Por que pessoas comuns perdem a cabeça ao volante?

 

Verniz de civilidade 

 

           Maldade. Sim, conscientemente ou não. São os maus pendores da criatura, antes encarcerados no mais profundo do coração, que agora eclodem em selvageria, permissividade, e lamento.

           Você achou filosófica ou dura demais essa conclusão?

           Certa vez, conversando numa roda de amigos, eu e mais dois outros advogados, sobre os recentes enfrentamentos que se generalizaram no trânsito brasileiro – motoristas que simplesmente não respeitam a legislação de trânsito, não respeitam outros motoristas e motociclistas; vias em precárias condições de trafegabilidade, mal sinalizadas; poucos ou nenhum agente nas ruas para coibir com rigor os abusos no trafego; penalidades aos infratores abrandadas no momento da aplicação da lei –, meu colega argumentou que o problema era de abuso da autoridade, gente que, interceptada pela polícia por dirigir alcoolizada, diz: “Você sabe com quem está falando? Fique sabendo que eu sou Fulano de Tal”, e em vez de apresentar documentos pessoais e do veículo, oferece propina a autoridade de transito.  

           Aí pensei, será que para ser correta, toda gente precisa se revestir de uma espécie de “cólera sublime”, e sair por aí, à moda dos justiceiros, molestando toda gente que nos cause furor, indignação? Isso eu dizia ao outro amigo que alegava serem as pessoas movidas por emoções fortes provocadas pelas lutas do cotidiano, geralmente no trabalho, decepções amorosas, e até porque o time que elas torcem perdeu um jogo importante.

           Absurdo dos absurdos.

           Por que não pensou antes em Deus, o Pai de toda a criação, e até no volante do seu carro?

           O primeiro colega até lembrou-se de um cliente seu que já recusou boas propostas de emprego porque teria que ir de carro. Não que ele não tivesse habilitação para isso. Mas a pelo menos cinco anos não dirige, salvo em casos de extrema necessidade. A decisão foi tomada porque percebeu que se transformava num insensato quando estava ao volante. 
           “Cheguei a ser perseguido por um maluco com uma arma para fora da janela e eu também persegui alguns outros para me vingar de uma fechada”, contava o ex-motorista agressivo ao meu colega. “Dirigir me tirava do sério e me transformava em outra pessoa. Cheguei a ter ataques de fúria, aliviados com socos no volante e gritos de raiva com a janela fechada, por frustração de estar parado num congestionamento.” O moço trocou o carro pela bicicleta, e os sintomas passaram. “Dirigir em cidades entupidas de carros é o caminho para a insanidade ou o infarto precoce. Quando comecei a usar a bicicleta na rua me curei disso, porque percebi o quanto as vidas fora do carro eram frágeis e o quanto aquele comportamento as colocava em risco”, completou.

           O bate papo fluía, e casos semelhantes eram mencionados. Essa sensação de ser justiceira no trânsito já fez parte da vida de uma designer de 28 anos, contava. Ela acumulou tantos pontos que perdeu a carteira em seis meses dirigindoem São Paulo/SP. “Brigava muito, com todo mundo. Adorava ‘disciplinar’ os outros, impedindo ultrapassagens pela direita, por exemplo.” Ao mesmo tempo, abusava da velocidade quando não estava com o filho a bordo. A designer bateu o carro da mãe três vezes e duas o do ex-marido. “Nunca feri ninguém por sorte”, dizia. Ela ainda é apaixonada por velocidade, mas trocou as quatro rodas por duas sem motor. Agora, ela policia os próprios comportamentos e não esquece que tem um filho para criar. “Comecei a fazer terapia também e só ando de bicicleta ou de taxi.” Vejam só! 

 

“Homem conhece-te a ti mesmo” 

 

           Meus colegas apenas expunham fatos. Casos assim não são os únicos e qualquer motorista nas grandes cidades pode comprovar isso – dentro ou fora de seu carro. Ao volante muita gente perde a cabeça e faz coisas que jamais faria em seu juízo normal. Chamadas diárias de socorro da Polícia Militar são para resolver brigas de trânsito.

