Por onde andam os meus passos...
Publicado em 01 de novembro de 2013 por Francisco Antônio Saraiva de Farias
Por onde andam os meus passos...
Época em que encasquetei que os melhores amigos eram os amigos de bar. A veia poética que transfunde inspiração para os meus escritos quiçá tenha tido aí o seu nascedouro. Éramos cinco: Eu (então simplesmente Tota), Raimundo Nonato, Alfredo, Alemar e Gilson. O grupo tinha dois Totas, eu e Raimundo Nonato que era irmão mais novo do Alfredo (carinhosamente chamado de Fredo). Morávamos muito próximos, verdadeiros amigos-irmão. Eu e o meu xará (Tota) namoramos a mesma menina, em épocas diferentes (penso eu, até hoje). Era uma baixinha afiladinha, de pele aveludada, que também morava próximo. Bom, mas o que desejo contar mesmo são dois fatos impossíveis de serem esquecidos: 1. Do grupo de cinco amigos, apenas dois estão vivos. Tota, Alemar e Alfredo morreram de cirrose. O Tota adquiriu a maldita doença numa pescaria lá pras bandas do Rio Antimarí. Foi num domingo. Durante a semana ele foi levado ao médico Barral & Barral. Eu o segurando de um lado e o Alfredo do outro, acho que era uma terça-feira, ele estava perdendo as forças, andava arrastando os pés no chão tinha pouco mais de vinte anos, cara bonito, cheio de sonhos. O médico, talvez brincando tentando descontrair o chamou de mole, Tota então sorriu timidamente, foi seu último sorriso, posto que no final da mesma semana morreu amarrado numa maca do Hospital Santa Juliana, vomitando sangue e pedaços do fígado. Eu estava lá, mas não aguentei, saí do apartamento e fui chorar lá fora lembrando os momentos felizes que vivemos juntos. 2. Vínhamos do Bar do Pernambuco, no Bairro Quinze para o Bairro Seis de Agosto onde pretendíamos atravessar o Rio Acre, então com pouca água, a nado para o lado do Bairro Cadeia Velha, onde morávamos. O dinheiro todinho tinha sido torrado na sinuca e na cachaça, até porque àquela época, àquelas horas, os ônibus já haviam parado de rodar. Quando passávamos em frente ao Mercado da Seis de Agosto vi uma baixinha linda fiz psiu e ela veio, abracei-a e a beijei demoradamente por alguns minutos, enquanto os meus amigos montavam vigília sentados em um banco em frente duma casa próxima. Despedi-me daquela linda menina e continuamos o percurso rumo aos nossos lares. Nessa época eu trabalhava pesando açúcar num comércio tipo mercearia na Praça da Bandeira, no aglomerado comercial que cresceu à margem direita do Rio Acre (1º Distrito). Dias depois chegou ao comércio um rapaz bem apessoado e eu passei a atendê-lo, de repente ele puxou do bolso uma carteira de estudante e me mostrou, era da menina que eu havia namorado dias antes no Bairro Seis de Agosto. Falou que ela era irmã dele, e para provar o que afirmava mostrou-me a sua carteira de identidade. Aquilo me deixou nervoso, ele, percebendo, falou pra eu ficar calmo que ele naquela noite estava com ela e que eu namorei direitinho, sem faltar com o respeito e ele percebeu logo que eu não era malandro. Emocionado, agradeci a ele. Nunca mais os vi. Anos depois desconfio que essa menina casou e foi morar justamente numa casa vizinha da minha. Trocamos alguns olhares, mas não passou disso. Tempos depois ela separou do marido e eu fiquei viúvo, voltamos a trocar alguns olhares, mas não passou disso...