalhar com o dicionário, por exemplo, percebi que eles têm dificuldade em encontrar as palavras. Mesmo com as dicas que passei em slides e das explicações que coloquei no quadro, precisei auxiliá-los no trabalho proposto. Apesar de saberem a ordem alfabética, na utilização do dicionário, eles acabaram se atrapalhando. Então é necessário utilizar esses conhecimentos em atividades práticas e úteis e não somente em exercícios soltos.

Outra dificuldade são as histórias matemáticas, pois eles não interpretam o enunciado. A maior parte dos alunos tem essa dificuldade, pois quando passava nas mesas e pedia para que lessem com atenção a maioria conseguia realizar os cálculos propostos. Outro grande desafio é fazer os alunos escreverem. Eles não querem produzir textos, reclamam, mas depois de um tempo acabam realizando as atividades e escrevem além do que foi solicitado.

As atividades em grupo foram agitadas, mas segui com o que havia planejado. Com a experiência das duas primeiras semanas de estágio, senti a necessidade de incluir mais atividades como cruzadinhas e caça palavras para alcançar aos alunos mais rápidos. Os que não conseguiram terminar levaram como tema de casa e eu corrigia no caderno no outro dia. Também inclui mais jogos ao planejamento da semana. São atividades lúdicas em que os alunos mantinham-se mais concentrados e motivados em realizar os objetivos propostos.

O que me preocupou foi o entendimento das atividades pelos alunos. A metade da turma realizou as atividades com independência, entenderam as atividades propostas e quando solicitavam ajuda era para confirmar suas hipóteses. A outra metade, com exceção de dois alunos, apresentavam muita dificuldade de concentração, dispersando-se com facilidade. Como esta turma é muito agitada, que conversa e caminha durante as aulas acredito que fica mais difícil para esses alunos concentrarem-se nas atividades. Alguns frequentam o reforço escolar no turno oposto.

Os dois alunos que tem mais dificuldade não acompanham todo o conteúdo do 3º ano e precisei planejar atividades diferenciadas. Um deles tem um tipo de distúrbio, porém não está sendo acompanhado por profissionais capacitados, pois a mãe suspendeu o tratamento. Ele avançou em seu aprendizado no segundo semestre e lê com fluência, porém apresenta muita dificuldade na escrita. O outro aluno tem dificuldade de fala e de visão o que atrapalha sua escrita e leitura. A gagueira também dificulta muito sua fala. Está fazendo alguns progressos e também realiza atividades diferenciadas. Fico triste pois as famílias desses alunos não são comprometidos com a aprendizagem deles e a professora titular sozinha não consegue ajudá-los a avançarem em sua aprendizagem. A parceria entre a escola e a família é essencial para o sucesso do aluno. Mesmo assim ela não desiste e procura ajudá-los da melhor maneira possível. Procuro me espelhar nela, pois é muito comprometida com seus alunos e com a escola.


4. Trabalho docente

A aprendizagem é um processo individual que acontece de maneira única para cada pessoa. Para que ela aconteça é necessário que o aluno pense por si próprio. Apenas receber as informações e conteúdos prontos, na grande maioria das vezes, não é suficiente para que o aluno compreenda o que se pretende ensinar. De forma passiva, o aluno não pensa com sua própria cabeça, não relaciona o conteúdo com seu meio e suas vivências e, muitas vezes, não acha utilidade para esse aprendizado que lhe é solicitado conhecer e estudar para as futuras avaliações.

Nas práticas em sala de aula é preciso acabar com a aula dividida em somente dois momentos: primeiro a atividade de cópia e segundo a resolução das atividades copiadas. É preciso ir mais longe. Proporcionar atividades lúdicas, que envolvam os alunos, cativando seus sentidos, assim a receptividade será maior. Através de jogos (dominó de letras, palavras, de memória), música (trabalhar toda a letra, partes da música, frases, palavras), veritek (identificando palavras com desenho), trabalhar a escrita em diversos materiais, no chão (com giz), quadro, computador, folhas grandes, pequenas. É claro que também é importante e necessário utilizar o livro didático e o caderno individual. Essas atividades tradicionais também podem fazer parte da aprendizagem. Apenas não se deve limitar-se a elas.

A roda de conversa também é muito importante, pois propicia o desenvolvimento da oralidade e o respeito a opinião dos colegas e professoras. A leitura de gêneros textuais dos mais diversos tipos intercalado com atividades específicas para a apropriação da escrita diversificam a rotina das aulas.

Infelizmente, os alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental, especialmente os dos três primeiros anos, ainda recebem poucas oportunidades de aprendizado dos fatos, tempos e dos sujeitos históricos. Em grande parte das escolas, é somente trabalhado as datas comemorativas.

