POLÍTICA E CORRUPÇÃO

JUACY DA SILVA

Enquanto o Senado continua envolvido em escândalos, incluindo a edição de mais de 600 atos secretos ao longo dos últimos 15 anos, beneficiando os donos do poder e seus apaniguados, também a Câmara Municipal de Cuiabá está sendo sacudida pela ação da polícia fazendária de Mato Grosso.

Nos últimos tempos o noticiário político tem se confundido com o noticiário policial. A violência da bandidagem em geral parece que já não é manchete nos meios de comunicação, tantos são os atos dos criminosos atacando vítimas indefesas. Em seu lugar surgem os escândalos dos criminosos de colarinho branco que roubam de forma bem silenciosa milhões, não dos caixas eletrônicos, mas dos cofres públicos.

O que está acontecendo na Câmara Municipal de Cuiabá, no Senado da República e em outras instâncias da política e administração pública por este Brasil afora está contribuindo para o descrédito que o povo passa a ter em relação `as instituições políticas.

Em um programa de rádio em que participei a poucos dias, diversos ouvintes se manifestaram de forma indignada quanto ao que está ocorrendo em nosso Legislativo Municipal e em outros setores públicos. Um ouvinte estava tão indignado que chegou a dizer que gostaria de esfregar seu título eleitoral na cara dos políticos e que só costuma votar por que é obrigado por Lei.

Na opinião de muita gente, desde as pessoas mais humildes até estudiosos das questões sociais, econômicas e políticas, existe um consenso de que a corrupção no Brasil já é endêmica, ou seja, "doença que existe constantemente em um determinado lugar e ataca número maior ou menor de indivíduos", conforme o Dicionário Aurélio.

No caso brasileiro, a corrupção que já é uma endemia pode estar a caminho de tornar-se uma epidemia, ou seja, "surto de agravação de uma endemia", mais letal do que a gripe suína que tanto pânico está causando `a população mundial.

Para se combater tanto endemias quanto epidemias é preciso desenvolver vacinas para a prevenção e evitar que a doença possa matar suas vítimas, pessoas ou instituições. No caso das doenças do organismo humano diversas vacinas foram e estão sendo desenvolvidas.

No caso da corrupção essas vacinas podem ser desde a transmissão de valores éticos e morais que induzem as pessoas a zelarem pelo bem público e não buscarem cargos e funções governamentais para se locupletarem. Caso esta vacina não funcione, então seriam recomendados medicamentos mais fortes como os aplicados em outros países onde o combate a corrupção é levado a sério, incluindo a participação do povo na fiscalização e controle da gestão pública, leis epenas mais severas para os corruptos.

Esta semana vieram a público dois fatos importantes relacionados com a questão da corrupção. O primeiro foi a divulgação de um Relatório anual do Banco Mundial sobre práticas de governança e medidas anticorrupção, relativo a todos os países.

Em uma escala de zero (países extremamente corruptos) a cem (países com baixíssimos ou nenhum indício de corrupção), o Brasil, como soe e acontecer, continua ruim na foto. Em 12 anos, entre 1996 e 2008, nosso país praticamente não fez nenhum progresso nesta área, por mais que a propaganda oficial tente demonstrar.A nota do Brasil ficou em 58, atrás da totalidade dos países desenvolvidos ou dos que almejam entrar para o clube das nações desenvolvidas, incluindo vários países da América Latina.

O outro fato foi a condenação do mega-investidor e especulador internacional Bernard Madoff a 150 anos de cadeia, em regime fechado. Em seis meses o escândalo veio à tona, foi investigado, o réu confessou os crimes e a Suprema Corte Americana estabeleceu a pena máxima de xadrez em prisão federal e o seqüestro de todos os seus bens.

No Japão há alguns anos quando um Ministro foi pego em falcatruas com dinheiro público e o caso ganhou repercussão nacional e internacional, o mesmo ficou tão envergonhado que foi a uma rede de TV para ser entrevistado e ao vivo sacou de uma pistola e cometeu suicídio. Na China, que volta e meia é citada por governantes e empresários brasileiros como exemplo de desenvolvimento, crime de colarinho branco e outros crimes mais são punidos com pena de morte.

Se no Brasil não houvesse impunidade, se nossas Leis fossem mais severas e nossos governantes tivessem um pouco mais de vergonha certamente o índice de suicídio aumentaria e mais prisões deveriam ser construídas para abrigar esses criminosos. Cuiabá, 04/07/2009

JUACY DA SILVA, professor universitário, mestre em sociologia. Colaborador do Jornal A Gazeta.

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