POR QUE DIFICILMENTE UM RICO ENTRA NO REINO DE DEUS?

Abro as Escrituras Sagradas e leio: “Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se maravilharam destas suas Palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.” (Mc.10:23-25)

Ao ler estas Palavras do Senhor Jesus Cristo, proferidas no episódio do Jovem Rico (Mt.19:16-30; Mc.10:17-31; Lc.18:18-30), a pessoa rica entende pronta e perfeitamente o porquê da dificuldade de ela ser salva e entrar no reino de Deus. Isto porque tudo o que lhe é intrínseco, mormente o seu exacerbado apego às coisas materiais, é por ela entendido e sentido no âmago. Ela sabe o que lhe aguarda no porvir; sabe qual será o destino eterno de sua alma. Nisto a pessoa endinheirada nunca se equivoca, porque o seu deus não a deixa equivocar-se.

Espere aí... O rico possui um deus?

Sim, obviamente! Como todo ser humano, o opulento também cultua lá o seu deus...

E qual é o nome do deus do abastado?

Bem, na verdade, no que concerne aos bens materiais, o rico possui dois deuses. Um se chama MAMOM; e o outro, VENTRE.

MAMOM é um vocábulo de origem semítica que personifica as riquezas, e a respeito dele discorre Jesus Cristo: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a MAMOM.” (Mt.6:24)

E, sobre o deus VENTRE, fala-nos o Apóstolo Paulo: “Porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o VENTRE; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas.” (Fl.3:18,19)

E essas deidades levam a pessoa rica à desgraça capital chamada hedonismo.

Eu amo sobremaneira a Parábola do Rico e de Lázaro, contada pelo Divino Mestre no Evangelho de Lucas, capítulo 16. Dos seus treze versículos (19-31), quero destacar somente os vv.22 e 25, em virtude de mostrarem os destinos eternos dos dois homens: “Veio a morrer o mendigo, E FOI LEVADO PELOS ANJOS PARA O SEIO DE ABRAÃO; morreu também o rico, e foi sepultado. (…) Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, E TU ATORMENTADO.”

Os ricos, que todos os dias se regalam esplendidamente, passam suas vidas mandando nas pessoas, sobretudo nos seus empregados. E mandam como se manda num cachorro. E como mandam!

Foi o caso desse rico gozador da Parábola. Ele mandou tanto aqui na terra, que de tão acostumado a mandar, lá no além usou exatamente a palavra que tanto lhe caracterizou. Lá, sofrendo o tormento do Tártaros, que é a parte do Hades onde habitam as almas das pessoas impenitentes, o rico desditoso, que possuía cinco irmãos, desejou que Lázaro, em pleno gozo da bem-aventurança no Paraíso, viesse à Terra dar testemunho, a fim de que seus irmãos não fossem também para aquele lugar de terrível ranger de dentes: “... e MANDA a Lázaro, (…) Rogo-te, pois, ó pai, que o MANDES à casa de meu pai.” (id.vv.24 e 27)

O rico, em sua cega adoração aos deuses Mamom e Ventre, possui várias marcas registradas, e uma delas é a FRAUDE. Em sua maldade contumaz ele defrauda ao extremo o empregado seu. Mas o Altíssimo Deus a tudo vê, e seus ouvidos ouvem os clamores dos abusados: “Eia agora, vós ricos, chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário que FRAUDULENTAMENTE retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações no dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resiste.” (Tg.5:1-6)

Outra triste marca do rico é a INSENSATEZ. Certa vez, ensinando à multidão, Jesus “propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância; e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse: INSENSATO, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” (Lc.12:16-21)

E por que Deus diz: “Insensato, ESTA NOITE te pedirão a tua alma”?, Por que a ênfase no espaço noturno? Bem, eu consigo encontrar, basicamente, três motivos: Primeiro, o pedido da alma humana por parte do Justo Juiz é necessário, inevitável e inexorável: “Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do Tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.” (2Co.5:10); segundo, como o ímpio jaz nas trevas espirituais, Deus lhe pede a alma em plenas trevas, ou seja, em pleno exercício de sua impiedade (Jó 27:8; Sl.39:6; 52:5; Jr.17:11; Tg.4:14); e, terceiro, porque toda essa glória do rico é efêmera: “Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação, E O RICO NO SEU ABATIMENTO, PORQUE ELE PASSARÁ COMO A FLOR DA ERVA.” (Tg.1:9,10)

A Palavra de Deus diz, em Jó 24:13-17, que a noite tácita é o palco dileto do homem malfeitor.

Mas, qual é o parâmetro para se definir a riqueza de uma pessoa? Como posso saber se sou materialmente rico? Somente é rica a pessoa que possui uma conta bancária ou um patrimônio cuja monta atinge a estratosfera de um milhão ou um bilhão? É preciso ser um “Tio Patinhas”?

