APRESENTAÇÃO

 

       Cultura é a expressão que o homem imprime em suas conjunções materiais e imateriais que é percebida de forma diferente em diversos grupos sociais sendo difundida por técnicas, valores, bem como as condições de transmissão. Analisar o urbano através de uma dimensão cultural, visando compreensão da sociedade nos aspectos econômico, social e político, que se traduz na sua dinâmica espacial e temporal. São pelas manifestações culturais que abordaremos o espaço e a religião, onde serão analisados elementos como a paisagem, o sagrado e o profano, a identidade nacional, configurando seus conflitos e matrizes semelhantes, com bases nos elementos culturais analisados. É salutar compreender que a cultura pode ser utilizada como uma dimensão de análise das ações e construções urbanas, em que a metodologia consistirá na pesquisa bibliográfica, bem como, livros, artigos, revistas, jornais, pesquisas em bibliotecas e sites da internet para abrandarmos e identificarmos as diversas transformações do espaço mediante a cultura e as relações com a natureza que é socialmente produzida, aonde o homem é parte integrante e a participação do ambiente tem uma base eminentemente cultural.

     As diferenças sociais mediante a cultura se acentuam como uma unidade indispensável e compreensível na espacialidade do tempo que modela a diversidade sociocultural em um mundo de caráter transitório e muitas vezes enigmático.

POPULAÇÃO E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO URBANO:

DISCUTINDO A DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL E O CONFLITO URBANO NO

BRASIL

I - A GEOGRAFIA CULTURAL URBANA

 

 O espaço geográfico criado pelo homem é repleto de elementos concretos e imaginado que dimensionamos e caracterizamos como cultura. Principalmente na cultura urbana que podemos encontrar aspectos que nos proporcionam fontes para uma análise da população bem como suas manifestações. A geografia cultural proporciona subsídios para compreendermos a sociedade, sua organização, seus processos de produção, focando-se na descrição e análise de como as formas de linguagem, religião, artes, crenças, economia, governo, trabalho e outros fenômenos culturais variam ou permanecem constantes, de um lugar para outro e a explicação das relações intrínsecas do homem com o espaço e sua esfera vital.

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Segundo CÔRREA,

                             

                   Em outras palavras, o conceito de cultura oferece um meio para classificar os seres humanos em grupos definidos, de acordo com características comuns verificáveis, e também para classificar áreas de acordo com as características dos grupos humanos que as ocupam. (2011.p.28)

A paisagem, seja ela natural ou artificial, é um elemento norteador da análise cultural, uma vez que esta é cheia de significados e que dará origem as manifestações que podem ser analisadas tanto pela sua forma material como imaterial. As paisagens culturais vão se manifestar conforme seja o momento histórico dos lugares, representando e definindo a identidade de uma sociedade.

Conforme afirma CÔRREA,

A paisagem dos cemitérios das grandes cidades brasileira é, a este respeito, exemplar. Na frente, junto à rua ou à praça, estão os túmulos das pessoas ricas e de prestígio, de mármore ou granito e ornamentadas com imponentes símbolos. Em torno, como que formando um semi-círculo, estão os túmulos dos indivíduos de classe média, mais simples e baratos, porém dourados. Na periferia do cemitério, de acessibilidade mais difícil, estão enterrados, sem nenhum jazigo, os indivíduos das camadas populares. Esta paisagem é simultaneamente funcional e simbólica, reproduzindo o status social que os indivíduos tiveram em vida assim como a localização residencial no espaço urbano. (1995, p.05)

Neste contexto, a cidade passa a ser um instrumento de representação, aonde encontramos várias transformações sociais e culturais que nos revelam as diversas relações desenvolvidas no meio social e que abordam o concreto e o abstrato produzido pelo ser humano. As cidades estão impregnadas de representações simbólicas que demonstram suas várias dimensões individuais e/ou coletivas.

 

II – ESPAÇO, CULTURA E RELIGIÃO

O espaço onde se revela as manifestações de ordem religiosa está envolto em um simbolismo em que há uma dicotomia entre o profano e o sagrado. O mesmo refere-se às crenças em algo divino e puro acima de qualquer questionamento, representando uma forma de cultura. Para CÔRREA, (2002, p. 137) “espaço, cultura e religião estão reunidas em novos planos de percepção teórica que introduzem uma possibilidade de pensar o sagrado e o profano na ciência. O elo entre espaço e religião fornece material rico à reflexão.”

Apresenta-se uma linha dualista onde um se opõe ao outro. Em suma, DURKHEIM, (1995, p. 51) afirma que “o sagrado e o profano foram pensados pelo espírito humano como gênero distinto, como dois mundos que não possuem nada em comum”. A religião está diretamente ligada e condicionada a magia, ao sagrado, mitos, crenças, etc. Em um fator natural biológico normal estamos redimensionando o profano constituindo tudo aquilo que não é sagrado.

