POR QUE NÃO ENSINAR A USAR O DICIONÁRIO?

(História real, vivida há algumas semanas)

[email protected]

Publicado em 03//06/2016

          Recentemente perguntei a um adolescente de 15 anos que lanchava em pé, frente a mim, que estuda em escola publica (percebi pela farda que usava), o que ele entendia sobre o que é UM CARRO? Resposta do aluno: - Carro é carro! Além dele tinha outros 2 amigos, da mesma sala e possivelmente da mesma idade, que acompanhava, silenciosamente e curiosamente nossa conversa. Todos nós em pé numa mesinha redonda, feita para não demorar muito lanchando.

          Percebi, rapidamente, que ele não sabia conceituar com suas próprias palavras, rapidamente peguei um minidicionário no carro, sempre ando com um, e não sou professor de português! Perguntei se ele sabia o que era um dicionário, e o aluno respondeu: - Livro para procurar palavras. E perguntei seguidamente, para quê procurar palavras? E ele disse que não sabia. Perguntei se tinha um em sua bolsa, ele confirmou que tinha sim, até maior que o que estava apresentando-o. Continuei perguntando, você teve alguma aula na escola que lhe ensinaram a usar-ló? Ele disse que não. E os outros começaram a participar, reforçando que nunca tiveram, apenas mandavam procurar quando perguntávamos, responderam os outros dois.

          Diante deste fato, não podia aceitar aqueles pensamentos: "Não adianta, não tenho jeito esse país!" Ou "para quê perder tempo, eles não pode lhe pagar, sou um profissional" Ou "não vou me meter para depois o professor ou a professora de português vir dizer que estou entrando na metodologia dele ou dela." E blá, blá, blá...

          O que fiz? Disse aos adolescentes: Quem quer ganhar um lanche pago por mim? E ele e os outros também disseram rapidamente: Também queremos! Automaticamente, bolei o seguinte: Vou ensinar rapidamente como se usa, não vai levar mais de 15 minutos, porém quem fizer todos os comandos que eu pedir, o mais rápido possível, acumulará pontos, e no final quem fizer mais pontos, ganhará um lanche pago por mim, eu pagarei 2 coxinhas de catupiry e um refrigerante em lata. Pronto, foi eu terminar a frase, todos já abriram suas bolsas e tiraram seus lápis e cadernos e dicionários, nunca vi tanta eficiência em pegar as coisas sem botar a bolsa no chão e todos em pé, em menos de  um minuto, e com os olhos bem atentos aos comandos, já estavam prontos. Pedi para todos escrevessem em seus cadernos todas as letras do alfabeto em ordem, pasmem, nenhum deles acertaram, nem a ordem, nem a quantidade total de letras. O que fiz?

          Nessas horas, você tem que ter raciocínio rápido, pois o momento é mágico e não pode perder muito tempo, porque, ou a motivação cai, ou o dono da lanchonete nos tira de lá. E aí reforcei: - O dicionário irá ensinar a ordem correta de todas as letras. E expliquei que toda primeira página tem a letra em maiúsculo da inicial da palavra para ser encontrada, e assim que eles fossem passando as páginas, iria anotando em ordem todo o alfabeto. Quando disse: Valendo ponto agora, pode começar! Pense na motivação e alegria para acertar a ordem correta...Em menos de 2 minutos todos terminaram, porém marquei a ordem dos que iam terminando e acertando. Como eram 3 alunos, fiz o seguinte, o 1o ganhou 3 pontos, o 2o ganhou 2 pontos, e o terceiro ganhou 1 ponto. (Alfabeto compreendido e todos pontuando)

          Bem, expliquei que para procurar a palavra CARRO, seguia a mesma ideia da ordem do alfabeto, porém você acha primeiro a letra inicial, e depois vai vendo no canto superior direito as ordem do alfabeto nas letras que compõem a palavra, então disse: Entenderam? Eles disseram que sim, então falei, faça a o primeiro comando sem valer ponto, só para treinar, e todos fizeram em menos de 2 minutos, fizeram mais rápido porque já tinha a fila copiada, corretamente nos cadernos (reforço), após acharem, perguntei:- Leiam o dicionário a explicação o que é CARRO, depois que leram, pedi para cada um ler para todos o significado, após todos terem lido, pedi para fechar o dicionário, e pedi para dizer decorado, todos acertaram, todos ganharam 3 pontos (reconhecimento a todos) e por fim, perguntei para cada um que conceituasse o que é CARRO com suas próprias palavras e não podia usar as mesmas palavras do dicionário, neste momento achei super-criativos e detalhistas suas explicações e ainda deram exemplos, para serem mais precisos. (incentivo à criatividade)

          E aí comecei a pronunciar palavras mais rebuscadas (aumento de grau do desafio) e por fim conseguimos definir o campeão. No final o campeão dividiu seu prêmio com os outros dois. Passado uma semana deste momento, passei pela avenida e olhei rapidamente para lanchonete e vi mais de 5 alunos e dentre eles alunas, em pé, com um dicionário ensinando e competindo entre si, diminui a velocidade do carro, e dei 2 forte buzinadas e acenei a eles e eles acenaram também. (AVALIAÇÃO: aprenderam e já estavam ensinando).

          MORAL DA HISTÓRIA: Em menos de 30 minutos fiz uma pequena diferença para alguns alunos, que os mesmo, já estavam repassando aos amigos em forma de jogo, lógico que sei que não fui e nem sou um expert em português, ou em didática, contudo imagine, se todo professor percebesse a força de um bom planejamento de aula, para ter uma grande vivência com o manuseio do dicionário, como seria a melhoria, no futuro, das redações dos alunos...

Espero que não me interpretem mal, apenas estou tentando mostrar que o pouco que fazemos, se feito com alegria e motivação, há uma grande possibilidade de criar uma corrente pedagógica entre alunos, principalmente, se for feito em forma de jogo. Sugestão: assista o filme: A  corrente do bem, para entender este efeito.