           Mas o que transforma cidadão em monstros ao volante?

 

Como manter a calma e evitar brigas


 

           Analistas verdadeiramente comprometidos com a seriedade e a ética, concordam que vivemos época especialmente delicada em todo o mundo, em que se cumpre uma das palavras proféticas de Jesus Cristo, registrada no seu Evangelho segundo São Mateus, capítulo 10, versículo 26:

           (...) Nada há encoberto que não seja revelado.”

           O modelo civilizatório vigente está desgastado. Muita gente bem intencionada quer avançar em idéias e modo de fazer as coisas com inclusão. No entanto rejeita que esse progresso se faça pelo influxo do Amor Divino.  Rebela-se, às vezes em confrontos sangrentos, e ainda que “vencedores”, nem assim as coisas melhoram para elas.

           A ordem de Deus para toda a humanidade é clara, a encontramos no Evangelho de Jesus Cristo segundo São João, capítulo 13, versículos 34 e 35; e capítulo 15, versículos de12 a 17 e 9º:

           Novo Mandamento vos dou: Amai-vos como Eu vos Amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros. O Meu Mandamento é este: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Não há maior Amor do que doar a própria Vida pelos seus amigos. E vós seres meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. E Eu vos mando isto: amai-vos como Eu vos amei. Já não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto aprendi com meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes; pelo contrário, fui Eu que vos escolhi e vos designei para que vades e deis bons frutos, de modo que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos conceda. E isto Eu vos mando: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor.”

           A correta defesa contra a terrível escravatura da maldade que irrompe no peito de tanta gente quando ao volante de um veículo automotor, é decidida e humildemente reconhecer e viver as Leis de Deus.

           Está na Bíblia Sagrada, no Evangelho de Jesus Cristo:

            – segundo São Mateus, capítulo 26, versículo 41: Vigiai e orai, para não cairdes em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.

            – segundo São Lucas, capítulo 6º, versículo 31: E como quereis que os homens vos façam, da mesma maneira a eles fazei vós, também.”

            – segundo São Lucas, capítulo 6º, versículo 46: E por que me chamais: Senhor! Senhor! e não fazes o que Eu vos digo?

            – e, segundo São João, capítulo 15, versículo 5º: A quem vos devo comparar? Saiba que sem mim nada podeis fazer.”

           Já mencionei, esta é uma época profética do desmascaramento, em que cada um se apresenta como realmente o é, e muitas vezes nem se dá conta disso. “A raiva vem da frustração e da falta de respeito pelos outros. É um estado emocional que se manifesta como uma explosão na mente e contamina o corpo”, revela Leon James, professor de psicologia da Universidade do Havaí, EUA, que especializou-se em estresse no trânsito.

           Ele explica que quanto mais um motorista fica remoendo um incidente no trânsito e pensando nisso, mais está predisposto a ter um ataque de fúria. “Eventos negativos no trânsito são o gatilho da sensação de raiva, que fazem o motorista ter a sensação de que a culpa é do outro, que o outro é sempre culpado por seu atraso ou erro”. 

 

Raiva no trânsito é doença moral


           Pode parecer que é só o jeito mais “pavio curto” de algumas pessoas, ou que o trânsito é assim mesmo. Mas chegar ao ponto de brigar com desconhecidos no trânsito ou lançar mão de uma arma de fogo, é, com certeza, doença grave.

           A doutora Maria Christina Armbrust Virginelli Lahr, psicóloga com especializaçãoem Terapias Cognitivas, integrante do setor de pesquisa e tratamento do Transtorno Explosivo Intermitente do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (AMITI), do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, Universidade do Estado de São Paulo, considera que “a maioria dos indivíduos agressivos no trânsito é portador de uma deturpação do sentimento, um Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), segundo estudos internacionais. O ambiente é um desencadeador”.

