POR UM MUNDO MELHOR

 

Acordei cedo esta manhã, e após um banho frugal – recomendado por causa do equipamento de Holter instalado em meu peito -, me dirigi à clínica para que fosse retirado.

Em quanto aguardava na sala de espera, junto com outras dez a doze pessoas, incluindo uma criança, tive a seguinte visão a qual marcou fundo o resto do meu dia e me fez pensar bastante sobre o assunto.

Passados uns trinta minutos após a minha chegada, e faltando ainda outro tanto para ser atendido, percebi no rosto das pessoas uma desesperança resignada por causa desta espera; a criança choramingava de cansaço e reclamava do frio ambiente; a enfermeira, só uma, não dava conta do recado, e a secretária continuava entretida no atendimento telefônico.

Senti vontade de levantar e oferecer uma bala à criança que chorava, mas não tinha comigo. Ainda de olhos bem abertos, comecei a imaginar a situação e me vi levantando-me do assento e, com um pacote de balas nas mãos ir oferecendo às pessoas que olhavam desconfiadas.

Primeiro foi a criança que estava sentada no colo da avó, a qual olhou para ela como perguntando implicitamente se deveria aceita-la; por sorte ela concordou e me regalou um sorriso de agradecimento. Os outros, vendo a situação, também sorriram.

Imediatamente ofereci as guloseimas a todos, sem exceção, incluindo a enfermeira e a secretária. Imediatamente tudo mudou; estavam todos sorrindo agradecidos pela idéia e sem tanto estresse como antes de ocorrer o fato.

Todos me olhavam como esperando uma explicação, e entre pensamentos e devaneios, falei o que segue.

‘Amigos; devo a idéia de distribuir os doces entre vocês a esta criança, que com sua atitude de absoluta espontaneidade e verdadeira presença de espírito, mostrou realmente o que sentia, ao contrário de nós adultos, que escondemos nossos sentimentos e emoções por trás do véu das aparências’.

‘Enquanto distribuía os doces fiz um cálculo mental de quantas pessoas poderiam sentir-se melhor e mais felizes com uma atitude semelhante a esta, se todos fizessem o mesmo em todas as circunstâncias que a vida nos oferece.  Se cada um de nós repetisse este exemplo para um grupo de outras dez ou doze pessoas, e cada uma delas o fizer sucessivamente com outras tantas, em menos de um ano quase todos os seres humanos teriam recebido uma bala e devolvido um sorriso em contrapartida. O custo disso tudo? Alguns centavos...  e um pouco de boa vontade’.

Quando a enfermeira chamou pelo meu nome, saí do torpor e abri os olhos. Tinha se passado alguns minutos, os suficientes para fixar meu ‘sonho’. Olhei para todos os presentes com um sorriso no meu rosto, como que sendo cúmplice deste devaneio; incrivelmente, todos estavam sorrindo, e a criança, brincando com seu vestido branco, não mais chorava.

Agora no escritório, ao escrever estas linhas, imagino se esta fantasia foi criada por minha mente ou se foi ‘encomendada’ por alguém; mais isso não importa. Em poucos minutos sairei daqui para comprar na venda da esquina, um pacote de balas para manter sempre comigo, e onde quer que eu esteja as distribuirei entre os presentes passando o recado e exortando-os a imitarem esta idéia.

Nosso mundo precisa de mais doces e de mais sorrisos!