A entrada do capitalismo na agricultura brasileira acarretou mudanças de caráter estrutural, que atingiram fortemente o pequeno produtor descapitalizado e remodelaram as políticas voltadas para este setor. Os pequenos produtores rurais não são a maioria da população nem têm alcançado condições políticas para influenciar decisivamente os rumos da política econômica e social do país (DELGADO, 2001, p.27).

As políticas públicas no Brasil estiveram quase sempre direcionadas para o desenvolvimento da agricultura monocultora voltada para a comercialização. O crédito agrícola transformou-se em instrumento de dominação para quem o conseguia e exclusão para os que dele não tiveram acesso.

As disparidades entre as regiões brasileiras aumentaram, principalmente, na segunda metade do século XX com o processo de industrialização sofrido por este país. Para que fossem reduzidas era necessária uma atenção especial aos problemas agrícolas em regiões onde existem limitações de recursos e problemas socioeconômicos. No Brasil essa atenção esteve voltada para a região Nordeste, já que por estar inserida em área de clima semi-árido, apresenta certas dificuldades para o desenvolvimento de sua agricultura.

Para entender o relativo atraso econômico da região Nordeste é preciso resgatar o estudo realizado pelo GTDN (1967) (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste) elaborado por Celso Furtado. Este apresenta uma análise dos problemas deste atraso e estabelece os fundamentos para uma política de desenvolvimento para a região. O estudo serviu como base para a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1959, e para a definição dos seus primeiros planos diretores. Diante das análises realizadas, a agricultura nordestina apresentou baixo desempenho. De um lado o tradicional setor açucareiro enfrentava a forte competição com São Paulo, dotado de melhores terras, maior produtividade, maior escala e melhores padrões gerenciais. Por outro, a agricultura de subsistência continuava a enfrentar as adversidades climáticas. A agricultura das regiões sul e sudeste ? e mais tarde do centro-oeste se expandia de forma acelerada, acentuando as diferenças regionais (DINIZ e BASQUES, 2002). A SUDENE surge assim, como repassadora dos recursos por via de projetos, planos e programas nacionais.

As ações públicas para o nordeste estiveram voltadas, na maioria das vezes, para projetos de irrigação direcionados às grandes lavouras monocultoras e alguns projetos pontuais de fruticultura irrigada, como o caso de Juazeiro e Petrolina/BA. O pequeno e micro produtores que desenvolvem uma agricultura tradicional descapitalizada, com cultivos de sequeiro (feijão, milho e mandioca), sempre estiveram a espera da chuva, tendo que nas épocas da seca, na maioria das vezes, migrar em busca da sobrevivência da família.

O êxodo rural, migração que ocorre do campo para a cidade, esteve presente em todo o território, principalmente na região Nordeste, causado pela substituição de áreas de lavouras por pastagens, pela concentração de terras, a fraca atuação de políticas públicas direcionadas ao homem do campo, entre outras.

Ao se relacionar êxodo rural e política agrícola se subestima, na maioria das vezes, o impacto positivo de medidas recentes tomadas pelo governo por pressão de organizações da sociedade civil. Medidas estas voltadas à redistribuição da terra, do crédito e, mais importante, do poder de decisão no meio rural. Isso mostra que quando o governo oferece condições ao agricultor para cultivar, este produz o suficiente para sua subsistência e de sua família, conseqüentemente permanece no campo evitando os problemas causados pelo inchaço das cidades.

Como afirma Andrade (1994, p.95) "A seca chega, ficamos esperando a chuva, rezando, benzendo, e utilizando os últimos recursos. E ainda não procuramos desenvolver culturas adaptadas às condições climáticas". Ainda de acordo com o autor, o milho, o feijão, e o algodão formam o tripé da associação agrícola, quando nós poderíamos ter desenvolvido, por exemplo, o sorgo, que dá uma produtividade maior do que a do milho.

O sorgo substitui o milho em qualquer preparo, além de seu baixo custo favorecer seu uso para alimentação do gado. O governo poderia voltar seus investimentos para processos mais racionais e melhor adaptados às condições de um meio ambiente típico do trópico seco.

Políticas agrícolas diferenciadas e localizadas como o PRONAF, PRONESE E O PRÓ-SERTÃO possibilitam aos pequenos agricultores aumentar as rendas extraídas de suas terras, tendo estes maiores garantias de permanência e de uma vida com um mínimo de dignidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VIEIRA. José Luiz Teixeira Marques ? ARTIGO: Produção e comercialização no Brasil ? livro Cultura do feijoeiro- 1988) Manual Técnico das Culturas. 2ª ed. Ver. Atual. 2ª imp. Tomo I ? Cereais, Fibrosas, Leguminosas, Oleaginosas, Raízes e Tubérculos, Plantas Tropicais, Sacarinas. VIEIRA, Clibas. O feijão em cultivos consorciados, Viçosa, UFV, Imp. UNIV, 1989. VIEIRA, Clibas; JUNIOR, Trazilbo José de Paula; BORÉM, Aluízio. Feijão: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas Gerais ? Viçosa: UFV, 1998. VIEIRA, Edson Herculano Neves. Sementes de feijão: produção e tecnologia ? Santo Antônio de3 Goiás: Embrapa Arroz e feijão, 2000.