Por que as pessoas têm dificuldade na escrita?
Tatiana Bettu

A escrita é uma forma de expressar ideias, sentimentos e desejos. É através dos códigos que um pensamento é transcrito e, quando bem estruturada, a escrita convence e pode até modificar ações, estabelecendo uma interação entre o sujeito que escreve e o leitor. Mas, afinal, o autor leva em conta seus conhecimentos sobre o que está escrevendo, o contexto no qual está inserido, o foco que quer atingir, suas perspectivas e, com isso, expõe suas ideias, unindo palavras e construindo sentido? Normalmente não. E a pergunta que fica é: por que tantas pessoas têm dificuldade na escrita?
Muitas pessoas expressam suas ideias através da escrita. Outras, no entanto, não possuem tal talento ou não atentam para algo que pode ser fundamental para essa prática: a leitura.
A escola procura fazer a sua parte, tentando formar leitores através de inúmeros projetos e práticas, e vem se tornando a grande incentivadora da leitura no Brasil. Conforme pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro, em 2007, sobre o perfil dos leitores, a média de leitura do país é de 4,7 livros por habitante/ano e, destes, 3,4 foram indicados pela escola. No entanto, 77 milhões de brasileiros não leram nenhum livro nos últimos três meses que antecederam a pesquisa. Dado grave que preocupa quando pensamos que, sem leitura, parece ser impossível abrir novos horizontes, pensar mais, conhecer mais, expor opiniões, discutir mais, expressar novas possibilidades e, finalmente, escrever melhor.
O hábito da leitura é conquistado com a própria leitura. Agindo, o leitor pode surpreender-se com a quantidade de benefícios que a leitura pode trazer a sua vida. Diferentes tipos de textos podem ser lidos e o leitor pode escolher o momento para explorar cada um, seja por prazer, para obter conhecimentos, para estudar; o que importa é ter um objetivo e ir em frente. A prática é adquirida com o tempo e o leitor que utiliza sua capacidade intelectual para realizar essa atividade perceberá que ela se torna natural, interessante e parte da vida.
Já, através da escrita, é possível narrar, argumentar, relatar, ou ainda instruir. Essa atividade pode ser lida ou não por outras pessoas, pode ser editada ou não, mas contém as características de quem a produziu. Um texto bem apresentado necessita de prática, porém a escrita é como a leitura, só se cria o hábito agindo.
Continuar com projetos na escola para incentivar não só a prática da leitura, como também a da escrita, pode ser um excelente aliado para melhorar o índice de leitores e escritores, mesmo se tratando de cartas, receitas, bilhetes, entre outros gêneros textuais. No ambiente escolar, é possível proporcionar belas experiências quando se fala em produção textual, auxiliando nas dificuldades e incentivando o aluno a reescrever textos a fim de evoluir e, quem sabe, mostrar seu talento em concursos, jornais, mostras literárias e outros veículos que podem auxiliar na busca por novos desafios.
Segundo Foucambert, "em relação às outras mídias, utilizada pelo que ela é e graças à leitura, a escrita oferece outras possibilidades e uma outra qualidade, abrindo um campo específico e insubstituível nas mais ricas formas de comunicação humana".
Fica claro que, com a leitura, o vocabulário é mais amplo, as ideias são mais claras e a competência escrita se desenvolve de forma mais completa. O incentivo é fundamental, mas, volto a dizer, somente agindo é que se cria o hábito, tanto da leitura quanto da escrita.

Referências:
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.