Segundo Bergamaschi:

O ensino de história assume uma perspectiva que se resume em festejar datas num desfile linear, anacrônico e sem significado, ao lembrar de fatos do passado de forma descontextualizada e sob um único viés, decorrente da atuação épica de personagens, reverenciados como “heróis”, e que figuram como seres sobrenaturais. Agindo assim, a escola está contribuindo para canonizar uma verdade, naturalizar uma narrativa, onde não cabe a multiplicidade e nem tampouco a vida das pessoas que a estudam (BERGAMASCHI, 2012).

 

Assim o grande desafio do ensino de História é tornar acessível aos alunos o conhecimento das pessoas, suas ações e das sociedades no passado. Também possibilitar a leitura de textos, imagens, documentos históricos e escolher quais os saberes, acontecimentos, o que legitimar ou questionar. Através de trabalhos de pesquisa; linhas do tempo; desenhos (as crianças podem desenhar como entenderam o assunto abordado, a cidade no passado, por exemplo, como está hoje e como ficará no futuro inserindo-se como sujeito histórico nesse processo); relatos de vivências de pessoas mais velhas da comunidade escolar de como se formou o bairro, por exemplo, e sua relação com a atualidade; dança, música e filmes; saídas de estudos ao teatro, cinema, museus.

Todas essas possibilidades podem e devem ser trabalhadas com os alunos de forma concreta com atividades que façam sentido e possam ser vivenciadas na prática pelas crianças. Dessa maneira as crianças alfabetizam-se compreendendo o passado, o seu lugar no mundo hoje e no futuro. Todos nós somos seres históricos inseridos em fatos e no tempo histórico do mundo.

Porém, somente selecionar os conteúdos não basta, é necessário que os saberes possam ser aprendidos com significado. E para isso o professor precisa saber “o que” e “para que” fazer e não somente dominar “o como” fazer sua aula. Por isso a importância de ouvir, conhecer a história da escola, da comunidade, da cidade para então relacioná-las com os fatos históricos ocorridos no país e no mundo. Assim o entorno da escola e dos alunos não estaria desvinculado do resto do mundo.

O professor não deve ser apenas transmissor de conhecimento, democrático com seus alunos e tampouco somente oferecer ajuda aleatória dos conteúdos estudados. Ele não deve concentra-se somente na relação interpessoal. Deve ir além.

A mediação docente deve ocorrer antes da aula propriamente dita. A relação entre o professor, o aluno e o conteúdo específico deve ser planejada de modo que os novos conteúdos tornem-se significativos aos alunos. Para isso deve-se planejar situações de comunicação prática e verbal do professor e dos estudantes em torno das ações do conteúdo a ser trabalhado. E não somente guiar-se por livros ou planejamentos fixos. A adaptação de eventuais dificuldades com o plano de aula, faz parte do bom senso que o professor deve ter.

O improviso também tem lugar na rotina de sala de aula. Improvisar não a mesma coisa que fazer algo espontaneamente. O livro Pró-Letramento diferencia improvisação de espontaneidade: “Espontâneo corresponde a algo não pensado, inédito feito sem premeditação. Já a improvisação não, ela se baseia em experiências anteriores. … A improvisação se realiza a medida que temos repertório, que temos vivências acumuladas.”

Saber que nem toda a aula tradicional é ruim e que uma aula inovadora nem sempre alcançará seu objetivo. É preciso sensibilidade para perceber se os alunos estão realmente aprendendo, ou simplesmente reproduzindo algo mecânico, sem nenhum entendimento.

O professor deve-se colocar como mediador, ajudando na construção de uma sociedade mais justa. Despertando e desenvolvendo em seus alunos a criticidade para que, dessa forma, possam reivindicar seus interesses junto a sociedade. Se colocando como uma ponte entre o conhecimento e o aluno, o professor desperta nos mesmos o pensar por si próprio, ser questionador e não receber passivamente as informações. Devemos lembrar que os alunos não são uma caixa vazia, para apenas receber conhecimento. O aluno não é depósito para simplesmente receber conteúdo pronto.

Apesar de educandos e professores estarem em estágios diferentes de compreensão, os dois são parceiros intelectuais. Cabe aos professores, pensando em suas práticas, incluir seus alunos em conhecimentos mais amplos e também históricos, para que eles possam pensar nas suas experiências e refletir sobre suas aprendizagens. Em um ambiente acolhedor o aluno sente-se parte da escola, estando mais aberto para os novos saberes.

Ao educador cabe a responsabilidade, como sujeito, de ensinar o conhecimento histórico mas, ao mesmo tempo, dando a oportunidade aos educandos de atuarem como protagonistas. O aluno precisa ser ouvido, dizer pelas suas palavras o entendimento do conteúdo, somente assim a aprendizagem será significativa e crítica.