Segundo ELIADE

A profunda nostalgia do homem religioso é habitar um mundo divino, ter uma casa semelhante à casa dos deuses, nos templos santuários, o desejo de vivermos em um cosmo puro e santo, tal como no começo, quando saiu das mãos do criador. Está é a nostalgia religiosa. (1995. p. 61)

O rito profano encontra sua lógica e identificação no momento em que se realiza e se satisfaz a sua dimensão emocional (uma partida de futebol, um capítulo de novela, uma dança rítmica, e as modas adquiridas ao longo do tempo, especialmente as vestimentas e os caracteres potenciais consumistas), relevando-se a dessacralização, impulsionando o profano na vida humana.  Segundo BONNEMAISON, (1981, p. 251) “é pela existência de uma cultura que se cria em um território, e é pelo território que se fortalece e se exprime a relação simbólica existente entre a cultura e o espaço.”

 

 

 

III - A IDENTIDADE NACIONAL COMO COMUNIDADES IMAGINADAS

O homem está inserido em uma sociedade em que ele tem dois papéis, ser autônomo como individuo e o outro como membro de uma sociedade, mediante os papéis que estão presentes mutuamente dentro de si como se fossem algo natural, ou seja, estas marcas é nos colocadas e apreendidas ao decorrer do tempo e baseadas em uma dinâmica transformacional em que o próprio ser desenvolve sobre si e sobre o meio em que vive, assim produz uma identidade nacional, tornando-se cultural.

Para HALL,

[...] ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazermos isto estamos falando de forma metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nela como se fosse parte de nossa natureza essencial. (2006. p. 47)

Essa identidade nacional tem sua origem desde os mais antigos grupos sociais já formados, mesmo que de forma muito primitiva, já criavam padrões e regras e crenças para convivência que, com o passar dos tempos foram sendo transferidas de geração a geração, sendo em alguns casos moldadas pelo contexto que são introduzidos. Segundo HALL, (2006, p. 49) “as culturas nacionais não são uma forma distintivamente moderna.”

A simbologia e as representações são elementos que compõem a identidade cultural, e retratam de forma concreta o seu desenvolvimento, uma vez que, estes elementos evocam sentidos contidos na memória de uma sociedade que constroem a própria identidade cultural nos diversos espaços que o homem se relaciona, criando uma comunidade imaginada.

Conforme afirma HALL,

 

As culturas nacionais ao produzir sentido sobre a “nação”, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidade. Esses sentidos estão contidos mas estórias que são contadas sobre uma nação, memórias que conectam seu presente e imagens que dela são construídas. (2006, p. 51)

 

                             CONSIDERAÇÔES FINAIS

 

Na abordagem sobre a população e suas manifestações culturais, o elemento norteador para subsidiar conhecimento foi a própria cultura e seus conflitos, gerados pela diferença apresentada pelos diversos dos grupos sociais.

Através da análise da paisagem espacial e cultural advinda pelo homem, consideramos e identificamos as formas materiais e imateriais em uma representação visível dos aspectos do espaço geográfico. A cultura redimensiona o profano e o religioso onde se destaca: o simbolismo, a crença, o divino, a comercialização, sacralização e dessacralização. O caráter simbólico dos prédios, monumentos, praças, ruas, bairros, cidades, regiões ou montanha, vale, rio ou área florestal, impulsionam as complexidades culturais mediante a sociedade. As trocas comerciais, o comércio itinerante, faz-se a prática cultural no espaço e seus significados. As diversas manifestações religiosas, as peregrinações às cidades santuários, definindo espaços sagrados e espaços profanos.

Partindo-se para a temática sobre as comunidades imaginadas podemos detectar que somos seres assimilares de conhecimentos e trocas de cultura, unificando a identidade dentro de um espaço social, habitados por diferentes forças e costumes pelos seres que vivem em uma variação espacial de suas múltiplas manifestações e conflitos urbanos culturais resultantes de processos residuais, enclaves, num contexto de difusão de uma cultura com características globais.

REFERÊNCIAS

BONNEMAISON, J. (1981) “Voyage autor du Territoire”. L’Espace Géographique, Tome X, (4), pp. 249 – 262. In CÔRREA, Roberto Lobato. Introdução a Geografia Cultural. 5ª Edição.  Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

CORRÊA, Roberto Lobato. A Dimensão Cultural do Espaço: alguns temas. Departamento de Geografia – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Espaço e Cultura – Ano I – Outubro de 1995.

CORRÊA, Roberto Lobato. Introdução a Geografia Cultural. 5ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Edição. Rio de Janeiro: DP & A, 2006.