           Ela denuncia uma falha moral grave, o afastamento voluntário de princípios e de valores éticos que nos caracterizam como seres realmente civilizados. Cerca de 6% da população mundial sofre do transtorno. “A relação do TEI com o trânsito é estudada há mais de 60 anos, pelo risco de saúde pública evidente.”

           A doutora Maria Christina, que se especializou no tratamento de casos de transtorno explosivo intermitente, impulsividade, raiva, comportamento agressivo, terapia cognitivo-comportamental, e distorção cognitiva, descobriu que as pessoas não procuram tratamento porque acham que é normal esse comportamento. “Mas essa agressividade afeta a vida delas, pode trazer prejuízos pessoais, profissionais e de vida. O agressivo se sente vítima de injustiça, tem incapacidade moral e mental de lidar com frustração e não suporta ser criticada. Nunca houve tantos estímulos para o TEI se manifestar como em nossos dias. E para piorar, a sensação de anonimato no trânsito muitas vezes favorece o sentimento de hostilidade pelo outro”, lamenta a psicóloga.

           Segundo ela, existem pessoas que, embora donas de um cabedal de inteligência, de habilidades profissionais e de responsabilidades sociais, não poderiam sequer ter carteira de habilitação. “A avaliação psicológica do candidato é falha. O psicotécnico por si só não consegue identificar quem é apto a enfrentar o trânsito”, afirma. De quebra, quem comete infrações e se mostra incapaz de se integrar socialmente com seu veículo no trânsito com outras pessoas não é suficientemente punido. “Não tem contenção para essas pessoas, que se tornam uma arma contra ela e contra os outros”, adverte a doutora Maria Christina. 

 

Não há doença incurável, a medicina evolui também.
 

         O transtorno não acomete a todos que perdem a cabeça. O professor de psicologia Leon James acredita que a direção agressiva é um mau hábito que tem cura. A raiva desproporcional que tira as pessoas do sério no trânsito é comum em grandes cidades do mundo todo e tem até uma expressão em inglês: “road rage”.

 

A infraestrutura e a conscientização precisam ser melhoradas.

 

           Diante de níveis alarmantes dessa doença social, autoridades que lidam com mobilidade urbana em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, tem adotado medidas para minimizar o caos no trânsito, como reduzir a velocidade das vias e a tolerância zero na aplicação da lei. Isso porque a forma como as cidades estão organizadas também faz diferença no gatilho da raiva.

           Entre os fatores que a psicóloga Maria Christina Armbrust Virginelli Lahr elenca estão o mau estado de conservação das ruas e estradas, a falta de iluminação, a falta de controle dos agentes de trânsito, a negligência com os próprios erros, carros obstruindo calçadas e cruzamentos, a pressa.

            Há uma explicação antropológica também. “Ter uma infraestrutura funcional e limpa faz você dirigir melhor. É como entrar na casa de uma pessoa: se é asseada e organizada, você é conduzido ao comportamento educado”, observa o antropólogo Roberto da Matta, autor de “Fé em Deus e Pé na Tábua”, sobre o comportamento do brasileiro no trânsito.

           O antropólogo acha absurdo dados como as 70 brigas diárias registradas pela Polícia Militar de São Paulo. “Isso nos diz que o espaço público brasileiro precisa ser politizado, no sentido de uma tomada de consciência para esses comportamentos absurdos”, afirma. “Somos alérgicos a igualdade. O sinal vale para todos, no cruzamento existe uma regra para dar passagem. Mas não somos educados para obedecer isso. No Brasil, desobediência é um sinal de inferioridade, quem obedecia era o escravo. Quem manda não obedece. No entanto, numa sociedade democrática, todos mandam e obedecem também.”

 

Autocrítica

 

           Os especialistas são unânimes: falta olhar para o próprio comportamento. É como se a culpa fosse sempre do outro, e isso justificasse o comportamento agressivo.   

