POLÍTICA E MEIO AMBIENTE

 

 

André Luís Machado

 

RESUMO

O presente trabalho apresenta fatores negativos e positivos da tecnologia moderna diante do meio ambiente e relaciona tais fatores com o comportamento humano. Devido à falta de conhecimento, ocorrem os mais graves erros na esfera política e administrativa tratando-se da gestão dos recursos naturais. O objetivo do presente trabalho é demonstrar que apenas a humanidade carente de conhecimento é capaz de provocar danos graves ao meio ambiente, inexistindo a obrigatoriedade e necessidade de grandes máquinas de desmatamento para a ocorrência de imensos danos ambientais no planeta. Cita-se, também, a importância de reconhecer a natureza como algo intrínseco à humanidade, uma extensão da materialidade orgânica humana e que trabalha retroativamente interagindo e respondendo aos atos desta mesma sociedade. Concluindo, cabe à sociedade educar-se e reconhecer as tecnologias como parceiras na sua gestão e relação com os recursos naturais para encontrar o equilíbrio entre o romantismo ambientalista e o capitalismo comercial predatório.

PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento. Política. Meio Ambiente. Humanidade. Equilíbrio.

  1. 1.    INTRODUÇÃO

O conhecimento histórico à frente das problemáticas ambientais traz o empoderamento da humanidade e é fundamental diante das decisões que a crise ambiental exige. É importante valorizar a educação ambiental nos primeiros anos de estudo e incluí-la em todas as disciplinas escolares, colocando em evidência sua importância na construção de uma sociedade sustentável. O tema trabalhado neste artigo salienta a responsabilidade da humanidade diante da crise ambiental e as consequências da sua omissão em longo prazo para o planeta levando em consideração, como aspecto mais grave, o aquecimento global. Diante deste cenário é indispensável mudanças nas atitudes pessoais, na conservação do meio ambiente, e um melhor preparo para a prática dos pequenos processos decisórios exigidos de todos. O presente trabalho aborda também a política praticada por nossa sociedade na gestão e relação com o meio ambiente, as influências da tecnologia moderna no comportamento humano e o consumismo exacerbado que produz de forma crescente os mais variados lixos tecnológicos. A falta de conhecimento da humanidade é o principal fator de descaso com o meio ambiente seguido do sentimento de rejeição diante dos recursos naturais. Por conseguinte, surgem as soluções que devem ser trabalhadas e desta forma, passo a passo, se constrói as bases para a mudança comportamental.

Por outro lado, cabe à humanidade tomar conhecimento dos aspectos negativos e dos aspectos positivos do uso de novas tecnologias e avaliar se esses métodos são construtivos e beneficiam a natureza na qual o homem é parte dependente. Evidencia-se no presente trabalho não apenas o conhecimento tecnológico moderno, mas também o conhecimento das sociedades pré-industriais ou pré-capitalistas. Neste aspecto, o homem moderno habituou-se a romantizar as sociedades antigas e, em alguns casos, acreditar na relação harmoniosa e inocente destes povos com a natureza. Entretanto, é inegável a influência desta afirmação duvidosa na posição política do homem moderno e na minimização de sua responsabilidade diante da crise ambiental. Sendo assim, os tópicos trabalhados neste artigo contribuem para uma reflexão dos estudantes e leitores no objetivo de libertar-se de antigos conceitos. Além disso, o texto a seguir procura conduzir o leitor a uma maior responsabilidade diante da crise ambiental, compartilhando de ações ecológicas juntamente com as grandes corporações.

Diante destes aspectos, explora-se a necessidade do desenvolvimento de um trabalho que foque no equilíbrio comportamental humano entre o romantismo ambientalista e o capitalismo predatório dos recursos naturais, levando em conta a importante contribuição da tecnologia na resolução de nossos problemas ambientais observando, logicamente, os grandes problemas de descarte que esta mesma tecnologia tem nos trazido.

Por fim, espera-se que a produção deste artigo contribua para uma análise micro e macro política de nossas tecnologias, no aperfeiçoamento de nossas decisões e de nossas relações com o meio ambiente.

  1. 2.    Conhecimento e o Meio Ambiente.

Abordar a questão ambiental e descontruir a visão romântica de relação harmoniosa dos povos antigos e indígenas com a natureza é um desafio necessário para uma maior responsabilização do homem moderno com o meio ambiente. Deixar de buscar, nestas sociedades periféricas, o alívio emocional e trabalhar com celeridade no processo de preservação ambiental, tornou-se urgente. Segundo Foladori e Taks (2004, p. 324), “... as populações que, há cerca de 12 mil anos, cruzaram a “ponte” de Beringia do nordeste asiático para o Alasca, participaram na extinção de mamutes, mastodontes e outros grandes mamíferos à medida que avançavam rumo ao sul do continente”.

