Por uma leitura intercultural de diálogos escritos e orais

Dalvaci do Socorro Martins

O uso adequado dos diálogos de manuais de língua estrangeira nos dá várias contribuições, pois numa perspectiva comunicativa intercultural os diálogos são modelos de comunicação. Através da imersão linguística e cultural nos diálogos podemos entrar em contato com a realidade do outro para perceber que existem  maneiras diferentes de fazer, de ser, de viver, de interpretar, de ver e de interagir.

Os diálogos nos dão indícios da interação entre diferentes culturas, ajudam o aluno a desenvolver capacidades de compreensão do outro, favorecem a intercompreensão e a tolerância entre comunidades de língua-cultura diferentes. Por meio deles o aluno pode descobrir os aspectos culturais do outro em situação, como regras de funcionamento social, cultural e linguístico, ajudando-o a se situar em relação ao outro e a desenvolver capacidades de compreensão do outro e de si mesmo.

Podemos também tirar um grande proveito dos diálogos quanto à harmonia dos conteúdos linguísticos e culturais, ao desenvolvimento da capacidade de estabelecer uma relação entre a cultura de origem e a cultura estrangeira, de gerir situações de conflitos culturais e a capacidade de ir além das relações superficiais estereotipadas. (PORCHER, 1986).

Nesse contexto, o trabalho de compreensão do texto é muito importante para a realização de uma leitura intercultural, isto é, para conseguir o acesso às informações culturais que o texto oferece ao aluno de língua estrangeira. Numa perspectiva comunicativa, ensinar a compreender, a ter acesso às informações contidas em textos orais e escritos, deveria ser a primeira finalidade pedagógica no início da aprendizagem, declara Courtillon (2003), porém, na maioria dos métodos de língua estrangeira atuais, os textos são escolhidos e/ou fabricados com fins linguísticos para fazer o aluno adquirir estruturas da língua organizadas em progressão gramatical. O que não impede o professor de exercer o seu papel dentro de uma pedagogia comunicativa intercultural que é a de sensibilizador os alunos à descoberta dos traços linguísticos e culturais. (CHIANCA, 2007).

Percebemos em sala de aula que a principal motivação do aluno de uma língua estrangeira é ter acesso ao sentido o mais cedo possível, por isso defendemos o uso de diálogos orais e escritos porque é um suporte a mais que o professor terá para auxiliar na sua missão de encorajar o aluno a pesquisar informações do outro, a fazer paralelo com o que se passa no seu país, no seu estado, na sua cidade, na sua família, com os mesmos temas na cultura do outro, na cultura de contato para que ele tome consciência que o desenvolvimento do saber-fazer facilitará sua aprendizagem.

 A Abordagem Comunicativa, princípios que dão suporte aos manuais de línguas modernas ditos comunicativos, privilegia o discurso, os atos de palavras, o sentido e as várias formas de comunicação. Nesse sentido, se o manual for comunicativo, caberá ao professor, consciente da capacidade que tem o homem de interagir socialmente por meio da língua, das mais diversas formas e com os mais diversos propósitos e resultados, levar o aluno a perceber quais as condições de produção do diálogo apresentado, como tempo, lugar, papéis representados pelos interlocutores, imagens recíprocas, relações sociais, objetivo(s) visado(s) na interlocução, para facilitar o acesso à compreensão. Caberá ao professor também auxiliar o aluno a sensibilização da linguagem não-verbal, pois os etnográficos de comunicação mostram que 80%  das mensagens passam por componentes não verbais, como gestos, tom da voz, atitude, olhar, toque, o tempo e o espaço. E asseguram que diferença comportamental entre duas culturas pode gerar mal-entendidos e causar um desconforto na relação interpessoal.

Nesse aspecto, é interessante destacar a importância do professor no trabalho da busca, da descoberta e da compreensão do outro com o aluno, pois este último utiliza na língua estrangeira as mesmas operações cognitivas, como a percepção, a análise, a inferência quando interage com um texto escrito em sua língua materna. Assim, cabe ao professor conduzir sua prática pedagógica para um trabalho de sensibilização e de conscientização.

REFERÊNCIAS

CHIANCA, Rosalina Maria. L’interculturel : découverte de soi-même et de l’autre. João Pessoa : Idéia, 2007.

COURTILLON, Janine. Élaborer un cours de FLE. Paris : Hachette, 2003.

PORCHER, Louis. L’enseignement des langues étrangères. Paris : Hachette, 1986.