Evidentemente que não! Ser considerado rico não significa, necessariamente, possuir vultosas quantias monetárias ou um vastíssimo patrimônio. O Dicionário define o adjetivo RICO como aquele que possui muitos bens ou coisas de valor. Opulento; pomposo.

Vejamos o caso de Jó. Está dito que ele possuía bens (Jó 1:10), e por isso ele “era o maior de todos os do Oriente.” (id.v.3). E quais eram os bens de Jó?

Possuía ele sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas, tendo também muitíssima gente ao seu serviço; de modo que este homem era o maior de todos os do Oriente.” (id.v.3). Embora a quantidade sete mil pareça exorbitante, o lanígero possui um valor monetário assaz módico.

Com base na Parábola do Rico e de Lázaro, depreender-se-á que todo mendigo será salvo, e que todo rico será condenado?

É claro que não!

A pobreza e a mendicância nunca salvaram ninguém. A pessoa só é salva, mas TÃO SOMENTE salva pela Graça do Senhor Jesus Cristo: “Mas cremos que SOMOS SALVOS PELA GRAÇA DO SENHOR JESUS.” (At.15:11); “Porque PELA GRAÇA SOIS SALVOS, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Ef.2:8,9); da mesma forma, a riqueza material nunca julgou a ninguém. NÃO CRER em Jesus Cristo como ÚNICO porque TODO-SUFICIENTE Salvador e Senhor, é a obra máxima que uma pessoa comete para ser julgada. Quem crê não é julgado, mas quem não crê JÁ ESTÁ JULGADO: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. QUEM CRÊ NELE NÃO É JULGADO, mas QUEM NÃO CRÊ, JÁ ESTÁ JULGADO; porquanto não crê no Nome do Unigênito Filho de Deus. E o julgamento é este: A Luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a Luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a Luz, e não vem para a Luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a Luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.” (Jo.3:17-21)

A riqueza granjeada no pecado gera um salário, mas o salário do pecado é a morte: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a Vida Eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm.6:23)

Quando uma pessoa rica, religiosa ou não, recebe a Luz do Evangelho e se converte ao Senhor Jesus Cristo, o que acontece com ela?

Ora, qualquer pessoa rica, religiosa ou não, que aceita e recebe o Senhor Jesus Cristo como Único Salvador e Senhor só tem um desejo nesta vida: Servir a Cristo com toda a sua alma! E servir a Cristo com toda a alma compromete, também, os bens materiais. É por isso que no episódio do Jovem Rico, lemos: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Uma coisa te falta; vai, VENDE TUDO QUANTO TENS E DÁ-O AOS POBRES, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.” (Mc.10:21)

Como está dito em parágrafo anterior, ninguém pode servir a dois senhores. Segundo o Senhor Jesus Cristo, se a pessoa servir a Mamom e a ele se dedicar, indubitavelmente odiará e desprezará ao Senhor Deus; e, se a pessoa servir ao Senhor e somente a Ele se dedicar, não lhe restará outro sentimento a Mamom senão odiá-lo e desprezá-lo. No coração do lídimo crente não deve haver lugar para dois senhores.

Então, quando uma pessoa rica, religiosa ou não, tem a Mamom como seu senhor e deus, e recebe em seu coração a Luz do Evangelho de Cristo, prontamente ela se deixa inundar por essa Inefável Luz, em obediência incondicional ao Evangelho do Senhor Jesus Cristo, e passa a odiar e a desprezar a Mamom com toda a sua alma.

Vejamos dois homens ricos, Jó e Zaqueu, que nos motivam de exemplos como servos de Deus que colocaram suas vidas inteiramente a serviço do Senhor, acima de quaisquer achegos e arrimos materiais.

Jó relata-nos o que ele fazia com sua riqueza: “Porque eu livrava o miserável que clamava, e o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim, e eu fazia rejubilar-se o coração da viúva. Vestia-me da retidão, e ela se vestia de mim; como manto e diadema era a minha justiça. Fazia-me olhos para o cego, e pés para o coxo; dos necessitados era pai, e a causa do que me era desconhecido examinava com diligência. (…) Não chorava eu sobre aquele que estava aflito? Ou não angustiava a minha alma pelo necessitado? (…) (pese-me Deus em balanças fieis, e conheça a minha integridade); (…) Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles pleitearam comigo, (…) Se tenho negado aos pobres o que desejavam, ou feito desfalecer os olhos da viúva; ou se tenho comido sozinho o meu bocado, e não tem comido dele o órfão também (…) se tenho visto alguém perecer por falta de roupa, ou o necessitado não ter com que se cobrir; (…) se levantei a minha mão contra o órfão, porque na porta via a minha ajuda; então caia do ombro a minha espádua, e separe-se o meu braço da sua juntura. Pois a calamidade vinda de Deus seria para mim um horror, e eu não poderia suportar a sua majestade. Se do ouro fiz a minha esperança, ou disse ao ouro fino: Tu és a minha confiança; se me regozijei por ser grande a minha riqueza, e por ter a minha mão alcançado muito; (…) O estrangeiro não passava a noite na rua; mas eu abria as minhas portas ao viandante.” (Jó 29:12-16; 30:25; 31:6,13,16,17,19,21-25,32)