Ao observar trechos de obras como o citado acima, constrói-se uma visão menos inocente da relação homem-meio ambiente e entende-se que tanto europeus desbravadores do continente americano como os povos antigos compartilham das mesmas ações degradantes. Ainda na mesma linha de raciocínio, os mesmos autores afirmam que há povos-industriais, como os Nayaka da Índia, que não reconhecem a responsabilidade humana na proteção da natureza e convivem com o conceito de que é a natureza quem cuida deles (MILTON, 1996 apud FOLADORI; TAKS, 2004, p. 326).

O conhecimento compartilhado com o leitor, indiscutivelmente enriquece a análise do cenário atual e evidencia a necessidade de uma nova postura da  humanidade. Por outro lado, é indispensável também relacionar a influência da religião em nossa sociedade e analisar seus conceitos na relação homem-natureza. Ao citar este tópico, percebe-se que não só alguns povos primitivos, mas o homem branco europeu se refugiou em determinadas regras para degradar a natureza e eximir-se de culpa. Fundamentado nesta afirmativa, pode-se mencionar, por exemplo, o trecho de Gênesis: “Tudo o que se move, o que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado, como a erva verde” (Gênesis; 9; 2-3).

Dado o exposto, percebe-se que a nova relação homem-natureza deve estar livre de conceitos teológicos e desta “proteção divina” para assumir um novo comportamento baseado em uma relação interdependente e sinérgica com os demais seres. A visão eclesiástica de predomínio do homem e antropocentrismo deve ser desconstruída para que o homem perpetue sua existência sobre o planeta.

Espera-se através de uma profunda reflexão, que a transformação das bases sociais, em pouco tempo, faça-se notar nas áreas política e econômica de nosso país. Isso porque os índices de poluição aumentam a cada ano e segundo a revista Planeta Sustentável, em artigo publicado em 2011, o Brasil era o sexto maior poluidor do mundo à frente de países como a Índia e a Rússia. Outro fator existente, resultado da ação humana aliada à tecnologia, é o descaso com os oceanos que tem absorvido cerca de 30% das emissões de dióxido de carbono gerados pelo homem e, convém lembrar que, a atividade humana já causou o extermínio de 50% da biodiversidade marinha, muitas delas ingerindo plásticos, segundo a Revista Planeta.

 Ao mencionar a nova postura da humanidade nesta construção de novos ideais, é oportuno relacionar a política não-partidária. As decisões cotidianas e os pequenos projetos pessoais estão inseridos neste conceito de política que se equipara a diretrizes e distanciam-se do conceito de “arte de governar”. A industrialização e a tecnologia são fatores que até hoje fugiram do controle do ser humano e atualmente faz-se necessário uma reordenação das coisas por parte do homem. Este novo episódio a ser escrito exige da humanidade ações técnicas e urgentes de auto responsabilidade com o objetivo de superar fraquezas e antigos conceitos de proteção vinda dos céus.

Deve-se ter em mente que não há nada mais difícil de executar, nem de processo mais duvidoso, nem mais perigoso de conduzir do que iniciar uma nova ordem de coisas (MAQUIAVEL, apud OLIVEIRA, 2005, p. 235).

  1. 3.    Tecnologia e política.

Abordar o termo tecnologia, nos dias de hoje, remete o leitor a um universo hierárquico e inacessível a pessoas simples principalmente quando se menciona a linguagem técnica que legitima o status quo (BRUGGER).

Levando em conta tal situação é essencial a reconstrução de algumas ideias tal qual a exploração de recursos naturais no contexto puramente técnico. Em vista de tal argumento, conclui-se que é impossível haver separação entre contexto técnico, político e ético. Infelizmente a sociedade atual ignora a mescla de tais conceitos basilares e têm sido refém do capitalismo predatório. De acordo com Brugger (): “é necessário uma maior intervenção estatal em políticas sociais e ambientais”; porém o que esperar do estado se é inevitável a reorganização estratificada da sociedade em pequenas proporções. A necessidade maior que começa nas bases da sociedade é o entendimento que a ética, a técnica e a política devem fazer parte da diretriz pessoal de cada um.

Todos sabem que, em nosso país, há tempos, observa-se que no âmbito governamental a questão “meio ambiente” não é prioridade, haja vista os altos índices de poluição reportados pelas mídias. Por conta disso, a sociedade deve organizar-se e responder ao equivocado direcionamento político traçado pelos governos.