           O antropólogo Roberto da Matta lembra ainda que “numa sociedade liberal como a nossa, você trata o outro como gostaria de ser tratado”. Ele explica que por trás de frases como “mulher no volante, perigo constante”, ou “só podia ser um velho mesmo”, são estereótipos que precisam ser discutidos e desmanchados pelo bem de todos e pela paz social.

           O brasileiro também tem uma relação enviesada com o espaço público, e não sabe se comportar com o coletivo. “É uma terra de ninguém onde existe uma disputa para hierarquizar. Como é impossível saber quem está atrás do volante do lado, por via das dúvidas é melhor evitar a briga”, conclui.

           Então responda: o que leva um cidadão comum a perder a cabeça ao volante se no cotidiano seus atos demonstram cortesia e atenção com todos a sua volta?

           Não deixe que as aparências te enganem. Toda pessoa é sentimento, pensamento, palavra e atos. Essa é a ordem, não existe outra ordem natural. “Ah, falei sem pensar”. Isso não existe. Pensou sim, falou sim, fez sim, porque o sentimento assim te ordenou. E o que é o sentimento? É a personalidade real do indivíduo, animada pelo seu espírito. Antes de corpo, somos espírito, já o dissemos. É o nosso espírito que comanda o nosso sentimento, e assim comanda o pensamento, e comanda a palavra, e comanda os atos.

 

Onde o perigo nisso tudo?

 

           No espírito fraco ou enfraquecido, displicente ou distraído, cruel ou inferior. Ora, quem não cuida bem do que é seu, vem o ladrão, mata as resistências, toma posse, e usufrui do que roubou.

           Compreendes a questão?

           A violência no trânsito é apenas a ponta do iceberg social, ela está no coração das pessoas invigilantes.

           Perceba: a vida sempre flui com naturalidade, porque é da vontade de Deus que todos se revelem como realmente estão. É assim que são promovidos aqueles que se esforçam na construção de um mundo melhor, mais justo, seguro, feliz. Se pensarmos com sensatez sobre a nossa origem (“estamos corpo, mas somos espírito”), para o fato de que todos os seres vivos foram criados pelo Pai Celestial, estaremos manifestando inteligência, obediência e progresso.

           No entanto, se contrariamos nossa identidade divina, fazendo o mal ou não nos importando com coisa alguma, nossas potencialidades se corrompem. Livro do Apocalipse, capítulo 22, versículos de 11 a 13:

           Continue o injusto fazendo injustiça; o imundo ainda sendo imundo; o justo permaneça na prática da justiça; e quem é santo, continue a santificar-se. Eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas próprias obras.”

           O fraco não sabe defender-se; o enfraquecido está vulnerável; o displicente é desleixado; o distraído deturpa as coisas; o cruel contamina o meio que está; o inferior não crê na própria existência.

           Resultado: em todos os cantos da Terra pessoas de todas as idades e condições deixam seus corpos e suas almas abertas a qualquer um que de suas vidas quiser tomar posse, fenômeno clássico que se vê, da perturbação moral e da perda de controle sobre a própria personalidade. Está no livro Apocalipse, capítulo 3º, versículo 3º:

           Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido (de Deus, de Jesus e do Espírito Santo), e guarda-o bem e faze penitência. Porquanto, se não vigiares, virei como um ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora me levantarei contra ti.”  

 

Conclusão

 

           É preciso, é urgente, é inadiável, pois, que importantes aprendizados espirituais e emocionais sejam colocados em prática, para que não nos arrependamos tardiamente do inferno que criamos para as nossas existências. Jesus, o Salvador da Humanidade, já avisou, e está registrado também no livro Apocalipse, capítulo 1º, versículo 7º:

           Eis que Jesus vem com as nuvens, e todos os olhos O contemplarão, até mesmo aqueles que O traspassaram. E todas as nações da Terra se lamentarão sobre Ele. Certamente. Amém.”

           Nesta hora não haverá desculpas, nem impunes. Ele sabe de tudo – até do que ficou esquecido por nós há tempos – de tudo mesmo.