VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância: a propósito da morte de Jean Calas; Tradução Paulo Neves. 2 Ed. São Paulo:Martins Fontes, 2000.

Franciele Sabrina Tiecher.


Voltaire era o pseudônimo (apelido) de François-Marie Arouet. Foi um importante ensaísta, escritor e filósofo iluminista francês. Nasceu na cidade de Paris, em 21 de novembro de 1694 e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1778. Durante sua vida escreveu diversos ensaios, romances, poemas e até peças de teatro.
O livro Tratado sobre a tolerância é umas das obras de Voltaire que retrata a falta de tolerância, de um povo que acreditava possuir a verdade absoluta, e incontestável, Voltaire fala narra a morte de Jean Calas, o qual foi morto sem nenhuma prova contundente. Jean Calas foi acusado de assassinar seu filho Marc Antoine por estrangulamento, o motivo para tal ato tão repugnante seria a opção religiosa do filho. O catolicismo.
O livro é um grande marco, uma vez que, demonstra com o fanatismo, as superstições, podem destruir uma vida, e mudar o rumo de uma família inteira tudo pela falta de tolerância, de uma igreja abertamente criticada pelo autor, que ao invés de criar pessoas mais humanas com seus semelhantes e respeitar as diferentes religiões cria na verdade fanáticos e até assassinos.
Conhecido como um bom pai, Jean Calas foi injustiçado, tanto era que apesar das escolhas religiosas de seu filho o aceitou em casa, por causa de alguns ocorridos como dívida de jogo, seu filho acaba se suicidando, a partir desse instante inicia-se a sina de uma família inocente, vitima de fanatismo.
O grau de superstição era tamanho, que todos passaram a ver Mac Antoine como um santo e até atribuíram a ele milagres, Voltaire brilhantemente fala de uma religião enganada e cega, como um velho de 64 anos poderia enforcar seu filho de 28?
"Temos religião de sobra para odiar e perseguir, e pouca para amar e socorrer". (cap. II, P. 15). Mesmo daquela época já se nota como as religiões estavam voltadas para um único objetivo, de perseguir as pessoas e não o de ajudá-las.
Embora também haja fanáticos na populaça calvinista, ainda é certo que há em maior número na convulsionaria, ocorre uma espécie de modismo, pois houve tempos em que se distinguiu, por exemplo, "feiticeiros" que depois foram deixados em paz, de tempos em tempos surgem outros "inimigos" a serem combatidos.
Em dado momento de seu livro Voltaire fala do direito natural como "aquele que a natureza indica a todos os homens" (cap. VI p.33). Ou seja, por diversas vezes tentamos impor nossas verdades absolutas aos demais sem ao menos perguntar se realmente era isso que eles queriam.
Como um homem, que mesmo no momento de sua morte, jurou ser inocente pode ser condenado? Deixou juízes desconcertados, e acabou por salvar o resto de sua família, mas para isso precisou morrer antes.
Voltaire, fala das disputas que ocorriam até mesmo entre os discípulos, e em dado momento os critica ferrenhamente, pois eles são considerados "exemplos". Fala da disputa que ocorria entre São Paulo e São Pedro, Paulo chama Pedro de dissimulado onde prega uma coisa e faz outra totalmente diferente, já é visível que mesmo os homens que acompanham a Jesus cristo já usavam de intolerância para com o outro, e o próprio Jesus também o fazia. Voltaire faz uma dura acusação em que essas disputas são na verdade tapadas pela igreja que faz o papel de conciliar essas contradições tão claras e aparentes, e o grande agente dessas conciliações são os padres da igreja.
Será que não estamos tão cegos que apenas acreditamos sem ao menos questionar fatos tão evidentes como esse entre as disputas que ocorriam entre discípulos?
Voltaire não pede que deixamos de ter uma religião, mas que ela deixamos de lado o fanatismo, ele afirma que uma religião é necessária desde que se tenha a liberdade de escolhê-la. "Se a perseguição contra aqueles com quem disputamos fosse uma ação santa, cumpre admitir que o que matasse o maior de heréticos seria o maior santo do paraíso". (cap. XI p.67)
Tamanha é a fraqueza do homem, que certamente aceita viver em dogmas e superstições de que viver sem religião, na qual ele muitas vezes se esconde por detrás. E Voltaire cita isso "a superstição é em relação á religião, o que a astrologia é em relação à astronomia, a filha muito insensata de uma mãe muito sensata. Essas duas filhas por muito tempo subjugaram a terra inteira". (cap. XX p.114)
De fato desde os moldes daquela época a sociedade, está tão afundada na intolerância, que o próprio autor não vê se não outra forma de pedir a redenção dos homens através de Deus. Tanto que dedica um capítulo do livro para tal pedido, um capítulo emocionante chamado oração a Deus, em que não vendo como mais pedir aos homens então recorre a Deus, pois Voltaire já vê como inútil falar aos homens. "Digna-te olhar com piedade os erros decorrentes de nossa natureza". (cap. XXIII p.125).
Por estas e tantas outras razoes Voltaire busca a liberdade, onde cada um possa viver o que se acredita sem que o outro de sinta ofendido, ou que o julgue erroneamente por suas escolhes religiosas.
Quando lemos tratado sobre a tolerância, devemos ver o quanto à arrogância, se fez presente para atormentar pessoas inocentes por suas crenças e dentre todas essas vitimas as maiores foram os protestantes. O que determinou a morte de Jean Calas, foi o sentimento de intolerância, pois toda a acusação partiu de uma única direção, o crime cometido por uma calvinista.
Tratado sobre a tolerância é um excelente livro que mostra que embora centenas de anos tenham se passado, os homens continuam a matar em nome da "religião" e ainda assim acreditam que somente a sua crença é a que "salva", em nome de um Deus homens amarram em sues corpos bombas e levam consigo centena de pessoas inocentes assim, como Jean Calas. Tudo pela mínima falta de tolerância a qual Voltaire tanto pediu e desejou.

"Semeio um grão que algum dia poderá produzir uma grande colheita". (cap. XXV P.135)


REFERÊNCIAS

http://www.suapesquisa.com/biografias/voltaire.htm acesso em 15 de outubro de 2010.

VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância: a propósito da morte de Jean Calas; Tradução Paulo Neves. 2 Ed. São Paulo:Martins Fontes, 2000.