Muitos educadores vêm discutindo a prática da inclusão nas escolas. Estes propõem a ludicidade como ação de integração e desenvolvimento escolar e social de alunos com deficiência, sobretudo, a visual.
     Apesar das limitações que estes educandos encontram em visualizar o mundo - no sentido literal -, as crianças com deficiência visual vêm lutando desde a década de 80 para estarem inseridas no contexto social e, para isso, começando pelo contexto educacional. Pode-se dizer que temos como base para a realização dessa inclusão nas escolas a Constituição Federal de 1988, a qual tem a educação como direito de todos, apresentando-se como processo existente para atender a cada um em sociedade.         Logo mais, a Declaração de Salamanca, a conferência realizada em 1994, vem com o objetivo de alertar as escolas para atenderem crianças com necessidades especiais, independente de suas condições psicológicas, físicas ou motoras. Esta concepção fortaleceu-se com a criação da nossa última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 9394/96, onde o capítulo referente à educação especial traz o direito das crianças com necessidades especiais terem acesso à rede regular de ensino. 
     Porém, sabe-se que, mesmo no século XXI, após tais implementações e demais leis existentes que defendem a proposta de inclusão, ainda existem muitos paradigmas a serem desconstruídos. Isto porque, vivemos em uma sociedade que se privilegia o “normal”, o “perfeito”, o aceito biologicamente, e, em determinados casos, marginaliza cidadãos com necessidades específicas para se inserirem como tal.
  As crianças com deficiência visual apresentam especificidades a serem trabalhadas para seu amadurecimento individual e coletivo, causando por vezes sensação de medo e atos de super proteção com quem lida com o deficiente. Por sua vez, essas pessoas não costumam identificar se a criança apresenta baixa visão ou cegueira – identificação imprescindível para o início do processo de ensino-aprendizagem –, e as levam para a escola sem um prévio diagnóstico realizado por um especialista.       
      A baixa visão difere da cegueira quanto à capacidade de visualização de objetos, figuras e do espaço. Logo, a primeira é a perda parcial da visão: a criança é capaz de identificar certos objetos, letras, cores, mas com uma visualização ou nitidez reduzida. Já a cegueira é a perda total dessa visão, aquela em que o aluno utiliza os sentidos remanescentes – tato, audição e outros – para a locomoção, comunicação e aprendizagem.  
    Dessa forma, identificar estas limitações é o primeiro passo para desvendar a melhor maneira de se trabalhar com esses indivíduos. Além disso, pode impulsioná-los a aprender tanto quanto os demais, dentro de suas possibilidades e compreendendo seu ritmo próprio.
     Se a sociedade já os segrega de alguma forma privando-os de sua inserção em outros contextos, a escola não pode ser mais um espaço de barreira contra o acesso de alunos deficientes. Do contrário, sendo um dos elementos que compõem o conjunto social, é primeiramente de responsabilidade sua aceitá-los – e acolhê-los – na educação regular, procurando alternativas para os mesmos acompanharem as atividades da classe. Todo o corpo docente, desde os professores aos funcionários, deve estar ciente desse compromisso com a instituição, bem como a sociedade, e suprir suas necessidades. 
      No entanto, seria utópico afirmarmos ser tarefa fácil lidar com indivíduos especiais num ambiente por vezes mal estruturado, precário de políticas públicas, sem materiais ou recursos necessários para a promoção de um ensino igualitário aos educandos. Buscando modificar esse quadro, no sentido de viabilizar a proposta da inclusão, a ludicidade vem integrar todos os estudantes em um único espaço de desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo.
    A ludicidade é um estado subjetivo do ser humano, desencadeado a partir de atividades que proporcionem a plenitude ao indivíduo e torne seu momento completo.  Entretanto, Luckesi (2005) afirma que comumente associamos atividade lúdica com atividade divertida. Mas, segundo ele, a ludicidade não precisa necessariamente estar vinculada à diversão, e sim, à inteireza do indivíduo ou do grupo pelo qual está inserido. O prazer sentido, a atenção dada à determinada atividade com todo o despertar, a curiosidade, a espontaneidade e vontade de estar inserido naquele contexto faz parte do momento lúdico. 
       Porém é certo que a construção da ludicidade em sala de aula, principalmente como um espaço de inclusão, se faz necessário o desenvolvimento de atividades recreativas ou que visem atender as expectativas dos estudantes, sendo, não menos importante, a adaptação dessas atividades para proporcionar a participação de alunos com deficiência nesses ambientes lúdicos, de interação dos alunos entre si. E, tratando-se especificamente da deficiência abordada até então (a visual), criar atividades trabalhando outros órgãos dos sentidos, focando a questão auditiva, a tátil, o paladar, enfim, procurar mecanismos facilitadores que articulem a prática pedagógica com a efetivação da inclusão.
   E, nessa perspectiva, transformar esse contexto em discussão de valores, desfazer tabus e trazer estímulos de capacitação dos deficientes em realizar tarefas assim como os demais. É o momento de mostrar, através da prática, o quanto os deficientes são capazes de interagir e se desenvolverem nesses ambientes inclusivos, de vivência com os colegas videntes, para que ambos percebam as diferenças existentes naquele meio e, juntos, dêem início a um trabalho de conscientização e respeito à diversidade. Isto porque a instituição de ensino é o espaço de orientação às relações que perpassam os muros da escola. Ali, as crianças serão encaminhadas para as futuras relações interpessoais, baseado na apreensão de tudo o que lhe foi transmitido no decorrer de sua formação escolar, dos ensinamentos e exemplos desencadeados pelos seus educadores.
      Nesse sentido, Durkheim traz a idéia de educação como o ensinamento dos adultos sob os mais novos. O adulto, fundamentado na sua experiência de vida, transmite aos “inexperientes” valores, posturas e saberes que acredita ser válido e necessário para uma melhor vivência em grupo, ou seja, de todos os indivíduos em sociedade. 
        Logo, a instituição escolar é o espaço de desmistificar, com a possível vivência de momentos lúdicos, o equivocado conceito atribuído às crianças com deficiência visual. A escola deve ser o lugar de aceitação às diferenças, não o primeiro a se negar estar aberta a elas, pois, caso contrário, estará contradizendo seu próprio discurso ideológico de educação.

 

REFERÊNCIAS

BRUNO, Marilda Moraes Garcia. Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação, sinalização: deficiência visual. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deficienciavisual.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2011.

 COSTA, Valdelúcia Alves de. Educação Escolar Inclusiva: demanda por uma sociedade democrática. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2003/02/a2.htm>. Acesso em: 2 dez. 2011. 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Ludicidade e atividades lúdicas: uma abordagem a partir da experiência interna. Disponível em: <http://www.paralapraca.org.br/wp-content/uploads/2011/04/ludicidade_e_atividades_ludicas.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2011.