A tecnologia tem trabalhado a favor da economia e não a favor do bem-estar humano. Tendo em vista os aspectos observados, exemplifica-se a falta de planejamento no uso de tecnologias, tal qual o Geoprocessamento[1] espacial, que pode auxiliar na análise da pureza da água em determinados lençóis subterrâneos e, por outro lado, a prioridade nos investimentos em áreas como o turismo e comércio através da instalação de novos empreendimentos na cidade de Foz do Iguaçu. Em resumo, percebe-se na esfera local a valorização das relações monetárias de troca e por outro lado o descaso com o solo, a água e os demais recursos naturais.

 Em consequência disso, nota-se que a mudança de postura da sociedade deve ser imediata, pois há tempo para ações corretivas e o ponto crucial é ressaltar que a tecnologia e a gestão dos recursos naturais devem trabalhar em paralelo com a política e a economia. Ainda convém lembrar que nem todas as soluções para os problemas ambientais são encontradas na tecnologia como, por exemplo, a questão demográfica e nuclear (HARDIN apud BRUGGER). Outro fator existente são as alianças econômicas entre o governo e as empresas que visam unicamente o fortalecimento do mercado em detrimento do meio ambiente. Diante deste aspecto é necessário valorizar o conhecimento local e aliar os povos ao desenvolvimento buscando enfraquecer a economia predatória. Talvez a resistência dos povos em meio à globalização e a supervalorização de determinados faixas de terras seja um ponto forte na conservação dos recursos naturais. De acordo com Escobar (   ):

O lugar, em outras palavras, desapareceu no “frenesi da globalização” dos últimos anos, e este enfraquecimento do lugar tem consequências profundas em nossa compreensão da cultura, do conhecimento, da natureza, e da economia.

Em outras palavras, as direções políticas devem considerar as raízes dos povos com o lugar e fazer do desenvolvimento econômico uma ação de respeito em relação ao conhecimento regional, e por outro lado, a economia deve ser aliada na construção do mundo a partir das perspectivas de práticas baseadas no lugar (ESCOBAR).

  1. 4.    Considerações finais

Sabe-se através dos noticiários que, em nosso país e no mundo, a natureza tem respondido energicamente às ações degradantes praticadas pelo ser humano. O presente trabalho ressaltou a importância de uma nova postura global diante das situações complexas que se tem apresentado na esfera ambiental. Apontou-se a necessidade do equilíbrio entre a ética, a tecnologia e a política nas ações governamentais, a imperatividade da reconstrução dos ideais das bases nossa sociedade e foi mencionado a importância do conhecimento histórico rumo ao planejamento ambiental necessário para a recuperação do nosso planeta.

Por outro lado, espera-se que com a reconstrução conceitual da sociedade haja uma demanda maior de ações macro ambientais e a inovação dos processos decisórios e administrativos que podem dissolver a omissão da administração pública na questão ambiental. Além disso, abordou-se no presente trabalho a importância da resistência dos povos locais e sua identificação com o lugar, aspecto esse que poderá contribuir no enfraquecimento das relações comerciais degradantes dos recursos naturais, levando em conta o desenvolvimento econômico baseado no lugar e consequentemente uma maior valorização dos recursos.

Concluindo, é imprescindível a renovação no campo das ideias e a adequação do homem nesta nova etapa de mudanças, considerando que a humanidade é parte dependente dos demais seres vivos.

 

REFERÊNCIAS

 

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri-São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 1995. 1578 p.

BRUGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental. 3. ed. rev. e amp. Argos Editora Universitária.

ESCOBAR, Arturo. O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pós-desenvolvimento? In: LANDER, Edgardo. Colección Sur Sur. Buenos Aires, Argentina. Set. 2005. p.133-168.

FOLADORI, Guillermo; TAKS, Javier. Um olhar antropológico sobre a questão ambiental. In:

MACHADO, André Luís. Problemáticas ambientais no cemitério São João Batista – Foz do Iguaçu – Pr. 2015. 15f. Dissertação (MBA Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável) Centro Universitário Cesumar, Foz do Iguaçu, 2015.

 

MESQUITA, Renata Valério de. Um oceano de problemas. Revista Planeta, São Paulo – SP, Ed. 515. Pág. 32-35. Nov. 2015.

 

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

 

PLANETA SUSTENTÁVEL. Brasil é o sexto maior emissor de gases poluentes do mundo. Disponível em: < http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/brasil-sexto-maior-emissor-gases-poluentes-setor-energia-cop17-648185.shtml >. Acesso em: 29 out. de 2015.

 



[1] Geoprocessamento é o raciocínio espacial. As informações colhidas neste processo são sintetizadas e processadas em um Sistema SIG (Sistema de Informação Geográfica) e auxiliam na interpretação dos problemas espaciais.