A avaliação deve estar clara para os alunos. Cabe ao professor esclarecer quais são os objetivos e as expectativas em relação a avaliação de um determinado conteúdo. Deve-se também discutir os resultados das avaliações, para que os alunos confirmem ou revisem suas ideias, aprofundando conteúdos que ainda não foram totalmente compreendidos. Erro também é conhecimento. Assim a avaliação deixa de ser uma punição e leva o aluno a se autoavaliar, decidindo o que deve estudar mais. Para o professor esse acompanhamento o leva a conhecer melhor seu aluno e a acompanhar o seu progresso.

Sendo assim, o professor que não transmite simplesmente o conhecimento, mas possibilita que o aluno elabore os saberes, o incentiva a ser crítico e ativo na sociedade, faz o verdadeiro papel de professor mediador. Contribui na formação de cidadãos ativos colaborando para uma sociedade pensante. É necessário que ele saiba o que acontece em seu entorno, sua cidade, seu país para que ele possa fazer parte ativa desses acontecimentos.

 

Conclusão

A prática do estágio foi essencial para vivenciar todo o aprendizado, fundamentado nas aulas e estudo teórico dos autores, que foi ofertado pelo curso de Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Pelotas ao longo desses três primeiros anos de estudo.

Foram muitas as experiências adquiridas, porém o que mais me desafia e que necessito pesquisar e estudar é o tempo de aprendizagem de cada aluno. Esta foi uma grande dificuldade que encontrei durante minha prática em sala de aula. Gerenciar os alunos que terminam suas atividades rapidamente com aqueles que tem mais dificuldade é algo que precisa de muita agilidade, jogo de cintura e atenção por parte do professor. Os alunos não podem ficar ociosos em sala, pois acabam distraindo ainda mais os colegas com atividades acumuladas para realizar.

Então acredito que alterar o espaço de aprendizado também é muito importante, pois não é somente na sala de aula que os alunos vivenciam novos saberes. Através de pesquisas escolares (com o professor mediando e auxiliando o trabalho dos alunos), filmes, teatros, músicas, saídas pedagógicas, parcerias com outras instituições, relatos e palestras os alunos têm a oportunidade de formar sua opinião, autonomia e reflexão sobre os assuntos e fatos relatos/estudados. Assim as aulas não são reproduções, cópias de modelos existentes, mas sim ligadas as vivências reais dos alunos e sua história local relacionadas com os fatos históricos do passado. Com a participação ativa dos alunos forma-se o cidadão consciente, crítico e ativo na sociedade que é o objetivo da escola democrática e cidadã, que é aquela que amplia e vence seus próprios muros.

Porém, todas essas formas de aprendizagem dentro ou fora da sala de aula devem ser pensadas e planejadas pelo professor. Precisam ser atividades pedagógicas com sentido e não somente para preencherem o tempo do planejamento.

São muitas as dificuldades e desafios para os professores com todas as mudanças que estão ocorrendo nas últimas décadas em nosso país. Não podemos desanimar e o que considero o mais importante sobre a prática pedagógica: observar, registrar e refletir sobre as atividades do dia a dia. Dessa maneira é possível perceber os limites, onde há a necessidade de mudança e a possibilidade de avanço. Assim, existe a possibilidade de procurar alternativas para a prática pedagógica transformadora e efetivar a mudança, tão urgente e necessária, para melhorar a educação em nosso país.

Concluo com o pensamento do grande educador Paulo Freire: “A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade.”

 

 

 

Referências Bibliográficas


BERGAMASCHI, Maria Aparecida. O tempo histórico no ensino fundamental. Texto disponibilizado no eixo Estudos Colaborativos Orientados (ECO III), UFPEL, 2012.

 

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização / Emília Ferreiro : Tradução Horacio Gonzales (et. al). - 24. ed atualizada – São Paulo : Cortez, 1995. - (Coleção Questões da Nossa Época ; v. 14).

 

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Editora Cortez, 1994.

 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Considerações gerais sobre avaliação no cotidiano escolar. Entrevista concedida à Aprender a Fazer, publicada em IP – Impressão Pedagógica, publicação da Editora Gráfica Expoente, Curitiba, PR, nº 36, 2004, p.4-6.

 

Pró-letramento: Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries iniciais do Ensino Fundamental : alfabetização e linguagem. - ed. rev. e ampl. Incluindo SAEB/Prova Brasil matriz de referência/ Secretaria de Educação Básica – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 364p.

 

SANTOS, Júlio César Furtado dos. O desafio de promover a aprendizagem significatica. Material disponibilizado no eixo Cultura, Processos de Ensino e Prática Docente – EB. UFPEL 2013.

 

VASCONCELOS, Celso dos S. Planejamento Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico Ladermos Libertad-1. 7ª Ed. São Paulo, 2000.