E sobre Zaqueu, o publicano, lemos: “Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, DOU AOS POBRES METADE DOS MEUS BENS; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo quadruplicado. Disse-lhe Jesus: Hoje veio a Salvação a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio salvar o que se havia perdido.” (Lc.19:8-10)

À pergunta que intitula este artigo, POR QUE DIFICILMENTE UM RICO ENTRA NO REINO DE DEUS?, encontramos a resposta na própria perícope: “Filhos, quão difícil é para OS QUE CONFIAM NAS RIQUEZAS entrar no reino de Deus!” (Mc.10:24)

É que o rico não confia em Deus conforme ordena o Senhor, no Sl.37:3-5, e sim nas riquezas. O endinheirado acredita que foi ele, com sua inteligência e esforço, que conseguiu todas as coisas. Para o bacana opulento, Deus não participa de nada, no que tange à conquista de riquezas; portanto, ele não crê que tudo o que possui vem de Deus, e a Deus pertence, e que ele é apenas o mordomo das coisas de Deus. Essa crença do rico é, pois, antagônica à do rei Davi, que reconheceu: “Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, PORQUE TEU É TUDO QUANTO HÁ NO CÉU E NA TERRA; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como Chefe sobre todos. TANTO RIQUEZAS COMO HONRA VÊM DE TI, tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo. Agora, pois, ó nosso Deus, graças te damos, e louvamos o teu glorioso Nome. Mas quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos fazer ofertas tão voluntariamente? PORQUE TUDO VEM DE TI, E DO QUE É TEU TO DAMOS.” (1Cr.29:11-14)

O rico confia nas riquezas, mas estas são tão perecíveis quanto ele...

Em meu tempo de adolescente presenciei um fato deveras estarrecedor!

Após um fatigante dia de trabalho (Eu era então engraxate de sapatos) voltava para minha casa, por volta das dezoito horas, quando deparei-me com o mais grandioso incêndio que já vi pessoalmente. A então maior empresa atacadista da minha cidade estava ardendo em chamas. O fogo se alastrou rapidamente, em virtude de enormes quantidades de papel e produtos inflamáveis, o que impossibilitou o salvamento até mesmo de produtos expostos à entrada do prédio.

Um pugilo de mercadorias salvas ficou amontoado na calçada da rua...

Foi quando um coleguinha meu, também com uma caixa de engraxate às costas, apanhou uma latinha de sardinhas e retirou-se às pressas, no impulso espontâneo e alheio à razão, dado o imperativo da fome...

Prontamente, deu-lhe “voz de auto” um dos três irmãos proprietários da firma atacadista. O adolescente, então, pôs-se a correr, mas o empresário, um “cinquentão conservado”, foi tão rápido que o alcançou, tomou-lhe a latinha e, vociferando impropério inenarrável, deu com ela na cabeça dele, ferindo-o.

Todos nós, ali presentes, ficamos pasmados com a cena! Um dos homens mais ricos da cidade golpeando um menino famélico por causa de uma reles lata de sardinhas!

Ora, se aos olhos humanos (os meus inclusive) aquele ato monstruoso não passou despercebido, haveria de ficar oculto aos olhos do Deus Vivo e Todo-Poderoso?

Não! Tanto não ficou que, em duas décadas, aquele império composto de uma colossal atacadista, uma considerável rede de supermercados de médio e grande portes e uma imensa frota de caminhões ficou reduzido a nada...

Outrora, um império; agora, apenas memórias de uma ganância amaldiçoada, misturada com as cinzas do ostracismo...

Concluo este trabalho no anelo de que tenhamos a sabedoria e a humildade de Agur, e façamos nossas as palavras que ele proferiu a Itiel e a Ucal, da oração que ele fez ao Senhor Deus: “Duas coisas eu te peço; não mas negues, antes que morra: Alonga de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza: DÁ-ME SÓ O PÃO QUE ME É NECESSÁRIO; para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o Nome de Deus.” (Pv.30:7-9); e também as palavras do Apóstolo Paulo: “Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos daqui levar; TENDO, PORÉM, ALIMENTO E VESTUÁRIO, ESTAREMOS COM ISSO CONTENTES. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1Tm.6:7-10). Amém!

Louvado seja Deus, porque o pobre e o rico são igualmente alvos da Infinita Graça do Senhor Jesus Cristo: “O rico e o pobre se encontram; quem os faz a ambos é o Senhor.” (Pv.22:2), e porque “A bênção do Senhor é que enriquece; e Ele não a faz seguir de dor alguma.” (id.10:22)

Lázaro Justo Jacinto